Obrigado!!!
Quero agradecer a todos a inestimável parceria
e a nós todos desejar que 2013...
SEJA O ANO MAIS FELIZ DE NOSSAS VIDAS!
Beijos,
Lionel Fischer
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Em defesa dos adjetivos
Ditadores e generais costumam dispensar tudo o que não seja verbo e substantivo
Adam Zagajewski
Muitas vezes nos mandam cortar nossos adjetivos. O bom estilo, conforme dizem, sobrevive perfeitamente sem eles; bastariam o resistente arco dos substantivos e a flecha dinâmica e onipresente dos verbos. Contudo, um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo. A luz azul se infiltra pelas janelas frias, as lâmpadas fluorescentes emitem um murmúrio débil.
Substantivos e verbos bastam apenas a soldados e líderes de países totalitários. Pois o adjetivo é o imprescindível avalista da individualidade de pessoas e coisas. Vejo uma pilha de melões na bancada de uma quitanda. Para um adversário dos adjetivos, não há dificuldade: “Melões estão empilhados na bancada da quitanda.” Todavia um dos melões é pálido como a tez de Talleyrand quando discursou no Congresso de Viena; outro é verde, imaturo, cheio de arrogância juvenil; outro ainda tem faces encovadas e está perdido num silêncio profundo e fúnebre, como se não suportasse a saudade dos campos da Provença. Não há dois melões iguais. Uns são ovais, outros são bojudos. Duros ou macios. Têm cheiro do campo, do pôr do sol, ou estão secos, resignados, exauridos pela viagem, pela chuva, pelo contato das mãos de estranhos, pelos céus cinzentos de um subúrbio parisiense.
O adjetivo está para a língua assim como a cor para a pintura. O senhor do meu lado no metrô: uma lista inteira de adjetivos. Está fingindo que cochila, mas por entre as pálpebras semicerradas observa os colegas passageiros. De vez em quando, o sorrisinho arqueado nos seus lábios vira uma torção irônica. Não sei se o que há nele é desespero calmo, fadiga ou um paciente senso de humor que não se dobra à passagem do tempo.
O exército limita o contingente de adjetivos. Aos seus olhos descoloridos, apenas o adjetivo “mesmo” tem alguma graça. Os mesmos uniformes, os mesmos fuzis. Qualquer um que, voltando de exercícios militares e já à paisana, saia pela primeira vez para dar uma volta numa cidade de civis há de se lembrar da inacreditável explosão de adjetivos, cores, matizes, formas e diferenças com que foi saudado por um cosmos repleto de diferentes individualidades.
Vida longa ao adjetivo! Pequeno ou grande, esquecido ou corrente. Precisamos de você, esbelto e maleável adjetivo que repousa delicadamente sobre coisas e pessoas e cuida para que elas não percam o gosto revigorante da individualidade. Cidades e ruas sombrias se banham de um sol pálido e cruel. Nuvens cor de asa de pombo, nuvens negras, nuvens enormes e cheias de fúria, o que seria de vocês sem a retaguarda dos voláteis adjetivos?
A ética também não sobreviveria um dia sem adjetivos. Bom, mau, sagaz, generoso, vingativo, apaixonado, nobre – essas palavras cintilam como guilhotinas afiadas.
E também não existiriam as lembranças não fosse pelo adjetivo. A memória é feita de adjetivos. Uma rua comprida, um dia abrasador de agosto, o portão rangente que dá para um jardim e ali, em meio aos pés de groselha cobertos pelo pó do verão, os teus dedos despachados... (tudo bem, teus é pronome possessivo).
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Ditadores e generais costumam dispensar tudo o que não seja verbo e substantivo
Adam Zagajewski
Muitas vezes nos mandam cortar nossos adjetivos. O bom estilo, conforme dizem, sobrevive perfeitamente sem eles; bastariam o resistente arco dos substantivos e a flecha dinâmica e onipresente dos verbos. Contudo, um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo. A luz azul se infiltra pelas janelas frias, as lâmpadas fluorescentes emitem um murmúrio débil.
Substantivos e verbos bastam apenas a soldados e líderes de países totalitários. Pois o adjetivo é o imprescindível avalista da individualidade de pessoas e coisas. Vejo uma pilha de melões na bancada de uma quitanda. Para um adversário dos adjetivos, não há dificuldade: “Melões estão empilhados na bancada da quitanda.” Todavia um dos melões é pálido como a tez de Talleyrand quando discursou no Congresso de Viena; outro é verde, imaturo, cheio de arrogância juvenil; outro ainda tem faces encovadas e está perdido num silêncio profundo e fúnebre, como se não suportasse a saudade dos campos da Provença. Não há dois melões iguais. Uns são ovais, outros são bojudos. Duros ou macios. Têm cheiro do campo, do pôr do sol, ou estão secos, resignados, exauridos pela viagem, pela chuva, pelo contato das mãos de estranhos, pelos céus cinzentos de um subúrbio parisiense.
O adjetivo está para a língua assim como a cor para a pintura. O senhor do meu lado no metrô: uma lista inteira de adjetivos. Está fingindo que cochila, mas por entre as pálpebras semicerradas observa os colegas passageiros. De vez em quando, o sorrisinho arqueado nos seus lábios vira uma torção irônica. Não sei se o que há nele é desespero calmo, fadiga ou um paciente senso de humor que não se dobra à passagem do tempo.
O exército limita o contingente de adjetivos. Aos seus olhos descoloridos, apenas o adjetivo “mesmo” tem alguma graça. Os mesmos uniformes, os mesmos fuzis. Qualquer um que, voltando de exercícios militares e já à paisana, saia pela primeira vez para dar uma volta numa cidade de civis há de se lembrar da inacreditável explosão de adjetivos, cores, matizes, formas e diferenças com que foi saudado por um cosmos repleto de diferentes individualidades.
Vida longa ao adjetivo! Pequeno ou grande, esquecido ou corrente. Precisamos de você, esbelto e maleável adjetivo que repousa delicadamente sobre coisas e pessoas e cuida para que elas não percam o gosto revigorante da individualidade. Cidades e ruas sombrias se banham de um sol pálido e cruel. Nuvens cor de asa de pombo, nuvens negras, nuvens enormes e cheias de fúria, o que seria de vocês sem a retaguarda dos voláteis adjetivos?
A ética também não sobreviveria um dia sem adjetivos. Bom, mau, sagaz, generoso, vingativo, apaixonado, nobre – essas palavras cintilam como guilhotinas afiadas.
E também não existiriam as lembranças não fosse pelo adjetivo. A memória é feita de adjetivos. Uma rua comprida, um dia abrasador de agosto, o portão rangente que dá para um jardim e ali, em meio aos pés de groselha cobertos pelo pó do verão, os teus dedos despachados... (tudo bem, teus é pronome possessivo).
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Indicados ao Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil 2012
CENÁRIO
A Borralheira - Glauco Bernardelli
Histórias de Jilu - Ricardo Martins
A Menina e o Vento - Ronald Teixeira
Algumas das Aventuras de 20.000 léguas submarinas -Carlos Alberto Nunes
As três Marias Gabriele Naegele
FIGURINO
A Borralheira - Heloisa Frederico
Cabeça de Vento _ Daniele Geammal
Histórias de Jilu - Daniele Geammal
As Três Maria - Leonam Thurler
Paparutas - Ronald Teixeira
TEXTO
As Três Marias - Gabriel Naegele
Pinnochio em As Aventuras de Lasanha e Ravioli - Mônica Biel
Algumas das Aventuras de 20000 léguas submarinas adaptação de fátima Valença
Coisas que a gente não vê - Renata Mizrahi
Uma peça como eu gosto - Marcelo Morato
ATOR
Cabeça de Vento - Jan Macedo
A Menina e o Vento - André Mattos
Uma história de Amor - Raphael Logan
Algumas AVenturas de 20000 léguas submarians Mouhamed Harfouch
As três Marias - Leonam Thurler
ATRIZ
História de Jilu - Ana Carbatti
As Três Marias - Denise Peixoto
Coisas que a gente não ve - Débora Lam
A estranha viagem de m\ria Cecilia - Stella Brajterman
Uma peça como eu gosto - Viviane Neto e Laura Teles
ILUMINAÇÃO
A Borralheira - Aurélio de Simoni
O Menino que teve um Sonho - Renato Machado
A Menina e o Vento - Jorginho de Carvalho
A estranha viagem de Maria Cecília - Anderson Rato
Uma peça como eu gosto - Renato Machado
MÚSICA
A Borralheira - Vladimir Pinheiro (direção musical)
Manuel Bandeira Estrela da Vida Interia - David Tygel - direção musical e arranjos/Cristiano Motta e Pedro Motta - musicas originais
As três Marias - Aline Peixoto e Denise Peixoto (Direção Musical)
Histórias de Alexandre - Rudá Brausn - direçãomusical e trilha sonora
Algumas das Aventuras de 20000 léguas submarinas - - Marcelo Alonso Neves (música original)
DIREÇÃO
As três Marias - Garbiel Naegele e Maria VIdal
A Borralheira - Fabiana de Mello e Souza
Algumas das Aventuras das 20000 légus submarinas - Antônio Carlos Bernardes
Coisas que a gente não vê - Joana Lebreiro
Uma peça como eu gosto - Duda Maia e Lucio Mauro Filho
PRODUÇÃO
A MENINA E O VENTO
ALGUMAS AVENTURAS DAS 20000 LEGUAS SUBMARINAS
AS TRÊS MARIAS
A BORRALHEIRA
CABEÇA DE VENTO
MELHOR ESPETÁCULO
A BORRALHEIRA
A MENINA E O VENTO
AS TRES MARIAS
ALGUMAS AVENTURAS DAS 20000 LEGUAS SUBMARINAS
UMA PEÇA COMO EU GOSTO
PRÊMIO ESPECIAL - Ana Barroso e Mônica Biel pelo trabalho ininterrupto com os personagens Lasanha e Ravioli, no reconto dos contos tradicionais
MENÇÃO HONROSA - A estranha viagem de Maria Cecília pelo processo de construção do espetáculo, envolvidos todos os segmentos.
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CENÁRIO
A Borralheira - Glauco Bernardelli
Histórias de Jilu - Ricardo Martins
A Menina e o Vento - Ronald Teixeira
Algumas das Aventuras de 20.000 léguas submarinas -Carlos Alberto Nunes
As três Marias Gabriele Naegele
FIGURINO
A Borralheira - Heloisa Frederico
Cabeça de Vento _ Daniele Geammal
Histórias de Jilu - Daniele Geammal
As Três Maria - Leonam Thurler
Paparutas - Ronald Teixeira
TEXTO
As Três Marias - Gabriel Naegele
Pinnochio em As Aventuras de Lasanha e Ravioli - Mônica Biel
Algumas das Aventuras de 20000 léguas submarinas adaptação de fátima Valença
Coisas que a gente não vê - Renata Mizrahi
Uma peça como eu gosto - Marcelo Morato
ATOR
Cabeça de Vento - Jan Macedo
A Menina e o Vento - André Mattos
Uma história de Amor - Raphael Logan
Algumas AVenturas de 20000 léguas submarians Mouhamed Harfouch
As três Marias - Leonam Thurler
ATRIZ
História de Jilu - Ana Carbatti
As Três Marias - Denise Peixoto
Coisas que a gente não ve - Débora Lam
A estranha viagem de m\ria Cecilia - Stella Brajterman
Uma peça como eu gosto - Viviane Neto e Laura Teles
ILUMINAÇÃO
A Borralheira - Aurélio de Simoni
O Menino que teve um Sonho - Renato Machado
A Menina e o Vento - Jorginho de Carvalho
A estranha viagem de Maria Cecília - Anderson Rato
Uma peça como eu gosto - Renato Machado
MÚSICA
A Borralheira - Vladimir Pinheiro (direção musical)
Manuel Bandeira Estrela da Vida Interia - David Tygel - direção musical e arranjos/Cristiano Motta e Pedro Motta - musicas originais
As três Marias - Aline Peixoto e Denise Peixoto (Direção Musical)
Histórias de Alexandre - Rudá Brausn - direçãomusical e trilha sonora
Algumas das Aventuras de 20000 léguas submarinas - - Marcelo Alonso Neves (música original)
DIREÇÃO
As três Marias - Garbiel Naegele e Maria VIdal
A Borralheira - Fabiana de Mello e Souza
Algumas das Aventuras das 20000 légus submarinas - Antônio Carlos Bernardes
Coisas que a gente não vê - Joana Lebreiro
Uma peça como eu gosto - Duda Maia e Lucio Mauro Filho
PRODUÇÃO
A MENINA E O VENTO
ALGUMAS AVENTURAS DAS 20000 LEGUAS SUBMARINAS
AS TRÊS MARIAS
A BORRALHEIRA
CABEÇA DE VENTO
MELHOR ESPETÁCULO
A BORRALHEIRA
A MENINA E O VENTO
AS TRES MARIAS
ALGUMAS AVENTURAS DAS 20000 LEGUAS SUBMARINAS
UMA PEÇA COMO EU GOSTO
PRÊMIO ESPECIAL - Ana Barroso e Mônica Biel pelo trabalho ininterrupto com os personagens Lasanha e Ravioli, no reconto dos contos tradicionais
MENÇÃO HONROSA - A estranha viagem de Maria Cecília pelo processo de construção do espetáculo, envolvidos todos os segmentos.
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Caros amigos da FITA.
Estou imensamente agradecida pelo privilégio de ter sido nomeada pelo seu criterioso júri com o premio especial ao espetáculo "Preferiria Não?" e minhas atividades dentro dele.
Gostaria que, por favor, repassassem meus agradecimentos a cada um desta capacitada Comissão de Júri, que demonstra seu imenso amor ao teatro já ao se comprometerem à tarefa envolvente e madura de assistir a cada espetáculo com a receptividade que envolve aceitação das diferenças, olhar de interesse de 360 graus, discernimento vindo de sabedoria da disciplina do teatro, esta arte milenar que os gregos praticavam para "cura" do espectador (nada menos do que isso) por tratar não apenas de fortuitas circunstâncias, mas de temas da natureza humana que une a todos, sempre de forma libertária e amorosa!
Eu sei, e é notório, o gabarito profissional e artístico de cada um deles, como sabemos também que exercem pessoal e unicamente, marcantes traços únicos e originais, de qualidades que os levaram a ser convidados para tal importante atividade pela FITA, (que por nove batalhadas vezes, em tudo prima por suas escolhas extremamente afinadas a seu nobre compromisso de manutenção do teatro no seu melhor nível, e buscando basicamente a exposição das tão diferentes expressões da arte cênica.
Cada componente deste júri, com suas vocações e suas carreiras praticadas na alta plataforma de sua integridades, nos repleta, especialmente, de alegria com esta distinção que recebemos!
Parabenizo os diretores da FITA e Sergio Fonta, Ana Kutner, Daniele Ávila Small, João Coelho e Lionel Fischer, esses a quem também agradeço profunda e emocionadamente por valorizarem meus trabalhos específicos de direção, texto, adaptação, coreografia, sonoplastia e interpretação solo no espetáculo de minha mais recente criação intitulado “Preferiria não?”
Para quem exercer essas funções em um repertório com mais de dezena de peças em cartaz permanente, ter a distinção de cada uma nomeada é um prêmio a mais, acreditem!
Desejo a todos do júri suas próprias e contínuas realizações e a mesma plenitude e estímulo gigantesco que me proporcionam com esta enorme distinção, bem no ano em que já começo a comemorar meus 45 anos de teatro.
Obrigada, profissionais queridos, generosos e amáveis!
Denise Stoklos 21/12/2012
Estou imensamente agradecida pelo privilégio de ter sido nomeada pelo seu criterioso júri com o premio especial ao espetáculo "Preferiria Não?" e minhas atividades dentro dele.
Gostaria que, por favor, repassassem meus agradecimentos a cada um desta capacitada Comissão de Júri, que demonstra seu imenso amor ao teatro já ao se comprometerem à tarefa envolvente e madura de assistir a cada espetáculo com a receptividade que envolve aceitação das diferenças, olhar de interesse de 360 graus, discernimento vindo de sabedoria da disciplina do teatro, esta arte milenar que os gregos praticavam para "cura" do espectador (nada menos do que isso) por tratar não apenas de fortuitas circunstâncias, mas de temas da natureza humana que une a todos, sempre de forma libertária e amorosa!
Eu sei, e é notório, o gabarito profissional e artístico de cada um deles, como sabemos também que exercem pessoal e unicamente, marcantes traços únicos e originais, de qualidades que os levaram a ser convidados para tal importante atividade pela FITA, (que por nove batalhadas vezes, em tudo prima por suas escolhas extremamente afinadas a seu nobre compromisso de manutenção do teatro no seu melhor nível, e buscando basicamente a exposição das tão diferentes expressões da arte cênica.
Cada componente deste júri, com suas vocações e suas carreiras praticadas na alta plataforma de sua integridades, nos repleta, especialmente, de alegria com esta distinção que recebemos!
Parabenizo os diretores da FITA e Sergio Fonta, Ana Kutner, Daniele Ávila Small, João Coelho e Lionel Fischer, esses a quem também agradeço profunda e emocionadamente por valorizarem meus trabalhos específicos de direção, texto, adaptação, coreografia, sonoplastia e interpretação solo no espetáculo de minha mais recente criação intitulado “Preferiria não?”
Para quem exercer essas funções em um repertório com mais de dezena de peças em cartaz permanente, ter a distinção de cada uma nomeada é um prêmio a mais, acreditem!
Desejo a todos do júri suas próprias e contínuas realizações e a mesma plenitude e estímulo gigantesco que me proporcionam com esta enorme distinção, bem no ano em que já começo a comemorar meus 45 anos de teatro.
Obrigada, profissionais queridos, generosos e amáveis!
Denise Stoklos 21/12/2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
FITA 2011
Em cerimônia realizada ontem no Teatro NET Rio, foram conhecidos os vencedores da 9ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra. Com curadoria de João Carlos Rabello e júri composto por Sérgio Fonta (presidente), Ana Kutner, Danielle Ávila, João Coelho e Lionel Fischer, o evento premiou os profisisonais abaixo:
AUTOR - Carla Faour ("Obsessão")
DIRETOR - Inez Viana ("Mamutes")
ATOR - Gustavo Rodrigues ("Bill Dog")
ATRIZ - Débora Lamm ("Mamutes")
ATOR COADJUVANTE - Iuri Kruschewsky ("Porcos com Asas")
ATRIZ COADJUVANTE - Patrícia Ramalho ("Porcos com Asas")
CENÁRIO - Marcos Chaves ("A Primeira Vista")
FIGURINOS - Flávio Souza ("Mamutes")
REVELAÇÃO - Jefferson Almeida (Ator e Diretor de "Deus e o Diabo na Terra do Sol")
MELHOR ESPETÁCULO - "Porcos com Asas"
CATEGORIA ESPECIAL - Elenco do espetáculo "Favela"
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - Denise Stoklos por sua concepção e atuação em "Preferiria não?"
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR (Melhor Espetáculo) - "Seis aulas de dança em seis semanas"
PRÊMIO MELHOR ESPETÁCULO INFANTIL - "A Princesa e o Sapo" (este prêmio foi conferido por um júri composto por cinco crianças)
HOMENAGEM FITA 2011 - Suely Franco, por seus 53 anos de carreira de absoluto sucesso no teatro, cinema e televisão.
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Em cerimônia realizada ontem no Teatro NET Rio, foram conhecidos os vencedores da 9ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra. Com curadoria de João Carlos Rabello e júri composto por Sérgio Fonta (presidente), Ana Kutner, Danielle Ávila, João Coelho e Lionel Fischer, o evento premiou os profisisonais abaixo:
AUTOR - Carla Faour ("Obsessão")
DIRETOR - Inez Viana ("Mamutes")
ATOR - Gustavo Rodrigues ("Bill Dog")
ATRIZ - Débora Lamm ("Mamutes")
ATOR COADJUVANTE - Iuri Kruschewsky ("Porcos com Asas")
ATRIZ COADJUVANTE - Patrícia Ramalho ("Porcos com Asas")
CENÁRIO - Marcos Chaves ("A Primeira Vista")
FIGURINOS - Flávio Souza ("Mamutes")
REVELAÇÃO - Jefferson Almeida (Ator e Diretor de "Deus e o Diabo na Terra do Sol")
MELHOR ESPETÁCULO - "Porcos com Asas"
CATEGORIA ESPECIAL - Elenco do espetáculo "Favela"
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - Denise Stoklos por sua concepção e atuação em "Preferiria não?"
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR (Melhor Espetáculo) - "Seis aulas de dança em seis semanas"
PRÊMIO MELHOR ESPETÁCULO INFANTIL - "A Princesa e o Sapo" (este prêmio foi conferido por um júri composto por cinco crianças)
HOMENAGEM FITA 2011 - Suely Franco, por seus 53 anos de carreira de absoluto sucesso no teatro, cinema e televisão.
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FITA 2011
Em cerimônia realizada ontem no Teatro NET Rio, foram conhecidos os vencedores da 9ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra. Com curadoria de João Carlos Rabello e júri composto por Sérgio Fonta (presidente), Ana Kutner, Danielle Ávila, João Coelho e Lionel Fischer, o evento premiou os profisisonais abaixo:
AUTOR - Carla Faour (Obsessão)
DIRETOR - Inez Viana (Mamutes)
ATOR - Gustavo Rodrigues (Bill Dog)
ATRIZ - Débora Lamm (Mamutes)
ATOR COADJUVANTE - Iuri Kruschewsky (Porcos com Asas)
ATRIZ COADJUVANTE - Patrícia Ramalho (Porcos com Asas)
CENÁRIO - Marcos Chaves (A Primeira Vista)
FIGURINOS - Flávio Souza (Mamutes)
REVELAÇÃO - Jefferson Almeida (Ator e Diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol)
MELHOR ESPETÁCULO - Porcos com Asas
CATEGORIA ESPECIAL - Elenco do espetáculo Favela
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - Denise Stoklos por sua concepção e atuação em Preferiria não?
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR (Melhor Espetáculo) - Seis aulas de dança em seis semanas
PRÊMIO MELHOR ESPETÁCULO INFANTIL - A Princesa e o Sapo (este prêmio foi conferido por um júri composto por cinco crianças)
HOMENAGEM FITA 2011 - Suely Franco, por seus 53 anos de carreira de absoluto sucesso no teatro, cinema e televisão.
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Em cerimônia realizada ontem no Teatro NET Rio, foram conhecidos os vencedores da 9ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra. Com curadoria de João Carlos Rabello e júri composto por Sérgio Fonta (presidente), Ana Kutner, Danielle Ávila, João Coelho e Lionel Fischer, o evento premiou os profisisonais abaixo:
AUTOR - Carla Faour (Obsessão)
DIRETOR - Inez Viana (Mamutes)
ATOR - Gustavo Rodrigues (Bill Dog)
ATRIZ - Débora Lamm (Mamutes)
ATOR COADJUVANTE - Iuri Kruschewsky (Porcos com Asas)
ATRIZ COADJUVANTE - Patrícia Ramalho (Porcos com Asas)
CENÁRIO - Marcos Chaves (A Primeira Vista)
FIGURINOS - Flávio Souza (Mamutes)
REVELAÇÃO - Jefferson Almeida (Ator e Diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol)
MELHOR ESPETÁCULO - Porcos com Asas
CATEGORIA ESPECIAL - Elenco do espetáculo Favela
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - Denise Stoklos por sua concepção e atuação em Preferiria não?
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR (Melhor Espetáculo) - Seis aulas de dança em seis semanas
PRÊMIO MELHOR ESPETÁCULO INFANTIL - A Princesa e o Sapo (este prêmio foi conferido por um júri composto por cinco crianças)
HOMENAGEM FITA 2011 - Suely Franco, por seus 53 anos de carreira de absoluto sucesso no teatro, cinema e televisão.
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Teatro/CRÍTICA
"Esta criança"
........................................................
Delicadas relações no CCBB
Lionel Fischer
"Esta Criança estrutura-se em 10 cenas curtas e apresenta como tema único, ao mesmo tempo fragmentado em diferentes aspectos de abordagem, a relação entre pais e filhos. Constrangedoras, engraçadas, tristes, estranhas, as situações de morte, nascimento, adoção, abandono, agressão, desabafo, ilustram pontos cruciais e eternos na vida dos personagens sem nome, reconhecidos apenas pelas relações de parentesco que se tornam aparentes no desenvolvimento dos diálogos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto e a estrutura de "Esta criança", do dramaturgo francês Joël Pommerat, em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil. Fruto da parceria entre a Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, e a atriz Renata Sorrah, a montagem chega à cena com direção de Marcio Abreu e elenco formado por Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzales e Edson Rocha.
Mesmo não sendo psicanalista, ouso supor que aquilo que somos - ou nos tornamos - tem estreitíssima relação com o nosso universo familiar. Um casal se escolhe, naturalmente, mas os filhos que advém dessa união possuirão singularidades que muitas vezes acabam contrariando as mais prosaicas expectativas daqueles que os geraram. E nos momentos em que se materializam impasses, a possibilidade de entendimento é muitas vezes anulada pela intolerância, nada mais restando do que dolorosas trocas de acusações.
Por outro lado, é inegável que o universo familar não se resume a um carrossel de horrores e todos nós, ainda que em graus diferenciados, certamente guardamos algumas boas lembranças da relação que tivemos com nossos pais, irmãos etc. Mas, como dito no parágrafo inicial, o presente texto investe nos aspectos mais sombrios das relações familiares, ainda que eventualmente valendo-se do humor.
E certamente em função da acurada capacidade de observação do autor, dos ótimos diálogos que criou e dos instigantes personagens que povoam a cena, acredito que os espectadores poderão não apenas se identificar com muitas situações, mas também empreender oportunas reflexões sobre suas vidas e relações familiares.
Com relação à montagem, Marcio Abreu impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. A começar pela ótima exploração que faz da expressiva cenografia de Fernando Marés, composta basicamente de um amplo cômodo inclinado que enfatiza o desequilíbrio das relações em causa. Valendo-se, também, da soturna e claustrofóbica iluminação de Nadja Naira, o encenador movimenta os atores de forma tal que, não raro, tive a sensação de estar vivendo um pesadelo - ou, quem sabe, permitindo que meu inconsciente liberasse imagens e lembranças supostamente adormecidas.
Com relação ao elenco, os quatro profissionais que estão em cena exibem desempenhos irretocáveis, tanto nas passagens mais dolorosas (a maioria) quanto naquelas em que o humor predomina.
Cabe também salientar a capacidade do conjunto de valorizar ao máximo os momentos em que nada é dito, quando as emoções em causa inviabilizam a possibilidade de serem expressas através das palavras.
No complemento da ficha técnica, parabenizo com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de Giovana Soar (tradução), Felipe Storino (trilha e efeitos sonoros), Valéria Stefani (figurino), Marcia Rubin (direção de movimento) e Babaya (preparação vocal).
ESTA CRIANÇA - Texto de Joël Pommerat. Direção de Marcio Abreu. Com Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzales e Edson Rocha. Teatro I do CCBB. Quarta a domingo, 21h.
"Esta criança"
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Delicadas relações no CCBB
Lionel Fischer
"Esta Criança estrutura-se em 10 cenas curtas e apresenta como tema único, ao mesmo tempo fragmentado em diferentes aspectos de abordagem, a relação entre pais e filhos. Constrangedoras, engraçadas, tristes, estranhas, as situações de morte, nascimento, adoção, abandono, agressão, desabafo, ilustram pontos cruciais e eternos na vida dos personagens sem nome, reconhecidos apenas pelas relações de parentesco que se tornam aparentes no desenvolvimento dos diálogos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto e a estrutura de "Esta criança", do dramaturgo francês Joël Pommerat, em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil. Fruto da parceria entre a Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, e a atriz Renata Sorrah, a montagem chega à cena com direção de Marcio Abreu e elenco formado por Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzales e Edson Rocha.
Mesmo não sendo psicanalista, ouso supor que aquilo que somos - ou nos tornamos - tem estreitíssima relação com o nosso universo familiar. Um casal se escolhe, naturalmente, mas os filhos que advém dessa união possuirão singularidades que muitas vezes acabam contrariando as mais prosaicas expectativas daqueles que os geraram. E nos momentos em que se materializam impasses, a possibilidade de entendimento é muitas vezes anulada pela intolerância, nada mais restando do que dolorosas trocas de acusações.
Por outro lado, é inegável que o universo familar não se resume a um carrossel de horrores e todos nós, ainda que em graus diferenciados, certamente guardamos algumas boas lembranças da relação que tivemos com nossos pais, irmãos etc. Mas, como dito no parágrafo inicial, o presente texto investe nos aspectos mais sombrios das relações familiares, ainda que eventualmente valendo-se do humor.
E certamente em função da acurada capacidade de observação do autor, dos ótimos diálogos que criou e dos instigantes personagens que povoam a cena, acredito que os espectadores poderão não apenas se identificar com muitas situações, mas também empreender oportunas reflexões sobre suas vidas e relações familiares.
Com relação à montagem, Marcio Abreu impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. A começar pela ótima exploração que faz da expressiva cenografia de Fernando Marés, composta basicamente de um amplo cômodo inclinado que enfatiza o desequilíbrio das relações em causa. Valendo-se, também, da soturna e claustrofóbica iluminação de Nadja Naira, o encenador movimenta os atores de forma tal que, não raro, tive a sensação de estar vivendo um pesadelo - ou, quem sabe, permitindo que meu inconsciente liberasse imagens e lembranças supostamente adormecidas.
Com relação ao elenco, os quatro profissionais que estão em cena exibem desempenhos irretocáveis, tanto nas passagens mais dolorosas (a maioria) quanto naquelas em que o humor predomina.
Cabe também salientar a capacidade do conjunto de valorizar ao máximo os momentos em que nada é dito, quando as emoções em causa inviabilizam a possibilidade de serem expressas através das palavras.
No complemento da ficha técnica, parabenizo com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de Giovana Soar (tradução), Felipe Storino (trilha e efeitos sonoros), Valéria Stefani (figurino), Marcia Rubin (direção de movimento) e Babaya (preparação vocal).
ESTA CRIANÇA - Texto de Joël Pommerat. Direção de Marcio Abreu. Com Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzales e Edson Rocha. Teatro I do CCBB. Quarta a domingo, 21h.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
DANÇA DE TODAS AS TRIBOS
TEATRO CACILDA BECKER
RJ
Durante os meses de outubro e novembro, o palco do Teatro Cacilda Becker serviu às mais diversas potências dos corpos: vibrantes, leves, intensos, suaves, camuflados, nus. Reunindo intervenções urbanas, oficinas, debates, residências artísticas e espetáculos, entre diferentes gestos, cores e sons, apresentando ao público artistas e obras em suas relações com a dança e outras linguagens e expressões artísticas.
Em dezembro, a ocupação procura colaborar com a difusão de trabalhos de artistas, educadores e instituições que atuam diretamente na democratização do ensino da dança, através da troca de saberes entre estes grupos, trabalhando em rede, coletivamente. Pensar politicamente, agir localmente. Como se faz o ensino da dança em nossa cidade, sua importância e as transformações que acarreta.
Sob o calor do verão, em janeiro, o palco é aberto para que se criem novas zonas de contato entre diferentes manifestações da dança, a partir da matéria de expressão mais popular da brasilidade: o carnaval! Os espetáculos em questão tratam de propor reconfigurações do nosso imaginário mais enraizado, promovendo misturas, encontros, miscigenações, de batidas, sonoridades e movimentos.
A dança como palco para todos os ritmos e gêneros. A dança como espaço para todos os públicos. Dança para todas as Tribos. Tribos para todas as Danças.
Programação Dezembro
OFICINA “RIO ABIERTO, com Marinela Carneiro Dias e Regina Neves
Dia 13, quinta-feira, às 10h
INTERCÂMBIO DANÇA-EDUCAÇÃO (entrada gratuita)
Dia 12, quarta-feira
16h Aula Aberta com a Pulsar Cia. de Dança
19h ABERTURA “Corpo Desperto”, do Ponto de Cultura Espaço Panorama, com participação especial dos Cancioneiros do IPUB. Direção artística de Bermardo Zabalaga, Bruna Savaget e André Vidal.
20h COMO SE FAZEM AS DANÇAS?
Acesso à dança: o papel da dança-educação
Mediação:
Eduardo Bonito
Curadoria:
Flavia Meirelles e Barbara Fontana
Participantes:
Carla Strachmann
Dyonne Boy
Frederico Paredes
Helena Matriciano
Ivana Mena Barreto
Renato Cruz
Rosane Campelo
Sylvia Soter
Vivian Cáfaro
Dia 13, quinta-feira
10h Oficina Rio Abierto “Movimento Expressivo” (com Marinela Carneiro Dias)
14h Aula de Aquecimento com a professora Ingrid Medeiros (Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna)
18h MOSTRA
“Corpos Móveis”, com direção de Patrícia Pereira e Lara Seidler (Cia. de Dança da UFRJ)
“Jogos Eletrônicos”, com direção de Carla Oliveira (AKO Dance – Academia Carla Oliveira)
“Desafiando Olhares”, com direção de Igor Maurício, Diego Carvalho e Douglas Magalhães (Meninos do Pólo)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Dia 14, sexta-feira
14h Aula de Aquecimento com o professor Paulo Trajano (Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna)
18h “A Fabulosa Procissão de São Pedro Pelas Águas da Guanabara”, com direção de Tiago Ribeiro e Renata Tavares (Instituição Comunitária do Brasil)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Dia 15, sábado
14h Aula de Aquecimento com a professora Eraci de Oliveira (Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna)
17h “Alfa&Omega”, direção de coreografia de Claudio Cardoso (Artístico & Cultural Segmentos) “Funk-se”, fragmento inédito do espetáculo dirigido por Michel Cordeiro com estreia em 2013, (Jovens da Periferia)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Dia 16, domingo (participação especial da Angel Vianna)
14h Aula de Aquecimento para os grupos que se apresentarão no Intercâmbio com a professora Maira Manescky, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
17h Mostra Universitária
“Repetição ou Acontecimentos Discretos”, orientado pela professora Esther Weitzman (UniverCidade)
“Diretamente do sertão, Dona Bonita e Seu Lampião”, orientado pela professora Lais Bernardes (Coletivo UFRJ)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Instituições Participantes do Intercâmbio Dança-Educação:
Ação Comunitária do Brasil, Coletivo UFRJ, Escola de Dança e Faculdade Angel Vianna, Espaço AKO Dance de São Gonçalo, Grupo Artística & Cultural Segmentos, Jovens da Periferia, Meninos do Pólo e UniverCidade.
Programação Janeiro
MIX CARNAVALESCO, com Tatiana France
Dias 09, 16, 23 e 30, às 10h - Quartas-feiras
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
RASA: A ESSÊNCIA DA ARTE INDIANA NA MÚSICA E NA DANÇA CLÁSSICAS, com o Maestro Ritwik Sanyal e a bailarina Susane Travassos
Dia 09, quarta-feira, às 20h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
OFICINA “RIO ABIERTO”, com Marinela Carneiro Dias e Regina Neves
Dias 10, 17, 24 e 31, às 10h - Quintas-feiras- Entrada Franca
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
SENHA DE ACESSO, com direção e coreografia de André Bern e colaboração dos artistas Aluísio Flores, Fábio Honório, Monica da Costa e Esther Weitzman
Dias 11 e 12, sexta e sábado, às 20h e dia 13, às 19h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
JAM RODA VIVA, com Soraya Jorge
Dia 16, quarta-feira, às 18h30
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
O FREVO É TEU?, com Direção de Bella Maia e concepção da intérprete-criadora Fláira Ferro
Dias 18 e 19, sexta e sábado,às 20h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
A DESCOBERTA DO CORPO NAS BRINCADEIRAS POPULARES (aula-espetáculo), com Fláira Ferro
Dia 20, domingo, às 17h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
DA ONDE VEM SUA DANÇA?, concepção e direção geral de Renato Santos e coreografia de Monica da Costa
Dias 23 e 24, quarta e quinta-feira, às 20h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
UM CADINHO DE SAMBA, com Muanes Dançateatro
Dias 25 e 26, sexta e sábado, às 20h e Dia 27, domingo, às 19h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
SERVIÇO
Dança de Todas as Tribos
Teatro Cacilda Becker -Rua do Catete, 338. RJ. Tel: 21. 2233-6879
Lotação : 177 lugares
Funcionamento da bilheteria : de quarta a domingo a partir das 15h
Não aceita cartões ou cheques
Classificação etária livre em todos os espetáculos
Acesso a cadeirantes
Saiba mais :www.dancadetodasastribos.com.br
Realização: Burburinho Cultural - Funarte
Projeto contemplado no Edital de Ocupação do Teatro Cacilda Becker - 2012
Assessoria em Comunicação
Cida Fernandes e Clóvis Corrêa
21.24013210;82897728;8 6243980;
_________________________________
TEATRO CACILDA BECKER
RJ
Durante os meses de outubro e novembro, o palco do Teatro Cacilda Becker serviu às mais diversas potências dos corpos: vibrantes, leves, intensos, suaves, camuflados, nus. Reunindo intervenções urbanas, oficinas, debates, residências artísticas e espetáculos, entre diferentes gestos, cores e sons, apresentando ao público artistas e obras em suas relações com a dança e outras linguagens e expressões artísticas.
Em dezembro, a ocupação procura colaborar com a difusão de trabalhos de artistas, educadores e instituições que atuam diretamente na democratização do ensino da dança, através da troca de saberes entre estes grupos, trabalhando em rede, coletivamente. Pensar politicamente, agir localmente. Como se faz o ensino da dança em nossa cidade, sua importância e as transformações que acarreta.
Sob o calor do verão, em janeiro, o palco é aberto para que se criem novas zonas de contato entre diferentes manifestações da dança, a partir da matéria de expressão mais popular da brasilidade: o carnaval! Os espetáculos em questão tratam de propor reconfigurações do nosso imaginário mais enraizado, promovendo misturas, encontros, miscigenações, de batidas, sonoridades e movimentos.
A dança como palco para todos os ritmos e gêneros. A dança como espaço para todos os públicos. Dança para todas as Tribos. Tribos para todas as Danças.
Programação Dezembro
OFICINA “RIO ABIERTO, com Marinela Carneiro Dias e Regina Neves
Dia 13, quinta-feira, às 10h
INTERCÂMBIO DANÇA-EDUCAÇÃO (entrada gratuita)
Dia 12, quarta-feira
16h Aula Aberta com a Pulsar Cia. de Dança
19h ABERTURA “Corpo Desperto”, do Ponto de Cultura Espaço Panorama, com participação especial dos Cancioneiros do IPUB. Direção artística de Bermardo Zabalaga, Bruna Savaget e André Vidal.
20h COMO SE FAZEM AS DANÇAS?
Acesso à dança: o papel da dança-educação
Mediação:
Eduardo Bonito
Curadoria:
Flavia Meirelles e Barbara Fontana
Participantes:
Carla Strachmann
Dyonne Boy
Frederico Paredes
Helena Matriciano
Ivana Mena Barreto
Renato Cruz
Rosane Campelo
Sylvia Soter
Vivian Cáfaro
Dia 13, quinta-feira
10h Oficina Rio Abierto “Movimento Expressivo” (com Marinela Carneiro Dias)
14h Aula de Aquecimento com a professora Ingrid Medeiros (Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna)
18h MOSTRA
“Corpos Móveis”, com direção de Patrícia Pereira e Lara Seidler (Cia. de Dança da UFRJ)
“Jogos Eletrônicos”, com direção de Carla Oliveira (AKO Dance – Academia Carla Oliveira)
“Desafiando Olhares”, com direção de Igor Maurício, Diego Carvalho e Douglas Magalhães (Meninos do Pólo)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Dia 14, sexta-feira
14h Aula de Aquecimento com o professor Paulo Trajano (Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna)
18h “A Fabulosa Procissão de São Pedro Pelas Águas da Guanabara”, com direção de Tiago Ribeiro e Renata Tavares (Instituição Comunitária do Brasil)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Dia 15, sábado
14h Aula de Aquecimento com a professora Eraci de Oliveira (Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna)
17h “Alfa&Omega”, direção de coreografia de Claudio Cardoso (Artístico & Cultural Segmentos) “Funk-se”, fragmento inédito do espetáculo dirigido por Michel Cordeiro com estreia em 2013, (Jovens da Periferia)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Dia 16, domingo (participação especial da Angel Vianna)
14h Aula de Aquecimento para os grupos que se apresentarão no Intercâmbio com a professora Maira Manescky, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
17h Mostra Universitária
“Repetição ou Acontecimentos Discretos”, orientado pela professora Esther Weitzman (UniverCidade)
“Diretamente do sertão, Dona Bonita e Seu Lampião”, orientado pela professora Lais Bernardes (Coletivo UFRJ)
“Angel no Cacilda”, da Escola de Dança e Faculdade de Dança Angel Vianna
Instituições Participantes do Intercâmbio Dança-Educação:
Ação Comunitária do Brasil, Coletivo UFRJ, Escola de Dança e Faculdade Angel Vianna, Espaço AKO Dance de São Gonçalo, Grupo Artística & Cultural Segmentos, Jovens da Periferia, Meninos do Pólo e UniverCidade.
Programação Janeiro
MIX CARNAVALESCO, com Tatiana France
Dias 09, 16, 23 e 30, às 10h - Quartas-feiras
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
RASA: A ESSÊNCIA DA ARTE INDIANA NA MÚSICA E NA DANÇA CLÁSSICAS, com o Maestro Ritwik Sanyal e a bailarina Susane Travassos
Dia 09, quarta-feira, às 20h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
OFICINA “RIO ABIERTO”, com Marinela Carneiro Dias e Regina Neves
Dias 10, 17, 24 e 31, às 10h - Quintas-feiras- Entrada Franca
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
SENHA DE ACESSO, com direção e coreografia de André Bern e colaboração dos artistas Aluísio Flores, Fábio Honório, Monica da Costa e Esther Weitzman
Dias 11 e 12, sexta e sábado, às 20h e dia 13, às 19h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
JAM RODA VIVA, com Soraya Jorge
Dia 16, quarta-feira, às 18h30
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
O FREVO É TEU?, com Direção de Bella Maia e concepção da intérprete-criadora Fláira Ferro
Dias 18 e 19, sexta e sábado,às 20h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
A DESCOBERTA DO CORPO NAS BRINCADEIRAS POPULARES (aula-espetáculo), com Fláira Ferro
Dia 20, domingo, às 17h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
DA ONDE VEM SUA DANÇA?, concepção e direção geral de Renato Santos e coreografia de Monica da Costa
Dias 23 e 24, quarta e quinta-feira, às 20h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
UM CADINHO DE SAMBA, com Muanes Dançateatro
Dias 25 e 26, sexta e sábado, às 20h e Dia 27, domingo, às 19h
Ingressos : R$20,00 e R$10,00
SERVIÇO
Dança de Todas as Tribos
Teatro Cacilda Becker -Rua do Catete, 338. RJ. Tel: 21. 2233-6879
Lotação : 177 lugares
Funcionamento da bilheteria : de quarta a domingo a partir das 15h
Não aceita cartões ou cheques
Classificação etária livre em todos os espetáculos
Acesso a cadeirantes
Saiba mais :www.dancadetodasastribos.com.br
Realização: Burburinho Cultural - Funarte
Projeto contemplado no Edital de Ocupação do Teatro Cacilda Becker - 2012
Assessoria em Comunicação
Cida Fernandes e Clóvis Corrêa
21.24013210;82897728;8 6243980;
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segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Teatro/CRÍTICA
"Jacinta"
.................................................
Delicioso tributo ao teatro
Lionel Fischer
Consta que ela seria a pior atriz de todos os tempos. Em termos estritamente lusitanos, não cabe a menor dúvida - segundo renomados e desconhecidos historiadores, após uma apresentação na corte, em meados do século XVI, ela provocou a morte da rainha, que sucumbiu ao vê-la interpretar um poema de Gil Vicente. Sempre acossada pela fome e por uma desesperada ânsia de aplauso, Jacinta cruza o Atlântico e chega ao Brasil, onde dá prosseguimento à sua saga, repleta de passagens rocambolescas.
Isso posto, caberia a seguinte reflexão. O texto tem, como figura central e magnífica, a patética e desvairada dama que persegue, com férrea obstinação, um sucesso que dificilmente alcançará. Mas seria ela a real protagonista? Ou o protagonista seria o próprio teatro? Em minha opinião, o que está realmente em causa é a sagrada e milenar arte teatral, aqui trabalhada de forma sensível, comovente e hilária.
A partir do original escrito por Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho e Branco Mello (em parceria com o autor) criaram a comédia-rock "Jacinta", em cartaz no Teatro Poeira. Aderbal Freire-Filho assina a direção, Branco Mello a direção musical, Mello e Emerson Villani respondem pelas músicas e Newton Moreno e Aderbal pelas letras das treze canções.
No elenco, Andréa Beltrão vive a protagonista, tendo como parceiros Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant, Isiio Ghelman e Rodrigo França, que se dividem em uma infinidade de personagens. Na parte musical, o grupo Os Jacintas, composto por Maurício Coringa (guitarra, violão e bandolim), Tássio Ramos (baixo), Ricardo Rito (teclados) e Hélio Ratis (bateria).
Como disse acima, em minha opinião o grande personagem desta deliciosa comédia-rock é o teatro. Ela aborda um sem-número de questões inerentes ao fazer teatral, tais como talento, vocação, carências, fragilidades, aprendizado, recomeço, renúncias, variadas formas de sujeição, a inarredável crença de que as coisas acabarão dando certo etc.
Como todos sabemos, Galileu teve que se ajoelhar perante a Santa Inquisição, mas nem por isso a terra deixou de girar em torno do sol. E o mesmo se dá com aqueles que merecem ser chamados de "atores" - atores do palco, bem entendido. Não há derrota que os faça desistir, posto que conscientes de que só pode usufruir a luz aquele que conheceu as trevas. E os verdadeiros atores também sabem que todo adeus contém em si a promessa de um encontro futuro - o que se julga perdido num determinado momento, pode ser reinventado amanhã. Jacinta talvez não tenha talento, no sentido óbvio do termo. Mas possui algo que o transcende: sua inabalável crença de que só o teatro permite um visceral encontro entre os homens.
Bem escrito, contendo ótimos personagens e uma trama que encanta por sua fantasia e inusitadas situações, "Jacinta" recebeu maravilhosa versão cênica de Aderbal Freire-Filho, tanto no que concerne à criatividade das marcações quanto no que diz respeito à forma como brinca com a estrutura teatro dentro do teatro. Sob todos os aspectos, uma brilhante, divertida e comovente festa em homenagem ao teatro, regada a excelentes canções a partir de letras saborosíssimas.
Com relação ao elenco, Andréa Beltrão demonstra uma vez mais seu inconcebível talento. Mencionar seus vastíssimos recursos expressivos, a esta altura, me parece irrelevante, posto que os mesmos já são de há muito conhecidos. Assim sendo, opto por me centrar na inteligência de suas escolhas. Andréa jamais envereda pelo caminho mais fácil, previsível e que já sabe que domina. Pelo contrário: trabalha sempre no risco, recusando-se a se tornar uma espécie de parasita de suas próprias conquistas. E sua composição de Jacinta é uma verdadeira aula de como se fazer comédia sem lançar mão de abomináveis e defasados truques. Vou tentar esmiuçar um pouco o que acabo de dizer.
Os que conhecem minimamente a arte de representar sabem que deve haver total sintonia entre corpo e voz, ou seja, tanto os gestos como a forma de dizer o texto devem constituir uma unidade indissociável. Não basta, portanto, ter ótima voz (Andréa a possui) ou um corpo capaz de obedecer a diferenciados estímulos (Andréa faz o que quer com seu corpo). É preciso que tais recursos sejam trabalhados de forma a expressar um determinado caráter, em toda a sua complexidade e amplitude, sem se desprezar qualquer detalhe. E aqui, dentre muitos outros, menciono dois: a forma como Andréa impõe exacerbado e hilariante descontrole aos seus gestos e a expressão deliciosamente obtusa de seu olhar, sempre que a personagem não entende alguma coisa ou a perplexidade a domina. Sob todos os aspectos, um desempenho que se insere entre os melhores de sua brilhantíssima carreira - cumpre também assinalar que a triz canta muito bem e é charmosíssima quando dança.
Com relação Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant, Isio Ghelman e Rodrigo França, todos também exibem performances irretocáveis e certamente revelam-se parceiros à altura da protagonista, o que constitui tarefa nada fácil, já que Andréa Beltrão é uma intérprete de exceção. A todos, portanto, parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a deliciosa noite que me proporcionaram.
Na equipe técnica, são excelentes as músicas de Branco Mello e Emerson Villani (também responsável pelos ótimos arranjos), o mesmo aplicando-se às letras de Newton Moreno e Aderbal Freire-Filho. Antonio Medeiros responde por figurinos que mesclam, com grande criatividade, o passado e o presente. Como de hábito, Maneco Quinderé ilumina a cena de forma irrepreensível, sendo impecáveis a cenografia e os objetos criados por Fernando Mello da Costa. João Saldanha e Marcelo Braga criaram divertidas coreografias, cabendo ainda mencionar o visagismo de Lu de Moraes, a contribuição na parte de prosódia de Iris Gomes da Costa e a direção vocal de Cris Dellano.
JACINTA - Comédia-rock de Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho e Branco Mello. Direção de Aderbal Freire-filho. Com Andréa Beltrão, Augusto Madeira, Gillray Coutinho, Isio Ghelman, José Mauro Brant e Rodrigo França. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.
"Jacinta"
.................................................
Delicioso tributo ao teatro
Lionel Fischer
Consta que ela seria a pior atriz de todos os tempos. Em termos estritamente lusitanos, não cabe a menor dúvida - segundo renomados e desconhecidos historiadores, após uma apresentação na corte, em meados do século XVI, ela provocou a morte da rainha, que sucumbiu ao vê-la interpretar um poema de Gil Vicente. Sempre acossada pela fome e por uma desesperada ânsia de aplauso, Jacinta cruza o Atlântico e chega ao Brasil, onde dá prosseguimento à sua saga, repleta de passagens rocambolescas.
Isso posto, caberia a seguinte reflexão. O texto tem, como figura central e magnífica, a patética e desvairada dama que persegue, com férrea obstinação, um sucesso que dificilmente alcançará. Mas seria ela a real protagonista? Ou o protagonista seria o próprio teatro? Em minha opinião, o que está realmente em causa é a sagrada e milenar arte teatral, aqui trabalhada de forma sensível, comovente e hilária.
A partir do original escrito por Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho e Branco Mello (em parceria com o autor) criaram a comédia-rock "Jacinta", em cartaz no Teatro Poeira. Aderbal Freire-Filho assina a direção, Branco Mello a direção musical, Mello e Emerson Villani respondem pelas músicas e Newton Moreno e Aderbal pelas letras das treze canções.
No elenco, Andréa Beltrão vive a protagonista, tendo como parceiros Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant, Isiio Ghelman e Rodrigo França, que se dividem em uma infinidade de personagens. Na parte musical, o grupo Os Jacintas, composto por Maurício Coringa (guitarra, violão e bandolim), Tássio Ramos (baixo), Ricardo Rito (teclados) e Hélio Ratis (bateria).
Como disse acima, em minha opinião o grande personagem desta deliciosa comédia-rock é o teatro. Ela aborda um sem-número de questões inerentes ao fazer teatral, tais como talento, vocação, carências, fragilidades, aprendizado, recomeço, renúncias, variadas formas de sujeição, a inarredável crença de que as coisas acabarão dando certo etc.
Como todos sabemos, Galileu teve que se ajoelhar perante a Santa Inquisição, mas nem por isso a terra deixou de girar em torno do sol. E o mesmo se dá com aqueles que merecem ser chamados de "atores" - atores do palco, bem entendido. Não há derrota que os faça desistir, posto que conscientes de que só pode usufruir a luz aquele que conheceu as trevas. E os verdadeiros atores também sabem que todo adeus contém em si a promessa de um encontro futuro - o que se julga perdido num determinado momento, pode ser reinventado amanhã. Jacinta talvez não tenha talento, no sentido óbvio do termo. Mas possui algo que o transcende: sua inabalável crença de que só o teatro permite um visceral encontro entre os homens.
Bem escrito, contendo ótimos personagens e uma trama que encanta por sua fantasia e inusitadas situações, "Jacinta" recebeu maravilhosa versão cênica de Aderbal Freire-Filho, tanto no que concerne à criatividade das marcações quanto no que diz respeito à forma como brinca com a estrutura teatro dentro do teatro. Sob todos os aspectos, uma brilhante, divertida e comovente festa em homenagem ao teatro, regada a excelentes canções a partir de letras saborosíssimas.
Com relação ao elenco, Andréa Beltrão demonstra uma vez mais seu inconcebível talento. Mencionar seus vastíssimos recursos expressivos, a esta altura, me parece irrelevante, posto que os mesmos já são de há muito conhecidos. Assim sendo, opto por me centrar na inteligência de suas escolhas. Andréa jamais envereda pelo caminho mais fácil, previsível e que já sabe que domina. Pelo contrário: trabalha sempre no risco, recusando-se a se tornar uma espécie de parasita de suas próprias conquistas. E sua composição de Jacinta é uma verdadeira aula de como se fazer comédia sem lançar mão de abomináveis e defasados truques. Vou tentar esmiuçar um pouco o que acabo de dizer.
Os que conhecem minimamente a arte de representar sabem que deve haver total sintonia entre corpo e voz, ou seja, tanto os gestos como a forma de dizer o texto devem constituir uma unidade indissociável. Não basta, portanto, ter ótima voz (Andréa a possui) ou um corpo capaz de obedecer a diferenciados estímulos (Andréa faz o que quer com seu corpo). É preciso que tais recursos sejam trabalhados de forma a expressar um determinado caráter, em toda a sua complexidade e amplitude, sem se desprezar qualquer detalhe. E aqui, dentre muitos outros, menciono dois: a forma como Andréa impõe exacerbado e hilariante descontrole aos seus gestos e a expressão deliciosamente obtusa de seu olhar, sempre que a personagem não entende alguma coisa ou a perplexidade a domina. Sob todos os aspectos, um desempenho que se insere entre os melhores de sua brilhantíssima carreira - cumpre também assinalar que a triz canta muito bem e é charmosíssima quando dança.
Com relação Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant, Isio Ghelman e Rodrigo França, todos também exibem performances irretocáveis e certamente revelam-se parceiros à altura da protagonista, o que constitui tarefa nada fácil, já que Andréa Beltrão é uma intérprete de exceção. A todos, portanto, parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a deliciosa noite que me proporcionaram.
Na equipe técnica, são excelentes as músicas de Branco Mello e Emerson Villani (também responsável pelos ótimos arranjos), o mesmo aplicando-se às letras de Newton Moreno e Aderbal Freire-Filho. Antonio Medeiros responde por figurinos que mesclam, com grande criatividade, o passado e o presente. Como de hábito, Maneco Quinderé ilumina a cena de forma irrepreensível, sendo impecáveis a cenografia e os objetos criados por Fernando Mello da Costa. João Saldanha e Marcelo Braga criaram divertidas coreografias, cabendo ainda mencionar o visagismo de Lu de Moraes, a contribuição na parte de prosódia de Iris Gomes da Costa e a direção vocal de Cris Dellano.
JACINTA - Comédia-rock de Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho e Branco Mello. Direção de Aderbal Freire-filho. Com Andréa Beltrão, Augusto Madeira, Gillray Coutinho, Isio Ghelman, José Mauro Brant e Rodrigo França. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Teatro/CRÍTICA
"Édipo Rei"
...............................................................
Obra-prima em belíssima versão
Lionel Fischer
Incontáveis ensaios já foram escritos sobre "Édipo Rei" e certamente por pessoas muito mais qualificadas do que eu. Não tenho, portanto, a pretensão de acrescentar nada ao que já foi dito por filósofos, críticos, pensadores e psicanalistas. No entanto, e pensando sobretudo nos leitores/espectadores mais jovens, julgo oportuno fornecer alguns elementos que talvez contribuam para uma percepção mais abrangente desta obra-prima.
Autor dramático grego, Sófocles (496-406 a. de C) é considerado o representante máximo da tragédia durante o governo de Péricles - em sua Poética, Aristóteles afirmava que os dramas de Sófocles eram modelos irretocáveis da tragédia. Suas peças colocam o homem no centro da trama e priorizam a relação dramática entre diferentes personalidades, ou entre diferentes aspectos de um mesmo caráter. Sófocles também deu muita importância ao enredo, sempre pleno de tensão, e à caracterização dos personagens. Consta que escreveu cerca de 120 peças, mas apenas sete chegaram até nós: Ájax, Antígona, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono.
Com adaptação assinada por Eduardo Wotzik e Fernanda Schnoor e direção de Wotzik, "Édipo Rei" chega à cena (Espaço Sesc) com elenco formado por Gustavo Gasparani (Édipo Rei), Fabiana de Mello e Souza (Corifeu), César Augusto (Creonte), Amir Haddad (Tirésias), Eliane Giardini (Jocasta), Pedro Mario Bogianchini (Emissário), Rogério Fróes (Pastor), Thiago Magalhães (Arauto), Nina Malm (Ismênia) e Louise Marrie (Antígona), que dividem a cena com os músicos Felipe Antello e Murilo O'Reilly.
Por tratar-se de uma obra por demais conhecida, não julgo necessário reproduzir seu enredo. Mas, contrariando o que disse acima, não resisto à tentação de escrever o que se segue. Em sua ânsia de conhecer a verdade, Édipo instiga o cego Tirésias a revelar sua professia. Inicialmente indignado, ainda assim Édipo faz absoluta questão de levar até o fim sua investigação. E quando esta confirma inteiramente o relato de Tirésias, ele voluntariamente cega a si próprio, atitude que muitos acreditam ser apenas um ato de autopunição. Pode até ser, mas prefiro acreditar que tal gesto evidencia um claro desejo do personagem de libertar-se, digamos, de sua cegueira espiritual. Entre a aparência e a essência, Édipo opta por esta última.
Com relação ao espetáculo, Eduardo Wotzik consegue impor à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Toda a tragicidade se materializa não através de marcações mirabolantes ou efeitos espetaculosos, mas da valorização do texto e das relações entre os personagens. E justamente em função do caráter austero da montagem, de sua ambientação e da permanente relação dos atores com a plateia, as questões levantadas pelo autor nos atingem de forma tão contundente e assistimos o espetáculo como se dele fizéssemos parte. Ou seja: sem nenhum distanciamento, sem qualquer possibilidade de encararmos a trama como algo restrito ao campo da ficção e que portanto pouco ou nada tem a ver com a nossa realidade. Muito pelo contrário.
Como todos sabemos, vivemos em um mundo que na imundície cada vez mais se afunda. E no entanto, não são poucos os que julgam satisfatório manter limpas as unhas nas pontas dos dedos, ainda que com lama até o pescoço. Mas certamente ainda existem alguns que se dispõem a rasgar os invólucros, que não encaram o silêncio como opção de sobrevivência, que não hesitam em tirar as máscaras impostas e exibem sua face verdadeira face, sejam quais forem as consequências. Neste último grupo, naturalmente, só se inserem aqueles que, como Édipo, acreditam que a humanidade não pode sobreviver sem ética. E talvez seja este valor, cada vez mais raro, que o texto mais enfatiza, e que esta belíssima montagem valoriza de forma tão poderosa e expressiva.
No tocante ao elenco, Gustavo Gasparani está irrepreensível na pele do protagonista, conseguindo materializar, através de ótimo trabalho vocal e corporal, todas as nuances de um personagem complexo e magnífico. A mesma excelência se faz presente nas performances de Fabiana de Mello e Souza, César Augusto e Eliane Giardini. Vivendo Tirésias, Amir Haddad constrói uma figura poderosa, de fortíssimo impacto. Mas acredito que o ator poderia, ao menos em alguns momentos, utilizar um tom de voz mais potente, já que algumas palavras não chegam a ser entendidas com total clareza. Pietro Mario Boginchinni e Thiago Magalhães estão corretos em suas participações, o mesmo aplicando-se a Nina Malm e Louise Marrie. Quanto a Rogério Fróes, o ator exibe uma atuação sensível e comovente, valorizando oa máximo seu pequeno papel.
Na equipe técnica, Bia Junqueira responde por uma cenografia maravilhosa, que explora com total êxito as possibilidades do espaço. Igualmente irrepreensíveis os belos figurinos de Marcelo Olinto, a sóbria e expressiva iluminação de Maneco Quinderé, a original direção musical de Marcelo Alonso Neves, o visagismo de Uirandê Holanda e a adaptação de Eduardo Wotzik e Fernanda Schnoor, cabendo ainda registar a excelente participação dos músicos Felipe Antello e Murilo O'Reilly.
ÉDIPO REI - Texto de Sófocles. Adaptação de Eduardo Wotzik e Fernanda Schnoor. Direção de Wotzik. Com Gustavo Gasparani, Fabiana de Mello e Souza, César Augusto, Amir Haddad, Eliane Giardini e outros. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h30.
"Édipo Rei"
...............................................................
Obra-prima em belíssima versão
Lionel Fischer
Incontáveis ensaios já foram escritos sobre "Édipo Rei" e certamente por pessoas muito mais qualificadas do que eu. Não tenho, portanto, a pretensão de acrescentar nada ao que já foi dito por filósofos, críticos, pensadores e psicanalistas. No entanto, e pensando sobretudo nos leitores/espectadores mais jovens, julgo oportuno fornecer alguns elementos que talvez contribuam para uma percepção mais abrangente desta obra-prima.
Autor dramático grego, Sófocles (496-406 a. de C) é considerado o representante máximo da tragédia durante o governo de Péricles - em sua Poética, Aristóteles afirmava que os dramas de Sófocles eram modelos irretocáveis da tragédia. Suas peças colocam o homem no centro da trama e priorizam a relação dramática entre diferentes personalidades, ou entre diferentes aspectos de um mesmo caráter. Sófocles também deu muita importância ao enredo, sempre pleno de tensão, e à caracterização dos personagens. Consta que escreveu cerca de 120 peças, mas apenas sete chegaram até nós: Ájax, Antígona, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono.
Com adaptação assinada por Eduardo Wotzik e Fernanda Schnoor e direção de Wotzik, "Édipo Rei" chega à cena (Espaço Sesc) com elenco formado por Gustavo Gasparani (Édipo Rei), Fabiana de Mello e Souza (Corifeu), César Augusto (Creonte), Amir Haddad (Tirésias), Eliane Giardini (Jocasta), Pedro Mario Bogianchini (Emissário), Rogério Fróes (Pastor), Thiago Magalhães (Arauto), Nina Malm (Ismênia) e Louise Marrie (Antígona), que dividem a cena com os músicos Felipe Antello e Murilo O'Reilly.
Por tratar-se de uma obra por demais conhecida, não julgo necessário reproduzir seu enredo. Mas, contrariando o que disse acima, não resisto à tentação de escrever o que se segue. Em sua ânsia de conhecer a verdade, Édipo instiga o cego Tirésias a revelar sua professia. Inicialmente indignado, ainda assim Édipo faz absoluta questão de levar até o fim sua investigação. E quando esta confirma inteiramente o relato de Tirésias, ele voluntariamente cega a si próprio, atitude que muitos acreditam ser apenas um ato de autopunição. Pode até ser, mas prefiro acreditar que tal gesto evidencia um claro desejo do personagem de libertar-se, digamos, de sua cegueira espiritual. Entre a aparência e a essência, Édipo opta por esta última.
Com relação ao espetáculo, Eduardo Wotzik consegue impor à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Toda a tragicidade se materializa não através de marcações mirabolantes ou efeitos espetaculosos, mas da valorização do texto e das relações entre os personagens. E justamente em função do caráter austero da montagem, de sua ambientação e da permanente relação dos atores com a plateia, as questões levantadas pelo autor nos atingem de forma tão contundente e assistimos o espetáculo como se dele fizéssemos parte. Ou seja: sem nenhum distanciamento, sem qualquer possibilidade de encararmos a trama como algo restrito ao campo da ficção e que portanto pouco ou nada tem a ver com a nossa realidade. Muito pelo contrário.
Como todos sabemos, vivemos em um mundo que na imundície cada vez mais se afunda. E no entanto, não são poucos os que julgam satisfatório manter limpas as unhas nas pontas dos dedos, ainda que com lama até o pescoço. Mas certamente ainda existem alguns que se dispõem a rasgar os invólucros, que não encaram o silêncio como opção de sobrevivência, que não hesitam em tirar as máscaras impostas e exibem sua face verdadeira face, sejam quais forem as consequências. Neste último grupo, naturalmente, só se inserem aqueles que, como Édipo, acreditam que a humanidade não pode sobreviver sem ética. E talvez seja este valor, cada vez mais raro, que o texto mais enfatiza, e que esta belíssima montagem valoriza de forma tão poderosa e expressiva.
No tocante ao elenco, Gustavo Gasparani está irrepreensível na pele do protagonista, conseguindo materializar, através de ótimo trabalho vocal e corporal, todas as nuances de um personagem complexo e magnífico. A mesma excelência se faz presente nas performances de Fabiana de Mello e Souza, César Augusto e Eliane Giardini. Vivendo Tirésias, Amir Haddad constrói uma figura poderosa, de fortíssimo impacto. Mas acredito que o ator poderia, ao menos em alguns momentos, utilizar um tom de voz mais potente, já que algumas palavras não chegam a ser entendidas com total clareza. Pietro Mario Boginchinni e Thiago Magalhães estão corretos em suas participações, o mesmo aplicando-se a Nina Malm e Louise Marrie. Quanto a Rogério Fróes, o ator exibe uma atuação sensível e comovente, valorizando oa máximo seu pequeno papel.
Na equipe técnica, Bia Junqueira responde por uma cenografia maravilhosa, que explora com total êxito as possibilidades do espaço. Igualmente irrepreensíveis os belos figurinos de Marcelo Olinto, a sóbria e expressiva iluminação de Maneco Quinderé, a original direção musical de Marcelo Alonso Neves, o visagismo de Uirandê Holanda e a adaptação de Eduardo Wotzik e Fernanda Schnoor, cabendo ainda registar a excelente participação dos músicos Felipe Antello e Murilo O'Reilly.
ÉDIPO REI - Texto de Sófocles. Adaptação de Eduardo Wotzik e Fernanda Schnoor. Direção de Wotzik. Com Gustavo Gasparani, Fabiana de Mello e Souza, César Augusto, Amir Haddad, Eliane Giardini e outros. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h30.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
O ATOR
Plínio Marcos
Por mais que as cruentas inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o suficiente para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos de sons de algum momento de amor que viveu na sua vida.
Bendito seja quem souber se dirigir a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingí-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotresca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita, e inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.
Os atores têm esse dom. Eles tem o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e autores, tem esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator. O público vai ao teatro por causa dos atores.
O autor de teatro é bom na medida que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas o ator tem que se conscientizar de que é um Cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva.
O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que tenha muita coragem, muita humildade e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de suas personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como pretendem os hipócritas com seus códigos de ética.
Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero da sua insegurança, quando ele, como viajante solitário, sem a bússula da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem.
E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado.
Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se comprenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor.
Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter não é o dinheiro, não são os aplausos, é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos.
Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica.
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Plínio Marcos
Por mais que as cruentas inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o suficiente para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos de sons de algum momento de amor que viveu na sua vida.
Bendito seja quem souber se dirigir a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingí-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotresca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita, e inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.
Os atores têm esse dom. Eles tem o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e autores, tem esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator. O público vai ao teatro por causa dos atores.
O autor de teatro é bom na medida que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas o ator tem que se conscientizar de que é um Cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva.
O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que tenha muita coragem, muita humildade e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de suas personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como pretendem os hipócritas com seus códigos de ética.
Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero da sua insegurança, quando ele, como viajante solitário, sem a bússula da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem.
E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado.
Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se comprenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor.
Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter não é o dinheiro, não são os aplausos, é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos.
Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Mil Postagens!!!
Esta é a milésima vez que posto aqui uma modesta contribuição ao estudo das artes, em geral, e do teatro, em particular. Iniciado em dezembro de 2008, e tendo como “seguidor” apenas a mim, este blog conta agora com 449 parceiros!
A todos agradeço e espero que muitos outros se juntem a nós.
Beijos,
Lionel Fischer
Esta é a milésima vez que posto aqui uma modesta contribuição ao estudo das artes, em geral, e do teatro, em particular. Iniciado em dezembro de 2008, e tendo como “seguidor” apenas a mim, este blog conta agora com 449 parceiros!
A todos agradeço e espero que muitos outros se juntem a nós.
Beijos,
Lionel Fischer
Piadas e Teatro
Artigo extraído do livro A Experiência Viva do Teatro, de Eric Bentley (Zahar Editores, 1967, tradução de Álvaro Cabral), capítulo 7, dedicado à Farsa.
Uma das mais profundas percepções básicas de Bergson e Freud foi a de que soltar piadas é criar teatro. Bergson diz que qualquer demonstração de graça, se for articulada, de fato, é em cenas que se articula - o que equivale a uma comédia incipiente. Freud assinala que, para haver uma piada, são precisos não um ou dois, mas três componentes: o autor da piada, o alvo da piada e o ouvinte. O trio é conhecido na forma de comediante, homem sério e público. Esse trio de vaudeville sugere, por sua vez, o ironista, o impostor e o público do teatro cômico tradicional.
Dizer que o piadista precisa de um alvo equivale apenas a dizer que precisa de uma piada. Precisará tanto de uma piada quanto de um ouvinte? Deixemos que cada um de nós lhe pergunte por que, num dado momento, ele deseja soltar uma piada. Não pode ser porque desejamos que ela nos divirta, visto que as piadas não são divertidas a segunda vez que circulam, e não se pode soltar uma piada que já não tenha sido ouvida (excluo de consideração qualquer super-homem que possa inventar sempre as suas piadas; ele é irrelevante aqui porque o tema que estou abordando é o comediante, que certamente não escreve sempre o texto de seus gracejos). De qualquer modo, se a nossa necessidade fosse ouvir a piada, a pessoa poderia contá-la a si própria. É indiscutível que a necessidade não é da piada, absolutamente: é de público para ouví-la.
Necessidade
Quem tiver conhecido comediantes fora do palco pode testemunhar que se trata, freqüentemente, de homens com uma necessidade de aplauso e admiração que excede até a de outros atores. E há uma razão pela qual os homens com essa necessidade - quer se trate de talentos humoristas ou não - procurem a profissão de comediantes. Só a piada obtém do seu público uma reação cujo conteúdo é inconfundível e entusiástico: o riso. O ator trágico não recebe tal indicação, no final do seu solilóquio “Ser ou não ser...”, de que o desempenhou perfeitamente. Ficará satisfeito se houver silêncio na sala, mas ainda assim poderá ficar na dúvida se alguém não teria adormecido. Duvidará se esse sentimento de que tudo correu bem não será talvez uma ilusão.
Mas não existe, como Ramon Fernandez assinala, uma ilusão de que a platéia está gargalhando. Assim, o riso é peculiarmente atraente para uma pessoa que precisa de uma reação do público, de minuto em minuto, e que precisa ter a certeza de que é altamente favorável. Na noite em que o público não ri, o palhaço sai e mata-se. Pelo menos, poderia, visto que a única coisa pela qual tem vivido não aconteceu.
Sugeri que o comediante é o homem cuja necessidade de aplauso é a mais insistente e suspicaz. Uma interpretação alternativa é o comediante ser o mais dotado, o mais talentoso dos faladores compulsivos. Todas as festas recebem muitas pessoas que não cessam de falar enquanto tiverem alguém que as escute. Poder-se-ia considerar o piadista como um falador compulsivo que obtém êxito porque sua conversa é divertida. As gargalhadas que saúdam cada história constituem um diploma em que se declara que ele teve êxito em não maçar a audiência. Poderá ser tentado a contar suas histórias a grupos cada vez mais numerosos. Se acabar num palco falando para pessoas com quem nunca se encontrou, é um comediante profissional.
Histeria
O que se propõe como estudos de comédia e, freqüentemente, redunda apenas em estudos sobre o riso, deve ser lamentado; contudo, a circunstância reflete fielmente a mentalidade do comediante. O seu desejo é cativar e manter dominado o público, sabendo que tal desejo só está realizado quando o público ri. Portanto, embora o riso possa não ser o emblema apropriado para a comédia, constitui a ratificação final das anedotas. Por esse motivo, pode-se perdoar aos comerciantes de diversões públicas uma certa histeria a tal respeito, e deveríamos receber com mais tristeza do que com ira as notícias de que o pessoal da TV está medindo a duração e o volume das gargalhadas com medidores de riso.
Se os filósofos podem reduzir a arte cômica ao riso, então os empresários podem, certamente, reduzir o riso ao ruído que provoca. Mas, em ambos os casos, o verdadeiro tópico é excessivamente delimitado. O estudioso do riso deveria estudar toda a curva de que a explosão de riso é apenas a fração final. Antes das pessoas estourarem em gargalhadas têm de ser preparadas para isso. E a única preparação segura é um estado especial de expectativa e sensibilidade que corresponde a uma espécie de euforia. Pode ser mais importante que a própria anedota. Pode-se alcançar um estado de excitação em que as pessoas rirão de qualquer coisa. O ator poderá ter de averiguar para si próprio aquilo que não deverá provocar riso, se quiser impedir o caos. Tem de vigiar para que as moças não fiquem inquietas e as senhoras histéricas.
Explosão
Em tudo isso, o teatro manifesta-se como a arte de soltar piadas, não a arte de escrever livros. Lemos sozinhos; e achamos notável se, uma vez por outra, rimos em voz alta. Por isso mesmo, é uma só explosão de riso, ainda que em voz alta. O resto da família tem a certeza de que essa gargalhada foi para chamar a atenção e pergunta o que foi que teve graça. E é muito provável que fosse essa a intenção.
A arte da farsa resume-se apenas a piadas transpostas para o teatro - piadas inteiramente articuladas como personagens e cenas teatrais. É correto dizer que sua finalidade é o riso, mas não é dizer uma coisa simples. O riso pode significar isto ou aquilo e, em qualquer um dos casos, tem de ser preparado com o máximo cuidado. E modulado, também. Os estudiosos futuros do tema fariam bem em abandonar a piada, individualmente considerada, e as razões por que é divertida, voltando-se para a seguinte pergunta: até que ponto é divertida num determinado contexto? Verificar-se-á que, por vezes, não é absolutamente divertida e, noutras, muitíssimo divertida. É uma questão de como o público foi levado ao ponto em que o riso deve eclodir e a graça ficar comprovada.
Exaustão
Estive falando de uma eclosão de riso, com uma preparação, e mesmo num acontecimento tão pequeno há muito que observar. Mas qualquer farsa que demore mais do que um minuto ou dois tem de fazer o público gargalhar um número considerável de vezes. Isso não pode ser conseguido enfileirando-se apenas as piadas umas após as outras. A exultação geral é de uma potência tão superior a qualquer dos vários momentos estimulantes que é lícito indagar: o que é uma piada? Como já disse, se uma pessoa tiver êxito com uma primeira piada, o público poderá ficar num estado de espírito em que qualquer coisa parece divertida. Tudo o que se precisa é um novo rumo para os acontecimentos e uma nova onda de riso acolherá a manobra.
Mas esse estado de espírito não durará muito se não for ajudado. E talvez não seja aconselhável mantê-lo indefinidamente, para que o resultado não acarrete a pura exaustão. Aquele que organiza uma sessão de “divertimento” deve ser, de fato, um organizador. Nada seria mais fatal do que jogar tudo na preparação de um bom começo e, depois, deixar que os acontecimentos tomem seu curso, o que é algo que qualquer bom produtor de vaudevilles sempre soube; e é algo que todo autor de farsas deve ter em mente.
Temperatura
Um esclarecimento subsidiário é fornecido pela afirmação de Sir John Gielgud a respeito da encenação de A Importância de Ser Honesto, de Wilde. Era sobre a necessidade do diretor aprender a evitar que o público ria em demasia das passagens da peça. Quem tenha visto a encenação de Gielgud perceberá o que ele queria dizer. A temperatura cômica foi levada tão alto, o entusiasmo do público era tão intenso, que a representação, em alguns momentos, quase não podia continuar.
Wilde escrevera um diálogo tão vivo que qualquer fala podia ser o sinal para novos acessos de riso. A interrupção do desempenho - mesmos em surtos de contentamento - não é uma finalidade desejável. O que os atores tinham a fazer era o inverso de “explorarem” cada fala, para obterem o máximo de divertimento. Era, antes, desperdiçarem uma quantidade de divertimento em cada fala, a fim de obterem um divertimento mais importante.
Bebês
O objetivo da estratégia de Gielgud não era apenas evitar o tumulto. Era o mais completo gozo da representação em geral. Os espectadores são como bebês e não fazem idéia daquilo que gostarão. Se os deixarem, rirão tanto e com tamanha insistência que, depois, só podem ter acessos de histeria ou mau humor. Tem de se evitar que prejudiquem seus próprios sistemas nervosos. O riso não pode ser regular e constante. Não pode começar pianissimo e depois ficar cada vez mais forte ad infinitum. Nem pode manter a mesma intensidade permanentemente, como a sirene de uma fábrica. Está associado ao nosso sistema respiratório e vocal muito limitado, para não citar a nossa psicologia.
Se um medidor de riso pudesse avaliar o mérito de um espetáculo, então o espetáculo ideal seria aquele que produzisse uma só e ininterrupta gargalhada. Consistiria, portanto, numa peça que não só não poderia avançar, mas nem mesmo começar. Na realidade, não existe uma proporção estabelecida entre o contentamento e a duração do riso audível. Mas riso a menos é melhor que riso a mais.
E a propósito: com que freqüência escutamos realmente o riso? É um som bastante feio. Quantas vezes olhamos para as pessoas enquanto riem? Não é um bonito panorama. E quão pouco se ri no palco, no bom teatro! O lugar para o riso é a platéia. Talvez o motivo seja porque na platéia ninguém é observado. As pessoas vêem os atores, que raramente riem e, quando o fazem, é principalmente para efeitos negativos. Há poucos dias abri uma revista e deparei com um rir sumamanet expressivo da face de um ator. A legenda informou-me que se tratava de Gustav Gründgens...no papel de Mefistófeles!?
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Artigo extraído do livro A Experiência Viva do Teatro, de Eric Bentley (Zahar Editores, 1967, tradução de Álvaro Cabral), capítulo 7, dedicado à Farsa.
Uma das mais profundas percepções básicas de Bergson e Freud foi a de que soltar piadas é criar teatro. Bergson diz que qualquer demonstração de graça, se for articulada, de fato, é em cenas que se articula - o que equivale a uma comédia incipiente. Freud assinala que, para haver uma piada, são precisos não um ou dois, mas três componentes: o autor da piada, o alvo da piada e o ouvinte. O trio é conhecido na forma de comediante, homem sério e público. Esse trio de vaudeville sugere, por sua vez, o ironista, o impostor e o público do teatro cômico tradicional.
Dizer que o piadista precisa de um alvo equivale apenas a dizer que precisa de uma piada. Precisará tanto de uma piada quanto de um ouvinte? Deixemos que cada um de nós lhe pergunte por que, num dado momento, ele deseja soltar uma piada. Não pode ser porque desejamos que ela nos divirta, visto que as piadas não são divertidas a segunda vez que circulam, e não se pode soltar uma piada que já não tenha sido ouvida (excluo de consideração qualquer super-homem que possa inventar sempre as suas piadas; ele é irrelevante aqui porque o tema que estou abordando é o comediante, que certamente não escreve sempre o texto de seus gracejos). De qualquer modo, se a nossa necessidade fosse ouvir a piada, a pessoa poderia contá-la a si própria. É indiscutível que a necessidade não é da piada, absolutamente: é de público para ouví-la.
Necessidade
Quem tiver conhecido comediantes fora do palco pode testemunhar que se trata, freqüentemente, de homens com uma necessidade de aplauso e admiração que excede até a de outros atores. E há uma razão pela qual os homens com essa necessidade - quer se trate de talentos humoristas ou não - procurem a profissão de comediantes. Só a piada obtém do seu público uma reação cujo conteúdo é inconfundível e entusiástico: o riso. O ator trágico não recebe tal indicação, no final do seu solilóquio “Ser ou não ser...”, de que o desempenhou perfeitamente. Ficará satisfeito se houver silêncio na sala, mas ainda assim poderá ficar na dúvida se alguém não teria adormecido. Duvidará se esse sentimento de que tudo correu bem não será talvez uma ilusão.
Mas não existe, como Ramon Fernandez assinala, uma ilusão de que a platéia está gargalhando. Assim, o riso é peculiarmente atraente para uma pessoa que precisa de uma reação do público, de minuto em minuto, e que precisa ter a certeza de que é altamente favorável. Na noite em que o público não ri, o palhaço sai e mata-se. Pelo menos, poderia, visto que a única coisa pela qual tem vivido não aconteceu.
Sugeri que o comediante é o homem cuja necessidade de aplauso é a mais insistente e suspicaz. Uma interpretação alternativa é o comediante ser o mais dotado, o mais talentoso dos faladores compulsivos. Todas as festas recebem muitas pessoas que não cessam de falar enquanto tiverem alguém que as escute. Poder-se-ia considerar o piadista como um falador compulsivo que obtém êxito porque sua conversa é divertida. As gargalhadas que saúdam cada história constituem um diploma em que se declara que ele teve êxito em não maçar a audiência. Poderá ser tentado a contar suas histórias a grupos cada vez mais numerosos. Se acabar num palco falando para pessoas com quem nunca se encontrou, é um comediante profissional.
Histeria
O que se propõe como estudos de comédia e, freqüentemente, redunda apenas em estudos sobre o riso, deve ser lamentado; contudo, a circunstância reflete fielmente a mentalidade do comediante. O seu desejo é cativar e manter dominado o público, sabendo que tal desejo só está realizado quando o público ri. Portanto, embora o riso possa não ser o emblema apropriado para a comédia, constitui a ratificação final das anedotas. Por esse motivo, pode-se perdoar aos comerciantes de diversões públicas uma certa histeria a tal respeito, e deveríamos receber com mais tristeza do que com ira as notícias de que o pessoal da TV está medindo a duração e o volume das gargalhadas com medidores de riso.
Se os filósofos podem reduzir a arte cômica ao riso, então os empresários podem, certamente, reduzir o riso ao ruído que provoca. Mas, em ambos os casos, o verdadeiro tópico é excessivamente delimitado. O estudioso do riso deveria estudar toda a curva de que a explosão de riso é apenas a fração final. Antes das pessoas estourarem em gargalhadas têm de ser preparadas para isso. E a única preparação segura é um estado especial de expectativa e sensibilidade que corresponde a uma espécie de euforia. Pode ser mais importante que a própria anedota. Pode-se alcançar um estado de excitação em que as pessoas rirão de qualquer coisa. O ator poderá ter de averiguar para si próprio aquilo que não deverá provocar riso, se quiser impedir o caos. Tem de vigiar para que as moças não fiquem inquietas e as senhoras histéricas.
Explosão
Em tudo isso, o teatro manifesta-se como a arte de soltar piadas, não a arte de escrever livros. Lemos sozinhos; e achamos notável se, uma vez por outra, rimos em voz alta. Por isso mesmo, é uma só explosão de riso, ainda que em voz alta. O resto da família tem a certeza de que essa gargalhada foi para chamar a atenção e pergunta o que foi que teve graça. E é muito provável que fosse essa a intenção.
A arte da farsa resume-se apenas a piadas transpostas para o teatro - piadas inteiramente articuladas como personagens e cenas teatrais. É correto dizer que sua finalidade é o riso, mas não é dizer uma coisa simples. O riso pode significar isto ou aquilo e, em qualquer um dos casos, tem de ser preparado com o máximo cuidado. E modulado, também. Os estudiosos futuros do tema fariam bem em abandonar a piada, individualmente considerada, e as razões por que é divertida, voltando-se para a seguinte pergunta: até que ponto é divertida num determinado contexto? Verificar-se-á que, por vezes, não é absolutamente divertida e, noutras, muitíssimo divertida. É uma questão de como o público foi levado ao ponto em que o riso deve eclodir e a graça ficar comprovada.
Exaustão
Estive falando de uma eclosão de riso, com uma preparação, e mesmo num acontecimento tão pequeno há muito que observar. Mas qualquer farsa que demore mais do que um minuto ou dois tem de fazer o público gargalhar um número considerável de vezes. Isso não pode ser conseguido enfileirando-se apenas as piadas umas após as outras. A exultação geral é de uma potência tão superior a qualquer dos vários momentos estimulantes que é lícito indagar: o que é uma piada? Como já disse, se uma pessoa tiver êxito com uma primeira piada, o público poderá ficar num estado de espírito em que qualquer coisa parece divertida. Tudo o que se precisa é um novo rumo para os acontecimentos e uma nova onda de riso acolherá a manobra.
Mas esse estado de espírito não durará muito se não for ajudado. E talvez não seja aconselhável mantê-lo indefinidamente, para que o resultado não acarrete a pura exaustão. Aquele que organiza uma sessão de “divertimento” deve ser, de fato, um organizador. Nada seria mais fatal do que jogar tudo na preparação de um bom começo e, depois, deixar que os acontecimentos tomem seu curso, o que é algo que qualquer bom produtor de vaudevilles sempre soube; e é algo que todo autor de farsas deve ter em mente.
Temperatura
Um esclarecimento subsidiário é fornecido pela afirmação de Sir John Gielgud a respeito da encenação de A Importância de Ser Honesto, de Wilde. Era sobre a necessidade do diretor aprender a evitar que o público ria em demasia das passagens da peça. Quem tenha visto a encenação de Gielgud perceberá o que ele queria dizer. A temperatura cômica foi levada tão alto, o entusiasmo do público era tão intenso, que a representação, em alguns momentos, quase não podia continuar.
Wilde escrevera um diálogo tão vivo que qualquer fala podia ser o sinal para novos acessos de riso. A interrupção do desempenho - mesmos em surtos de contentamento - não é uma finalidade desejável. O que os atores tinham a fazer era o inverso de “explorarem” cada fala, para obterem o máximo de divertimento. Era, antes, desperdiçarem uma quantidade de divertimento em cada fala, a fim de obterem um divertimento mais importante.
Bebês
O objetivo da estratégia de Gielgud não era apenas evitar o tumulto. Era o mais completo gozo da representação em geral. Os espectadores são como bebês e não fazem idéia daquilo que gostarão. Se os deixarem, rirão tanto e com tamanha insistência que, depois, só podem ter acessos de histeria ou mau humor. Tem de se evitar que prejudiquem seus próprios sistemas nervosos. O riso não pode ser regular e constante. Não pode começar pianissimo e depois ficar cada vez mais forte ad infinitum. Nem pode manter a mesma intensidade permanentemente, como a sirene de uma fábrica. Está associado ao nosso sistema respiratório e vocal muito limitado, para não citar a nossa psicologia.
Se um medidor de riso pudesse avaliar o mérito de um espetáculo, então o espetáculo ideal seria aquele que produzisse uma só e ininterrupta gargalhada. Consistiria, portanto, numa peça que não só não poderia avançar, mas nem mesmo começar. Na realidade, não existe uma proporção estabelecida entre o contentamento e a duração do riso audível. Mas riso a menos é melhor que riso a mais.
E a propósito: com que freqüência escutamos realmente o riso? É um som bastante feio. Quantas vezes olhamos para as pessoas enquanto riem? Não é um bonito panorama. E quão pouco se ri no palco, no bom teatro! O lugar para o riso é a platéia. Talvez o motivo seja porque na platéia ninguém é observado. As pessoas vêem os atores, que raramente riem e, quando o fazem, é principalmente para efeitos negativos. Há poucos dias abri uma revista e deparei com um rir sumamanet expressivo da face de um ator. A legenda informou-me que se tratava de Gustav Gründgens...no papel de Mefistófeles!?
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terça-feira, 6 de novembro de 2012
Textos para Estudo
O interrogatório
Peter Weiss
Testemunha 8 - Quando me tiraram da barra, Boger disse: “Agora você está preparado para uma feliz viagem ao céu”. Fui levado para uma cela do bloco 11, onde fiquei esperando horas e horas a minha execução. Não sei quantos dias fiquei ali. Meus testículos arroxeados incharam brutalmente. Na maior parte do tempo permaneci em estado de coma. Depois, fui conduzido para a sala das duchas, junto com outros presos e nos fizeram tirar as roupas. Marcaram nossos números no peito com tinta azul. Eu sabia que isso era a condenação à morte. Depois que estávamos nus e em fila, o chefe do setor de Informações perguntou quantos mortos devia contabilizar. Assim que ele saiu fizeram uma recontagem e perceberam que havia um a mais. Eu tinha aprendido a me colocar sempre no último lugar da fila. Fui separado dos outros com um pontapé e me devolveram as roupas. Eu deveria voltar para a cela e aguardar a próxima fornada, mas alguém me levou para a enfermaria. Também acontecia, que um ou outro, tivesse o destino de sobreviver. Eu fui um desses.
Sugestão para estudo
O trecho encerra o Canto 3. Nele o autor alemão reconstitui - de forma fantasiosa e não esquemática - um tribunal onde estão sendo julgados criminosos nazistas. A testemunha relata como conseguiu escapar e o citado médico Boger está presente. Já se passaram alguns anos, mas é evidente que as lembranças atrozes permanecem.
A maior dificuldade de se interpretar um texto como este consiste na busca do equilíbrio entre emoção e objetividade. Se o ator narrar friamente os fatos, pode sugerir que já superou o trauma ou que se encontra num estado emocional em que nada mais pode atingí-lo. Se, por outro lado, optar pela emotividade, sua contribuição será menos contundente, pois todos os envolvidos - juíz, promotor, advogados etc. - precisam da maior clareza possível para avaliar o grau de culpabilidade dos réus e assim determinar sua justa punição.
Por uma tarde fria
poema de Ana Amélia Carneiro de Mendonça
Há dias, ao passar por uma rua, encontrei por acaso uma mulher.
Uma infeliz qualquer levando pela mão uma criança nua.
Eu andava sem pressa, vagamente, por essa tarde fria.
Tinha um vestido quente, luvas espessas,
E trazia por sobre os ombros, negligente,
Desnecessária, por vaidade, enfim,
Uma pele forrada de cetim.
Vendo esse estranho grupo de miséria, a mãe esfarrapada,
Tendo no olhar de transparência etérea todo um romance de desgraça,
E a criancinha delicada que, na rude nudez, só ganha em graça, mas que treme de frio,
Senti um íntimo arrepio, uma vergonha singular de não ter frio,
Por essa tarde fria de cortar.
Sugestão para estudo
Uma das maiores dificuldades encontradas pelo estudante de teatro diz respeito à interpretação de poemas. E a dificuldade se agrava ainda mais quando há rimas muito marcadas, pois então aumenta o risco de se enveredar por um caminho declamatório, com resultados quase sempre artificiais. Como aqui tratamos de teatro - e um poema não deixa de ser um texto dito por alguém para outra pessoa -, julgamos que o aluno deve estabelecer as mesmas premissas que faria no caso de um “texto comum”:
- Quem eu sou.
- Aonde estou.
- O que estou fazendo.
Ou seja: na medida do possível, criar um personagem que poderia estar dizendo aquelas palavras; em seguida, situá-lo em algum contexto; e finalmente, estabelecer uma razão para ele estar falando aquele poema ou poesia. Tais “cuidados” podem sem dúvida dar maior segurança ao aluno, que também jamais deve se esquecer de que uma história está sendo contada, ainda que em versos de rima rigorosa.
No momento não estou
Elisa Lucinda
Olhando a cara dos dias, vejo como é sórdida tua secretária eletrônica: Ela mente pra mim na mesma tônica: doublé de seu medo...Vou te contar um segredo: Eles venceram. Venceu a mesquinharia, a pequeneza, a teoria rasa, a safadeza...No meio da luta, você preferiu ser o nêgo filho da puta da história que escreveram pra você encenar, da promessa que fizeram pra você cumprir, pra você pagar. Essa noite, sua covardia repete o açoite: aceita a mesma escravidão pra te enganar. Ai, como é mórbida tua secretária eletrônica, roubou meu batom e no mesmo tom me diz que você não está. Como uma armadilha de sonora trilha, pede um recado após o sinal...Não dou! Antes disso terá um longo curto-circuito entre as pernas, essa tua secretária calhorda, essa tua secretária moderna, tão sonsa, tão palerma. Ligada por ti pra te sacanear! Acionada por ti pra te carear os dentes da alma e depois te pede pra sorrir pra sua própria demência. Uma ridícula dona de casa chamada Ausência!
Sugestão para estudo
Talvez seja correto afirmar que Elisa Lucinda escreve poesias para serem ouvidas, tamanha é a teatralidade nelas contida - isto não significa, bem entendido, que não possam ser apreciadas quando apenas lidas. Assim, quase todas elas oferecem excelentes oportunidades para um ótimo trabalho de interpretação. A que selecionamos na presente edição, focaliza com sensibilidade uma série de queixas amorosas e, de quebra, investe contra esse abominável aparelho denominado secretária eletrônica, permanente fonte de desgostos e frustrações.
Vamos, portanto, fazer com que a poesia aconteça, imaginando quem seria a mulher que se lamenta e acusa; em seguida, uma circunstância que confira credibilidade ao desabafo - a personagem está sozinha, fala na secretária eletrônica, está escrevendo uma carta?. E finalmente, trabalhar as idéias e sentimentos com a maior carga possível de verdade e emoção. Quem sabe a pessoa do outro lado desliga a secretária e atende?
Aprendiz de feiticeiro
Maria Clara Machado
Uranus (Ao telefone) - Alô? Sim, pode fazer a ligação! O que terá acontecido? Será que rejeitaram de novo? Barnard? Como vai passando, amigo? Yes. O que? Bem, acabei de aperfeiçoar minha nova fórmula de crescimento das laranjas. Não, melancias, meu caro! Do tamanho de melancias! Agora vou partir para as euforbiáceas. Necessidade nacional. Yes, nós temos bananas. Também estou cuidando. Não, não quero saber mais de transplantes. Deixo isto para vocês. Bem, ainda tenho a técnica de transplante da massa cinzenta. Não, desanimei. Há muita rejeição. Experimentei num burro e para te confessar humildemente a verdade, ele ficou ainda mais burro. Empacou e depois empacotou. Fiquei com fastio de transplante. Você sabe, o burro era de estimação. Pelo contrário, Barnard, a fórmula pode tornar-se muito perigosa, porque, se de um lado acentua as qualidades, por outro acentua também os defeitos. Se o paciente tem tendência a burro ficará ainda mais burro. Rejeição da massa cinzenta é coisa corriqueira, você sabe, o hipotálamo tem suas exigências. Bem. O que? Hoje? Oh! Meu deus! Está bem. Sei. Bem, Barnard, tomarei o próximo avião. Recomendações à senhora Barnardina. Sim, sim, levarei. Good By!
Sugestão para Estudo
O Dr. Uranus é um sábio dedicado ao estudo de fórmulas capazes de fazer crescer os alimentos. Quando parece estar quase chegando à equação perfeita, recebe o telefonema de Christian Barnard, médico sul-africano pioneiro nos transplantes de coração. É claro que a autora aproveita o recente (na época) avanço da medicina para fazer uma hilariante brincadeira. Assim, é importante transmitir tanto a paixão de Uranus pela ciência como seu humor, em especial no tocante à burrice. Sem esquecer, naturalmente, de que o personagem está falando ao telefone, o que pressupõe pausas a serem preenchidas com variadas reações.
O Mambembe
Arthur Azevedo
Frazão - E levo esta vida há trinta anos! Pedindo hoje, pagando amanhã, tornando a pagar, sacando sobre o futuro com a hipoteca do ganho, com as alternativas da fortuna, sempre de boa fé e sempre receoso que duvidem de mim, porque sou cômico, e ser cômico, vem de longe. Mas por que persisto? Por que não fujo à tentação de andar com o meu mambembe às costas? Perguntem às mariposas porque se queimam na luz...Perguntem aos cães porque não fogem quando avistam de longe a carrocinha da Prefeitura! Mas não perguntem a um artista de teatro porque não é outra coisa senão artista de teatro...Isto é uma fatalidade que nos condena o nosso próprio temperamento. O jogador é infeliz porque joga? O fraco bebedor porque bebe? Também isto é um vício terrível porque ninguém considera vício e, portanto, é confessável, não é uma vergonha, é uma profissão que absorve toda a atividade, toda a energia, todas as forças. E para quê? Qual o resultado de todo esse afã? Chegar desamparado e paupérrimo a uma velhice cansada! Aí está o que é ser artista no Brasil!
Sugestão para estudo
O trecho selecionado constitui uma das análises mais dramáticas, lúcidas e líricas do que seja a paixão de representar. Aqui, o que importa é tentar viver, com o máximo de verdade, os sentimentos implícitos nesta reflexão. Sem pressa. Descobrindo uma a uma as frases, como se estas ocorressem no momento de serem enunciadas. E dirigindo-as a um interlocutor imaginário, como se o personagem estivesse respondendo a uma pergunta. O texto, no fundo, não deixa de ser uma confissão. E isto pressupõe um ouvinte.
Lucrécia, o veneno dos Bórgia
Paulo César Coutinho
(O monólogo que se segue constitui o prólogo. Maquiavel faz uma reverência e apresenta-se ao público)
Maquiavel - Nicolau Maquiavel, escritor, dramaturgo, filósofo, historiador. Mas, nos dias que correm, prestígio não enche barriga. Tive mesmo é que me empregar como secretário particular de César Bórgia. Nenhum problema, estava em boa companhia. Sob o mesmo teto havia empregados como Michelangelo. Além do salário, o emprego trazia vasntagens adicionais para um cronista da época. Viagens aos cenários de guerras. Acesso à intimidade do poder, testemunhando as intrigas palacianas, no palco mesmo das decisões. A confiança de personagens-chave, abrindo o precioso cofre de suas confidências. O registro de acordos e documentos, na hora em que eram feitos e desfeitos. Enfim, espectador privilegiado, e ator nos bastidores desse espetáculo, que é a História. Pois, como todos sabem, a política é a arte de enganar os outros, sem que eles percebam, e sem deixar vestígios. Meu patrão, César Bórgia, era uma eterna fonte de inspiração e sua irmã, de permanente fascínio. Eu conheci Lucrécia Bórgia! Hoje, se falam horrores dessa dama. Posso garantir que tudo que se diz dela...ainda é pouco. Lucrécia era excessiva, uma pérola cultivada. Exerceu como poucos a virtude do vício, não sendo desprovida de talentos e sentimentos contraditórios. Naquele tempo, não importavam os meios, quando os fins eram o poder, a riqueza e a glória. Talvez os senhores achem difícil de compreender, vivendo numa época tão diferente. Os Bórgia tinham a ambição como um refinamento do espírito. A família era muito unida...O papa adorava seus filhos, sobretudo Lucrécia...
Sugestão para estudo
O texto define em linhas gerais o caráter do personagem e seus principais objetivos, assim como situa a platéia no contexto da narrativa. A fala é dita para o público, e o aluno deve evitar maiores atropelos e tentar valorizar todas as informações. Algumas delas, como se percebe, repletas de ironia.
Versos íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Sugestão para estudo
Versos íntimos tem como tema central a ingratidão. Seu tom é amargo, sombrio, ainda que se perceba uma certa ironia, ainda que desesperada. Como o texto nos leva a crer que uma pessoa se dirija a outra, talvez seja interessante para o aluno criar um contexto, ou seja, imaginar um personagem que fale com alguém. Ou quem sabe o próprio, falando consigo mesmo, diante de um espelho. Mas o fundamental é trabalhar cuidadosamente cada intenção, de preferência de forma lenta, a fim de valorizar todos os conteúdos propostos.
Briga no beco
Adélia Prado
Encontrei meu marido às três horas da tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
Ataquei-os por trás com mão e palavras
que nunca suspeitei conhecesse.
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêma-ofendida,
uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.
Quando não pude mais fiquei rígida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo graças.
Desde então faço milagres.
Sugestão para estudo
O poema tem como sentimento primordial a indignação. Mas deve-se ter cuidado para não imprimir à narrativa um ritmo muito acelerado, pois aí corre-se o risco de não valorizar suficientemente as poderosas imagens criadas por Adélia Prado.
O guardador de rebanhos
(XLVIII)
Fernando Pessoa
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos.
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.
Sugestão para Estudo
O poema, escrito por Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) exibe uma espécie de alegria melancólica, algo resignada. Portanto, deve ser dito sem maiores arroubos, num tom calmo, mas nem por isso isento de emoção.
Sem título
Martha Medeiros
foram exatos treze segundos
mais do que dura um orgasmo
menos que um comercial de tevê
“Não posso mais viver com você
me apaixonei por outra mulher”
você disse pausado, com a voz embargada
e levou treze segundos
pra dizer duas frases
tivesse mais pressa ou menos remorso
teria sido mais rápido
mas você estava angustiado
e levou treze segundos
pra desocupar meu lugar
como quem desfaz um negócio
tivesse escrito uma carta
haveria de ser mais sutil
tivesse telefonado
seria obrigado a um olá e a um adeus
mas olhando nos olhos
e sem divórcio ou fiasco
mudaste em treze segundos meu estado civil
desarrumando a vida
que eu tinha inventado
Sugestão para estudo
Extraída do volume De cara lavada, cuja leitura recomendo com entusiasmo, esta poesia (sem título, como todas as demais que integram o livro) tem um tom ao mesmo tempo amargo e irônico, sendo que a ironia funciona como uma espécie de analgésico contra a dor da separação. Ao trabalhar a poesia, há que se levar em conta também o fator tempo, que sem dúvida tem o poder de amenizar o peso de recordações penosas.
O jardim das cerejeiras
Anton Tchecov
Lopakhin - Sim, fui eu. Um minuto, esperem um pouco, estou com a cabeça tonta, nem posso falar direito. (Ri) Quando chegamos para o leilão, o Deriganov já estava lá. Leonid Andreievitch só tinha 15 mil rublos, o Deriganov foi logo oferecendo 30 mil, além das dívidas. Vendo isso, me atraquei com ele, ofereci 40; ele, 45; eu, 55. Ele ia subindo 5 mil de cada vez e eu subia 10 mil. E acabou. Dei 90 mil, além das dívidas, o martelo bateu pra mim! O jardim das cerejeiras é meu agora! Meu! (Ri às gargalhadas) Santo Deus! Vocês podem dizer que eu estou bêbado, maluco, que estou sonhando. (Bate com os pés) Mas não riam de mim! Se meu pai e meu avô saíssem da cova para ver tudo isso que aconteceu, para ver como seu Iermolai, que levou tantas surras, que andava descalço na neve, como um miserável, analfabeto Iermolai comprou a fazenda mais linda que há neste mundo! Comprei a fazenda onde meu pai e meu avô foram servos, não podiam entrar na cozinha! Vai ver que estou dormindo, sonhando, só pode ser mesmo um sonho! (Ouve-se a orquestra afinando os instrumentos) Toquem, maestros, eu quero ouvir! Venham todos ver como Iermolai Lopakhin vai sentar o machado nas cerejeiras, venham ver as árvores caindo! Vamos construir casas aqui. E nossos netos e bisnetos hão de ver surgir uma vida nova! Música! Vamos!
Sugestão para estudo
Esta cena, que ocorre no final do 3º ato, é a mais dramática desta obra-prima de Tchecov. Filho e neto de servos, e atualmente rico comerciante, Yermolai Lopakhin acaba adquirindo a fazenda de Liubov Andreievna, após tê-la advertido várias vezes de que vender a propriedade era a única saída para saldar suas dívidas. A grande dificuldade desta passagem, aqui um pouco reduzida, reside na dualidade de emoções do personagem. Se por um lado ele está orgulhoso de seu feito, por outro sabe o que ele representa para aquela família, a enorme dor de ter que se desfazer da fazenda, símbolo de uma aristocracia decadente que será irremediavelmente substituída pela burguesia ascendente. O ator, ao representar este monólogo, deve imaginar que está rodeado pelos membros da família, que acompanham atônitos os fatos que ele narra.
(Para entender melhor o contexto, recomendamos a leitura da peça, à disposição no nº 163 dos Cadernos de Teatro)
18 de julho
Goethe
Wilhelm, o que seria de nosso coração num mundo sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica sem luz! Mal você coloca a lâmpada lá dentro, aparecem as imagens multicoloridas em sua parede branca! E mesmo que isso não passe de uma ilusão passageira, continuará fazendo a nossa felicidade, sempre que estivermos diante dela, como jovens inocentes, encantados com as maravilhosas aparições. Hoje não pude ir à casa de Lotte, impedido por uma reunião inevitável. Que fazer? Mandei o meu criado até lá, só para ter alguém ao meu lado que tivesse estado perto dela hoje. Com que impaciência o esperei, com que alegria o vi chegar! Teria agarrado-o pela cabeça e beijado-o, se a vergonha não tivesse me impedido.
Dizem que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve os seus raios e depois brilha algum tempo durante a noite. Foi isso que aconteceu com o rapaz. A sensação de que os olhos dela haviam pousado em seu rosto, nas suas faces, nos seus botões e na gola de seu sobretudo, tornava-o, para mim, tão sagrado, tão precioso! Nesse momento, não teria vendido o rapaz nem por mil táleres. Senti-me tão bem em sua presença. Deus queira que você não ria disso. Wilhelm, é ilusão quando nos sentimos felizes?
Sugestão para estudo
O trecho foi extraído de Os sofrimentos do jovem Werter, considerado o mais famoso romance da literatura alemã. Escrita em forma de cartas, a obra gira em torno de uma grande paixão, cujo limite é a própria morte. Aqui, o protagonista escreve a um amigo tentando transmitir seu estado de absoluta felicidade, motivada pela paixão que sente por Lotte. Portanto, o que importa é tentar ao máximo transmitir o arrebatamento do personagem, expresso de forma ao mesmo tempo simples e magistral pelo gênio alemão.
Fragmento de um discurso insano
Lionel Fischer
Os assassinos vasculham os becos. Colam-se às paredes das esquinas à espera de possíveis vítimas. Os policiais sentem cheiro de sangue, que os desperta de seu tédio e os lança à ronda. E nada mais importa. Todos cedem seus lugares para que o estranho espetáculo se consume. Do outro lado do muro, gêmeos vitelinos se olham cheios de medo e ódio. E se ameaçam com alfinetes de prata. As senhoras dormem abraçadas a seus maridos à espera de que sonhos as libertem. E as mocinhas se masturbam com seus cães de caça. E meus olhos brilham e enchem de luz essa cidade morta. Esses caminhos gastos que desconhecidos percorrem arrastando suas próprias vidas. E que conduzem a nada. Um vagabundo demente, bêbado e miserável conta sua história. Se confessa inocente dos crimes imputados e faz escárnio dos homens. Nesse momento, as almas sujeitas à humilhação constante, os pequenos homens indefesos, dançam uma dança lenta e irreal. E cantam músicas que pouca gente conhece. É a hora em que os murmúrios se insinuam pelos cantos. Pelas escadarias de cobre. Pelas consciências adormecidas. Intactas. Na noite ainda e por um breve instante, ele sorriu de frio e se encolheu de nojo. Rodou as quadras e quebrou as lâmpadas. Promoveu tumultos e insultou os donos. E já de manhãzinha ele caiu de quatro. E se sentiu só. Para que a platéia risse e cuspisse de prazer na nuca dos vizinhos. Para que gengivas se arreganhassem e descobrissem dentes verdes, cheios de limo. E no final de tudo, nada além de um rosto de vidro que se debruça sobre as folhas. E se estende, exausto, em seu leito de improviso. E chora de raiva diante de todo esse engano. Mas um dia, o animal feroz, encurralado, se libertará. Não para uma caminhada tranqüila, mas rumo à autodestruição. Numa revolta breve e inconseqüente, que não servirá de modelo ou ganhará adeptos. Mas que nos dará paz. Ao menos isso...Paz.
Sugestão para estudo
O presente texto retrata a impressão que tive, numa fria noite de inverno em Paris, em 1977, de um homem meio maltrapilho que ficou me observando durante um certo tempo, enquanto eu, por minha vez, observava o Sena. Não se trata, portanto, de um personagem, no sentido óbvio do texto, e este não passa de uma especulação de minha parte. Mas o aluno pode imaginar uma figura estranha, o ar meio enlouquecido, que talvez pudesse estar pensando algo como o formulado.
_________________________
O interrogatório
Peter Weiss
Testemunha 8 - Quando me tiraram da barra, Boger disse: “Agora você está preparado para uma feliz viagem ao céu”. Fui levado para uma cela do bloco 11, onde fiquei esperando horas e horas a minha execução. Não sei quantos dias fiquei ali. Meus testículos arroxeados incharam brutalmente. Na maior parte do tempo permaneci em estado de coma. Depois, fui conduzido para a sala das duchas, junto com outros presos e nos fizeram tirar as roupas. Marcaram nossos números no peito com tinta azul. Eu sabia que isso era a condenação à morte. Depois que estávamos nus e em fila, o chefe do setor de Informações perguntou quantos mortos devia contabilizar. Assim que ele saiu fizeram uma recontagem e perceberam que havia um a mais. Eu tinha aprendido a me colocar sempre no último lugar da fila. Fui separado dos outros com um pontapé e me devolveram as roupas. Eu deveria voltar para a cela e aguardar a próxima fornada, mas alguém me levou para a enfermaria. Também acontecia, que um ou outro, tivesse o destino de sobreviver. Eu fui um desses.
Sugestão para estudo
O trecho encerra o Canto 3. Nele o autor alemão reconstitui - de forma fantasiosa e não esquemática - um tribunal onde estão sendo julgados criminosos nazistas. A testemunha relata como conseguiu escapar e o citado médico Boger está presente. Já se passaram alguns anos, mas é evidente que as lembranças atrozes permanecem.
A maior dificuldade de se interpretar um texto como este consiste na busca do equilíbrio entre emoção e objetividade. Se o ator narrar friamente os fatos, pode sugerir que já superou o trauma ou que se encontra num estado emocional em que nada mais pode atingí-lo. Se, por outro lado, optar pela emotividade, sua contribuição será menos contundente, pois todos os envolvidos - juíz, promotor, advogados etc. - precisam da maior clareza possível para avaliar o grau de culpabilidade dos réus e assim determinar sua justa punição.
Por uma tarde fria
poema de Ana Amélia Carneiro de Mendonça
Há dias, ao passar por uma rua, encontrei por acaso uma mulher.
Uma infeliz qualquer levando pela mão uma criança nua.
Eu andava sem pressa, vagamente, por essa tarde fria.
Tinha um vestido quente, luvas espessas,
E trazia por sobre os ombros, negligente,
Desnecessária, por vaidade, enfim,
Uma pele forrada de cetim.
Vendo esse estranho grupo de miséria, a mãe esfarrapada,
Tendo no olhar de transparência etérea todo um romance de desgraça,
E a criancinha delicada que, na rude nudez, só ganha em graça, mas que treme de frio,
Senti um íntimo arrepio, uma vergonha singular de não ter frio,
Por essa tarde fria de cortar.
Sugestão para estudo
Uma das maiores dificuldades encontradas pelo estudante de teatro diz respeito à interpretação de poemas. E a dificuldade se agrava ainda mais quando há rimas muito marcadas, pois então aumenta o risco de se enveredar por um caminho declamatório, com resultados quase sempre artificiais. Como aqui tratamos de teatro - e um poema não deixa de ser um texto dito por alguém para outra pessoa -, julgamos que o aluno deve estabelecer as mesmas premissas que faria no caso de um “texto comum”:
- Quem eu sou.
- Aonde estou.
- O que estou fazendo.
Ou seja: na medida do possível, criar um personagem que poderia estar dizendo aquelas palavras; em seguida, situá-lo em algum contexto; e finalmente, estabelecer uma razão para ele estar falando aquele poema ou poesia. Tais “cuidados” podem sem dúvida dar maior segurança ao aluno, que também jamais deve se esquecer de que uma história está sendo contada, ainda que em versos de rima rigorosa.
No momento não estou
Elisa Lucinda
Olhando a cara dos dias, vejo como é sórdida tua secretária eletrônica: Ela mente pra mim na mesma tônica: doublé de seu medo...Vou te contar um segredo: Eles venceram. Venceu a mesquinharia, a pequeneza, a teoria rasa, a safadeza...No meio da luta, você preferiu ser o nêgo filho da puta da história que escreveram pra você encenar, da promessa que fizeram pra você cumprir, pra você pagar. Essa noite, sua covardia repete o açoite: aceita a mesma escravidão pra te enganar. Ai, como é mórbida tua secretária eletrônica, roubou meu batom e no mesmo tom me diz que você não está. Como uma armadilha de sonora trilha, pede um recado após o sinal...Não dou! Antes disso terá um longo curto-circuito entre as pernas, essa tua secretária calhorda, essa tua secretária moderna, tão sonsa, tão palerma. Ligada por ti pra te sacanear! Acionada por ti pra te carear os dentes da alma e depois te pede pra sorrir pra sua própria demência. Uma ridícula dona de casa chamada Ausência!
Sugestão para estudo
Talvez seja correto afirmar que Elisa Lucinda escreve poesias para serem ouvidas, tamanha é a teatralidade nelas contida - isto não significa, bem entendido, que não possam ser apreciadas quando apenas lidas. Assim, quase todas elas oferecem excelentes oportunidades para um ótimo trabalho de interpretação. A que selecionamos na presente edição, focaliza com sensibilidade uma série de queixas amorosas e, de quebra, investe contra esse abominável aparelho denominado secretária eletrônica, permanente fonte de desgostos e frustrações.
Vamos, portanto, fazer com que a poesia aconteça, imaginando quem seria a mulher que se lamenta e acusa; em seguida, uma circunstância que confira credibilidade ao desabafo - a personagem está sozinha, fala na secretária eletrônica, está escrevendo uma carta?. E finalmente, trabalhar as idéias e sentimentos com a maior carga possível de verdade e emoção. Quem sabe a pessoa do outro lado desliga a secretária e atende?
Aprendiz de feiticeiro
Maria Clara Machado
Uranus (Ao telefone) - Alô? Sim, pode fazer a ligação! O que terá acontecido? Será que rejeitaram de novo? Barnard? Como vai passando, amigo? Yes. O que? Bem, acabei de aperfeiçoar minha nova fórmula de crescimento das laranjas. Não, melancias, meu caro! Do tamanho de melancias! Agora vou partir para as euforbiáceas. Necessidade nacional. Yes, nós temos bananas. Também estou cuidando. Não, não quero saber mais de transplantes. Deixo isto para vocês. Bem, ainda tenho a técnica de transplante da massa cinzenta. Não, desanimei. Há muita rejeição. Experimentei num burro e para te confessar humildemente a verdade, ele ficou ainda mais burro. Empacou e depois empacotou. Fiquei com fastio de transplante. Você sabe, o burro era de estimação. Pelo contrário, Barnard, a fórmula pode tornar-se muito perigosa, porque, se de um lado acentua as qualidades, por outro acentua também os defeitos. Se o paciente tem tendência a burro ficará ainda mais burro. Rejeição da massa cinzenta é coisa corriqueira, você sabe, o hipotálamo tem suas exigências. Bem. O que? Hoje? Oh! Meu deus! Está bem. Sei. Bem, Barnard, tomarei o próximo avião. Recomendações à senhora Barnardina. Sim, sim, levarei. Good By!
Sugestão para Estudo
O Dr. Uranus é um sábio dedicado ao estudo de fórmulas capazes de fazer crescer os alimentos. Quando parece estar quase chegando à equação perfeita, recebe o telefonema de Christian Barnard, médico sul-africano pioneiro nos transplantes de coração. É claro que a autora aproveita o recente (na época) avanço da medicina para fazer uma hilariante brincadeira. Assim, é importante transmitir tanto a paixão de Uranus pela ciência como seu humor, em especial no tocante à burrice. Sem esquecer, naturalmente, de que o personagem está falando ao telefone, o que pressupõe pausas a serem preenchidas com variadas reações.
O Mambembe
Arthur Azevedo
Frazão - E levo esta vida há trinta anos! Pedindo hoje, pagando amanhã, tornando a pagar, sacando sobre o futuro com a hipoteca do ganho, com as alternativas da fortuna, sempre de boa fé e sempre receoso que duvidem de mim, porque sou cômico, e ser cômico, vem de longe. Mas por que persisto? Por que não fujo à tentação de andar com o meu mambembe às costas? Perguntem às mariposas porque se queimam na luz...Perguntem aos cães porque não fogem quando avistam de longe a carrocinha da Prefeitura! Mas não perguntem a um artista de teatro porque não é outra coisa senão artista de teatro...Isto é uma fatalidade que nos condena o nosso próprio temperamento. O jogador é infeliz porque joga? O fraco bebedor porque bebe? Também isto é um vício terrível porque ninguém considera vício e, portanto, é confessável, não é uma vergonha, é uma profissão que absorve toda a atividade, toda a energia, todas as forças. E para quê? Qual o resultado de todo esse afã? Chegar desamparado e paupérrimo a uma velhice cansada! Aí está o que é ser artista no Brasil!
Sugestão para estudo
O trecho selecionado constitui uma das análises mais dramáticas, lúcidas e líricas do que seja a paixão de representar. Aqui, o que importa é tentar viver, com o máximo de verdade, os sentimentos implícitos nesta reflexão. Sem pressa. Descobrindo uma a uma as frases, como se estas ocorressem no momento de serem enunciadas. E dirigindo-as a um interlocutor imaginário, como se o personagem estivesse respondendo a uma pergunta. O texto, no fundo, não deixa de ser uma confissão. E isto pressupõe um ouvinte.
Lucrécia, o veneno dos Bórgia
Paulo César Coutinho
(O monólogo que se segue constitui o prólogo. Maquiavel faz uma reverência e apresenta-se ao público)
Maquiavel - Nicolau Maquiavel, escritor, dramaturgo, filósofo, historiador. Mas, nos dias que correm, prestígio não enche barriga. Tive mesmo é que me empregar como secretário particular de César Bórgia. Nenhum problema, estava em boa companhia. Sob o mesmo teto havia empregados como Michelangelo. Além do salário, o emprego trazia vasntagens adicionais para um cronista da época. Viagens aos cenários de guerras. Acesso à intimidade do poder, testemunhando as intrigas palacianas, no palco mesmo das decisões. A confiança de personagens-chave, abrindo o precioso cofre de suas confidências. O registro de acordos e documentos, na hora em que eram feitos e desfeitos. Enfim, espectador privilegiado, e ator nos bastidores desse espetáculo, que é a História. Pois, como todos sabem, a política é a arte de enganar os outros, sem que eles percebam, e sem deixar vestígios. Meu patrão, César Bórgia, era uma eterna fonte de inspiração e sua irmã, de permanente fascínio. Eu conheci Lucrécia Bórgia! Hoje, se falam horrores dessa dama. Posso garantir que tudo que se diz dela...ainda é pouco. Lucrécia era excessiva, uma pérola cultivada. Exerceu como poucos a virtude do vício, não sendo desprovida de talentos e sentimentos contraditórios. Naquele tempo, não importavam os meios, quando os fins eram o poder, a riqueza e a glória. Talvez os senhores achem difícil de compreender, vivendo numa época tão diferente. Os Bórgia tinham a ambição como um refinamento do espírito. A família era muito unida...O papa adorava seus filhos, sobretudo Lucrécia...
Sugestão para estudo
O texto define em linhas gerais o caráter do personagem e seus principais objetivos, assim como situa a platéia no contexto da narrativa. A fala é dita para o público, e o aluno deve evitar maiores atropelos e tentar valorizar todas as informações. Algumas delas, como se percebe, repletas de ironia.
Versos íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Sugestão para estudo
Versos íntimos tem como tema central a ingratidão. Seu tom é amargo, sombrio, ainda que se perceba uma certa ironia, ainda que desesperada. Como o texto nos leva a crer que uma pessoa se dirija a outra, talvez seja interessante para o aluno criar um contexto, ou seja, imaginar um personagem que fale com alguém. Ou quem sabe o próprio, falando consigo mesmo, diante de um espelho. Mas o fundamental é trabalhar cuidadosamente cada intenção, de preferência de forma lenta, a fim de valorizar todos os conteúdos propostos.
Briga no beco
Adélia Prado
Encontrei meu marido às três horas da tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
Ataquei-os por trás com mão e palavras
que nunca suspeitei conhecesse.
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêma-ofendida,
uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.
Quando não pude mais fiquei rígida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo graças.
Desde então faço milagres.
Sugestão para estudo
O poema tem como sentimento primordial a indignação. Mas deve-se ter cuidado para não imprimir à narrativa um ritmo muito acelerado, pois aí corre-se o risco de não valorizar suficientemente as poderosas imagens criadas por Adélia Prado.
O guardador de rebanhos
(XLVIII)
Fernando Pessoa
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos.
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.
Sugestão para Estudo
O poema, escrito por Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) exibe uma espécie de alegria melancólica, algo resignada. Portanto, deve ser dito sem maiores arroubos, num tom calmo, mas nem por isso isento de emoção.
Sem título
Martha Medeiros
foram exatos treze segundos
mais do que dura um orgasmo
menos que um comercial de tevê
“Não posso mais viver com você
me apaixonei por outra mulher”
você disse pausado, com a voz embargada
e levou treze segundos
pra dizer duas frases
tivesse mais pressa ou menos remorso
teria sido mais rápido
mas você estava angustiado
e levou treze segundos
pra desocupar meu lugar
como quem desfaz um negócio
tivesse escrito uma carta
haveria de ser mais sutil
tivesse telefonado
seria obrigado a um olá e a um adeus
mas olhando nos olhos
e sem divórcio ou fiasco
mudaste em treze segundos meu estado civil
desarrumando a vida
que eu tinha inventado
Sugestão para estudo
Extraída do volume De cara lavada, cuja leitura recomendo com entusiasmo, esta poesia (sem título, como todas as demais que integram o livro) tem um tom ao mesmo tempo amargo e irônico, sendo que a ironia funciona como uma espécie de analgésico contra a dor da separação. Ao trabalhar a poesia, há que se levar em conta também o fator tempo, que sem dúvida tem o poder de amenizar o peso de recordações penosas.
O jardim das cerejeiras
Anton Tchecov
Lopakhin - Sim, fui eu. Um minuto, esperem um pouco, estou com a cabeça tonta, nem posso falar direito. (Ri) Quando chegamos para o leilão, o Deriganov já estava lá. Leonid Andreievitch só tinha 15 mil rublos, o Deriganov foi logo oferecendo 30 mil, além das dívidas. Vendo isso, me atraquei com ele, ofereci 40; ele, 45; eu, 55. Ele ia subindo 5 mil de cada vez e eu subia 10 mil. E acabou. Dei 90 mil, além das dívidas, o martelo bateu pra mim! O jardim das cerejeiras é meu agora! Meu! (Ri às gargalhadas) Santo Deus! Vocês podem dizer que eu estou bêbado, maluco, que estou sonhando. (Bate com os pés) Mas não riam de mim! Se meu pai e meu avô saíssem da cova para ver tudo isso que aconteceu, para ver como seu Iermolai, que levou tantas surras, que andava descalço na neve, como um miserável, analfabeto Iermolai comprou a fazenda mais linda que há neste mundo! Comprei a fazenda onde meu pai e meu avô foram servos, não podiam entrar na cozinha! Vai ver que estou dormindo, sonhando, só pode ser mesmo um sonho! (Ouve-se a orquestra afinando os instrumentos) Toquem, maestros, eu quero ouvir! Venham todos ver como Iermolai Lopakhin vai sentar o machado nas cerejeiras, venham ver as árvores caindo! Vamos construir casas aqui. E nossos netos e bisnetos hão de ver surgir uma vida nova! Música! Vamos!
Sugestão para estudo
Esta cena, que ocorre no final do 3º ato, é a mais dramática desta obra-prima de Tchecov. Filho e neto de servos, e atualmente rico comerciante, Yermolai Lopakhin acaba adquirindo a fazenda de Liubov Andreievna, após tê-la advertido várias vezes de que vender a propriedade era a única saída para saldar suas dívidas. A grande dificuldade desta passagem, aqui um pouco reduzida, reside na dualidade de emoções do personagem. Se por um lado ele está orgulhoso de seu feito, por outro sabe o que ele representa para aquela família, a enorme dor de ter que se desfazer da fazenda, símbolo de uma aristocracia decadente que será irremediavelmente substituída pela burguesia ascendente. O ator, ao representar este monólogo, deve imaginar que está rodeado pelos membros da família, que acompanham atônitos os fatos que ele narra.
(Para entender melhor o contexto, recomendamos a leitura da peça, à disposição no nº 163 dos Cadernos de Teatro)
18 de julho
Goethe
Wilhelm, o que seria de nosso coração num mundo sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica sem luz! Mal você coloca a lâmpada lá dentro, aparecem as imagens multicoloridas em sua parede branca! E mesmo que isso não passe de uma ilusão passageira, continuará fazendo a nossa felicidade, sempre que estivermos diante dela, como jovens inocentes, encantados com as maravilhosas aparições. Hoje não pude ir à casa de Lotte, impedido por uma reunião inevitável. Que fazer? Mandei o meu criado até lá, só para ter alguém ao meu lado que tivesse estado perto dela hoje. Com que impaciência o esperei, com que alegria o vi chegar! Teria agarrado-o pela cabeça e beijado-o, se a vergonha não tivesse me impedido.
Dizem que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve os seus raios e depois brilha algum tempo durante a noite. Foi isso que aconteceu com o rapaz. A sensação de que os olhos dela haviam pousado em seu rosto, nas suas faces, nos seus botões e na gola de seu sobretudo, tornava-o, para mim, tão sagrado, tão precioso! Nesse momento, não teria vendido o rapaz nem por mil táleres. Senti-me tão bem em sua presença. Deus queira que você não ria disso. Wilhelm, é ilusão quando nos sentimos felizes?
Sugestão para estudo
O trecho foi extraído de Os sofrimentos do jovem Werter, considerado o mais famoso romance da literatura alemã. Escrita em forma de cartas, a obra gira em torno de uma grande paixão, cujo limite é a própria morte. Aqui, o protagonista escreve a um amigo tentando transmitir seu estado de absoluta felicidade, motivada pela paixão que sente por Lotte. Portanto, o que importa é tentar ao máximo transmitir o arrebatamento do personagem, expresso de forma ao mesmo tempo simples e magistral pelo gênio alemão.
Fragmento de um discurso insano
Lionel Fischer
Os assassinos vasculham os becos. Colam-se às paredes das esquinas à espera de possíveis vítimas. Os policiais sentem cheiro de sangue, que os desperta de seu tédio e os lança à ronda. E nada mais importa. Todos cedem seus lugares para que o estranho espetáculo se consume. Do outro lado do muro, gêmeos vitelinos se olham cheios de medo e ódio. E se ameaçam com alfinetes de prata. As senhoras dormem abraçadas a seus maridos à espera de que sonhos as libertem. E as mocinhas se masturbam com seus cães de caça. E meus olhos brilham e enchem de luz essa cidade morta. Esses caminhos gastos que desconhecidos percorrem arrastando suas próprias vidas. E que conduzem a nada. Um vagabundo demente, bêbado e miserável conta sua história. Se confessa inocente dos crimes imputados e faz escárnio dos homens. Nesse momento, as almas sujeitas à humilhação constante, os pequenos homens indefesos, dançam uma dança lenta e irreal. E cantam músicas que pouca gente conhece. É a hora em que os murmúrios se insinuam pelos cantos. Pelas escadarias de cobre. Pelas consciências adormecidas. Intactas. Na noite ainda e por um breve instante, ele sorriu de frio e se encolheu de nojo. Rodou as quadras e quebrou as lâmpadas. Promoveu tumultos e insultou os donos. E já de manhãzinha ele caiu de quatro. E se sentiu só. Para que a platéia risse e cuspisse de prazer na nuca dos vizinhos. Para que gengivas se arreganhassem e descobrissem dentes verdes, cheios de limo. E no final de tudo, nada além de um rosto de vidro que se debruça sobre as folhas. E se estende, exausto, em seu leito de improviso. E chora de raiva diante de todo esse engano. Mas um dia, o animal feroz, encurralado, se libertará. Não para uma caminhada tranqüila, mas rumo à autodestruição. Numa revolta breve e inconseqüente, que não servirá de modelo ou ganhará adeptos. Mas que nos dará paz. Ao menos isso...Paz.
Sugestão para estudo
O presente texto retrata a impressão que tive, numa fria noite de inverno em Paris, em 1977, de um homem meio maltrapilho que ficou me observando durante um certo tempo, enquanto eu, por minha vez, observava o Sena. Não se trata, portanto, de um personagem, no sentido óbvio do texto, e este não passa de uma especulação de minha parte. Mas o aluno pode imaginar uma figura estranha, o ar meio enlouquecido, que talvez pudesse estar pensando algo como o formulado.
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