Teatro/CRÍTICA
"Irmãos de sangue"
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Montagem deslumbrante no CCBB
Lionel Fischer
"O universo de Irmãos de Sangue é construído em torno da memória, a partir de objetos que solicitam essa memória, como experiência comum. Todas as memórias e lembranças dessa família fazem emergir os conflitos enterrados. A história é feita de idas e vindas, de alternâncias entre o passado e o presente. A música original vem alimentar e se fundir na dramaturgia gestual, sublinhando o não-dito e o amor fraternal incondicional".
O trecho acima, de autoria de André Curti e que consta do ótimo release que me foi enviado pela assessora de imprensa Mônica Riani, sintetiza as premissas essenciais do mais recente trabalho da Cia. Dos à Deux, "Irmãos de sangue", em cartaz no Teatro I do CCBB. André Curti e Artur Ribeiro respondem pela dramaturgia, cenografia, coreografia e direção, estando o elenco formado por Cécile Givernet, Matías Chebel, André Curti e Artur Ribeiro.
Como explicitado no parágrafo inicial, estamos diante de um espetáculo estruturado em torno da memória, sendo esta disparada pelo contato com objetos. Estes, portanto, tornam-se determinantes para o aflorar de múltiplas e diversificadas emoções, transcendendo sua condição meramente utilitária e convertendo-se, ao menos em alguma medida, em protagonistas da narrativa.
Esta começa com uma belíssima cena em que dois irmãos lavam o corpo do pai falecido, o vestem e o enterram. Em seguida, numa passagem igualmente bela e de exasperante angústia, se despedem. A partir daí, acompanhamos o retorno de ambos à infância, a chegada de um novo irmão e as disputas pelo afeto da mãe, com algumas passagens exibindo desconcertante e irresistível humor. Finalmente, perto do final, os irmãos adultos repetem a cena inicial, quem sabe sugerindo que tudo que foi visto ocorreu em suas memórias enquanto davam o abraço inicial de despedida.
Para quem acompanha a trajetória da Cia Dos à Deux, fundada em 1998, o presente espetáculo só faz ratificar a excelência do conjunto. Ao optarem por renunciar à palavra oral, André Curti e Artur Ribeiro foram cada vez mais aprimorando um riquíssimo universo gestual, da mesma forma que vem conseguindo valorizar todas as possibilidades expressivas do silêncio. Afora isso, cumpre destacar a criatividade da dinâmica cênica e a maestria com que trabalham os tempos rítmicos. E se somarmos a isto um apuradíssimo preparo corporal dos intérpretes e a inteligência cênica que todos evidenciam, o resultado só poderia ser um espetáculo memorável, inesquecível e que sem dúvida se inserirá entre os melhores da atual temporada.
Na equipe técnica, Fernando Mota responde por uma música original da mais alta expressividade, tanto em suas passagens mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina. A mesma excelência se faz presente na cenografia e coreografia de André Curti e Artur Ribeiro, nos figurinos e marionetes de Natasha Belova, nos acessórios, perucas e objetos de Maria Adélia e Marta Rossi (com assistência de Morgam Olivier e Camila Moraes) e na fantástica iluminação de Bertrand Perez e Artur Ribeiro, cabendo destacar a força obtida com os contrastes de luz e sombra.
IRMÃOS DE SANGUE - Dramaturgia e direção de André Curti e Artur Ribeiro. Com Célile Givernet, Matías Chebel, André Curti e Artur Ribeiro. Cia Dos à Deux. Teatro I do CCBB. Quarta a domingo, 19h.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
PROGRAMAÇÃO DE 2014-1
SEMPRE ÀS ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DO MÊS, DAS 18H ÀS 22H,
LOCAL: SALA VERA JANACÓPULOS – UNIRIO.
FILMES ANALISADOS PELOS PSICANALISTAS:
NEILTON SILVA – ndsilva@ism.com.br & WALDEMAR ZUSMAN – zusman@terra.com.br
E PELA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO:
ANA LÚCIA DE CASTRO – anadecastro@terra.com.br
28/03 – JOVEM E BELA / Jeune & Jolie, 2013.
DIREÇÃO: FRANÇOIS OZON, 95 MIN.
DEBATEDOR: DR. NEILTON SILVA
Durante uma viagem de verão com a família, Isabelle, após sua primeira experiência sexual, e, ao voltar para casa, divide o seu tempo entre a escola e o novo trabalho como prostituta de luxo.
25/04 – A CAÇA / Jagten, 2011.
DIREÇÃO: THOMAS VINTERBERG, 135 MIN.
DEBATEDOR: DR. WALDEMAR ZUSMAN.
Lucas, professor de uma creche, tenta se reestruturar após divórcio no qual perde a guarda do filho. Até que, um dia, a pequena Klara, de cinco anos, diz à diretora que Lucas lhe mostrou suas partes íntimas.
30/05 – PEQUENA MISS SUNSHINE / Little Miss Sunshine, 2006.
DIREÇÃO: JONATHAN DAYTON & VALERIE FARIS, 101 MIN.
DEBATEDOR: DR. NEILTON SILVA.
Uma família desajustada viaja do Novo México à Califórnia em uma kombi enferrujada para que Olive, de 7 anos, participe de um concurso de beleza de pré-adolescentes, em uma jornada tragicômica de três dias.
27/06 – PELOS OS OLHOS DE MAISIE / What Maisie Knew, 2012.
DIREÇÃO: SCOTT MCGEHEE & DAVID SIEGEL. 100 MIN.
DEBATEDOR: DR. WALDEMAR ZUSMAN.
Em meio ao conturbado divórcio dos pais, Maisie, de 7 anos, tenta entender o que se passa. De um lado a mãe, uma veterana estrela do rock, do outro o pai, um influente galerista, lutam por sua custódia.
PEQUENO HISTÓRICO DO FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
O FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA FOI CRIADO EM 1997, COMO UM PROJETO CIENTÍFICO DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA RIO 3, PELO ENTÃO PRESIDENTE, DR. WALDEMAR ZUSMAN, E PELO DIRETOR DO INSTITUTO, DR. NEILTON DIAS DA SILVA. DESDE 2004 PASSOU A CONTAR COM A PARTICIPAÇÃO DA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO, DRA ANA LÚCIA DE CASTRO, RESPONSÁVEL PELAS ANÁLISES CULTURAIS DOS FILMES. EM 2006, A APRIO 3, ATUAL SPRJ, CELEBROU PARCERIA COM A UNIRIO PARA SEDIAR O PROJETO MENSALMENTE, SEMPRE MUITO CONCORRIDO.
SERVIÇO:
SEMPRE ÀS ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DO MÊS, DAS 18H ÀS 22H.
LOCAL – SALA VERA JANACOPOLUS / REITORIA DA UNIRIO
ENDEREÇO: AVENIDA PASTEUR, 296 – URCA.
ENTRADA FRANCA E ESTACIONAMENTO. FILME: 18H; DEBATE: 20H
INFORMAÇÕES: forumpsicinema@gmail.com
sábado, 25 de janeiro de 2014
WORKSHOPS DE VERÃO – 2014
Rio de Janeiro – Workshop de Humor “Tragam seus Personagens”
O workshop de humor é realizado durante sete dias no Rio de Janeiro, de segunda a sábado, de 27/01 a 02/02, sempre das 14h às 18h, na Casa De Espanha no Humaitá. Os atores vão desenvolver, lapidar e aprofundar seu personagem junto com a diretora especializada em humor Carmen Frenzel. No último dia, será realizada uma apresentação do trabalho final para o diretor do Zorra Total, Maurício Sherman que fará a avaliação de cada participante.
Valores:
À vista até o dia 25/01:R$900,00
Parcelado 2x R$ 550,00
Local: Casa De Espanha - Rua Maria Eugênia, 300 - Humaitá
São Paulo - Workshop de Humor “Tragam seus Personagens” e Workshop de Interpretação para Televisão “Dos Bastidores da TV ao Olhar do Ator...” com a Produtora de Elenco de novelas e Minisséries do Rio de Jnaiero Mônica Teixeira e o diretor de atores Ismael Fiorentin
Workshop de Humor:O workshop de humor é realizado durante quatro dias em São Paulo, de 06 a 09/02, de quinta a domingo, das 14h30 às 19h30.
Valores:
À vista até dia 24/01: R$ 1.400,00 após dia 25/01 R$ 1.500,00
Parcelado 2x R$ 800,00
À vista até dia 24/01: R$ 1.400,00 após dia 25/01 R$ 1.500,00
Parcelado 2x R$ 800,00
Workshop de Int. para TV:Ministrado pelo diretor de atores Ismael Fiorentin, o Workshop de Inter. para TV tem duração de quatro dias, de 06 a 09/02, sempre das 10h às 14h. A proposta é explorar o olhar do ator e todas as particularidades da interpretação para o vídeo. As aulas serão práticas, gravadas e analisadas ao termino de cada dia e, no último encontro, vamos contar com a avaliação da Produtora de Elenco de Novelas e Minisséries do Rio de Janeiro Mônica Teixeira.
Valores:
À vista até dia 24/01: R$ 690,00 após o dia 25/01 R$ 750,00
Parcelado 2x R$ 375,00
Local: Rua da Consolação, 1218 - Consolação – Teatro Commune – www.commune.com.br
Valores:
À vista até dia 24/01: R$ 690,00 após o dia 25/01 R$ 750,00
Parcelado 2x R$ 375,00
Local: Rua da Consolação, 1218 - Consolação – Teatro Commune – www.commune.com.br
Passaporte para os dois Workshops (Humor e Inter. Para TV em São Paulo) por apenas 2 x R$ 900,00.
Sujeito a lotação!!! 20 VAGAS POR TURMA!!!!
Caso tenha interesse em fazer, envie um email solicitando a sua inscrição!
CURTA A PÁGINA DA ARTFIORE NO FACEBOOK!!!https://www.facebook.com/artfioreproducoes?fref=ts
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
1º Prêmio Cesgranrio de Teatro
Em cerimônia realizada ontem, no golden room do Copacabana Palace, foram conhecidos os vencedores do 1º Prêmio Cesgranrio de Teatro, que homenageou o ator Milton Gonçalves. Marília Pêra e Miguel Falabella comandaram a festa. O júri formado por Barbara Heliodora, Daniel Schenker, Tânia Brandão, Carolina Virguez, Macksen Luís, Mirna Rubin e Lionel Fischer premiou os seguintes profissionais:
MELHOR FIGURINO - Thanara Schönardie ("A importância de ser perfeito")
MELHOR CENOGRAFIA - Aurora dos Campos ("Conselho de classe")
MELHOR ILUMINAÇÃO - Tomás Ribas ("Moi Lui")
MELHOR ATOR - Daniel Dantas ("Quem tem medo de Virginia Woolf?")
MELHOR ATOR EM MUSICAL - Emílio Dantas ("Cazuza - pro dia nascer feliz")
CATEGORIA ESPECIAL - José Dias pelo lançamento do livro "Teatros do Rio"
MELHOR ATRIZ - Zezé Polessa ("Quem tem medo de Virginia Woolf?")
MELHOR ATRIZ EM MUSICAL - Laila Garin ("Elis, a musical")
MELHOR DIREÇÃO - Bel Garcia e Susana Ribeiro ("Conselho de classe")
MELHOR DIREÇÃO MUSICAL - Délia Fischer ("Elis, a musical")
MELHOR TEXTO NACIONAL INÉDITO - Jô Bilac ("Conselho de classe")
MELHOR ESPETÁCULO - "Conselho de classe"
Em cerimônia realizada ontem, no golden room do Copacabana Palace, foram conhecidos os vencedores do 1º Prêmio Cesgranrio de Teatro, que homenageou o ator Milton Gonçalves. Marília Pêra e Miguel Falabella comandaram a festa. O júri formado por Barbara Heliodora, Daniel Schenker, Tânia Brandão, Carolina Virguez, Macksen Luís, Mirna Rubin e Lionel Fischer premiou os seguintes profissionais:
MELHOR FIGURINO - Thanara Schönardie ("A importância de ser perfeito")
MELHOR CENOGRAFIA - Aurora dos Campos ("Conselho de classe")
MELHOR ILUMINAÇÃO - Tomás Ribas ("Moi Lui")
MELHOR ATOR - Daniel Dantas ("Quem tem medo de Virginia Woolf?")
MELHOR ATOR EM MUSICAL - Emílio Dantas ("Cazuza - pro dia nascer feliz")
CATEGORIA ESPECIAL - José Dias pelo lançamento do livro "Teatros do Rio"
MELHOR ATRIZ - Zezé Polessa ("Quem tem medo de Virginia Woolf?")
MELHOR ATRIZ EM MUSICAL - Laila Garin ("Elis, a musical")
MELHOR DIREÇÃO - Bel Garcia e Susana Ribeiro ("Conselho de classe")
MELHOR DIREÇÃO MUSICAL - Délia Fischer ("Elis, a musical")
MELHOR TEXTO NACIONAL INÉDITO - Jô Bilac ("Conselho de classe")
MELHOR ESPETÁCULO - "Conselho de classe"
sábado, 18 de janeiro de 2014
brechaLaboratórios
treinamento e pesquisa
continuados em modos de fazer
e processos de criação performativos
e processos de criação performativos
chamada para participações
ciclo 2014
ciclo 2014
| Laboratório 1 ViewpointsTechnique e Diagramas Móveis |
treinamento pós-dramático para
atores, performers, bailarinos, diretores, artistas e pesquisadores da cena.
INÍCIO: Segunda, 3 de
fevereiro, 19:15.
2as/4as <>
19:15/22:30
Sede do Amok Teatro
Rua das Palmeiras, nº 96,
Botafogo.
Coordenação: Patrick Sampaio
Coordenação: Patrick Sampaio
Desde 2009, PATRICK SAMPAIO é artista residente da sede do AMOK TEATRO, onde desenvolve pesquisas sobre FISICALIDADE, MODOS de FAZER e PROCESSOS de CRIAÇÃO PERFORMATIVA, mantendo a técnica dos VIEWPOINTS - desenvolvida porAnne Bogart (sitiCompany, NY) - como interface metodológica.
"Viewpoints" é uma
técnica de treinamento e criação pós-dramáticos que trabalha de forma
objetiva conceitos-chave como escuta, presença e relação. Consiste,
principalmente, em uma decupagem das noções de tempo e espaço em 9 pontos
de vista (velocidade, duração, repetição, respostas cinestésicas; forma,
arquitetura, topografia, distância e comportamento gestual), e numa série de
práticas voltadas à redução do intervalo entre estímulo e resposta.
Após 3 anos testemunhando
as contribuições dos "Viewpoints" para o desenvolvimento técnico de
atuantes e processos de criação, sendo exposto ao mesmo tempo às provocações do
campo da cultura digital sobre cartografias, mixagem e meta-obras, o artista
vem formulando, com a colaboração de outros artistas-pesquisadores, uma equação
metodológica própria batizada de Diagramas Móveis. A prática com os
Diagramas consiste no mapeamento de operações cênico-performativas, de maneira
a permitir que estas sejam reutilizáveis/mixáveis/colecionáveis - ou ainda, que
seja possível perceber estes diagramas e articulações
sígnicxs/estéticxs/operativxs se movendo
entre diferentes experimentos/obras/referências.
Os "diagramas" abrem
acesso para novas compreensões dos processos de autoria e articulação da cena
na contemporaneidade, além de materializarem ferramentas objetivas para o
treinamento e experimentação de artistas e articuladores cênicos.
O laboratório tem como público
alvo atores, performers, bailarinos, diretores, cineastas, entre outros
criadores e pesquisadores interessados em articulação e autoria no âmbito da
cena, e pode se tornar um núcleo de pesquisa continuada.
INSCRIÇÕES
Escreva para contato@brecha.com.branexando
breve histórico de experiências anteriores, informe de que maneira tomou
conhecimento dos brechaLabs e seus principais interesses na proposta.
As participações neste laboratório são limitadas, e reserva-se o direito à priorização de participantes indicados por membros de laboratórios anteriores e/ou selecionados através dos históricos enviados.
INVESTIMENTO
>> novos participantes
>> novos participantes
até o dia 5 de cada mês
(com desconto)
Mensal_260,00
Mensal_260,00
Bimestral_500,00
>> novos participantes
até o dia 10 de cada mês
Mensal_280,00
Bimestral_540,00
> participantes de labs anteriores
> participantes de labs anteriores
até o dia 5 de cada mês
(com desconto)
Mensal_240,00
Mensal_240,00
Bimestral_450,00
> participantes de labs anteriores
até o dia 10 de cada mês
Mensal_260,00
Bimestral_500,00
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
NOTA DE ESCLARECIMENTO
O Teatro Oi Casa Grande serve-se desta nota para esclarecer ao público que suas atividades continuam normalmente, sem qualquer prejuízo na grade de programação. Na quinta-feira (16/01/14), durante a apresentação da primeira sessão de "Elis, O Musical", uma pequena placa de vedação acústica de lã de rocha se desprendeu do teto, caindo no corredor lateral. Não houve feridos, nem pânico, tanto é que a sessão continuou, somente sendo interrompida após, por falta de energia elétrica. Aos clientes foi facultada a opção de troca de ingresso para uma nova sessão ou devolução de dinheiro no ato. Aqueles que ainda não o fizeram, basta se dirigir à bilheteria do teatro – às terças e quartas das 15h às 21h, de quinta a sábado das 15h às 21h30m e aos domingos de 15h às 20h – portando os ingressos da sessão cancelada.
O incidente se deu por conta de obras realizadas em dependências de terceiros, que serão devidamente notificados. O Teatro foi vistoriado pelo Corpo de Bombeiros e pelo engenheiro da Defesa Civil, que não detectaram qualquer irregularidade no Teatro.
Qualquer dúvida, por favor, entre em contato.
Um abraço
Equipe Kassu Produções
Mauricio Aires, Rogerio Alves e Leandro Gomes
21- 2522-6581 / 2247-0809 / 2247-5122 / 9988-2158
CONSULTORIA DE CARREIRA PARA ATORES começa HOJE!
Ministrante: Carla Chueke
O que é:
Consultoria de carreira com avaliação do material de trabalho dos atores como fotos, dvds, curriculos, dicas e funcionamento do mercado de trabalho, compreensão de perfil e momento de carreira, redirecionamento de carreira, aparência e comportamento adequados, limitações, aptidões, percepção de oportunidades, preparação para testes, funcionamento das escalações, planejamento de carreira e visão profissional.
Público-alvo:
Atores interessados em direcionar suas carreiras.
Detalhes do Curso
- Pré-requisitos:
Não há - Período:
17 a 31 de janeiro - Frequência:
Sextas - Horário:
das 19h às 21h
330 à vista
ou 2x 215,00 = 430,00
informações e inscrições nowww.atelieartisticodorio.com.bre 21 99666-9954
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Teatro/CRÍTICA
"Casarão ao vento"
..............................................................
Boa montagem de texto desigual
Lionel Fischer
Criado pelo Centro Cultural Banco do Brasil, o projeto Seleção Brasil em Cena é um dos mais significativos do teatro carioca, tanto por sua democrática formatação - as 12 peças finalistas são escolhidas por um júri de profissionais altamente gabaritados e a vencedora é apontada pelo público após leituras dramáticas - como pela oportunidade de revelar novos autores.
Em sua sexta edição, o prêmio coube a "Casarão ao vento", de Francisco Alves, atual cartaz do Teatro III do CCBB. Marco André Nunes assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Ana Catharina Vicente, Anita Salgado, Julia Stockler, Felipe Cabral, Julia Gorman e Marina Magalhães.
Ambientada em um casarão antigo e claustrofóbico, e sugerindo que a ação se passa no final do século XIX, a peça propõe uma reflexão sobre a opressão da mulher - no presente caso, tal opressão está basicamente atrelada à obrigatoriedade das irmãs se casarem com homens que não escolheram. Mas tal circunstância ganha uma maior amplitude porque faz aflorar uma série de questões que não se restringem a um matrimônio indesejado - ao longo da peça, conhecemos uma série de frustrações, angústias e carências decorrentes de um contexto em que à mulher pouco restava a não ser obedecer cegamente o que lhe era imposto pela vontade masculina.
Estamos, portanto, diante de um texto com óbvias e meritórias premissas libertárias. No entanto, e ainda que reconhecendo que o autor criou algumas passagens fortes e não isentas de teatralidade, torna-se imperioso constatar que, em muitos momentos, a mencionada teatralidade se perde em função de diálogos um tanto panfletários e excessivamente rebuscados.
Com relação ao espetáculo, Marco André Nunes impõe à cena uma dinâmica que valoriza, com extrema sensibilidade, a atmosfera não realista do texto - em muitos momentos, temos a sensação de que as personagens estão inseridas bem mais em suas memórias do que no suposto contexto real de suas vidas. Ou seja: não se chega a saber se os fatos evocados realmente existiram ou se são fruto de lembranças distorcidas pela passagem do tempo e a impossibilidade de se transcender a inexorabilidade do destino traçado.
No tocante ao elenco, Julia Stockler exibe sensível atuação na pele de Isaura, a irmã mais libertária, cabendo destacar a expressividade de seu universo gestual e a força com que profere o texto. Ana Catharina Vicente (Laurinha, a irmã mais moça) e Anita Salgado (Vitória, a irmã mais velha) têm atuações corretas, mas acredito que ainda podem extrair mais de suas personagens desde que, quando em silêncio, trabalhem mais a escuta - atuar no silêncio, em minha opinião, é ainda mais difícil do que quanto o intérprete possui um texto a ser dito. Felipe Cabral (Padre Lopes) exibe performance segura como o Padre Lopes, a mesma segurança presente nas atuações de Julia Gorman (Angelina) e Marina Magalhães (Matilde), cabendo ressaltar que ambas evidenciam apurado trabalho corporal.
Na equipe técnica, Marcelo Marques assina figurinos deslumbrantes, em total sintonia com o contexto e a personalidade das personagens, sendo igualmente irrepreensível a soturna cenografia, também de sua autoria. Renato Machado responde por uma iluminação de grande expressividade, sendo irrepreensíveis as contribuições de Felipe Storino (direção musical) e Gustavo Gelmini (videografismo).
CASARÃO AO VENTO - Texto de Francisco Alves. Direção de Marco André Nunes. Com Ana Catharina Vicente, Anita Salgado, Julia Stockler, Felipe Cabral, Julia Gorman e Marina Magalhães. Teatro III do CCBB. Quinta a segunda, 19h30.
"Casarão ao vento"
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Boa montagem de texto desigual
Lionel Fischer
Criado pelo Centro Cultural Banco do Brasil, o projeto Seleção Brasil em Cena é um dos mais significativos do teatro carioca, tanto por sua democrática formatação - as 12 peças finalistas são escolhidas por um júri de profissionais altamente gabaritados e a vencedora é apontada pelo público após leituras dramáticas - como pela oportunidade de revelar novos autores.
Em sua sexta edição, o prêmio coube a "Casarão ao vento", de Francisco Alves, atual cartaz do Teatro III do CCBB. Marco André Nunes assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Ana Catharina Vicente, Anita Salgado, Julia Stockler, Felipe Cabral, Julia Gorman e Marina Magalhães.
Ambientada em um casarão antigo e claustrofóbico, e sugerindo que a ação se passa no final do século XIX, a peça propõe uma reflexão sobre a opressão da mulher - no presente caso, tal opressão está basicamente atrelada à obrigatoriedade das irmãs se casarem com homens que não escolheram. Mas tal circunstância ganha uma maior amplitude porque faz aflorar uma série de questões que não se restringem a um matrimônio indesejado - ao longo da peça, conhecemos uma série de frustrações, angústias e carências decorrentes de um contexto em que à mulher pouco restava a não ser obedecer cegamente o que lhe era imposto pela vontade masculina.
Estamos, portanto, diante de um texto com óbvias e meritórias premissas libertárias. No entanto, e ainda que reconhecendo que o autor criou algumas passagens fortes e não isentas de teatralidade, torna-se imperioso constatar que, em muitos momentos, a mencionada teatralidade se perde em função de diálogos um tanto panfletários e excessivamente rebuscados.
Com relação ao espetáculo, Marco André Nunes impõe à cena uma dinâmica que valoriza, com extrema sensibilidade, a atmosfera não realista do texto - em muitos momentos, temos a sensação de que as personagens estão inseridas bem mais em suas memórias do que no suposto contexto real de suas vidas. Ou seja: não se chega a saber se os fatos evocados realmente existiram ou se são fruto de lembranças distorcidas pela passagem do tempo e a impossibilidade de se transcender a inexorabilidade do destino traçado.
No tocante ao elenco, Julia Stockler exibe sensível atuação na pele de Isaura, a irmã mais libertária, cabendo destacar a expressividade de seu universo gestual e a força com que profere o texto. Ana Catharina Vicente (Laurinha, a irmã mais moça) e Anita Salgado (Vitória, a irmã mais velha) têm atuações corretas, mas acredito que ainda podem extrair mais de suas personagens desde que, quando em silêncio, trabalhem mais a escuta - atuar no silêncio, em minha opinião, é ainda mais difícil do que quanto o intérprete possui um texto a ser dito. Felipe Cabral (Padre Lopes) exibe performance segura como o Padre Lopes, a mesma segurança presente nas atuações de Julia Gorman (Angelina) e Marina Magalhães (Matilde), cabendo ressaltar que ambas evidenciam apurado trabalho corporal.
Na equipe técnica, Marcelo Marques assina figurinos deslumbrantes, em total sintonia com o contexto e a personalidade das personagens, sendo igualmente irrepreensível a soturna cenografia, também de sua autoria. Renato Machado responde por uma iluminação de grande expressividade, sendo irrepreensíveis as contribuições de Felipe Storino (direção musical) e Gustavo Gelmini (videografismo).
CASARÃO AO VENTO - Texto de Francisco Alves. Direção de Marco André Nunes. Com Ana Catharina Vicente, Anita Salgado, Julia Stockler, Felipe Cabral, Julia Gorman e Marina Magalhães. Teatro III do CCBB. Quinta a segunda, 19h30.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Teatro/CRÍTICA
"Callas"
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A trágica vida de um mito
Lionel Fischer
"Paris, 15 de setembro de 1977. Um dia antes de seu falecimento, Maria Callas vai ao encontro do jornalista e amigo John Adams para ajudar na organização da abertura de uma exposição sobre sua vida e carreira. Entre figurinos, jóias, quadros, discos e imagens, a cantora lembra sua trajetória gloriosa no mundo lírico e aos poucos vai se desarmando, tira a máscara e mostra o abismo que sempre existiu entre a diva do palco e a mulher do dia a dia. Fala da carreira de sucesso, do fim do casamento, do conturbado relacionamento com Aristóteles Onassis e da morte do filho, dentre outros assuntos que surgem no decorrer do encontro".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Callas", de Fernando Duarte, que acaba de entrar em cartaz no Teatro do Leblon (Sala Fernanda Montenegro). Marília Pêra assina a direção do espetáculo, que tem elenco formado por Silvia Pfeifer e Cássio Reis.
Se em "Orgulhosa demais, frágil demais", que estreou no ano passado e ainda está em cartaz no Centro Cultural Correios, Fernando Duarte dividiu seu foco entre Maria Callas e Marilyn Monroe, agora o autor concentra todas as atenções em esmiuçar ainda mais a vida e trajetória artística daquela que é considerada a maior cantora lírica da história.
Embora relute em acreditar que a genialidade só se faça presente naqueles que padecem ou tenham padecido de sofrimentos só comparáveis aos de Jó, ainda assim não deixa de ser curioso o fato de que a maioria dos artistas de exceção não passaram pela vida em branca nuvem e muito menos em plácido repouso adormeceram. No caso específico de Maria Callas, é possível que a tragicidade de sua vida tenha em muito contribuído para a força trágica que exibia em cena. E talvez seja esse paralelo que tenha motivado o autor a escrever a presente obra.
Aqui, estimulada por John Adams, Callas revive seus momentos mais gloriosos, mas também aqueles em que foi depreciada pela crítica e ironizada pelo público. Fala de seus amores, em especial por Aristóteles Onassis, mas não hesita em explicitar a dor que sentiu ao ser por ele abandonada. Menciona seu desejo desesperado de ser mãe e a perda precoce de seu filho. Aborda sua obsessão pela perfeição e o desprezo que nutria por suas rivais. Revela o pavor que sente da solidão e sua revolta por não ter, no final de sua vida, outras companhias além da governanta e do motorista.
Estamos, portanto, diante de um texto que faculta ao espectador uma visão abrangente da mulher e do mito, e cuja versão cênica contribui decisivamente para enfatizar os méritos que lhe são inerentes. Impondo à cena uma dinâmica cuja refinada elegância confere ainda mais tragicidade aos temas abordados e explorando com grande eficiência os ótimos vídeos selecionados por Mídias Organizadas, Marília Pera exibe o mérito suplementar de haver extraído seguras e sensíveis atuações do elenco.
Na pele de John Adams, Cássio Reis consegue materializar todas as características de um personagem completamente fascinado por Callas, cabendo destacar a clareza e elegância de seu universo gestual, assim como a mescla de firmeza e doçura que impõe à sua voz. Vivendo Callas, Silvia Pfeifer exibe a melhor atuação de sua carreira, explorando com a mesma eficiência tanto o ferino sarcasmo da personagem quanto sua espantosa carência e fragilidade. Cabe também ressaltar sua grande capacidade de entrega, sem a qual seria impossível interpretar uma personalidade tão complexa como Maria Callas.
Na equipe técnica, destaco com grande entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Sonia Soares (figurino), Rafael Guedes (cenário), Paulo César Medeiros (iluminação), Paulo Arguelles (trilha sonora), Alessandro Person (desenho de som), Evânio Alves (visagismo) e Duda Maya (preparação corporal).
CALLAS - Texto de Fernando Duarte. Direção de Marília Pêra. Com Silvia Pfeifer e Cássio Reis. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 19h. Domingo, 18h.
"Callas"
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A trágica vida de um mito
Lionel Fischer
"Paris, 15 de setembro de 1977. Um dia antes de seu falecimento, Maria Callas vai ao encontro do jornalista e amigo John Adams para ajudar na organização da abertura de uma exposição sobre sua vida e carreira. Entre figurinos, jóias, quadros, discos e imagens, a cantora lembra sua trajetória gloriosa no mundo lírico e aos poucos vai se desarmando, tira a máscara e mostra o abismo que sempre existiu entre a diva do palco e a mulher do dia a dia. Fala da carreira de sucesso, do fim do casamento, do conturbado relacionamento com Aristóteles Onassis e da morte do filho, dentre outros assuntos que surgem no decorrer do encontro".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Callas", de Fernando Duarte, que acaba de entrar em cartaz no Teatro do Leblon (Sala Fernanda Montenegro). Marília Pêra assina a direção do espetáculo, que tem elenco formado por Silvia Pfeifer e Cássio Reis.
Se em "Orgulhosa demais, frágil demais", que estreou no ano passado e ainda está em cartaz no Centro Cultural Correios, Fernando Duarte dividiu seu foco entre Maria Callas e Marilyn Monroe, agora o autor concentra todas as atenções em esmiuçar ainda mais a vida e trajetória artística daquela que é considerada a maior cantora lírica da história.
Embora relute em acreditar que a genialidade só se faça presente naqueles que padecem ou tenham padecido de sofrimentos só comparáveis aos de Jó, ainda assim não deixa de ser curioso o fato de que a maioria dos artistas de exceção não passaram pela vida em branca nuvem e muito menos em plácido repouso adormeceram. No caso específico de Maria Callas, é possível que a tragicidade de sua vida tenha em muito contribuído para a força trágica que exibia em cena. E talvez seja esse paralelo que tenha motivado o autor a escrever a presente obra.
Aqui, estimulada por John Adams, Callas revive seus momentos mais gloriosos, mas também aqueles em que foi depreciada pela crítica e ironizada pelo público. Fala de seus amores, em especial por Aristóteles Onassis, mas não hesita em explicitar a dor que sentiu ao ser por ele abandonada. Menciona seu desejo desesperado de ser mãe e a perda precoce de seu filho. Aborda sua obsessão pela perfeição e o desprezo que nutria por suas rivais. Revela o pavor que sente da solidão e sua revolta por não ter, no final de sua vida, outras companhias além da governanta e do motorista.
Estamos, portanto, diante de um texto que faculta ao espectador uma visão abrangente da mulher e do mito, e cuja versão cênica contribui decisivamente para enfatizar os méritos que lhe são inerentes. Impondo à cena uma dinâmica cuja refinada elegância confere ainda mais tragicidade aos temas abordados e explorando com grande eficiência os ótimos vídeos selecionados por Mídias Organizadas, Marília Pera exibe o mérito suplementar de haver extraído seguras e sensíveis atuações do elenco.
Na pele de John Adams, Cássio Reis consegue materializar todas as características de um personagem completamente fascinado por Callas, cabendo destacar a clareza e elegância de seu universo gestual, assim como a mescla de firmeza e doçura que impõe à sua voz. Vivendo Callas, Silvia Pfeifer exibe a melhor atuação de sua carreira, explorando com a mesma eficiência tanto o ferino sarcasmo da personagem quanto sua espantosa carência e fragilidade. Cabe também ressaltar sua grande capacidade de entrega, sem a qual seria impossível interpretar uma personalidade tão complexa como Maria Callas.
Na equipe técnica, destaco com grande entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Sonia Soares (figurino), Rafael Guedes (cenário), Paulo César Medeiros (iluminação), Paulo Arguelles (trilha sonora), Alessandro Person (desenho de som), Evânio Alves (visagismo) e Duda Maya (preparação corporal).
CALLAS - Texto de Fernando Duarte. Direção de Marília Pêra. Com Silvia Pfeifer e Cássio Reis. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 19h. Domingo, 18h.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
MARIA CLARA MACHADO
Nasceu a 3 de abril de 1921 em Belo Horizonte (MG), filha de Aníbal Monteiro Machado, escritor, mineiro de Sabará, e Aracy Jacob Machado, e veio morar no Rio de Janeiro aos 4 anos de idade. Eram cinco irmãs, todas Marias – Celina, Clara, Luiza, Ana, Ethel (Tatau). Vinícius de Moraes chegou a fazer uma poesia para elas, intitulada “As Machadinhas”. No Rio, a família morou na Gávea, em Copacabana e, finalmente, em Ipanema, a famosa casa da ‘’Visconde Pirajá 487’’, onde seu pai recebia intelectuais e artistas aos domingos. Esse ambiente certamente concorreu para a formação intelectual de Maria Clara.
Sua mãe faleceu em 1930, quando Maria Clara tinha apenas 9 anos de idade. Alguns anos mais tarde seu pai se casaria com a cunhada, Selma, que já morava com a família desde que perdeu os pais aos 13 anos. Selma passou, assim, a ser como uma irmã mais velha de Maria Clara. Desse casamento nasceu Aracy, nome dado em homenagem à irmã de Selma e primeira mulher de Aníbal Machado.
Na adolescência foi bandeirante e nos acampamentos já começou a descobrir sua veia artística, sendo responsável pelos programas recreativos, representando personagens históricos como Joana D’arc, Maria Quitéria, entre outras.
Em 1941 participou de uma reunião Internacional de Bandeirantes, em Nova York, estendendo sua temporada em Washington por sete meses, onde morou na casa de Candido Portinari, grande amigo de seu pai, e que estava pintando o painel para o Congresso americano. Em 1948 voltaria aos Estados Unidos com um grupo de bandeirantes para uma breve temporada. Foi graças ao bandeirantismo que ela foi parar no Patronato Operário de Gávea, instituição de caridade dirigida por um grupo de senhoras da sociedade que atendia aos moradores das favelas próximas ao Patronato.
Foi aí que ela começou a trabalhar com teatro de bonecos, técnica que aprendera no Instituto Pestalozzi do Rio de Janeiro, em Copacabana. Pluft, o fantasminha, O boi e o burro no caminho de Belém, e Maroquinhas Fru-Fru, foram peças escritas primeiramente para o teatro de bonecos. A partir deste trabalho Maria Clara escreveu o livro ”Como fazer teatrinho de bonecos”, publicado pela editora Melhoramentos e reeditado, em 1969, pela editora Agir.
Em 1949, com um grupo de amigos, entre os quais Jorge Leão Teixeira, Claudio Fornari, Stelio Roxo, João Sergio Marinho Nunes, e Geraldo Queiroz, criaram um grupo de teatro amador a que deram o nome de “Os Farsantes”, e montaram a Farsa do advogado Pathelin, dirigida pelo frei Sebastião Hasselman, apresentada em curta temporada no Teatro de Bolso, na praça General Osório, Ipanema. Era o embrião do teatro Tablado.
No final de 1949 ganhou uma bolsa do governo francês e fez, em 1950, um curso de teatro em Paris, com Etienne Decroux, mestre de Jean Louis Barrault e Marcel Marceau. Com uma bolsa de estudos da Unesco fez um curso de férias em Londres nesse mesmo ano, voltando ao Brasil no final de 1950.
Em janeiro de 1951 fez sua primeira experiência profissional com cinema e, convidada por Martim Gonçalves, que conhecera na França e trabalhava na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, participou como atriz do filme Ângela, rodado em Pelotas (RS), com Alberto Ruchell e Eliana.
Em outubro de 1951, com um grupo de amigos reunidos na casa de seu pai, Aníbal Machado, cria o Teatro Amador O Tablado, que passou a funcionar no Patronato Operário da Gávea, à avenida Lineu de Paula Machado, onde encontra-se até hoje. Com o tempo, O Tablado passou a ser referência na formação de atores, figurinistas, cenógrafos, diretores, iluminadores, sendo considerado um celeiro de talentos hoje famosos.
Em 1956, preocupada em dar apoio aos novos grupos que se formavam, principalmente no interior do país, criou os Cadernos de Teatro, cujo lema era Remember Amapá. O objetivo dessa publicação era ensinar o bê-á-bá da técnica, como fabricar um refletor, noções de direção, interpretação etc.
De 1959 a 1974, foi professora de improvisação no antigo Conservatório Nacional de Teatro, atual escola de teatro da UniRio, passando a dirigir o mesmo durante o ano 1963.
Convidada em 1961 pelo Governo do Estado da Guanabara, passou a dirigir o Serviço de Teatro e Diversões do Estado, ocupando, ao mesmo tempo, o cargo de Secretário Geral do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde ficou até início de 1963.
Em 1965, Maria Clara foi a Paris representando o Brasil no Congresso de Teatro para a Juventude, tendo na ocasião tido a oportunidade de assistir, nesta cidade, a montagem de sua peça “O Cavalinho Azul”, que representou o Brasil no Congresso da Unesco em Tel-Aviv.
A partir de 1964 passa a dar um curso de improvisação n’O Tablado.
Na década de 1990 começa a dividir a direção de suas peças com sua sobrinha Cacá Mourthé, que frequentou o Tablado desde criança e foi aluna e assistente de direção, absorvendo o espírito e a liderança de Maria Clara No ano de 2000, Maria Clara escreve, em parceria com Cacá, a peça Jonas e a Baleia, fazendo da sobrinha sua herdeira à frente do Tablado.
Apesar de mais conhecida como autora e diretora de teatro, Maria Clara também atuou como atriz em varias peças do teatro O Tablado e em outros grupos. Foi assim que, em 1981, foi convidada a atuar na peça Ensina-me a Viver, de Colin Higgins, substituindo Henriette Morineau, com direção de Domingos de Oliveira.
Maria Clara escreveu 27 peças infantis e cinco para adultos. Suas peças infantis foram traduzidas para vários idiomas e montadas diversas vezes fora do Brasil. Recebeu por mais de uma vez o prêmio Molière, Mambembe e Coca-Cola, além dos prêmios Shell, Sacy, Golfinho de Ouro, o da Academia Brasileira de Letras, entre outros.
Tendo dedicado toda a sua vida ao teatro, é comparada a autores como Mark Twain, Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm. Sua obra é considerada hoje tão importante para a dramaturgia infantil quanto a obra de Nelson Rodrigues o foi para a modernização da dramaturgia brasileira.
Como disse Carlos Drummond de Andrade: “Em Maria Clara a escritora e diretora coincidem com uma riquíssima organização humana, onde o fantástico janta na mesa do real, e se comunicam naturalmente… o fantástico fica plausível, é um dado cotidiano, até corriqueiro. E o real surge desligado de seu peso tantas vezes incomodo”.
Maria Clara faleceu no dia 30 de abril de 2001, mas deixou a todos os seus admiradores e amigos um valioso legado, especialmente voltado para o público Infanto-Juvenil.
Pesquisa de Celina Whatel
Extraído do site de O Tablado
Biografia
Flávio Nogueira Rangel (1934 - 1988). Destacado encenador, pertence à primeira geração de brasileiros na era pós-Teatro Brasileiro de Comédia. Atua em muitos conjuntos e constrói sólida e prestigiada carreira, revelando especial talento para os musicais, em que alia a capacidade de trabalhar com grandes elencos ao acabamento estético dos espetáculos.
Ainda aluno de direito, em 1956, inicia sua vida artística escrevendo e adaptando textos para teleteatros do Grande Teatro Tupi. Inicia-se profissionalmente no Núcleo Experimental do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em 1957, colocando em cena realização não muito feliz, Do Outro Lado da Rua, de Augusto Boal, integrando um programa com Matar, de Paulo Hecker Filho, dirigido por Walmor Chagas.
Em 1959, dirige para o Teatro Popular de Arte (TPA), o espetáculo Gimba, Presidente dos Valentes, de Gianfrancesco Guarnieri, com Maria Della Costa vivendo uma mulata de morro carioca. Flávio realiza um espetáculo exuberante. Trata-se de um grande painel que introduz algo de exótico em seu naturalismo, através das cenas de samba e gafieira, ao mesmo tempo que busca movimento e ação através de grandes cenas coletivas, como a invasão policial ou as reuniões dos moradores. Evidenciado no Brasil e no exterior, apresenta-se no Festival do Teatro das Nações, em Paris, Roma e Portugal. É a consagração, para um jovem com menos de 25 anos e pouco mais que estreante.
Com bolsa de estudo, viaja para os Estados Unidos. Estagia em grandes teatros da Broadway e percorre o circuito universitário. Essas viagens são decisivas para sua formação artística, colocando-o em contato com a prática teatral mais moderna da época. Aprende não apenas iluminação como também o rigoroso trabalho nas coxias, espaço onde os maquinistas operam a mágica de cena.
Em 1960 é convocado por Franco Zampari para assumir a direção artística do TBC, o primeiro brasileiro a ocupar tal posto. Imprime ao repertório corajoso apoio à dramaturgia brasileira, escorado no sucesso que os textos nacionais desfrutam junto ao público, após o renovador movimento desencadeado pelo Teatro de Arena.
Os espetáculos que cria na casa tornam-se sucessos firmados não apenas no apelo nacionalista como em sua habilidade em tratar as massas cênicas, movimentações complexas e explorar o teatralismo das situações.
Leva à cena O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, em 1960, tendo Leonardo Villar como protagonista, e no ano seguinte, A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri, texto que enfrenta dificuldades junto à administração do teatro e à Censura. Ambos os espetáculos alavancam a carreira do encenador, que acumula os prêmios Saci, Governador do Estado de São Paulo e Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT, de melhor diretor nos dois anos consecutivos. O crítico Décio de Almeida Prado assim descreve a escritura cênica do diretor: "O Pagador de Promessas, sucedendo a Gimba, já nos permite fixar algumas das características de Flávio Rangel como encenador. A sua primeira virtude é saber enxergar o espetáculo como um todo. Ele não vê a palavra impressa, mas a representação, incluindo-se nela os elementos mímicos e musicais (com preferência pela música popular autêntica) que servem para completar e prolongar o alcance do texto. Daí o prazer sensorial, por assim dizer, físico, que este seu espetáculo nos proporciona".
Desde Gimba, Flávio trabalha com o cenógrafo Cyro Del Nero, detentor de apurado senso arquitetônico e teatral nas soluções cênicas desse período. A montagem seguinte, Almas Mortas, de Nikolai Gogol, é vista com ressalvas, mas não abala seu prestígio, recuperado com A Escada, de Jorge Andrade, texto sobre os conflitos familiares transcorridos em apartamentos e partes comuns de um edifício, novamente premiado como o melhor diretor de 1961.
Abrindo a temporada de 1962, obtém novo êxito com A Morte de Um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, levando Dionísio Azevedo e Cleyde Yáconis a grandes desempenhos. Com A Revolução dos Beatos, de Dias Gomes, desliga-se do TBC, com o intuito de transpor Gimba para o cinema, o que só ocorre anos depois. Assume em 1964 o desafio de encenar Depois da Queda, de Arthur Miller. Primeira montagem do texto fora dos Estados Unidos, gira em torno da acidentada relação do escritor com a atriz Marilyn Monroe. Flávio utiliza hábeis jogos de luz na cenografia geométrica de Flávio Império e obtém de Paulo Autran, como Quentin, e Maria Della Costa, como Mag, interpretações amadurecidas e comoventes, resultados que o levam a montar a peça em Buenos Aires, no ano seguinte.
Em Santa Joana, de Bernard Shaw, montagem de 1965, a pressa não o deixa ir além da discrição. Para o Grupo Opinião, ao lado de Millôr Fernandes, escreve e dirige Liberdade, Liberdade, no mesmo ano, que lhe dá prestígio e poder de voz no debate em torno da liberdade de expressão. Num ato de protesto contra um pronunciamento demagógico do presidente Castelo Branco na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), no Rio de Janeiro, é preso com outros intelectuais, soltos após semanas de protestos da classe artística. Marcado, desde então, por seus posicionamentos políticos, Flávio passará a escrever crônicas para o Pasquim, desde 1969, o que o conduzirá novamente à prisão, em 1970, e para a Folha de S.Paulo, entre 1978 e 1984.
Duas realizações teatrais competentes seguem-se: O Sr. Puntila e Seu Criado Matti, de Bertolt Brecht, em 1966; e Édipo Rei, de Sófocles, com Paulo Autran no papel-título, em 1967. Faz um espetáculo seguro e fluente lançando Consuelo de Castro em À Flor da Pele, sua segunda obra, em 1969; e cria uma pungente versão para Esperando Godot, de Samuel Beckett, com Walmor Chagas e Cacilda Becker, último espetáculo da atriz, que sofre derrame cerebral no intervalo de uma das apresentações.
Nos primeiros anos da década de 1970, Flávio está às voltas com superproduções, nem sempre bem-sucedidas, mas que solidificam sua condição de artesão da ribalta: uma versão sombria para Hamlet, de William Shakespeare, em 1969, e Abelardo e Heloísa, de Ronald Millar, em 1971. Segue-se A Capital Federal, de Artur Azevedo, magnífico painel da sociedade carioca no século XIX, musical com coreografias de Márika Gidali e cenários de Gianni Ratto, dois colaboradores constantes a partir de então. O Homem de la Mancha, de Dale Wasserman, em 1972, traz Bibi Ferreira de volta ao teatro depois de oito anos na televisão. Em 1973 é a vez de Dr. Fausto da Silva, de Paulo Pontes, montagem com desavenças no elenco, e, no ano seguinte, Pippin, musical da Broadway sobre a vida de Carlos Magno, de Roger O. Hirson e Stephen Schwartz.
A partir de 1975, passa a alternar realizações artísticas com comerciais. Dedica-se a Mumu, a Vaca Metafísica, de Marcílio Morais, obra ligada ao teatro de resistência e metafórica alusão ao milagre econômico; e À Margem da Vida, de Tennessee Williams, em 1976, com Beatriz Segall e Ariclê Perez, em belas atuações num cenário todo em transparências de Tulio Costa. Fracassa na primeira encenação de O Santo Inquérito, de Dias Gomes, no Rio de Janeiro, bem-sucedida um ano após, com Regina Duarte, em São Paulo; além de A Nonna, do chileno Roberto Cossa, obtendo ótimo resultado com Cleyde Yáconis, em 1980.
Na seqüência comercial estão Tudo Bem no Ano que Vem, de Bernard Slade, comédia com Tarcísio Meira e Glória Menezes, 1976; Investigação na Classe Dominante, uma adaptação sua para Está Lá Fora o Inspetor, de J. B. Priestley, em 1979; No Sex...Please!, comédia inexpressiva, e O Rei de Ramos, musical de Dias Gomes e Chico Buarque, com Paulo Gracindo vivendo o Bicheiro Mirandão, 1979. Também uma nova versão para O Pagador de Promessas, com Tony Ramos encabeçando o elenco.
A partir dos anos 1980, assume, sem mais "desvios", sua tendência natural para musicais, dirigindo em 1982, Amadeus, sobre a vida de Mozart, mais uma demonstração de argúcia para espetáculos complexos. No ano posterior, intervém diretamente no texto de Pam Gems, Piaf, tornando a encenação aclamada pela crítica e pelo público, e marcando um momento iluminado de Bibi Ferreira sobre os palcos. Vargas, porém, outro musical de Dias Gomes e Ferreira Gullar, gera polêmicas com políticos do Rio de Janeiro, e nem a aparatosa montagem e a presença de Paulo Gracindo entusiasmam a platéia.
No elogiado e prestigiado espetáculo de 1984, Freud, no Distante País da Alma, texto mediano de Henry Denker, Flávio encaminha Ariclê Perez e Edwin Luisi para excelentes desempenhos, como o jovem Freud cuidando da neurótica Elizabeth. A Herdeira, um melodrama baseado em Henry James, e Negócios de Estado, comédia de Louis Verneuil, com Vera Fisher na cabeça do elenco, são dois momentos menores de um diretor que, no ano seguinte, realiza seu último e bem-sucedido vôo: Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, 1985, a frente da Companhia Estável de Repertório (CER), com Antonio Fagundes e Bruna Lombardi à frente de aparatosa montagem cenografada por Gianni Ratto e vestida por Kalma Murtinho. Esses dois profissionais acompanham Flávio na maior parte de suas encenações, colaborando efetivamente para o sucesso de suas realizações.
Diretor de inovadores shows musicais, soube conduzir a cantora Simone, repetidas vezes, a desempenhos cheios de garra. Suas crônicas jornalísticas foram reunidas em quatro títulos: Seria Cômico Se Não Fosse Trágico, A Praça dos Sem Poderes, Os Prezados Leitores e Diário do Brasil.
Notas1. RATTO, Gianni. Depoimento. In: SIQUEIRA, José Rubens. Viver de teatro: uma biografia de Flávio Rangel. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. p. 224.
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Exttraído de Itaú Cultural
Flávio Nogueira Rangel (1934 - 1988). Destacado encenador, pertence à primeira geração de brasileiros na era pós-Teatro Brasileiro de Comédia. Atua em muitos conjuntos e constrói sólida e prestigiada carreira, revelando especial talento para os musicais, em que alia a capacidade de trabalhar com grandes elencos ao acabamento estético dos espetáculos.
Ainda aluno de direito, em 1956, inicia sua vida artística escrevendo e adaptando textos para teleteatros do Grande Teatro Tupi. Inicia-se profissionalmente no Núcleo Experimental do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em 1957, colocando em cena realização não muito feliz, Do Outro Lado da Rua, de Augusto Boal, integrando um programa com Matar, de Paulo Hecker Filho, dirigido por Walmor Chagas.
Em 1958, ganha o Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT), como revelação de direção pela encenação de Juventude Sem Dono, de Michael Vincent Gazzo, peça que trata da presença de um drogado em ambiente familiar.
Em 1959, dirige para o Teatro Popular de Arte (TPA), o espetáculo Gimba, Presidente dos Valentes, de Gianfrancesco Guarnieri, com Maria Della Costa vivendo uma mulata de morro carioca. Flávio realiza um espetáculo exuberante. Trata-se de um grande painel que introduz algo de exótico em seu naturalismo, através das cenas de samba e gafieira, ao mesmo tempo que busca movimento e ação através de grandes cenas coletivas, como a invasão policial ou as reuniões dos moradores. Evidenciado no Brasil e no exterior, apresenta-se no Festival do Teatro das Nações, em Paris, Roma e Portugal. É a consagração, para um jovem com menos de 25 anos e pouco mais que estreante.
Com bolsa de estudo, viaja para os Estados Unidos. Estagia em grandes teatros da Broadway e percorre o circuito universitário. Essas viagens são decisivas para sua formação artística, colocando-o em contato com a prática teatral mais moderna da época. Aprende não apenas iluminação como também o rigoroso trabalho nas coxias, espaço onde os maquinistas operam a mágica de cena.
Em 1960 é convocado por Franco Zampari para assumir a direção artística do TBC, o primeiro brasileiro a ocupar tal posto. Imprime ao repertório corajoso apoio à dramaturgia brasileira, escorado no sucesso que os textos nacionais desfrutam junto ao público, após o renovador movimento desencadeado pelo Teatro de Arena.
Os espetáculos que cria na casa tornam-se sucessos firmados não apenas no apelo nacionalista como em sua habilidade em tratar as massas cênicas, movimentações complexas e explorar o teatralismo das situações.
Leva à cena O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, em 1960, tendo Leonardo Villar como protagonista, e no ano seguinte, A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri, texto que enfrenta dificuldades junto à administração do teatro e à Censura. Ambos os espetáculos alavancam a carreira do encenador, que acumula os prêmios Saci, Governador do Estado de São Paulo e Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT, de melhor diretor nos dois anos consecutivos. O crítico Décio de Almeida Prado assim descreve a escritura cênica do diretor: "O Pagador de Promessas, sucedendo a Gimba, já nos permite fixar algumas das características de Flávio Rangel como encenador. A sua primeira virtude é saber enxergar o espetáculo como um todo. Ele não vê a palavra impressa, mas a representação, incluindo-se nela os elementos mímicos e musicais (com preferência pela música popular autêntica) que servem para completar e prolongar o alcance do texto. Daí o prazer sensorial, por assim dizer, físico, que este seu espetáculo nos proporciona".
Desde Gimba, Flávio trabalha com o cenógrafo Cyro Del Nero, detentor de apurado senso arquitetônico e teatral nas soluções cênicas desse período. A montagem seguinte, Almas Mortas, de Nikolai Gogol, é vista com ressalvas, mas não abala seu prestígio, recuperado com A Escada, de Jorge Andrade, texto sobre os conflitos familiares transcorridos em apartamentos e partes comuns de um edifício, novamente premiado como o melhor diretor de 1961.
Abrindo a temporada de 1962, obtém novo êxito com A Morte de Um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, levando Dionísio Azevedo e Cleyde Yáconis a grandes desempenhos. Com A Revolução dos Beatos, de Dias Gomes, desliga-se do TBC, com o intuito de transpor Gimba para o cinema, o que só ocorre anos depois. Assume em 1964 o desafio de encenar Depois da Queda, de Arthur Miller. Primeira montagem do texto fora dos Estados Unidos, gira em torno da acidentada relação do escritor com a atriz Marilyn Monroe. Flávio utiliza hábeis jogos de luz na cenografia geométrica de Flávio Império e obtém de Paulo Autran, como Quentin, e Maria Della Costa, como Mag, interpretações amadurecidas e comoventes, resultados que o levam a montar a peça em Buenos Aires, no ano seguinte.
Em Santa Joana, de Bernard Shaw, montagem de 1965, a pressa não o deixa ir além da discrição. Para o Grupo Opinião, ao lado de Millôr Fernandes, escreve e dirige Liberdade, Liberdade, no mesmo ano, que lhe dá prestígio e poder de voz no debate em torno da liberdade de expressão. Num ato de protesto contra um pronunciamento demagógico do presidente Castelo Branco na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), no Rio de Janeiro, é preso com outros intelectuais, soltos após semanas de protestos da classe artística. Marcado, desde então, por seus posicionamentos políticos, Flávio passará a escrever crônicas para o Pasquim, desde 1969, o que o conduzirá novamente à prisão, em 1970, e para a Folha de S.Paulo, entre 1978 e 1984.
Duas realizações teatrais competentes seguem-se: O Sr. Puntila e Seu Criado Matti, de Bertolt Brecht, em 1966; e Édipo Rei, de Sófocles, com Paulo Autran no papel-título, em 1967. Faz um espetáculo seguro e fluente lançando Consuelo de Castro em À Flor da Pele, sua segunda obra, em 1969; e cria uma pungente versão para Esperando Godot, de Samuel Beckett, com Walmor Chagas e Cacilda Becker, último espetáculo da atriz, que sofre derrame cerebral no intervalo de uma das apresentações.
Nos primeiros anos da década de 1970, Flávio está às voltas com superproduções, nem sempre bem-sucedidas, mas que solidificam sua condição de artesão da ribalta: uma versão sombria para Hamlet, de William Shakespeare, em 1969, e Abelardo e Heloísa, de Ronald Millar, em 1971. Segue-se A Capital Federal, de Artur Azevedo, magnífico painel da sociedade carioca no século XIX, musical com coreografias de Márika Gidali e cenários de Gianni Ratto, dois colaboradores constantes a partir de então. O Homem de la Mancha, de Dale Wasserman, em 1972, traz Bibi Ferreira de volta ao teatro depois de oito anos na televisão. Em 1973 é a vez de Dr. Fausto da Silva, de Paulo Pontes, montagem com desavenças no elenco, e, no ano seguinte, Pippin, musical da Broadway sobre a vida de Carlos Magno, de Roger O. Hirson e Stephen Schwartz.
A partir de 1975, passa a alternar realizações artísticas com comerciais. Dedica-se a Mumu, a Vaca Metafísica, de Marcílio Morais, obra ligada ao teatro de resistência e metafórica alusão ao milagre econômico; e À Margem da Vida, de Tennessee Williams, em 1976, com Beatriz Segall e Ariclê Perez, em belas atuações num cenário todo em transparências de Tulio Costa. Fracassa na primeira encenação de O Santo Inquérito, de Dias Gomes, no Rio de Janeiro, bem-sucedida um ano após, com Regina Duarte, em São Paulo; além de A Nonna, do chileno Roberto Cossa, obtendo ótimo resultado com Cleyde Yáconis, em 1980.
Na seqüência comercial estão Tudo Bem no Ano que Vem, de Bernard Slade, comédia com Tarcísio Meira e Glória Menezes, 1976; Investigação na Classe Dominante, uma adaptação sua para Está Lá Fora o Inspetor, de J. B. Priestley, em 1979; No Sex...Please!, comédia inexpressiva, e O Rei de Ramos, musical de Dias Gomes e Chico Buarque, com Paulo Gracindo vivendo o Bicheiro Mirandão, 1979. Também uma nova versão para O Pagador de Promessas, com Tony Ramos encabeçando o elenco.
A partir dos anos 1980, assume, sem mais "desvios", sua tendência natural para musicais, dirigindo em 1982, Amadeus, sobre a vida de Mozart, mais uma demonstração de argúcia para espetáculos complexos. No ano posterior, intervém diretamente no texto de Pam Gems, Piaf, tornando a encenação aclamada pela crítica e pelo público, e marcando um momento iluminado de Bibi Ferreira sobre os palcos. Vargas, porém, outro musical de Dias Gomes e Ferreira Gullar, gera polêmicas com políticos do Rio de Janeiro, e nem a aparatosa montagem e a presença de Paulo Gracindo entusiasmam a platéia.
No elogiado e prestigiado espetáculo de 1984, Freud, no Distante País da Alma, texto mediano de Henry Denker, Flávio encaminha Ariclê Perez e Edwin Luisi para excelentes desempenhos, como o jovem Freud cuidando da neurótica Elizabeth. A Herdeira, um melodrama baseado em Henry James, e Negócios de Estado, comédia de Louis Verneuil, com Vera Fisher na cabeça do elenco, são dois momentos menores de um diretor que, no ano seguinte, realiza seu último e bem-sucedido vôo: Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, 1985, a frente da Companhia Estável de Repertório (CER), com Antonio Fagundes e Bruna Lombardi à frente de aparatosa montagem cenografada por Gianni Ratto e vestida por Kalma Murtinho. Esses dois profissionais acompanham Flávio na maior parte de suas encenações, colaborando efetivamente para o sucesso de suas realizações.
Diretor de inovadores shows musicais, soube conduzir a cantora Simone, repetidas vezes, a desempenhos cheios de garra. Suas crônicas jornalísticas foram reunidas em quatro títulos: Seria Cômico Se Não Fosse Trágico, A Praça dos Sem Poderes, Os Prezados Leitores e Diário do Brasil.
Morto em 1988, Flávio tem uma vasta folha de serviços ao teatro brasileiro, onde a dedicação ao ofício mostra-se em patamar superior, visível nas palavras de Gianni Ratto, seu cenógrafo predileto: "[...] o Flávio tinha prazer em erguer o espetáculo. Era um homem de teatro, um diretor de idéias, de colocações práticas. Ele partia de um entusiasmo em relação ao texto, que era contagiante. Ele vinha com o entusiasmo e as idéias. Idéias não teóricas, mas interpretativas. Eu assimilava estas idéias e tentava, imediatamente, interpretar o que ele dizia. Fazia rabiscos e mostrava pra ele. Aí ele partia e ia à frente. [...] Era um processo de osmose. Ele agia como eu acho que um diretor deve agir: te solicitar, te estimular. E nos ensaios, era a mesma coisa. Ele reunia a companhia, explicava tudo. Depois mandava cada um ler solto, à vontade. Aí ele entrava com as observações. Mas cada um se sentia motivado a fazer. Tanto que os espetáculos dele podem ter sido criticados ou não, mas todos eles eram muito unitários. Tinham uma força de união muito grande porque todo mundo estava motivado. Esta motivação eu acho que é a coisa mais importante que um diretor, pelo menos do ponto de vista técnico, tem de realizar. Quando você consegue isso, carismar a companhia, aí a coisa vai".1
Notas1. RATTO, Gianni. Depoimento. In: SIQUEIRA, José Rubens. Viver de teatro: uma biografia de Flávio Rangel. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. p. 224.
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Exttraído de Itaú Cultural