REVISTA ELETRÔNICA ANUNCIA INDICADOS AO 2º PRÊMIO QUESTÃO DE CRÍTICA
Premiação consagrará artistas e profissionais que estiveram em cartaz em 2012
O 2º Prêmio Questão de Crítica, evento de premiação do teatro carioca que homenageará artistas que estiveram em cartaz durante o ano de 2012, será realizado no dia 13 de março de 2013, quando a revista eletrônica comemora cinco anos de atividades no Rio de Janeiro. A premiação deste ano será realizada na Sala Multiuso do Espaço SESC, em Copacabana.
A comissão julgadora é formada pelos colaboradores da Questão de Crítica no Rio de Janeiro. As categorias do Prêmio são Dramaturgia, Direção, Ator, Atriz, Iluminação, Cenografia, Figurino, Direção Musical/ Trilha sonora, Elenco, Espetáculo e Prêmio Especial. A categoria Elenco, inédita no Rio de Janeiro, só tem no Prêmio Questão de Crítica e valoriza o trabalho em conjunto, mais que os desempenhos individuais. Além disso, montagens produzidas em outras cidades que fizeram temporada no Rio também podem estar entre os candidatos. Assim como a Revista, o Prêmio não restringe o seu olhar para produções locais.
LISTA DOS INDICADOS:
ESPECIAL:
2º Semestre: Diogo Liberano pela realização da Mostra Hífen de Pesquisa-Cena; Filomena Chiaradia, pela publicação dos livros “Iconografia Teatral - Acervos Fotográficos de Walter Pinto e Eugénio Salvador” e “A companhia do Teatro São José: A menina dos olhos de Paschoal Segreto” e Grupo Espanca! pela apresentação do seu repertório em residência artística no Rio de Janeiro.
1º Semestre: Joaquim Castro pelo vídeo de Matamoros; Maíra Gerstner, pela idealização do projeto “Peças em galeria” e Vandré Silveira, pela pesquisa realizada para o projeto "Farnese de Saudade”.
CENOGRAFIA:
2º Semestre: Fernando Marés por “Esta criança”; Flavio Graff por “Cara de Cavalo” e Paulo de Moraes por “A marca da água”.
1º Semestre: Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli por “Nada”; Aurora dos Campos, Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa por “Breu” e Vandré Silveira por “Farnese de Saudade”.
FIGURINO:
2º Semestre: Kika Lopes por “Gonzagão: A lenda” e Teca Fichinsky por “Valsa nº6”.
1º Semestre: Flavio Souza por “Os mamutes” e Marcio Aurelio, André Cortez e Lígia Pereira por “A ilusão cômica”.
ILUMINAÇÃO:
2º Semestre: Nadja Naira por "Isso te interessa?"; Renato Machado por "Cara de Cavalo" e Vitor Emanuel e Fernando Nicolau por "Capivara na luz trava".
1º Semestre: Ana Kutner por “O céu está vazio” e Tomás Ribas por “Breu”.
DIREÇÃO MUSICAL / TRILHA SONORA:
2º Semestre: Branco Melo por "Jacinta"; Felipe Storino por "Cara de Cavalo" e Tomás Gonzaga por "Valsa nº6".
1º Semestre: Marcelo Alonso Neves por Os mamutes; Fabiano Krieger e Lucas Marcier por A primeira vista e Nelson Latif, Daniel Miranda e Ricky Seabra pelos arranjos e adaptação da trilha sonora original de Phillip Glass por Koyaanisqatsi, a performance.
ATOR:
2º Semestre: Ranieri Gonzalez por "Esta criança"; Ranieri Gonzalez por Isso te interessa?" e Thiago Amaral por "Ficção".
1º Semestre: Joelson Medeiros por “O bom canário”; Lafayette Galvão por “Nada” e Claudio Gabriel por “Arte”.
ATRIZ:
2º Semestre: Ana Kfouri por "Primeiro amor"; Andrea Beltrão por "Jacinta" e Renata Sorrah por "Esta criança".
1º Semestre: Arieta Corrêa por “A volta ao lar”; Debora Lamm por “Os mamutes” e Flávia Zillo por “O bom canário”.
DIREÇÃO:
2º Semestre: Bruce Gomlevski por "O homem travesseiro"; Leonardo Moreira por "Ficção" e Marcio Abreu por "Isso te interessa?".
1º Semestre: Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa por Breu; Moacir Chaves por A negra felicidade e Diogo Liberano por Sinfonia Sonho.
DRAMATURGIA:
2º Semestre: Leonardo Moreira por "Ficção" e Pedro Kosovski por "Cara de Cavalo"
1º Semestre: Pedro Brício por “Breu”; Adriano Guimarães, Emanuel Aragão, Fernando Guimarães e elenco por “Nada” e Rafael Gomes por “Música para cortar os pulsos”.
ESPETÁCULO:
2º Semestre: "Esta criança"; "Ficção" e "Isso te interessa?".
1º Semestre: “A negra felicidade”, “Breu” e “Nada”.
ELENCO:
2º Semestre: "Isso te interessa?" - Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini; "Esta criança" - Giovana Soar, Edson Rocha, Ranieri Gonzales e Renata Sorrah e "O líquido tátil" - Grace Passô, Gustavo Bones e Marcelo Castro.
1º Semestre: “A volta ao lar” - Arieta Corrêa, Bruce Gomlevsky, Gustavo Damasceno, Jaime Leibovitch, Sergio Guizé e Tonico Pereira; “Breu” - Andréia Horta e Kelzy Ecard e “Nada” - Adriano Garib, Camila Evangelista, Lafayette Galvão, Liliane Rovaris, Marilia Simões, Miwa Yanagizawa e Rodrigo Lélis.
SOBRE A REVISTA ELETRÔNICA
A Questão de Crítica, que tem sido um espaço de reflexão, de intercâmbio de ideias e de discussão pública, é um empreendimento pioneiro na área das Artes Cênicas, e, com quase cinco anos de atividades, se estabeleceu de forma legítima como um forte representante do teatro brasileiro – e principalmente do Rio de Janeiro, cidade em que a revista está sediada.
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ASTROLÁBIO COMUNICAÇÃO
(55 21) 3065-1698
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Teatro/CRÍTICA
"A arte da comédia"
..............................
Maravilhosa versão de obra-prima
Lionel Fischer
Ator, diretor e autor dramático italiano, Eduardo De Fillippo (1900-1985) começou a fazer teatro com seus irmãos Titina e Peppino, baseando seu trabalho nos princípios da commedia dell'arte. Depois da Segunda Guerra Mundial, De Fillippo aderiu à corrente neorealista e obteve grande êxito com "Napoles milionária" (1945) e "Filumena Marturano" (1946). Sempre incorporando aos seus espetáculos aspectos do folclore napolitano (músicas e temas), a partir de 1964 De Fillippo se junta a Paolo Grassi na direção do Teatro São Ferdinando, em Nápoles. Autor de mais de 40 textos, Eduardo de Fellippo é considerado, para o teatro italiano, tão importante quanto Luigi Pirandello.
E aqui o público poderá constatar as razões da enorme admiração que o autor desperta não apenas na Itália, mas em todo o mundo. Verdadeira obra-prima, "A arte da comédia" (Teatro Maison de France) chega à cena com direção de Sergio Módena e elenco formado por Ricardo Blat, Thelmo Fernandes, Erika Riba, André Dias, Alcemar Vieira, Celso André, Alexandre Pinheiro, Ricardo Souzedo, Teresa Tostes, Poena Vianna, Saulo Segreto e Sergio Somene.
Tendo como ponto de partida o diálogo entre uma Autoridade (o prefeito) e um Artista (diretor de uma companhia que teve quase todo seu acervo destruído por um incêndio), tal conversa logo envereda para um campo totalmente inesperado. O artista está ali para solicitar algum tipo de ajuda, evidentemente, mas logo se estabelece entre os dois um debate que em muito transcende questões de ordem financeira - por sinal, sequer mencionadas. O que passa a ser discutido pelos dois, com veemência e paixão, é o próprio Teatro. Teria ele ainda alguma função social a cumprir, capaz de validar sua existência?
Como ambos não chegam a nenhum acordo, o autor cria a seguinte e genial alternativa. O diretor sabe que o prefeito acaba de chegar, não conhece ningém na cidade e tem audiência marcada com ilustres personalidades locais; então propõe que receba alguns membros de sua trupe, garantindo que o prefeito jamais conseguirá saber se estará recebendo pessoas reais ou atores representando no lugar delas. Já fatigado, o prefeito expulsa o diretor. Mas logo começam a surgir as tais personalidades...ou seriam os atores da companhia?
Contendo ótimos personagens, diálogos brilhantes e uma ação que mantém o espectador absolutamente magnetizado, "A arte da comédia" recebeu maravilhosa versão cênica de Sergio Módena. Não tanto no que diz respeito às marcações, em geral muito simples, mas em total sintonia com as exigências do material dramatúrgico. Refiro-me, em especial, à sua atuação junto ao elenco, que é aqui o que mais importa, pois se trata de um texto que não pode ser encenado como merece na ausência de verdadeiros atores.
Como são muitos os intérpretes, estaria exigindo um tempo excessivo do amigo leitor/espectador caso me detivesse em cada performance. Ainda assim, e mesmo que admirando sem reservas a atuação de todos que estão em cena, seria por demais injusto não
particularizar ao menos duas: as de Ricardo Blat (diretor) e Thelmo Fernandes (prefeito).
O primeiro, um dos melhores, mais inventivos e corajosos atores brasileiros, exibe aqui, uma vez mais, seu vastíssimo arsenal de recursos expressivos, tanto no que concerne à voz quanto ao corpo. Além disso, Blat sempre me impressiona por sua inteligência cênica e pela originalidade de suas escolhas. E se alguém ainda duvida de que o teatro pertence ao Ator, basta assistir à espécie de prólogo que introduz a história. Nele, Blat está simplesmente sublime!
Quanto a Thelmo Fernandes, vindo de excelente atuação em "Não sobre os rouxinóis", onde interpretava um personagem violento e abjeto, aqui o ator exibe dotes de comediante que até então desconhecia - ao menos nesta dimensão. Em muitas passagens, Thelmo está engraçadíssimo e não por fazer graça, mas por vivenciar profundamente o progressivo atordoamento de seu personagem. E nos momentos iniciais, quando o prefeito ainda detém - ou julga deter - total controle sobre a situação, Thelmo encarna de forma irrepreensível um homem inteligente, articulado e afeito a discussões nada burocráticas. Sem dúvida, uma das melhores atuações deste início de temporada e certamente a melhor de Thelmo Fernandes ao longo de toda a sua carreira.
Com relação à equipe técnica, o mesmo brilho e eficiência se fazem presentes nos trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta deliciosa empreitada teatral - Marcio Aurélio (tradução), Aurora dos Campos (Cenário), Antônio Medeiros (figurino), Tomás Ribas (iluminação) e Gabriel Mesquita (composição da trilha sonora original).
A ARTE DA COMÉDIA - Texto de Eduardo de Fillippo. Direção de Sergio Módena. Com Ricardo Blat, Thelmo fernandes e grande elenco. Teatro Maison de France. Quinta e sexta, 19h30. Sábado, 20h30. Domingo, 18h30.
"A arte da comédia"
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Maravilhosa versão de obra-prima
Lionel Fischer
Ator, diretor e autor dramático italiano, Eduardo De Fillippo (1900-1985) começou a fazer teatro com seus irmãos Titina e Peppino, baseando seu trabalho nos princípios da commedia dell'arte. Depois da Segunda Guerra Mundial, De Fillippo aderiu à corrente neorealista e obteve grande êxito com "Napoles milionária" (1945) e "Filumena Marturano" (1946). Sempre incorporando aos seus espetáculos aspectos do folclore napolitano (músicas e temas), a partir de 1964 De Fillippo se junta a Paolo Grassi na direção do Teatro São Ferdinando, em Nápoles. Autor de mais de 40 textos, Eduardo de Fellippo é considerado, para o teatro italiano, tão importante quanto Luigi Pirandello.
E aqui o público poderá constatar as razões da enorme admiração que o autor desperta não apenas na Itália, mas em todo o mundo. Verdadeira obra-prima, "A arte da comédia" (Teatro Maison de France) chega à cena com direção de Sergio Módena e elenco formado por Ricardo Blat, Thelmo Fernandes, Erika Riba, André Dias, Alcemar Vieira, Celso André, Alexandre Pinheiro, Ricardo Souzedo, Teresa Tostes, Poena Vianna, Saulo Segreto e Sergio Somene.
Tendo como ponto de partida o diálogo entre uma Autoridade (o prefeito) e um Artista (diretor de uma companhia que teve quase todo seu acervo destruído por um incêndio), tal conversa logo envereda para um campo totalmente inesperado. O artista está ali para solicitar algum tipo de ajuda, evidentemente, mas logo se estabelece entre os dois um debate que em muito transcende questões de ordem financeira - por sinal, sequer mencionadas. O que passa a ser discutido pelos dois, com veemência e paixão, é o próprio Teatro. Teria ele ainda alguma função social a cumprir, capaz de validar sua existência?
Como ambos não chegam a nenhum acordo, o autor cria a seguinte e genial alternativa. O diretor sabe que o prefeito acaba de chegar, não conhece ningém na cidade e tem audiência marcada com ilustres personalidades locais; então propõe que receba alguns membros de sua trupe, garantindo que o prefeito jamais conseguirá saber se estará recebendo pessoas reais ou atores representando no lugar delas. Já fatigado, o prefeito expulsa o diretor. Mas logo começam a surgir as tais personalidades...ou seriam os atores da companhia?
Contendo ótimos personagens, diálogos brilhantes e uma ação que mantém o espectador absolutamente magnetizado, "A arte da comédia" recebeu maravilhosa versão cênica de Sergio Módena. Não tanto no que diz respeito às marcações, em geral muito simples, mas em total sintonia com as exigências do material dramatúrgico. Refiro-me, em especial, à sua atuação junto ao elenco, que é aqui o que mais importa, pois se trata de um texto que não pode ser encenado como merece na ausência de verdadeiros atores.
Como são muitos os intérpretes, estaria exigindo um tempo excessivo do amigo leitor/espectador caso me detivesse em cada performance. Ainda assim, e mesmo que admirando sem reservas a atuação de todos que estão em cena, seria por demais injusto não
particularizar ao menos duas: as de Ricardo Blat (diretor) e Thelmo Fernandes (prefeito).
O primeiro, um dos melhores, mais inventivos e corajosos atores brasileiros, exibe aqui, uma vez mais, seu vastíssimo arsenal de recursos expressivos, tanto no que concerne à voz quanto ao corpo. Além disso, Blat sempre me impressiona por sua inteligência cênica e pela originalidade de suas escolhas. E se alguém ainda duvida de que o teatro pertence ao Ator, basta assistir à espécie de prólogo que introduz a história. Nele, Blat está simplesmente sublime!
Quanto a Thelmo Fernandes, vindo de excelente atuação em "Não sobre os rouxinóis", onde interpretava um personagem violento e abjeto, aqui o ator exibe dotes de comediante que até então desconhecia - ao menos nesta dimensão. Em muitas passagens, Thelmo está engraçadíssimo e não por fazer graça, mas por vivenciar profundamente o progressivo atordoamento de seu personagem. E nos momentos iniciais, quando o prefeito ainda detém - ou julga deter - total controle sobre a situação, Thelmo encarna de forma irrepreensível um homem inteligente, articulado e afeito a discussões nada burocráticas. Sem dúvida, uma das melhores atuações deste início de temporada e certamente a melhor de Thelmo Fernandes ao longo de toda a sua carreira.
Com relação à equipe técnica, o mesmo brilho e eficiência se fazem presentes nos trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta deliciosa empreitada teatral - Marcio Aurélio (tradução), Aurora dos Campos (Cenário), Antônio Medeiros (figurino), Tomás Ribas (iluminação) e Gabriel Mesquita (composição da trilha sonora original).
A ARTE DA COMÉDIA - Texto de Eduardo de Fillippo. Direção de Sergio Módena. Com Ricardo Blat, Thelmo fernandes e grande elenco. Teatro Maison de France. Quinta e sexta, 19h30. Sábado, 20h30. Domingo, 18h30.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
“Deus da Fortuna”, com texto e direção de Márcio Marciano, estreia dia 31 de janeiro
Grupo teatral de João Pessoa está na programação do projeto “Visões Coletivas – Nordeste Contemporâneo”, no Teatro Glauce Rocha
O espetáculo teatral “Deus da Fortuna”, texto e direção de Márcio Marciano, da companhia Coletivo de Teatro Alfenim, de João Pessoa/PB, faz apenas quatro apresentações, de 31 de janeiro a 3 de fevereiro de 2013 (quinta a domingo), sempre às 19 horas no Teatro Glauce Rocha, dentro do projeto de ocupação “Visões Coletivas - Nordeste Contemporâneo” (http://www.visoescoletivas.com/). Nos dias 30 e 31 de janeiro e, dias 1 e 2 de fevereiro, das 14h às 17h, também no Glauce Rocha, a oficina gratuita “Exercícios de direção para uma prática colaborativa”, será ministrada pelo Coletivo Teatro Alfenim.
O Deus da Fortuna é ganhador do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/2010. Com texto de Márcio Marciano, criado em processo colaborativo com os atores do grupo, o espetáculo é uma parábola em chave cômica, que utiliza como ponto de partida um argumento de Bertolt Brecht, retirado de seus diários de trabalho.
O dramaturgo alemão relata sua intenção de escrever uma peça inspirada na imagem desse deus, muito popular na China. Com base nessa alegoria, o Coletivo de Teatro Alfenim cria o seu próprio Deus da Fortuna, totalmente identificado ao capital especulativo, e o faz surgir na propriedade de um capitalista à moda antiga, o Senhor Wang, para lhe revelar a “metafísica” do capitalismo financeirizado dos dias atuais.
Sintonizado com as novas formas imateriais de acumulação do capital, esse acumulador primitivo irá saldar suas dívidas e erguer um novo templo ao Deus da Fortuna, o templo da especulação financeira.
Em tempos de crise sistemática do capitalismo, cuja lógica é a de se alimentar de trabalho não pago e da promessa fictícia de que o capital especulativo promoverá a felicidade futura, comprometendo não apenas as gerações de hoje como também as gerações vindouras, o Coletivo de Teatro Alfenim experimenta a comédia com o propósito de desmascarar a maquinaria teatral utilizada para escamotear a lógica criminosa do capital especulativo e seus derivativos “metafisicantes”.
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Grupo teatral de João Pessoa está na programação do projeto “Visões Coletivas – Nordeste Contemporâneo”, no Teatro Glauce Rocha
O espetáculo teatral “Deus da Fortuna”, texto e direção de Márcio Marciano, da companhia Coletivo de Teatro Alfenim, de João Pessoa/PB, faz apenas quatro apresentações, de 31 de janeiro a 3 de fevereiro de 2013 (quinta a domingo), sempre às 19 horas no Teatro Glauce Rocha, dentro do projeto de ocupação “Visões Coletivas - Nordeste Contemporâneo” (http://www.visoescoletivas.com/). Nos dias 30 e 31 de janeiro e, dias 1 e 2 de fevereiro, das 14h às 17h, também no Glauce Rocha, a oficina gratuita “Exercícios de direção para uma prática colaborativa”, será ministrada pelo Coletivo Teatro Alfenim.
O Deus da Fortuna é ganhador do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/2010. Com texto de Márcio Marciano, criado em processo colaborativo com os atores do grupo, o espetáculo é uma parábola em chave cômica, que utiliza como ponto de partida um argumento de Bertolt Brecht, retirado de seus diários de trabalho.
O dramaturgo alemão relata sua intenção de escrever uma peça inspirada na imagem desse deus, muito popular na China. Com base nessa alegoria, o Coletivo de Teatro Alfenim cria o seu próprio Deus da Fortuna, totalmente identificado ao capital especulativo, e o faz surgir na propriedade de um capitalista à moda antiga, o Senhor Wang, para lhe revelar a “metafísica” do capitalismo financeirizado dos dias atuais.
Sintonizado com as novas formas imateriais de acumulação do capital, esse acumulador primitivo irá saldar suas dívidas e erguer um novo templo ao Deus da Fortuna, o templo da especulação financeira.
Em tempos de crise sistemática do capitalismo, cuja lógica é a de se alimentar de trabalho não pago e da promessa fictícia de que o capital especulativo promoverá a felicidade futura, comprometendo não apenas as gerações de hoje como também as gerações vindouras, o Coletivo de Teatro Alfenim experimenta a comédia com o propósito de desmascarar a maquinaria teatral utilizada para escamotear a lógica criminosa do capital especulativo e seus derivativos “metafisicantes”.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Teatro/CRÍTICA
"O médico e o monstro"
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Risos e reflexões no Café Pequeno
Lionel Fischer
"George Osterman foi membro da Cia. Teatro do Ridículo (Nova Iorque), que foi fundada por Charles Ludlamm, autor de um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, "Irma Vap". O Teatro do Ridículo faz uma ruptura com as tendências dominantes no teatro naturalista e de ação realista. Ele empregou um estilo muito específico, atuando com configurações de palco surrealistas e muitas vezes fazendo um esforço consciente em ser chocante ou perturbador. O Teatro do Ridículo trouxe alguns elementos transformistas, onde homens interpretavam papéis femininos e atrizes papéis masculinos, fazendo de suas montagens espetáculos de vanguarda. Os cenários usados em suas peças eram frequentemente paródias da cultura pop, fazendo uma crítica bem humorada a este universo. A improvisação também desempenhou um grande papel nas produções da Cia., onde o script era tratado apenas como um ponto de partida".
O parágrafo acima, que consta do release que me foi enviado, está aqui reproduzido na íntegra, pois acredito que possa ajudar os leitores/espectadores a entenderem melhor, em caso de dúvida, as premissas básicas que norteiam o presente espetáculo. Baseado no clássico de Robert Louis Stevenson, "O médico e o monstro" (Teatro Café Pequeno) leva a assinatura de George Ostermann e chega à cena com direção de César Augusto. No elenco, Bruce Gomlevsky, Débora Lamm, Erica Migon, Hugo Resende, Isabel Cavalcanti, Marcelo Olinto e Michel Blois.
Por tratar-se de uma obra por demais conhecida, não julgo indispensável resumir seu enredo - mas os que não leram o original, haverão de se divertir muito com as experiências do Dr. Jekyll, cientista obcecado em encontrar uma fórmula capaz de separar a pessoa de seu próprio modo de agir habitualmente. E tal prodígio acaba se materializando, graças à mescla de uma poção mágica e do intragável café preparado por Minerva, empregada do dito cientista. Como resultante, emerge Edward Hyde, a personificação da maldade.
Tendo por cenário a casa do Dr. Jekyll, seu laboratório e o Cabaré Stravaganzza (não sei se a grafia está correta), a peça exibe, em sua maior parte, passagens impregnadas de um humor ao mesmo tempo escrachado e refinado, exótico e delirante, transportando o espectador para um universo onde tudo parece ser possível, mas jamais previsto. Ainda assim, o texto não deixa de abordar, e até mesmo de forma um tanto sombria, a questão básica que lhe é inerente: a dualidade humana.
Como não sou psicanalista, não ousarei tecer maiores considerações sobre tal tema, já incontáveis vezes abordado por pessoas muito mais competentes do que eu. Ainda assim, creio que o autor da novela original, e mesmo que não o pretendesse explicitamente, nos alertou para o fato de que todos nós contemos no mínimo duas faces, cabendo a nós, metaforicamente, a opção de nos tornarmos um Hitler ou um Mozart...
Com relação ao espetáculo, o diretor César Augusto impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, criando marcas delirantes e imprevistas, plenas de inventividade, capazes de valorizar ao máximo tanto as passagens mais engraçadas quanto aquelas em que o trágico predomina.
No que diz respeito ao elenco, o naipe feminino tem atuação segura e convincente - Erica Migon (Berenice Braitwain, pesquisadora), Isabel Cavalcanti (Mary Jekill, esposa do doutor) e Débora Lamm (Aculine, mestre de cerimônia do cabaré). Mas os atores, certamente em função de personagens melhores, brilham mais - a exceção fica por conta de Hugo Resende, que interpreta King e protagoniza breves passagens sem maiores possibilidades de uma performance mais expressiva; mas ainda assim o ator em nada compromete.
Com relação aos demais, Marcelo Olinto dá um show na pele da esnobe e irrascível empregada Minerva, tanto do ponto de vista vocal como corporal. O mesmo ocorre com Michel Blois, que encarna a burrinha, linda, sensual e engraçadíssima Lily Gay. Finalmente, Bruce Gomlevsky reafirma seus vastíssimos recursos expressivos, estando impecável na pele do doutor angustiado com suas pesquisas e mais ainda quando se transforma em seu reverso, um homem completamente incapaz de conter seus execráveis impulsos - neste último personagem, cumpre ressaltar que Bruce está absolutamente hilariante.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os irrepreensíveis trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta deliciosa empreitada teatral - Erica Migon e Úrsula Migon (tradução), César Augusto e Fabiano de Freitas (adaptação), Bia Junqueira (direção de arte e cenografia), Luiz Paulo Nenen (iluminação), Antonio Guedes (figurino), Marcelo Alonso Neves (direção musical), Raquel Karro (direção de movimento) e Márcio Mello (visagismo). Cabe ainda destacar a ótima produção capitaneada por Fernando Libonati e Marco Nanini, o que certamente possibilitou à Trupe Produções Teatrais e Artísticas realizar um espetáculo absolutamente impecável.
O MÉDICO E O MONSTRO - Texto de George Ostermann. Direção de César Augusto. Com Bruce Gomlevsky, Débora Lamm, Erica Migon, Hugo Resende, Isabel Cavalcanti, Marcelo Olinto e Michel Blois. Teatro Café Pequeno. Quinta a domingo, 20h.
"O médico e o monstro"
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Risos e reflexões no Café Pequeno
Lionel Fischer
"George Osterman foi membro da Cia. Teatro do Ridículo (Nova Iorque), que foi fundada por Charles Ludlamm, autor de um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, "Irma Vap". O Teatro do Ridículo faz uma ruptura com as tendências dominantes no teatro naturalista e de ação realista. Ele empregou um estilo muito específico, atuando com configurações de palco surrealistas e muitas vezes fazendo um esforço consciente em ser chocante ou perturbador. O Teatro do Ridículo trouxe alguns elementos transformistas, onde homens interpretavam papéis femininos e atrizes papéis masculinos, fazendo de suas montagens espetáculos de vanguarda. Os cenários usados em suas peças eram frequentemente paródias da cultura pop, fazendo uma crítica bem humorada a este universo. A improvisação também desempenhou um grande papel nas produções da Cia., onde o script era tratado apenas como um ponto de partida".
O parágrafo acima, que consta do release que me foi enviado, está aqui reproduzido na íntegra, pois acredito que possa ajudar os leitores/espectadores a entenderem melhor, em caso de dúvida, as premissas básicas que norteiam o presente espetáculo. Baseado no clássico de Robert Louis Stevenson, "O médico e o monstro" (Teatro Café Pequeno) leva a assinatura de George Ostermann e chega à cena com direção de César Augusto. No elenco, Bruce Gomlevsky, Débora Lamm, Erica Migon, Hugo Resende, Isabel Cavalcanti, Marcelo Olinto e Michel Blois.
Por tratar-se de uma obra por demais conhecida, não julgo indispensável resumir seu enredo - mas os que não leram o original, haverão de se divertir muito com as experiências do Dr. Jekyll, cientista obcecado em encontrar uma fórmula capaz de separar a pessoa de seu próprio modo de agir habitualmente. E tal prodígio acaba se materializando, graças à mescla de uma poção mágica e do intragável café preparado por Minerva, empregada do dito cientista. Como resultante, emerge Edward Hyde, a personificação da maldade.
Tendo por cenário a casa do Dr. Jekyll, seu laboratório e o Cabaré Stravaganzza (não sei se a grafia está correta), a peça exibe, em sua maior parte, passagens impregnadas de um humor ao mesmo tempo escrachado e refinado, exótico e delirante, transportando o espectador para um universo onde tudo parece ser possível, mas jamais previsto. Ainda assim, o texto não deixa de abordar, e até mesmo de forma um tanto sombria, a questão básica que lhe é inerente: a dualidade humana.
Como não sou psicanalista, não ousarei tecer maiores considerações sobre tal tema, já incontáveis vezes abordado por pessoas muito mais competentes do que eu. Ainda assim, creio que o autor da novela original, e mesmo que não o pretendesse explicitamente, nos alertou para o fato de que todos nós contemos no mínimo duas faces, cabendo a nós, metaforicamente, a opção de nos tornarmos um Hitler ou um Mozart...
Com relação ao espetáculo, o diretor César Augusto impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, criando marcas delirantes e imprevistas, plenas de inventividade, capazes de valorizar ao máximo tanto as passagens mais engraçadas quanto aquelas em que o trágico predomina.
No que diz respeito ao elenco, o naipe feminino tem atuação segura e convincente - Erica Migon (Berenice Braitwain, pesquisadora), Isabel Cavalcanti (Mary Jekill, esposa do doutor) e Débora Lamm (Aculine, mestre de cerimônia do cabaré). Mas os atores, certamente em função de personagens melhores, brilham mais - a exceção fica por conta de Hugo Resende, que interpreta King e protagoniza breves passagens sem maiores possibilidades de uma performance mais expressiva; mas ainda assim o ator em nada compromete.
Com relação aos demais, Marcelo Olinto dá um show na pele da esnobe e irrascível empregada Minerva, tanto do ponto de vista vocal como corporal. O mesmo ocorre com Michel Blois, que encarna a burrinha, linda, sensual e engraçadíssima Lily Gay. Finalmente, Bruce Gomlevsky reafirma seus vastíssimos recursos expressivos, estando impecável na pele do doutor angustiado com suas pesquisas e mais ainda quando se transforma em seu reverso, um homem completamente incapaz de conter seus execráveis impulsos - neste último personagem, cumpre ressaltar que Bruce está absolutamente hilariante.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os irrepreensíveis trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta deliciosa empreitada teatral - Erica Migon e Úrsula Migon (tradução), César Augusto e Fabiano de Freitas (adaptação), Bia Junqueira (direção de arte e cenografia), Luiz Paulo Nenen (iluminação), Antonio Guedes (figurino), Marcelo Alonso Neves (direção musical), Raquel Karro (direção de movimento) e Márcio Mello (visagismo). Cabe ainda destacar a ótima produção capitaneada por Fernando Libonati e Marco Nanini, o que certamente possibilitou à Trupe Produções Teatrais e Artísticas realizar um espetáculo absolutamente impecável.
O MÉDICO E O MONSTRO - Texto de George Ostermann. Direção de César Augusto. Com Bruce Gomlevsky, Débora Lamm, Erica Migon, Hugo Resende, Isabel Cavalcanti, Marcelo Olinto e Michel Blois. Teatro Café Pequeno. Quinta a domingo, 20h.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Em Louvor da Lamúria
Eric Bentley
O que significa chorar? O riso prendeu a atenção de muitos pensadores, entre os quais alguns dos melhores. Uma rápida busca nos índices de livros e catálogos de bibliotecas chama a nossa atenção para uma extensa literatura a tal respeito. As lágrimas são um oceano relativamente inexplorado.
Uma razão pela qual o riso teve melhor divulgação parece-nos óbvia: o riso é (ou sustenta-se que é) agradável, ao passo que o choro é (ou afirma-se que é) desagradável. O riso é também algo que faz sermos apreciados. Qual o orador fatigado que não se espraia sobre os benefícios de um sentido de humor?
Chorar, por outro lado, é uma coisa que se ensina assìduamente os meninos pequenos a não fazerem. As mulheres são muito mais realistas: falam de ter desabafado com uma boa choradeira.
A frase assinala o que é, talvez, a função mais comum das lágrimas: um mecanismo para aliviar, para descarregar emoções - usualmente, emoções muito superficiais. Mas há lágrimas e lágrimas. Soluçar sentidamente é uma questão de profundas, lancinantes emoções. Depois, temos as lágrimas de alegria. "O excesso de mágoas ri", diz Blake, "o excesso de alegria chora". Shaw explicou dessa maneira:
"As lágrimas na vida adulta são a expressão natural de felicidade, assim como o riso é, em todas as idades, o reconhecimento natural de destruição, confusão e ruína".
As lágrimas derramadas pela assistência de um melodrama vitoriano cabem na rubrica de "uma boa choradeira". Poderiam denominar-se a catarse dos pobres e como tal obter um melhor justificante para a pretensão de constituir o principal objetivo do melodrama popular, em vez de suas notórias pretensões morais.
Além de referir-se a uma emoção superficial, a frase "fiz uma boa choradeira" implica o sentimento de comiseração, de pena da pessoa por si própria. Mas, apesar de todos os seus deméritos, a autocomiseração tem sua utilidade. E. M. Forster afirma até ser a única coisa que torna suportável o sentimento de envelhecer - por outras palavras, que é uma arma na luta pela existência. A autocomiseração é uma ajuda muito atuante em tempos de dificuldade, e todos os tempos são tempos de dificuldade.
Visto que o nosso moderno antagonismo à autocomiseração e ao sentimentalismo vai muito além das objeções racionais que se lhes pudesse fazer, percebemos que as próprias objeções racionais são, numa certa medida, meras racionalizações. Os ataques às falsas emoções disfarçam, com freqüência, o medo de uma emoção propriamente dita.No fim de contas, a nossa cultura consiste em meias palavras, meias atitudes.
Observe-se como, nos últimos 50 anos, o prestígio da ironia seca subiu, enquanto o das emoções alterosas declinou. É um clima cultural em que um escritor secundário como Jules Laforgue pode ser mais apreciado que um escritor da envergadura de Victor Hugo.
Ou atente-se em nossa mudança de atitude em face da morte.
Alguma outra época, além da nossa, receberia a morte de pessoas admiradas com "silenciosa reserva"? Podemos pensar que Auden abre seu coração no bom poema que escreveu sobre a morte de Yeats, mas compare-se o poema de Auden com o produto de uma cultura mais tradicional, digamos, com o Llanto por Ignacio Sánches Mejías, de Garcia Lorca! Seria possível em inglês até o próprio título do poema de Lorca? É o pranto ou lamento algo que nos possamos imaginar fazendo? Pelo contrário, modernizamos as tragédias gregas eliminando todas as variantes de "ai de mim!" Se Cristo e Alexandre, o Grande, ressuscitassem, ensiná-los-íamos a reterem as lágrimas.
Vi, certa vez, fazer-se justiça à morte. Um ator italiano apresentou-se no palco para anunciar a morte de um colega. Foi um lamento, de fato. Agitou-se, chorou, produziu um caudal de retórica veemente, até que a assistência se agitou, chorou e lamentou a morte com ele. Ora, trata-se de lamúria, de autocomiseração, sem dúvida. Uma pessoa não lamenta um cadáver; lamenta-se a si própria, por ter sido desapossada, privada de alguém; e, no fundo, está com medo da própria morte. Mas tanto melhor para a autocomiseração. A experiência foi recebida, não recusada.
Esse ponto tem certa importância para a saúde mental. A psiquiatria moderna começa com aqueles Estudos Sobre Histeria em que Freud e Breuer procuram explicar o que acontece quando às impressões emocionais não é permitido que se consumam. O choque de dor anseia por ser mitigado e liberto através de gritos, contorções, lágrimas. Os bons meninos que se mantêm quietos e calados sob uma chuva de golpes talvez venham a pagar por esse estoicismo vinte anos depois, num divã de psicoterapia. Seus ressentimentos, em vez de se consumirem por um processo natural, foram acumulados no inconsciente.
Se rechaçarmos as lágrimas e os lamentos em altos brados da nossa vida cotidiana, poderemos verificar se se encotram igualmente ausentes ou não dos sonhos noturnos. Poderemos não ser mais sentimentais que o nosso vizinho e verificar, contudo, que temos muito sonhos em que choramos profusamente e, ao mesmo tempo, nos agitamos como um ator num velho melodrama: caímos de joelhos, erguemos os braços aos céus, lamentosamente etc. Nesse caso, a autocomiseração grandiloqüente é um fato da vida. Como só pode ser reproduzida mediante o uso do estilo grandiloqüente, a grandiosidade melodramática deveria parecer uma necessidade.
____________________
Extraído de A Experiência Viva do Teatro, capítulo 6, referente ao Melodrama. Zahar Editores, 1964, tradução de Álvaro Cabral, apresentação de Paulo Francis
Eric Bentley
O que significa chorar? O riso prendeu a atenção de muitos pensadores, entre os quais alguns dos melhores. Uma rápida busca nos índices de livros e catálogos de bibliotecas chama a nossa atenção para uma extensa literatura a tal respeito. As lágrimas são um oceano relativamente inexplorado.
Uma razão pela qual o riso teve melhor divulgação parece-nos óbvia: o riso é (ou sustenta-se que é) agradável, ao passo que o choro é (ou afirma-se que é) desagradável. O riso é também algo que faz sermos apreciados. Qual o orador fatigado que não se espraia sobre os benefícios de um sentido de humor?
Chorar, por outro lado, é uma coisa que se ensina assìduamente os meninos pequenos a não fazerem. As mulheres são muito mais realistas: falam de ter desabafado com uma boa choradeira.
A frase assinala o que é, talvez, a função mais comum das lágrimas: um mecanismo para aliviar, para descarregar emoções - usualmente, emoções muito superficiais. Mas há lágrimas e lágrimas. Soluçar sentidamente é uma questão de profundas, lancinantes emoções. Depois, temos as lágrimas de alegria. "O excesso de mágoas ri", diz Blake, "o excesso de alegria chora". Shaw explicou dessa maneira:
"As lágrimas na vida adulta são a expressão natural de felicidade, assim como o riso é, em todas as idades, o reconhecimento natural de destruição, confusão e ruína".
As lágrimas derramadas pela assistência de um melodrama vitoriano cabem na rubrica de "uma boa choradeira". Poderiam denominar-se a catarse dos pobres e como tal obter um melhor justificante para a pretensão de constituir o principal objetivo do melodrama popular, em vez de suas notórias pretensões morais.
Além de referir-se a uma emoção superficial, a frase "fiz uma boa choradeira" implica o sentimento de comiseração, de pena da pessoa por si própria. Mas, apesar de todos os seus deméritos, a autocomiseração tem sua utilidade. E. M. Forster afirma até ser a única coisa que torna suportável o sentimento de envelhecer - por outras palavras, que é uma arma na luta pela existência. A autocomiseração é uma ajuda muito atuante em tempos de dificuldade, e todos os tempos são tempos de dificuldade.
Visto que o nosso moderno antagonismo à autocomiseração e ao sentimentalismo vai muito além das objeções racionais que se lhes pudesse fazer, percebemos que as próprias objeções racionais são, numa certa medida, meras racionalizações. Os ataques às falsas emoções disfarçam, com freqüência, o medo de uma emoção propriamente dita.No fim de contas, a nossa cultura consiste em meias palavras, meias atitudes.
Observe-se como, nos últimos 50 anos, o prestígio da ironia seca subiu, enquanto o das emoções alterosas declinou. É um clima cultural em que um escritor secundário como Jules Laforgue pode ser mais apreciado que um escritor da envergadura de Victor Hugo.
Ou atente-se em nossa mudança de atitude em face da morte.
Alguma outra época, além da nossa, receberia a morte de pessoas admiradas com "silenciosa reserva"? Podemos pensar que Auden abre seu coração no bom poema que escreveu sobre a morte de Yeats, mas compare-se o poema de Auden com o produto de uma cultura mais tradicional, digamos, com o Llanto por Ignacio Sánches Mejías, de Garcia Lorca! Seria possível em inglês até o próprio título do poema de Lorca? É o pranto ou lamento algo que nos possamos imaginar fazendo? Pelo contrário, modernizamos as tragédias gregas eliminando todas as variantes de "ai de mim!" Se Cristo e Alexandre, o Grande, ressuscitassem, ensiná-los-íamos a reterem as lágrimas.
Vi, certa vez, fazer-se justiça à morte. Um ator italiano apresentou-se no palco para anunciar a morte de um colega. Foi um lamento, de fato. Agitou-se, chorou, produziu um caudal de retórica veemente, até que a assistência se agitou, chorou e lamentou a morte com ele. Ora, trata-se de lamúria, de autocomiseração, sem dúvida. Uma pessoa não lamenta um cadáver; lamenta-se a si própria, por ter sido desapossada, privada de alguém; e, no fundo, está com medo da própria morte. Mas tanto melhor para a autocomiseração. A experiência foi recebida, não recusada.
Esse ponto tem certa importância para a saúde mental. A psiquiatria moderna começa com aqueles Estudos Sobre Histeria em que Freud e Breuer procuram explicar o que acontece quando às impressões emocionais não é permitido que se consumam. O choque de dor anseia por ser mitigado e liberto através de gritos, contorções, lágrimas. Os bons meninos que se mantêm quietos e calados sob uma chuva de golpes talvez venham a pagar por esse estoicismo vinte anos depois, num divã de psicoterapia. Seus ressentimentos, em vez de se consumirem por um processo natural, foram acumulados no inconsciente.
Se rechaçarmos as lágrimas e os lamentos em altos brados da nossa vida cotidiana, poderemos verificar se se encotram igualmente ausentes ou não dos sonhos noturnos. Poderemos não ser mais sentimentais que o nosso vizinho e verificar, contudo, que temos muito sonhos em que choramos profusamente e, ao mesmo tempo, nos agitamos como um ator num velho melodrama: caímos de joelhos, erguemos os braços aos céus, lamentosamente etc. Nesse caso, a autocomiseração grandiloqüente é um fato da vida. Como só pode ser reproduzida mediante o uso do estilo grandiloqüente, a grandiosidade melodramática deveria parecer uma necessidade.
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Extraído de A Experiência Viva do Teatro, capítulo 6, referente ao Melodrama. Zahar Editores, 1964, tradução de Álvaro Cabral, apresentação de Paulo Francis
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Teatro/CRÍTICA
"Oportunidade rara"
......................................
Rara oportunidade
Lionel Fischer
"A peça trata do caminho que o Brasil está construindo para se tornar um bom lugar para se viver na Terra. São cinco pequenas peças teatrais que animam a idéia de que o mundo e o brasileiro vivem uma ocasião única. Temas da vida diária - a existência como um lance de ouro; a necessidade de outro projeto de humanidade; o país com suas questões básicas insolúveis - são abordados nos cinco episódios através de personagens que sentem, observam, descobrem, criam uma chance em mil no seu quintal e no vasto universo".
O trecho acima, extraído do programa e assinado por Hamilton Vaz Pereira, sintetiza a opinião do autor sobre "Oportunidade rara", em cartaz no Teatro dos Quatro. Com direção também assinada por Hamilton, o espetáculo tem elenco formado por Lena Brito, Bel Kutner, Luana Martau e Saulo Rodrigues, que dividem a cena com uma banda formada por Iuri Brito, Thomás Jagoda, Guilherme Lírio e Pedro Fonte - Hamilton também está no palco, cantando músicas de sua autoria que introduzem as pequenas peças e enfatizam os diversificados climas emocionais em jogo.
Composto, como já dito, de cinco episódios - "Humanidade suicida", "Malditos filhos de Adão", "Business e saúde corporal", "Bonito" e "Volta depressa" -, não sei até que ponto os espectadores que lerem o que Hamilton escreveu no programa encontrarão sua justa correspondência no texto encenado. Caso isto se dê, ótimo. Não sendo assim, não enxergo aí o menor problema. E pelas razões que se seguem.
Como conheço Hamilton desde o tempo em que estudamos juntos no Tablado e tendo acompanhado toda a sua trajetória artística, não hesito em afirmar que, dentre suas muitas virtudes, duas me parecem essenciais: sua singular capacidade de criar textos como fragmentos aparentemente isolados e depois a eles conferir unidade, e fundamentalmente seu notável talento para mesclar o real e o imaginário, o que confere a quase tudo que faz uma transbordante teatralidade. No presente caso, o exemplo mais significativo do que acabo de dizer - em especial no que diz respeito à segunda virtude de Hamilton - pode ser apreciado no episódio "Bonito".
Aqui estamos diante de duas sócias falidas de uma confecção de biquínis. Surge um potencial comprador endinheirado, oriundo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Ele é quase um caipira. Pouco antes da entrada deste personagem, as sócias Matilda e Marocas fumam um baseado e recordam uma viagem que fizeram à Grécia, onde viveram curiosas peripécias. Teria mesmo havido esta viagem? Pouco importa. O fato é que, ante a iminência de perder o poderoso cliente, elas decidem (e conseguem) envolvê-lo por completo na bizarra odisséia grega, a ponto de o comprador não resistir ao apelo de trocar sua roupa, fantasiar-se de turista e viver efetivamente o jogo proposto.
Pois bem: um espectador, digamos, ainda aferrado à vetusta idéia de que o teatro deve reproduzir a realidade, haverá de espantar-se e ruminar com seus botões: "Isso não acontece na vida". E certamente que não, posto que a função primordial do teatro não reside em copiar a vida, mas em recriá-la. O que aqui merece ser destacado é a forma delirante e inventiva com que Hamilton brinca com o jeitinho brasileiro de encontrar alternativas para situações aparentemente sem saída. Este é, sem a menor dúvida, um de seus melhores textos.
Quanto aos demais, todos eles exibem o refinado e crítico humor de Hamilton Vaz Pereira, os mesmos predicados presentes em sua direção - ágil, inventiva, sempre surpreendente e irretocável no tocante aos tempos rítmicos. E a tais méritos acrescento sua ótima participação junto ao elenco.
Vivendo vários e diversificados personagens, Lena Brito, Bel Kutner, Luana Martau e Saulo Rodrigues exibem notável versatilidade e uma alegria de estar em cena que só é possível quando todos acreditam totalmente no projeto e dele se tornam cúmplices. E essa energia tão positiva certamente contagia a platéia - falando apenas em meu nome, quero deixar claro que me diverti do começo ao fim e caso fossem apresentadas mais duas ou três histórias, acredito que meu prazer só faria aumentar, assim como me veria estimulado a refletir sobre mim mesmo e sobre a realidade que me cerca.
No tocante à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta rara oportunidade - Hélio Eichbauer (cenografia), Jorginho de Carvalho (iluminação), Antonio Medeiros (figurinos), Laís Rodrigues (vídeo) e Melanie Dimantas (colaboração dramatúrgica). Cumpre ainda ressaltar a excelência da banda, as ótimas canções de Hamilton e sua bela voz, que em algum momento do espetáculo - não sei por que razões - concluí ser a resultante de uma mescla das vozes de Zé Ramalho e Caetano Veloso.
OPORTUNIDADE RARA - Texto e direção de Hamilton Vaz Pereira. Com Lena Brito, Bel Kutner, Luana Martau e Saulo Rodrigues. Teatro dos Quatro. De segunda a quarta, 21h.
"Oportunidade rara"
......................................
Rara oportunidade
Lionel Fischer
"A peça trata do caminho que o Brasil está construindo para se tornar um bom lugar para se viver na Terra. São cinco pequenas peças teatrais que animam a idéia de que o mundo e o brasileiro vivem uma ocasião única. Temas da vida diária - a existência como um lance de ouro; a necessidade de outro projeto de humanidade; o país com suas questões básicas insolúveis - são abordados nos cinco episódios através de personagens que sentem, observam, descobrem, criam uma chance em mil no seu quintal e no vasto universo".
O trecho acima, extraído do programa e assinado por Hamilton Vaz Pereira, sintetiza a opinião do autor sobre "Oportunidade rara", em cartaz no Teatro dos Quatro. Com direção também assinada por Hamilton, o espetáculo tem elenco formado por Lena Brito, Bel Kutner, Luana Martau e Saulo Rodrigues, que dividem a cena com uma banda formada por Iuri Brito, Thomás Jagoda, Guilherme Lírio e Pedro Fonte - Hamilton também está no palco, cantando músicas de sua autoria que introduzem as pequenas peças e enfatizam os diversificados climas emocionais em jogo.
Composto, como já dito, de cinco episódios - "Humanidade suicida", "Malditos filhos de Adão", "Business e saúde corporal", "Bonito" e "Volta depressa" -, não sei até que ponto os espectadores que lerem o que Hamilton escreveu no programa encontrarão sua justa correspondência no texto encenado. Caso isto se dê, ótimo. Não sendo assim, não enxergo aí o menor problema. E pelas razões que se seguem.
Como conheço Hamilton desde o tempo em que estudamos juntos no Tablado e tendo acompanhado toda a sua trajetória artística, não hesito em afirmar que, dentre suas muitas virtudes, duas me parecem essenciais: sua singular capacidade de criar textos como fragmentos aparentemente isolados e depois a eles conferir unidade, e fundamentalmente seu notável talento para mesclar o real e o imaginário, o que confere a quase tudo que faz uma transbordante teatralidade. No presente caso, o exemplo mais significativo do que acabo de dizer - em especial no que diz respeito à segunda virtude de Hamilton - pode ser apreciado no episódio "Bonito".
Aqui estamos diante de duas sócias falidas de uma confecção de biquínis. Surge um potencial comprador endinheirado, oriundo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Ele é quase um caipira. Pouco antes da entrada deste personagem, as sócias Matilda e Marocas fumam um baseado e recordam uma viagem que fizeram à Grécia, onde viveram curiosas peripécias. Teria mesmo havido esta viagem? Pouco importa. O fato é que, ante a iminência de perder o poderoso cliente, elas decidem (e conseguem) envolvê-lo por completo na bizarra odisséia grega, a ponto de o comprador não resistir ao apelo de trocar sua roupa, fantasiar-se de turista e viver efetivamente o jogo proposto.
Pois bem: um espectador, digamos, ainda aferrado à vetusta idéia de que o teatro deve reproduzir a realidade, haverá de espantar-se e ruminar com seus botões: "Isso não acontece na vida". E certamente que não, posto que a função primordial do teatro não reside em copiar a vida, mas em recriá-la. O que aqui merece ser destacado é a forma delirante e inventiva com que Hamilton brinca com o jeitinho brasileiro de encontrar alternativas para situações aparentemente sem saída. Este é, sem a menor dúvida, um de seus melhores textos.
Quanto aos demais, todos eles exibem o refinado e crítico humor de Hamilton Vaz Pereira, os mesmos predicados presentes em sua direção - ágil, inventiva, sempre surpreendente e irretocável no tocante aos tempos rítmicos. E a tais méritos acrescento sua ótima participação junto ao elenco.
Vivendo vários e diversificados personagens, Lena Brito, Bel Kutner, Luana Martau e Saulo Rodrigues exibem notável versatilidade e uma alegria de estar em cena que só é possível quando todos acreditam totalmente no projeto e dele se tornam cúmplices. E essa energia tão positiva certamente contagia a platéia - falando apenas em meu nome, quero deixar claro que me diverti do começo ao fim e caso fossem apresentadas mais duas ou três histórias, acredito que meu prazer só faria aumentar, assim como me veria estimulado a refletir sobre mim mesmo e sobre a realidade que me cerca.
No tocante à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta rara oportunidade - Hélio Eichbauer (cenografia), Jorginho de Carvalho (iluminação), Antonio Medeiros (figurinos), Laís Rodrigues (vídeo) e Melanie Dimantas (colaboração dramatúrgica). Cumpre ainda ressaltar a excelência da banda, as ótimas canções de Hamilton e sua bela voz, que em algum momento do espetáculo - não sei por que razões - concluí ser a resultante de uma mescla das vozes de Zé Ramalho e Caetano Veloso.
OPORTUNIDADE RARA - Texto e direção de Hamilton Vaz Pereira. Com Lena Brito, Bel Kutner, Luana Martau e Saulo Rodrigues. Teatro dos Quatro. De segunda a quarta, 21h.
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Teatro/CRÍTICA
"Clímax"
.........................................................................
Filosofia e suspense no Glaucio Gill
Lionel Fischer
"Felipe, professor de Filosofia, tem um aluno predileto, David Angerman. Este, além de um amigo de infância de Felipe, delegado Bocaiúva, a ex-esposa de Felipe, Mercedes, e a bela digitadora Sofia, reúnem-se toda terça-feira para estudar literatura policial. Na noite da peça é aniversário de Felipe. E também é a noite que o psicopata David Angerman marcou para atingir a missão de sua vida: por ordem do diabo, pode ser sua própria loucura, ele deve matar Felipe naquela noite. Em meio à reunião literária, toda a verdade é descoberta e faz explodir a extraordinária violência".
O trecho acima, extraído do release que me foi enviado, resume o enredo de "Clímax", texto assinado e dirigido por Domingos Oliveira. Em cartaz no Teatro Glaucio Gill, a montagem chega à cena com elenco formado por Domingos Oliveira (Felipe), Claudia Ohana (Mercedes), Erika Mader (Sofia), José Roberto Oliveira (delegado Bocaiúva) e Matheus Souza (David Angerman).
Caso tivesse lido o release antes de assistir ao espetáculo (o que jamais faço), não teria a menor dúvida de que me aguardava uma trama policial, impregnada de suspense e, quem sabe, de algum terror. E embora tais elementos não deixem de existir, eles só aparecem praticamente no final e, em minha opinião, de forma não muito convincente - não revelarei os fatos, evidentemente, mas em nenhum momento me senti tomado por qualquer uma das sensações mencionadas.
Em contrapartida, tudo que antecede este momento final confirma, uma vez mais, a fantástica capacidade de Domingos Oliveira de pensar a vida, a morte, o amor e mais uma série de pertinentes questões que dizem respeito a todos nós. Todas as cenas envolvendo Felipe (na realidade, o próprio Domingos), Mercedes e Sofia são absolutamente irretocáveis, posto que exibem humor, lirismo, amplo conhecimento das relações humanas e, naturalmente, generosas pitadas de filosofia. E são interpretadas por Domingos, Claudia Ohana e Erika Mader de forma irrepreensível.
Quanto ao delegado, José Roberto Oliveira faz de forma correta um personagem sem maior alcance. Matheus Souza está muito bem até o momento final da peça, quando o personagem exibe sua verdadeira face e esta deveria nos causar terror - mas não foi o que senti, embora outros possam tê-lo sentido.
No tocante à montagem, Domingos Oliveira impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Suas marcações, ainda que simples, atendem a todas as finalidades do texto, cabendo ressaltar o delicioso clima de cumplicidade que se estabelece entre palco e plateia.
Com relação à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta instigante e bela montagem - Paulo César Medeiros (iluminação), Renata Paschoal e Priscilla Rozenbaum (figurinos), Domingos Oliveira (concepção do cenário) e novamente Renata Paschoal, responsável pela ambientação e cenografia.
CLÍMAX - Texto e direção de Domingos Oliveira. Com Domingos Oliveira, Claudia Ohana, Erika Mader, José Roberto Oliveira e Matheus Souza. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda, 21h.
"Clímax"
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Filosofia e suspense no Glaucio Gill
Lionel Fischer
"Felipe, professor de Filosofia, tem um aluno predileto, David Angerman. Este, além de um amigo de infância de Felipe, delegado Bocaiúva, a ex-esposa de Felipe, Mercedes, e a bela digitadora Sofia, reúnem-se toda terça-feira para estudar literatura policial. Na noite da peça é aniversário de Felipe. E também é a noite que o psicopata David Angerman marcou para atingir a missão de sua vida: por ordem do diabo, pode ser sua própria loucura, ele deve matar Felipe naquela noite. Em meio à reunião literária, toda a verdade é descoberta e faz explodir a extraordinária violência".
O trecho acima, extraído do release que me foi enviado, resume o enredo de "Clímax", texto assinado e dirigido por Domingos Oliveira. Em cartaz no Teatro Glaucio Gill, a montagem chega à cena com elenco formado por Domingos Oliveira (Felipe), Claudia Ohana (Mercedes), Erika Mader (Sofia), José Roberto Oliveira (delegado Bocaiúva) e Matheus Souza (David Angerman).
Caso tivesse lido o release antes de assistir ao espetáculo (o que jamais faço), não teria a menor dúvida de que me aguardava uma trama policial, impregnada de suspense e, quem sabe, de algum terror. E embora tais elementos não deixem de existir, eles só aparecem praticamente no final e, em minha opinião, de forma não muito convincente - não revelarei os fatos, evidentemente, mas em nenhum momento me senti tomado por qualquer uma das sensações mencionadas.
Em contrapartida, tudo que antecede este momento final confirma, uma vez mais, a fantástica capacidade de Domingos Oliveira de pensar a vida, a morte, o amor e mais uma série de pertinentes questões que dizem respeito a todos nós. Todas as cenas envolvendo Felipe (na realidade, o próprio Domingos), Mercedes e Sofia são absolutamente irretocáveis, posto que exibem humor, lirismo, amplo conhecimento das relações humanas e, naturalmente, generosas pitadas de filosofia. E são interpretadas por Domingos, Claudia Ohana e Erika Mader de forma irrepreensível.
Quanto ao delegado, José Roberto Oliveira faz de forma correta um personagem sem maior alcance. Matheus Souza está muito bem até o momento final da peça, quando o personagem exibe sua verdadeira face e esta deveria nos causar terror - mas não foi o que senti, embora outros possam tê-lo sentido.
No tocante à montagem, Domingos Oliveira impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Suas marcações, ainda que simples, atendem a todas as finalidades do texto, cabendo ressaltar o delicioso clima de cumplicidade que se estabelece entre palco e plateia.
Com relação à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta instigante e bela montagem - Paulo César Medeiros (iluminação), Renata Paschoal e Priscilla Rozenbaum (figurinos), Domingos Oliveira (concepção do cenário) e novamente Renata Paschoal, responsável pela ambientação e cenografia.
CLÍMAX - Texto e direção de Domingos Oliveira. Com Domingos Oliveira, Claudia Ohana, Erika Mader, José Roberto Oliveira e Matheus Souza. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda, 21h.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
TRAGAM SEUS PERSONAGENS - WORKSHOP DE HUMOR
Participação: Maurício Sherman
Direção de Atores: Carmen Frenzel.
O Workshop de Humor tem como princípio trabalhar as ferramentas da comedia e aprofundar o trabalho do ator através do material apresentado por ele. O objetivo, é que os atores tragam suas propostas e ideias de personagens, para que no decorrer da oficina, seja realizado um trabalho de pesquisa, experimentação, adaptação e lapidação tanto do texto, como da interpretação.
Local: Espaço Telezoom (www.telezoom.com.br)
Horário: das 18h às 22h
Datas: 28; 29; 30; 31; 01; 02 e 03 de fevereiro
Todas as informações no link abaixo:
http://www.telezoom.com.br/espaco/spip.php?article622
CONFIRA TAMBÉM:
TREINAMENTO DE INTERPRETAÇÃO PARA TELEVISÃO COM MÔNICA TEIXEIRA E ISMAEL FIORENTIN:
http://www.telezoom.com.br/espaco/spip.php?article628
_______________
Participação: Maurício Sherman
Direção de Atores: Carmen Frenzel.
O Workshop de Humor tem como princípio trabalhar as ferramentas da comedia e aprofundar o trabalho do ator através do material apresentado por ele. O objetivo, é que os atores tragam suas propostas e ideias de personagens, para que no decorrer da oficina, seja realizado um trabalho de pesquisa, experimentação, adaptação e lapidação tanto do texto, como da interpretação.
Local: Espaço Telezoom (www.telezoom.com.br)
Horário: das 18h às 22h
Datas: 28; 29; 30; 31; 01; 02 e 03 de fevereiro
Todas as informações no link abaixo:
http://www.telezoom.com.br/espaco/spip.php?article622
CONFIRA TAMBÉM:
TREINAMENTO DE INTERPRETAÇÃO PARA TELEVISÃO COM MÔNICA TEIXEIRA E ISMAEL FIORENTIN:
http://www.telezoom.com.br/espaco/spip.php?article628
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sábado, 12 de janeiro de 2013
7º Prêmio APTR de Teatro
INDICADOS
Em reunião realizada nesta última sexta-feira, o júri composto por Bárbara Heliodora, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Macksen Luis, Mauro Ferreira, Norma Thiré, Rafael Teixeira, Rodrigo Monteiro e Tânia Brandão escolheu os indicados ao 7º Prêmio APTR de Teatro.
AUTOR
Carla Faour - "Obsessão"
Eduardo Rieche e Gustavo Gasparani - "As mimosas da Praça Tiradentes"
Maurício Arruda de Mendonça e Paulo de Moraes - "A marca da água".
Pedro Brício - "Breu"
DIREÇÃO
Bruce Gomlevsky - "O homem travesseiro"
João Fonseca - "Dorotéia"
Márcio Abreu - "Esta criança"
Monique Gardenberg e Michele Matalon - "O desaparecimento do elefante"
CENÁRIO
Daniela Thomas e Camila Schmidt - "O desaparecimento do elefante"
Edward Monteiro - "Quase normal"
Fernando Marés - "Esta criança"
Aurora dos Campos, Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa - "Breu"
FIGURINO
Cláudia Kopke - "O desaparecimento do elefante"
Kika Lopes - "Gonzagão, a lenda"
Teca Fichinski - "Valsa nº 6"
Thanara Schonardie - "Dorotéia"
ILUMINAÇÃO
Luis Paulo Nenen e Thiago Mantovani - "O homem travesseiro"
Maneco Quinderé - "A primeira vista", "A marca da água", "Édipo Rei" e "O outro Van Gogh"
Nadja Naira - "Esta criança"
Tomás Ribas - "Breu"
ATOR PROTAGONISTA
Bruce Gomlevsky - "O homem travesseiro"
Fernando Eiras - "O outro Van Gogh"
Gregório Duvivier - "Uma noite na lua"
Marcos Caruso - "Em nome do jogo"
ATRIZ PROTAGONISTA
Debora Lamm - "Os mamutes"
Drica Moraes - "A primeira vista"
Renata Sorrah - "Esta criança"
Vanessa Gerbelli - "Quase normal"
ATOR EM PAPEL COADJUVANTE
Gilberto Gawronski - "Dorotéia"
Kiko Mascarenhas - "O desaparecimento do elefante"
Ricardo Blat - "O homem travesseiro"
Tonico Pereira - "A volta ao lar" e "O homem travesseiro"
ATRIZ EM PAPEL COADJUVANTE
Ana Baird - "Obsessão"
Fernanda de Freitas - "O desaparecimento do elefante"
Marjorie Estiano - "O desaparecimento do elefante"
Simone Spoladore - "Depois da queda"
CATEGORIA ESPECIAL
Complexo Duplo - pela ocupação do Teatro Glaucio Gill
Editora Cobogó - Edição de peças nacionais
Marcela Altberg - Pelo trabalho de casting em musicais
Tempo Festival
MÚSICA
Alexandre Elias - direção musical de "Gonzagão, a lenda"
Délia Fischer - arranjos musicais de "Milton Nascimento - Nada será como antes"
Tim Rescala - música original e direção musical de "Era uma vez...Grimm"
Tomaz Gonzaga - trilha sonora de "Valsa nº 6"
MELHOR ESPETÁCULO
"Esta criança"
"O desaparecimento do elefante"
"O homem travesseiro"
"Quase normal"
____________________
INDICADOS
Em reunião realizada nesta última sexta-feira, o júri composto por Bárbara Heliodora, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Macksen Luis, Mauro Ferreira, Norma Thiré, Rafael Teixeira, Rodrigo Monteiro e Tânia Brandão escolheu os indicados ao 7º Prêmio APTR de Teatro.
AUTOR
Carla Faour - "Obsessão"
Eduardo Rieche e Gustavo Gasparani - "As mimosas da Praça Tiradentes"
Maurício Arruda de Mendonça e Paulo de Moraes - "A marca da água".
Pedro Brício - "Breu"
DIREÇÃO
Bruce Gomlevsky - "O homem travesseiro"
João Fonseca - "Dorotéia"
Márcio Abreu - "Esta criança"
Monique Gardenberg e Michele Matalon - "O desaparecimento do elefante"
CENÁRIO
Daniela Thomas e Camila Schmidt - "O desaparecimento do elefante"
Edward Monteiro - "Quase normal"
Fernando Marés - "Esta criança"
Aurora dos Campos, Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa - "Breu"
FIGURINO
Cláudia Kopke - "O desaparecimento do elefante"
Kika Lopes - "Gonzagão, a lenda"
Teca Fichinski - "Valsa nº 6"
Thanara Schonardie - "Dorotéia"
ILUMINAÇÃO
Luis Paulo Nenen e Thiago Mantovani - "O homem travesseiro"
Maneco Quinderé - "A primeira vista", "A marca da água", "Édipo Rei" e "O outro Van Gogh"
Nadja Naira - "Esta criança"
Tomás Ribas - "Breu"
ATOR PROTAGONISTA
Bruce Gomlevsky - "O homem travesseiro"
Fernando Eiras - "O outro Van Gogh"
Gregório Duvivier - "Uma noite na lua"
Marcos Caruso - "Em nome do jogo"
ATRIZ PROTAGONISTA
Debora Lamm - "Os mamutes"
Drica Moraes - "A primeira vista"
Renata Sorrah - "Esta criança"
Vanessa Gerbelli - "Quase normal"
ATOR EM PAPEL COADJUVANTE
Gilberto Gawronski - "Dorotéia"
Kiko Mascarenhas - "O desaparecimento do elefante"
Ricardo Blat - "O homem travesseiro"
Tonico Pereira - "A volta ao lar" e "O homem travesseiro"
ATRIZ EM PAPEL COADJUVANTE
Ana Baird - "Obsessão"
Fernanda de Freitas - "O desaparecimento do elefante"
Marjorie Estiano - "O desaparecimento do elefante"
Simone Spoladore - "Depois da queda"
CATEGORIA ESPECIAL
Complexo Duplo - pela ocupação do Teatro Glaucio Gill
Editora Cobogó - Edição de peças nacionais
Marcela Altberg - Pelo trabalho de casting em musicais
Tempo Festival
MÚSICA
Alexandre Elias - direção musical de "Gonzagão, a lenda"
Délia Fischer - arranjos musicais de "Milton Nascimento - Nada será como antes"
Tim Rescala - música original e direção musical de "Era uma vez...Grimm"
Tomaz Gonzaga - trilha sonora de "Valsa nº 6"
MELHOR ESPETÁCULO
"Esta criança"
"O desaparecimento do elefante"
"O homem travesseiro"
"Quase normal"
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Teatro/CRÍTICA
"O lugar escuro"
...................................................
Uma preciosa lição de vida
Lionel Fischer
Descrita, pela primeira vez, em 1906, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, o Mal de Alzheimer é uma doença degenerativa incurável, cujos primeiros sintomas são em geral confundidos com problemas de idade ou estresse. Mais adiante o paciente passa a exibir confusão mental, irritabilidade, agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e finalmente desliga-se completamente da realidade.
O presente texto, de Heloísa Seixas, é baseado em seu livro homônimo, publicado em 2007, que tem como tema central a doença que acometeu sua mãe. No entanto, e ainda que possa estar completamente equivocado, o que me parece mais relevante não é tanto a evolução da doença, mas os sentimentos (não raro insuspeitados) que ela faz aflorar na família - como não li o livro, estou me baseando nos três personagens que estão em cena: a avó, sua filha e sua neta.
Com direção assinada por André Paes Leme, "O lugar escuro" (Espaço Sesc) chega à cena com elenco formado por Camilla Amado (avó), Clarice Niskier (filha) e Laila Zaid (neta).
Como bem assinala o diretor no programa oferecido ao público, o espetáculo constitui-se de quatro tempos: presente, passado, memória e fantasia. Isto significa que não estamos diante de uma narrativa estruturada de forma linear, o que faculta uma permanente alternância de fatos e climas emocionais.
Um pouco acima disse que, do meu ponto de vista, a progressão da doença não seria o ponto nevrálgico do texto e sim todos os sentimentos que afloram a partir do amargo diagnóstico, tais como, dentre outros, culpas, mágoas, rancores, ciúmes da filha em relação ao irmão que sopostamente a mãe preferia e que nunca esteve presente, enquanto ela segurou sozinha uma situação tão desesperadora.
No entanto - e aqui reside o que de mais emocionante o texto possui - a partir de um certo momento os sentimento negativos vão sendo minimizados e alguns deles completamente aplacados, pois a filha acaba encontrando uma forma mais tranquila de se relacionar com a mãe e, como não poderia deixar de ser, consigo mesma. O que durante muito tempo restringiu-se ao campo da amargura ganha cortornos de inesperada paz.
E se por um lado é verdade que essa doença ainda não tem cura, por outro é inegável que pode gerar importantíssimas transformações naqueles que cuidam do doente. No fundo, é como se Heloísa Seixas nos dissesse: "Só pode conhecer a luz aquele que um dia esteve mergulhado nas trevas". Uma bela peça, sem dúvida, e mais ainda porque nos faculta uma preciosa lição de vida.
Quanto ao espetáculo, André Paes Leme impõe à cena uma dinâmica sem marcações muito rígidas, conferindo à arena do Espaço Sesc uma salutar conotação de liberdade - é claro que existem marcas, mas em nenhum momento as sentimos como marcas, o que nos dá sempre a sensação de que as atrizes estão se movimentando em função de seus impulsos. Tarefa delicada e sutil, sem dúvida, mas muito bem sucedida.
Na pele da avó, Camilla Amado demonstra, uma vez mais, não apenas seus vastíssimos recursos expressivos e sua imensa capacidade de entrega, mas também a inteligência de suas escolhas -
uma vez somados, tais atributos me parecem suficientes para afirmar, sem nenhuma hesitação, que Camilla Amado é uma das mais brilhantes atrizes deste país. Vivendo a filha, Clarice Niskier exibe predicados semelhantes, e consegue materializar na cena toda uma vasta e diferenciada gama de sentimentos, a todos eles imprimindo total verdade. Encarnando a neta, Laila Zaid se sai muito bem em papel de menores oportunidades.
Com relação á equipe técnica, Renato Machado assina uma iluminação deslumbrante, que acompanha e reforça com notável sensibilidade todos os climas emocionais em jogo. Carlos Alberto Nunes (cenografia), Kika Lopes (figurinos) e José Maria Braga (direção musical) contribuem de forma decisiva para o sucesso do espetáculo, o mesmo aplicando-se à direção de movimento de Joice Niskier e à preparação vocal de Rose Gonçalves.
O LUGAR ESCURO - Texto de Heloísa Seixas. Direção de André Paes Leme. Com Camilla Amado, Clarice Niskier e Laila Zaid. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 20h30. Domingo, 18h30.
"O lugar escuro"
...................................................
Uma preciosa lição de vida
Lionel Fischer
Descrita, pela primeira vez, em 1906, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, o Mal de Alzheimer é uma doença degenerativa incurável, cujos primeiros sintomas são em geral confundidos com problemas de idade ou estresse. Mais adiante o paciente passa a exibir confusão mental, irritabilidade, agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e finalmente desliga-se completamente da realidade.
O presente texto, de Heloísa Seixas, é baseado em seu livro homônimo, publicado em 2007, que tem como tema central a doença que acometeu sua mãe. No entanto, e ainda que possa estar completamente equivocado, o que me parece mais relevante não é tanto a evolução da doença, mas os sentimentos (não raro insuspeitados) que ela faz aflorar na família - como não li o livro, estou me baseando nos três personagens que estão em cena: a avó, sua filha e sua neta.
Com direção assinada por André Paes Leme, "O lugar escuro" (Espaço Sesc) chega à cena com elenco formado por Camilla Amado (avó), Clarice Niskier (filha) e Laila Zaid (neta).
Como bem assinala o diretor no programa oferecido ao público, o espetáculo constitui-se de quatro tempos: presente, passado, memória e fantasia. Isto significa que não estamos diante de uma narrativa estruturada de forma linear, o que faculta uma permanente alternância de fatos e climas emocionais.
Um pouco acima disse que, do meu ponto de vista, a progressão da doença não seria o ponto nevrálgico do texto e sim todos os sentimentos que afloram a partir do amargo diagnóstico, tais como, dentre outros, culpas, mágoas, rancores, ciúmes da filha em relação ao irmão que sopostamente a mãe preferia e que nunca esteve presente, enquanto ela segurou sozinha uma situação tão desesperadora.
No entanto - e aqui reside o que de mais emocionante o texto possui - a partir de um certo momento os sentimento negativos vão sendo minimizados e alguns deles completamente aplacados, pois a filha acaba encontrando uma forma mais tranquila de se relacionar com a mãe e, como não poderia deixar de ser, consigo mesma. O que durante muito tempo restringiu-se ao campo da amargura ganha cortornos de inesperada paz.
E se por um lado é verdade que essa doença ainda não tem cura, por outro é inegável que pode gerar importantíssimas transformações naqueles que cuidam do doente. No fundo, é como se Heloísa Seixas nos dissesse: "Só pode conhecer a luz aquele que um dia esteve mergulhado nas trevas". Uma bela peça, sem dúvida, e mais ainda porque nos faculta uma preciosa lição de vida.
Quanto ao espetáculo, André Paes Leme impõe à cena uma dinâmica sem marcações muito rígidas, conferindo à arena do Espaço Sesc uma salutar conotação de liberdade - é claro que existem marcas, mas em nenhum momento as sentimos como marcas, o que nos dá sempre a sensação de que as atrizes estão se movimentando em função de seus impulsos. Tarefa delicada e sutil, sem dúvida, mas muito bem sucedida.
Na pele da avó, Camilla Amado demonstra, uma vez mais, não apenas seus vastíssimos recursos expressivos e sua imensa capacidade de entrega, mas também a inteligência de suas escolhas -
uma vez somados, tais atributos me parecem suficientes para afirmar, sem nenhuma hesitação, que Camilla Amado é uma das mais brilhantes atrizes deste país. Vivendo a filha, Clarice Niskier exibe predicados semelhantes, e consegue materializar na cena toda uma vasta e diferenciada gama de sentimentos, a todos eles imprimindo total verdade. Encarnando a neta, Laila Zaid se sai muito bem em papel de menores oportunidades.
Com relação á equipe técnica, Renato Machado assina uma iluminação deslumbrante, que acompanha e reforça com notável sensibilidade todos os climas emocionais em jogo. Carlos Alberto Nunes (cenografia), Kika Lopes (figurinos) e José Maria Braga (direção musical) contribuem de forma decisiva para o sucesso do espetáculo, o mesmo aplicando-se à direção de movimento de Joice Niskier e à preparação vocal de Rose Gonçalves.
O LUGAR ESCURO - Texto de Heloísa Seixas. Direção de André Paes Leme. Com Camilla Amado, Clarice Niskier e Laila Zaid. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 20h30. Domingo, 18h30.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Projeto PUENTE
Em janeiro, nos dias 7, 8, 9, 10 e 11, de segunda a sexta, o Projeto PUENTE – programa fundamental do Teatro Poeira que traz ao Rio artistas de outros países –, recebe a dinamarquesa Iben Nagel Rasmussen (Odin Teatret) e o curitibano Carlos Simioni (Lume Teatro) que apresentam “Branca como o Jasmin” (direção de Eugênio Barba) e “Prisão para a Liberdade”, ministram juntos a oficina “A Ponte dos Ventos - O canto do corpo e as raízes da voz” e confrontam suas histórias profissionais através do Odin Teatret e do Lume Teatro no encontro "A Ponte dos Ventos".
Para mais informações acesse o site www.teatropoeira.com.br.
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Em janeiro, nos dias 7, 8, 9, 10 e 11, de segunda a sexta, o Projeto PUENTE – programa fundamental do Teatro Poeira que traz ao Rio artistas de outros países –, recebe a dinamarquesa Iben Nagel Rasmussen (Odin Teatret) e o curitibano Carlos Simioni (Lume Teatro) que apresentam “Branca como o Jasmin” (direção de Eugênio Barba) e “Prisão para a Liberdade”, ministram juntos a oficina “A Ponte dos Ventos - O canto do corpo e as raízes da voz” e confrontam suas histórias profissionais através do Odin Teatret e do Lume Teatro no encontro "A Ponte dos Ventos".
Para mais informações acesse o site www.teatropoeira.com.br.
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ERRATA
A Petrobras Distribuidora de Cultura informou a respeito do edital 2013/2014 do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura informando que VÃO ACEITAR OS PROJETOS COM PLANILHAS ORÇAMENTÁRIAS EM FORMATO DIFERENTE DO OBRIGATÓRIO POR ENTENDEREM QUE O MESMO NÃO ESTÁ TOTALMENTE CLARO NO EDITAL.
Nenhum projeto será desclassificado por este motivo.
A empresa avisa que esta informação vai estar no site também.
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A Petrobras Distribuidora de Cultura informou a respeito do edital 2013/2014 do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura informando que VÃO ACEITAR OS PROJETOS COM PLANILHAS ORÇAMENTÁRIAS EM FORMATO DIFERENTE DO OBRIGATÓRIO POR ENTENDEREM QUE O MESMO NÃO ESTÁ TOTALMENTE CLARO NO EDITAL.
Nenhum projeto será desclassificado por este motivo.
A empresa avisa que esta informação vai estar no site também.
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Prezados produtores,
No intuito de colaborar com a divulgação deste documento, estamos encaminhando o comunicado abaixo, enviado pela Petrobras Distribuidora de Cultura, a respeito do edital 2013/2014 do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura e aproveitamos para ressaltar algumas informações (EM MAIÚSCULO) para que todos fiquem atentos na hora de preencher o mesmo.
Para esclarecer mais dúvidas entrar em contato com o SAC da empresa : 0800-728-9001
COMUNICADO
Prezado proponente,
O Programa Petrobras Distribuidora de Cultura tem o prazer de divulgar que suas inscrições foram prorrogadas até 15 de janeiro de 2013, devido à grande procura. Aproveitamos esta oportunidade para fornecer algumas dicas úteis para o preenchimento do formulário:
- A edição 2013/2014 do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura se dedica exclusivamente a contemplar a circulação de espetáculos teatrais não inéditos, cujas montagens já tenham necessariamente ocorrido com um mínimo de 10 (dez) apresentações em território nacional no período de 1o. de janeiro de 2010 a 30 de outubro de 2012.
- Nesta edição, o modelo de orçamento é a planilha Excel disponível apenas no item 19, localizado no passo 4 do referido formulário. Esta planilha fica disponível da forma correta somente após o preenchimento do item 15 - "Propostas de Novas Apresentações", pois o modelo já virá formatado parcialmente pelo sistema de modo automático. Caso este item não tenha sido preenchido, a aba que contém a tabela não aparecerá da forma adequada. Assim, pedimos preencher todos os dados dos campos anteriores e clicar em Salvar antes de acessar o arquivo contendo a planilha.
ORIENTAÇÃO DADA PELO ATENDIMENTO DA BR DISTRIBUIDORA :
ATENÇÃO! OS PROPONENTES QUE JÁ ENVIARAM OS PROJETOS SEM ESTA PLANILHA OBRIGATÓRIA, DEVERÃO REENCAMINHAR O MESMO PROJETO COM NOVA INSCRIÇÃO POIS O OUTRO (SEM A PLANILHA OBRIGATÓRIA) SERÁ DESCLASSIFICADO.
- As propostas de novas apresentações deverão compreender o período compreendido entre 1º de agosto de 2013 e 15 de dezembro de 2014.
- Podem-se inscrever apresentações de rua, em teatros, em espaços alternativos ou em todos estes na mesma proposta, desde que preenchidas todas as condições do regulamento e os campos obrigatórios do formulário de inscrição online.
- Não esqueça de verificar se na sua proposta de circulação consta alguma cidade já incluída dentre as percorridas anteriormente pelo espetáculo. Caso algum município seja repetido, o sistema bloqueará a inscrição dessa cidade. Da mesma forma, caso exista algum erro de digitação no nome no município, o sistema bloqueará a inclusão do mesmo.
- Cada inscrição no Programa Petrobras Distribuidora de Cultura deve corresponder a uma única região do país. De qualquer forma, caso deseje inscrever o mesmo espetáculo para regiões diferentes, não existe nenhum impedimento. No entanto, lembramos que inscrições diferentes são projetos diferentes, mesmo em se tratando do mesmo espetáculo. Assim, no caso de seleção de um dos projetos, não necessariamente o outro será selecionado. Da mesma forma, caso um dos projetos ou os dois sejam selecionados, nem todas as cidades propostas serão necessariamente selecionadas. O projeto pode ser recortado conforme a demanda da seleção pública. Por isto, é imprescindível que o orçamento esteja separado por cidade.
OBSERVAÇÃO APTR PARA OUTRO ÍTEM QUE NÃO ESTÁ CLARO:
ATENÇÃO! AO LADO DO ÍTEM DOS CURRÍCULOS EXISTE UM QUADRADO PEQUENO ONDE DIZ “INSERIR ANEXO”, ESTE ANEXO SÃO AS CARTAS DE ANUÊNCIA DOS PARTICIPANTES E NÃO DOS CURRÍCULOS.
Desejamos um excelente 2013 e nos mantemos à disposição para esclarecer suas dúvidas.
Atenciosamente,
SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente
Petrobras Distribuidora S.A.
0800-728-9001
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No intuito de colaborar com a divulgação deste documento, estamos encaminhando o comunicado abaixo, enviado pela Petrobras Distribuidora de Cultura, a respeito do edital 2013/2014 do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura e aproveitamos para ressaltar algumas informações (EM MAIÚSCULO) para que todos fiquem atentos na hora de preencher o mesmo.
Para esclarecer mais dúvidas entrar em contato com o SAC da empresa : 0800-728-9001
COMUNICADO
Prezado proponente,
O Programa Petrobras Distribuidora de Cultura tem o prazer de divulgar que suas inscrições foram prorrogadas até 15 de janeiro de 2013, devido à grande procura. Aproveitamos esta oportunidade para fornecer algumas dicas úteis para o preenchimento do formulário:
- A edição 2013/2014 do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura se dedica exclusivamente a contemplar a circulação de espetáculos teatrais não inéditos, cujas montagens já tenham necessariamente ocorrido com um mínimo de 10 (dez) apresentações em território nacional no período de 1o. de janeiro de 2010 a 30 de outubro de 2012.
- Nesta edição, o modelo de orçamento é a planilha Excel disponível apenas no item 19, localizado no passo 4 do referido formulário. Esta planilha fica disponível da forma correta somente após o preenchimento do item 15 - "Propostas de Novas Apresentações", pois o modelo já virá formatado parcialmente pelo sistema de modo automático. Caso este item não tenha sido preenchido, a aba que contém a tabela não aparecerá da forma adequada. Assim, pedimos preencher todos os dados dos campos anteriores e clicar em Salvar antes de acessar o arquivo contendo a planilha.
ORIENTAÇÃO DADA PELO ATENDIMENTO DA BR DISTRIBUIDORA :
ATENÇÃO! OS PROPONENTES QUE JÁ ENVIARAM OS PROJETOS SEM ESTA PLANILHA OBRIGATÓRIA, DEVERÃO REENCAMINHAR O MESMO PROJETO COM NOVA INSCRIÇÃO POIS O OUTRO (SEM A PLANILHA OBRIGATÓRIA) SERÁ DESCLASSIFICADO.
- As propostas de novas apresentações deverão compreender o período compreendido entre 1º de agosto de 2013 e 15 de dezembro de 2014.
- Podem-se inscrever apresentações de rua, em teatros, em espaços alternativos ou em todos estes na mesma proposta, desde que preenchidas todas as condições do regulamento e os campos obrigatórios do formulário de inscrição online.
- Não esqueça de verificar se na sua proposta de circulação consta alguma cidade já incluída dentre as percorridas anteriormente pelo espetáculo. Caso algum município seja repetido, o sistema bloqueará a inscrição dessa cidade. Da mesma forma, caso exista algum erro de digitação no nome no município, o sistema bloqueará a inclusão do mesmo.
- Cada inscrição no Programa Petrobras Distribuidora de Cultura deve corresponder a uma única região do país. De qualquer forma, caso deseje inscrever o mesmo espetáculo para regiões diferentes, não existe nenhum impedimento. No entanto, lembramos que inscrições diferentes são projetos diferentes, mesmo em se tratando do mesmo espetáculo. Assim, no caso de seleção de um dos projetos, não necessariamente o outro será selecionado. Da mesma forma, caso um dos projetos ou os dois sejam selecionados, nem todas as cidades propostas serão necessariamente selecionadas. O projeto pode ser recortado conforme a demanda da seleção pública. Por isto, é imprescindível que o orçamento esteja separado por cidade.
OBSERVAÇÃO APTR PARA OUTRO ÍTEM QUE NÃO ESTÁ CLARO:
ATENÇÃO! AO LADO DO ÍTEM DOS CURRÍCULOS EXISTE UM QUADRADO PEQUENO ONDE DIZ “INSERIR ANEXO”, ESTE ANEXO SÃO AS CARTAS DE ANUÊNCIA DOS PARTICIPANTES E NÃO DOS CURRÍCULOS.
Desejamos um excelente 2013 e nos mantemos à disposição para esclarecer suas dúvidas.
Atenciosamente,
SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente
Petrobras Distribuidora S.A.
0800-728-9001
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ÉDIPO: A Imitação de uma ação
Francis Fergusson
A idéia geral que usamos para comparar as formas e o conteúdo espiritual da tragédia com os do antigo ritual foi a de "imitação da ação". O ritual imita a ação de certo modo, a tragédia de outro, e o uso por Sófocles das formas rituais indica ter ele sentido o ritmo trágico comum a ambos.
Mas a linguagem, o enredo, os personagens da peça também podem ser compreendidos com mais detalhes e mais claramente em suas relações mútuas como imitações, cada um em seu campo, daquela ação. Já citei Coleridge a respeito da unidade de ação: "não propriamente uma regra", diz ele, "mas o grande fim em si mesmo, não apenas do drama, mas do épico, do lírico, e até da breve cintilação de um epigrama, e não somente da poesia, mas da poética em geral, sendo termo genérico apropriado inclusive para todas as belas-artes, como sua espécie".
Provavelmente a influência de Coleridge é em parte responsável pelo ressurgimento desse conceito de ação que sublinha os recentes estudos de poesia mencionados por mim. A expressão de Burke, "linguagem como ação simbólica", refere-se àquela idéia, e assim também a sua afirmação de que "O poeta sabe intuitivamente que a beleza é na medida em que faz" (que o estado precisa ser corporificado em ato).
Essa idéia de ação, e da peça como imitação de uma ação, é em última análise derivada da Poética, derivação que explico no Apêndice. Agora gostaria de mostrar que a forma complexa de Édipo - seu enredo, personagens e falas - pode ser compreendida como imitação de certa ação.
A ação da peça é a procura do assassino de Laio. É este o objetivo maior que a informa - "achar o culpado para purificar a vida humana", podemos dizê-lo. Sófocles deve ter visto essa ação de procura como a verdadeira vida do mito de Édipo , percebendo-a através de personagens e acontecimentos como se percebe "a vida de uma planta através de suas folhas verdes".
Ainda mais, ele deve ter visto essa determinada ação como um tipo, ou como exemplo decisivo da vida humana. Daí ter-lhe sido possível apresentá-la na forma do antigo ritual que também indica e celebra o mistério perene da vida e ação humanas. Assim, por "ação" não quero dizer os acontecimentos da história, mas o foco ou o propósito da vida psíquica de onde emanam, naquela situação, os acontecimentos.
Se Sófocles estava imitando a ação nesse sentido, pode-se esquematicamente imaginar seu trabalho de composição em três estágios, em três atos miméticos:
A) Ele estabelece o enredo, isto é, arruma os acontecimentos da história de tal modo que revelem a ação de procura da qual resultam.
B) Desenvolve os personagens da história como formas individualizadas da "procura".
C) Expressa ou explica as ações deles por meio das palavras que pronunciam em várias situações do enredo.
É claro que este esquema não tem nada com a ordem temporal em que o poeta possa ter, na realidade, elaborado sua composição, nem com a ordem que seguimos para travar conhecimento com ela: começamos com as palavras, "as folhas verdes". O esquema refere-se à "hierarquia de estruturações" que, eventualmente, poderemos aprender a dintinguir na obra completa.
1) O primeiro ato de imitação consiste em fazer o enredo ou arranjo dos incidentes. Aristóteles diz que o poeta trágico é basicamente um fazedor de enredos, porque nele está a "alma da tragédia", sua causa formal. O arranjo que Sófocles fez dos acontecimentos da história - começando próximo ao final, e fazendo a montagem do passado em relação com o que está ac ontecendo agora - já de alguma forma estrutura em atos a procura trágica que ele quer mostrar, antes mesmo de sentirmos os personagens como indivíduos ou de ouvi-los falar e cantar.
2) Os personagens, ou agentes, são a segunda estruturação da ação. De acordo com Aristóteles, "os agentes são basicamente 'imitados' em decorrência da ação" - isto é, o núcleo da tragédia já está presente na ordem dos acontecimentos -, o ritmo trágico da vida de Édipo e Tebas; mas esta ação pode ser mais rapidamente apreendida e mais elaboradamente demonstrada pelo desenvolvimento de variações individuais sobre ela. Era com esse princípio em mente que Ibsen escreveu a seu editor, depois de dois anos de trabalho em O Pato Selvagem, que a peça estava quase pronta, e ele podia agora começar uma "individualização mais enérgica dos personagens".
Se considerarmos a cena Édipo-Tirésias, podemos ver como os personagens funcionam para estabelecer a ação do todo. Eles revelam a qualquer momento um "espectro de ação" como aquele que o ritmo trágico desdobra diante de nós em sucessão temporal, ao mesmo tempo oferecendo casos concretos de precisão quase fotográfica. Assim, Tirésias "sofre" na escuridão de sua cegueira enquanto Édipo mantém seu "propósito" racional; depois, Tirésias realiza o "propósito" de servir à visão profética da verdade, enquanto Édipo sofre uma paixão ofuscante de medo e ira.
Os agentes também servem para mover a ação, desenvolvê-la no tempo, através de seus conflitos. O coro entretanto, de certa forma entre os antagonistas, e por outro lado em nível mais profundo que eles, representa os interesses de uma solução, de um último estágio do sentir, onde o objetivo da ação, visto irônica e empaticamente como um todo, será conseguido.
3) A terceira estruturação está nas palavras da peça. A ação de procura que é a substância da obra é imitada primeiro no enredo, depois nos personagens e por último nas palavras, conceitos e formas da fala onde os personagens "estruturam" sua vida psíquica em permanente mutação, respondendo ao desenvolvimento constante das situações da peça.
Se pensamos na elaboração do enredo, dos personagens e do texto como sucessivos "atos de imitação" do autor, podemos também dizer que eles constituem, na obra pronta, uma hierarquia de formas e que as palavras da peça são sua "mais alta individualização". São as "folhas verdes" que podemos ver realmente; o produto e o sinal daquela "vida da planta" que, num esforço de imaginação, vamos adivinhar por trás delas.
Tornamos pois a encontrar a teoria de Burke da "linguagem como ação simbólica" e os muitos estudos contemporâneos sobre poética, feitos desse ponto de vista. Seria útil oferecer um estudo detalhado da linguagem de Sófocles, usando os instrumentos modernos de análise, para dar substância às minhas afirmações. Mas isso requereria o conhecimento de grego que Jebb levou uma vida para adquirir; devo então contentar-me em mostrar, em termos mais gerais, que as várias formas poéticas em Édipo só podem ser compreendidas em bases histriônicas: isto é, através de uma percepção direta do ritmo trágico da ação.
Na cena Édipo-Tirésias há um "espectro das formas do discurso" correspondente ao "espectro da ação" que descrevi. Ele se estende da fala inicial de Édipo - uma exposição racionalizada, embora não sem sentimento, mas essencialmente baseada em idéias claras e numa ordem lógica - ao canto coral, construído sobre imagens sensuais e com a "lógica do sentimento". Assim ele emprega, no começo, os princípios de composição que Burke chama de "progressão silogística", e, no outro extremo do espectro a "progressão por associação e contraste" segundo Burke.
Quando os neoclássicos e os críticos racionalistas do século XVII leram Édipo viram apenas a ordem da razão e não sabiam o que fazer do coro. Daí o teatro de Racine ser de "ação enquanto racional": um drama de situações estáticas, de conceitos claros e imagens apenas ilustrativas.
Nietzsche, por outro lado, viu apenas a paixão do coro, porque seu modo de ver baseava-se em Tristão e Isolda, que é essencialmente composto de imagens sensuais e desenvolve-se por associações e contrastes de acordo com uma lógica do sentimento: drama que toma a "ação enquanto passional". Nenhum desses pontos de vista nos habilita a perceber como o quadro pode mostrar-se uno.
Se as falas dos personagens e as canções do coro são apenas a folhagem da planta, isso equivale a dizer que a vida e o significado do todo nunca estão presentes de forma literal e completa em qualquer daquelas formulações. São necessários todos os elementos - a situação que se altera gradualmente, os personagens que mudam e evoluem e seus pronunciamentos racionalizados ou líricos, para indicar no conjunto a ação que Sófocles deseja comunicar.
Porque esta ação toma forma de razão e paixão, e de contemplação por meio de símbolos; porque essencialmente ela se destina ao movimento (dentro do ritmo trágico), e porque dela participam de diferentes maneiras todos os personagens, a peça não tem nem unidade literal, nem a unidade racional da idéia verdadeiramente abstrata, ou "conceito de homogeneidade".
Suas partes e seus momentos são unos apenas "por analogia", e assim como os Santos nos avisam que precisamos crer para compreender, assim precisamos "fazer de conta", por um ato de participação e imitação, originado na sensibilidade histriônica, para captar o que Sófocles pretendia com sua peça.
É a base histriônica da arte de Sófocles que a faz misteriosa para nós, com nossas exigências de clareza conceitual, ou com nossa condescendência em ceder a uma torrente de sentimentos e imagens subjetivas. Mas também é isso que a faz, em sua inteireza, um momento fundamental da arte teatral, como se o autor compreendesse "música, espetáculo, pensamento e representação" em suas raízes sutis e primitivas. E é a base histrônica do drama que "é um atalho em relação à teologia e à ciência".
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Extraído de Evolução e Sentido do Teatro, Zahar Editores, 1964, tradução de Heloisa de Hollanda G. Ferreira
Francis Fergusson
A idéia geral que usamos para comparar as formas e o conteúdo espiritual da tragédia com os do antigo ritual foi a de "imitação da ação". O ritual imita a ação de certo modo, a tragédia de outro, e o uso por Sófocles das formas rituais indica ter ele sentido o ritmo trágico comum a ambos.
Mas a linguagem, o enredo, os personagens da peça também podem ser compreendidos com mais detalhes e mais claramente em suas relações mútuas como imitações, cada um em seu campo, daquela ação. Já citei Coleridge a respeito da unidade de ação: "não propriamente uma regra", diz ele, "mas o grande fim em si mesmo, não apenas do drama, mas do épico, do lírico, e até da breve cintilação de um epigrama, e não somente da poesia, mas da poética em geral, sendo termo genérico apropriado inclusive para todas as belas-artes, como sua espécie".
Provavelmente a influência de Coleridge é em parte responsável pelo ressurgimento desse conceito de ação que sublinha os recentes estudos de poesia mencionados por mim. A expressão de Burke, "linguagem como ação simbólica", refere-se àquela idéia, e assim também a sua afirmação de que "O poeta sabe intuitivamente que a beleza é na medida em que faz" (que o estado precisa ser corporificado em ato).
Essa idéia de ação, e da peça como imitação de uma ação, é em última análise derivada da Poética, derivação que explico no Apêndice. Agora gostaria de mostrar que a forma complexa de Édipo - seu enredo, personagens e falas - pode ser compreendida como imitação de certa ação.
A ação da peça é a procura do assassino de Laio. É este o objetivo maior que a informa - "achar o culpado para purificar a vida humana", podemos dizê-lo. Sófocles deve ter visto essa ação de procura como a verdadeira vida do mito de Édipo , percebendo-a através de personagens e acontecimentos como se percebe "a vida de uma planta através de suas folhas verdes".
Ainda mais, ele deve ter visto essa determinada ação como um tipo, ou como exemplo decisivo da vida humana. Daí ter-lhe sido possível apresentá-la na forma do antigo ritual que também indica e celebra o mistério perene da vida e ação humanas. Assim, por "ação" não quero dizer os acontecimentos da história, mas o foco ou o propósito da vida psíquica de onde emanam, naquela situação, os acontecimentos.
Se Sófocles estava imitando a ação nesse sentido, pode-se esquematicamente imaginar seu trabalho de composição em três estágios, em três atos miméticos:
A) Ele estabelece o enredo, isto é, arruma os acontecimentos da história de tal modo que revelem a ação de procura da qual resultam.
B) Desenvolve os personagens da história como formas individualizadas da "procura".
C) Expressa ou explica as ações deles por meio das palavras que pronunciam em várias situações do enredo.
É claro que este esquema não tem nada com a ordem temporal em que o poeta possa ter, na realidade, elaborado sua composição, nem com a ordem que seguimos para travar conhecimento com ela: começamos com as palavras, "as folhas verdes". O esquema refere-se à "hierarquia de estruturações" que, eventualmente, poderemos aprender a dintinguir na obra completa.
1) O primeiro ato de imitação consiste em fazer o enredo ou arranjo dos incidentes. Aristóteles diz que o poeta trágico é basicamente um fazedor de enredos, porque nele está a "alma da tragédia", sua causa formal. O arranjo que Sófocles fez dos acontecimentos da história - começando próximo ao final, e fazendo a montagem do passado em relação com o que está ac ontecendo agora - já de alguma forma estrutura em atos a procura trágica que ele quer mostrar, antes mesmo de sentirmos os personagens como indivíduos ou de ouvi-los falar e cantar.
2) Os personagens, ou agentes, são a segunda estruturação da ação. De acordo com Aristóteles, "os agentes são basicamente 'imitados' em decorrência da ação" - isto é, o núcleo da tragédia já está presente na ordem dos acontecimentos -, o ritmo trágico da vida de Édipo e Tebas; mas esta ação pode ser mais rapidamente apreendida e mais elaboradamente demonstrada pelo desenvolvimento de variações individuais sobre ela. Era com esse princípio em mente que Ibsen escreveu a seu editor, depois de dois anos de trabalho em O Pato Selvagem, que a peça estava quase pronta, e ele podia agora começar uma "individualização mais enérgica dos personagens".
Se considerarmos a cena Édipo-Tirésias, podemos ver como os personagens funcionam para estabelecer a ação do todo. Eles revelam a qualquer momento um "espectro de ação" como aquele que o ritmo trágico desdobra diante de nós em sucessão temporal, ao mesmo tempo oferecendo casos concretos de precisão quase fotográfica. Assim, Tirésias "sofre" na escuridão de sua cegueira enquanto Édipo mantém seu "propósito" racional; depois, Tirésias realiza o "propósito" de servir à visão profética da verdade, enquanto Édipo sofre uma paixão ofuscante de medo e ira.
Os agentes também servem para mover a ação, desenvolvê-la no tempo, através de seus conflitos. O coro entretanto, de certa forma entre os antagonistas, e por outro lado em nível mais profundo que eles, representa os interesses de uma solução, de um último estágio do sentir, onde o objetivo da ação, visto irônica e empaticamente como um todo, será conseguido.
3) A terceira estruturação está nas palavras da peça. A ação de procura que é a substância da obra é imitada primeiro no enredo, depois nos personagens e por último nas palavras, conceitos e formas da fala onde os personagens "estruturam" sua vida psíquica em permanente mutação, respondendo ao desenvolvimento constante das situações da peça.
Se pensamos na elaboração do enredo, dos personagens e do texto como sucessivos "atos de imitação" do autor, podemos também dizer que eles constituem, na obra pronta, uma hierarquia de formas e que as palavras da peça são sua "mais alta individualização". São as "folhas verdes" que podemos ver realmente; o produto e o sinal daquela "vida da planta" que, num esforço de imaginação, vamos adivinhar por trás delas.
Tornamos pois a encontrar a teoria de Burke da "linguagem como ação simbólica" e os muitos estudos contemporâneos sobre poética, feitos desse ponto de vista. Seria útil oferecer um estudo detalhado da linguagem de Sófocles, usando os instrumentos modernos de análise, para dar substância às minhas afirmações. Mas isso requereria o conhecimento de grego que Jebb levou uma vida para adquirir; devo então contentar-me em mostrar, em termos mais gerais, que as várias formas poéticas em Édipo só podem ser compreendidas em bases histriônicas: isto é, através de uma percepção direta do ritmo trágico da ação.
Na cena Édipo-Tirésias há um "espectro das formas do discurso" correspondente ao "espectro da ação" que descrevi. Ele se estende da fala inicial de Édipo - uma exposição racionalizada, embora não sem sentimento, mas essencialmente baseada em idéias claras e numa ordem lógica - ao canto coral, construído sobre imagens sensuais e com a "lógica do sentimento". Assim ele emprega, no começo, os princípios de composição que Burke chama de "progressão silogística", e, no outro extremo do espectro a "progressão por associação e contraste" segundo Burke.
Quando os neoclássicos e os críticos racionalistas do século XVII leram Édipo viram apenas a ordem da razão e não sabiam o que fazer do coro. Daí o teatro de Racine ser de "ação enquanto racional": um drama de situações estáticas, de conceitos claros e imagens apenas ilustrativas.
Nietzsche, por outro lado, viu apenas a paixão do coro, porque seu modo de ver baseava-se em Tristão e Isolda, que é essencialmente composto de imagens sensuais e desenvolve-se por associações e contrastes de acordo com uma lógica do sentimento: drama que toma a "ação enquanto passional". Nenhum desses pontos de vista nos habilita a perceber como o quadro pode mostrar-se uno.
Se as falas dos personagens e as canções do coro são apenas a folhagem da planta, isso equivale a dizer que a vida e o significado do todo nunca estão presentes de forma literal e completa em qualquer daquelas formulações. São necessários todos os elementos - a situação que se altera gradualmente, os personagens que mudam e evoluem e seus pronunciamentos racionalizados ou líricos, para indicar no conjunto a ação que Sófocles deseja comunicar.
Porque esta ação toma forma de razão e paixão, e de contemplação por meio de símbolos; porque essencialmente ela se destina ao movimento (dentro do ritmo trágico), e porque dela participam de diferentes maneiras todos os personagens, a peça não tem nem unidade literal, nem a unidade racional da idéia verdadeiramente abstrata, ou "conceito de homogeneidade".
Suas partes e seus momentos são unos apenas "por analogia", e assim como os Santos nos avisam que precisamos crer para compreender, assim precisamos "fazer de conta", por um ato de participação e imitação, originado na sensibilidade histriônica, para captar o que Sófocles pretendia com sua peça.
É a base histriônica da arte de Sófocles que a faz misteriosa para nós, com nossas exigências de clareza conceitual, ou com nossa condescendência em ceder a uma torrente de sentimentos e imagens subjetivas. Mas também é isso que a faz, em sua inteireza, um momento fundamental da arte teatral, como se o autor compreendesse "música, espetáculo, pensamento e representação" em suas raízes sutis e primitivas. E é a base histrônica do drama que "é um atalho em relação à teologia e à ciência".
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Extraído de Evolução e Sentido do Teatro, Zahar Editores, 1964, tradução de Heloisa de Hollanda G. Ferreira