Teatro/CRÍTICA
"Meu Saba"
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Afetos e horrores no Sérgio Porto
Lionel Fischer
"O espetáculo se passa nos 30 segundos que Noa leva para se levantar e chegar ao palanque onde fará uma homenagem ao seu avô. Ela foi escolhida pela família para falar no dia do funeral de Yizhak Rabin. Insegura, ela revive emoções em um jogo narrativo que mistura as lembranças de infância marcada pela tragédia e resgatada pelo amor de sua família, o medo constante, o impacto caótico da guerra, o ódio de fora e também de dentro do país. Noa fala sobre o assassino de seu avô e os extremistas que nutrem a violência".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Meu Saba", livremente inspirado no livro "Em nome da dor e da esperança", de Noa Ben-Artzi, neta do ex-primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, assassinado pelo direitista radical israelense Yigal Amir, que se opunha à assinatura dos Acordos de Oslo.
Apenas para reativar a memória, gostaria de relembrar que estes acordos foram realizados na cidade de Oslo, na Noruega, entre o governo de Israel e o presidente da OLP, Yasser Arafat, mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton - as duas nações se comprometiam a unir esforços para promover o término dos conflitos, a abertura de negociações sobre os territórios ocupados, a retirada de Israel do sul do Líbano e questão do status de Jerusalém.
Contando com direção de Daniel Herz, adaptação de Herz, Clarissa Kahane e Evelyn Dizitzer, "Meu Saba" acaba de entrar em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto. Clarissa Kahane interpreta a única personagem.
Como implícito no parágrafo inicial, um dos componentes mais fortes do presente texto diz respeito à memória, tanto de acontecimentos trágicos como de outros, impregnados de afeto. Mas, além disso, a autora não se furta em empreender sólidas reflexões sobre o momento político de Israel e suas conturbadas relações com seus vizinhos árabes, tentando encontrar razões capazes de explicar o porquê de tão feroz inimizade.
Ao mesmo tempo - e aqui reside o grande achado dramatúrgico do texto e da montagem - a personagem revive os tais 30 segundos que a levam de seu lugar até o microfone, onde deve proferir algumas palavras sobre o avô. Esta caminhada é feita sobre um espécie de passarela de tijolos (metáfora de um mundo que tanto poderia se solidificar quanto ruir a qualquer momento), interrompida perto do palanque, sobre o qual um fuzil substitui o microfone - será que o poder das armas haverá de sobrepujar sempre o das palavas?
Ou seja: todo o texto, e o consequente jogo cênico, se estruturam em sucessivas indas e vindas no tempo, e igualmente no espaço. Recordações mais amenas e afetuosas são compartilhadas diretamente com a plateia, enquanto as mais dolorosas e dilaceradas são feitas sobre a mencionada passarela. E esta permanente alternância gera no público uma grande diversidade de sentimentos, pois ora nos encantamos com a relação da menina com seu avô, ora nos comovemos profundamente com os horrores vividos nos tais 30 segundos, que parecem durar uma eternidade - e aqui devo confessar que, por várias vezes, torci para que a personagem chegasse logo ao microfone, acabando não apenas com seu martírio, mas fundamentalmente com o meu.
Com relação ao espetáculo, acho que já deixei bastante claro que ele me tocou profundamente. Ainda assim, não custa nada enfatizar a capacidade do diretor Daniel Herz de trabalhar todos os conteúdos propostos pela autora de forma a valorizá-los ao máximo, tanto através de marcas de grande expressividade como de irretocável domínio no que concerne aos tempos rítmicos.
No tocante à performance de Clarissa Kahane, principal mentora do projeto, cumpre ressaltar sua notável capacidade de entrega e a paixão com que profere cada palavra ou executa cada gesto. Percebe-se que a atriz não está apenas encarnando uma personagem que lhe interessa, mas colocando sua alma no palco. E isso é maravilhoso. Ao mesmo tempo, também me parece claro que Clarissa Kahane ainda precisa trabalhar mais sua voz, conferindo à mesma maior potência e amplitude, o que certamente haverá de conseguir ao longo do tempo.
Na equipe técnica, Aurélio de Simoni materializa uma das melhores iluminações de sua brilhante carreira, conseguindo não apenas valorizar os muitos e diversificados climas emocionais propostos pelo texto, pela direção e pela atriz, mas também conferindo ao próprio espaço uma identidade emocional que poderia ser aferida mesmo que o palco estivesse vazio. Um brilho semelhante se faz presente na cenografia de Bia Junqueira, plena de símbolos altamente expressivos e portanto impregnada da mais alta teatralidade. Destaco também, e com o mesmo entusiasmo, as contribuições de Antonio Guedes (figurino), Antonio Saraiva (música) e Duda Maia (direção de movimento).
MEU SABA - Texto de Noa Ben Artzi. Adaptação de Clarissa Kahane, Daniel Herz e Evelyn Dzitzer. Direção de Daniel herz. Com Clarissa kahane. Espaço Cultural Sérgio porto. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.
domingo, 26 de abril de 2015
quinta-feira, 23 de abril de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Através de um espelho"
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Dilacerado encontro familiar
Lionel Fischer
A exemplo das tragédias gregas, tudo aqui se passa em um espaço de 24h. Reunidos em uma ilha distante, os membros de uma família acalentam a esperança de que poderão aparar algumas arestas afetivas e desfazer mal-entendidos, passando então a desfrutar de agradável, pacífica e amorosa convivência. No entanto, em função da história pessoal de cada um, logo se percebe que só um milagre tornaria viável tal anseio. Senão, vejamos.
David é um escritor que atravessa um momento de bloqueio criativo e só se encontra com os filhos esporadicamente, pois passa a maior parte do tempo no exterior. Sua filha Karin padece de esquizofrenia e acaba de ter alta do sanatório onde estava internada. Max, seu irmão adolescente, e que também planeja ser escritor, não consegue estabelecer nenhum diálogo com o pai. O quarto personagem, Martin, é médico e marido de Karin, e logo no início da trama informa David que a doença de sua esposa aparenta ser incurável.
Eis, em resumo, o contexto em que se dá "Através de um espelho", versão teatral do longa-metragem homônimo de Ingmar Bergman. O filme, de 1961, foi adaptado para o palco por Jenny Worton e agora chega à cena brasileira contando com nova adaptação de Marcos Daud e dramaturgia de Valderez Cardoso Gomes. Ulysses Cruz responde pela direção do espetáculo, em cartaz no Teatro Poeira. No elenco, Gabriela Duarte (Karin), Joca Andreazza (David), Marcos Suchara (Martin) e Lucas Lentini (Max).
Tratados já foram escritos sobre a presente obra e certamente por pessoas bem mais capazes do que eu. Ainda assim, permito-me umas poucas considerações a respeito de um dos pontos que mais me intriga em "Através de um espelho" e que desconheço se foi abordado como o encaro: a aguçada audição de Karin.
É sabido que esquizofrênicos podem ter vários tipos de delírio, dentre eles auditivos. Mas como isto é por demais óbvio, ouso supor - mesmo arriscando-me a irremediável ridículo - que Bergman estava muito mais interessado não em levantar hipóteses sobre o que Karin ouve, mas como ela ouve e o porquê do que ela ouve. Ou seja: questões meramente clínicas cederiam espaço a outras, essencialmente existenciais, espirituais ou até mesmo de natureza religiosa. Esta última hipótese, por sinal, é a que mais me atrai.
Não sei se a personagem possui uma fé cristã. No entanto, a partir de um certo momento do espetáculo, comecei a achar que Karin, ao constatar que não consegue ser compreendida por aqueles que a rodeiam, começa a buscar conscientemente (bem mais do que em função de sua doença) algum tipo de consolo e acolhimento no plano espiritual. E quem poderia consolá-la e acolhê-la sem reservas, já que possuidor de infinita misericórdia e igualmente infinita capacidade de amar? Deus, naturalmente.
Isto posto, e mais uma vez admitindo a hipótese de ter enveredado pelo lastimável campo do ridículo, torna-se imperioso destacar a magistral forma com que Bergman trabalha alguns de seus temas recorrentes, tais como a já mencionada incomunicabilidade entre os homens, o brutal sentimento de solidão, a relação com a morte e a dramaticidade inerente à criação artística, aqui materializados através de personagens brilhantemente construídos e diálogos que provavelmente Dostoiévski assinaria.
Com relação ao espetáculo, Ulysses Cruz impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - e aqui aproveito para destacar os impecáveis trabalhos de Marcos Daud (adaptação) e Valderez Cardoso Gomes (dramaturgia). Valendo-se de marcas criativas e expressivas, sempre capazes de enfatizar a claustrofóbica atmosfera em que se dá a ação, além disso o encenador exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações de todo o elenco.
Na pele de Karin, Gabriela Duarte exibe ótima voz (sobretudo quando trabalha os graves), impecável desenho corporal, notável capacidade de entrega e grande inteligência cênica, visível nas escolhas que faz. Sem dúvida, a atriz apresenta aqui a melhor performance de sua carreira. Joca Andreazza também convence plenamente vivendo o egoísta e algo cruel David, que não hesita em aproveitar a doença da filha como material de seu próximo livro - acredito apenas que o ator, possuidor de voz deslumbrante, talvez possa sujá-la um pouco em alguns momentos, atropelar eventualmente algumas falas, o que poderia contribuir para enfatizar ainda mais que, por trás de sua notória frieza, também existe um homem profundamente desesperado.
Vivendo Martin, médico completamente devotado à esposa e sempre disposto a amenizar os sofrimentos dela, afora exibir comovente disposição para tentar aparar todas as arestas afetivas com as quais se depara, Marcos Suchara é uma fortíssima e sedutora presença em cena. Finalmente, Lucas Lentini consegue materializar as principais características de Max, adolescente atormentado com sua relação com o pai, com a arte e com a própria sexualidade.
No tocante ao complemento da ficha técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de Leonardo Bertholini (direção de movimento), Renata Ferrari (preparação vocal), Lu Bueno (cenografia), Domingos Quintiliano (iluminação), Cassio Brasil (figurinos), Daniel Maia (trilha sonora original) e Yara Nagel (tradução).
ATRAVÉS DE UM ESPELHO - Texto de Ingmar Bergman. Versão teatral de Jenny Worton. Adaptação de Marcos Daud. Dramaturgia de Valderez Cardoso Gomes. Direção de Ulysses Cruz. Com Gabriela Duarte, Joca Andreazza, Marcos Suchara e Lucas Lentini. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.
"Através de um espelho"
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Dilacerado encontro familiar
Lionel Fischer
A exemplo das tragédias gregas, tudo aqui se passa em um espaço de 24h. Reunidos em uma ilha distante, os membros de uma família acalentam a esperança de que poderão aparar algumas arestas afetivas e desfazer mal-entendidos, passando então a desfrutar de agradável, pacífica e amorosa convivência. No entanto, em função da história pessoal de cada um, logo se percebe que só um milagre tornaria viável tal anseio. Senão, vejamos.
David é um escritor que atravessa um momento de bloqueio criativo e só se encontra com os filhos esporadicamente, pois passa a maior parte do tempo no exterior. Sua filha Karin padece de esquizofrenia e acaba de ter alta do sanatório onde estava internada. Max, seu irmão adolescente, e que também planeja ser escritor, não consegue estabelecer nenhum diálogo com o pai. O quarto personagem, Martin, é médico e marido de Karin, e logo no início da trama informa David que a doença de sua esposa aparenta ser incurável.
Eis, em resumo, o contexto em que se dá "Através de um espelho", versão teatral do longa-metragem homônimo de Ingmar Bergman. O filme, de 1961, foi adaptado para o palco por Jenny Worton e agora chega à cena brasileira contando com nova adaptação de Marcos Daud e dramaturgia de Valderez Cardoso Gomes. Ulysses Cruz responde pela direção do espetáculo, em cartaz no Teatro Poeira. No elenco, Gabriela Duarte (Karin), Joca Andreazza (David), Marcos Suchara (Martin) e Lucas Lentini (Max).
Tratados já foram escritos sobre a presente obra e certamente por pessoas bem mais capazes do que eu. Ainda assim, permito-me umas poucas considerações a respeito de um dos pontos que mais me intriga em "Através de um espelho" e que desconheço se foi abordado como o encaro: a aguçada audição de Karin.
É sabido que esquizofrênicos podem ter vários tipos de delírio, dentre eles auditivos. Mas como isto é por demais óbvio, ouso supor - mesmo arriscando-me a irremediável ridículo - que Bergman estava muito mais interessado não em levantar hipóteses sobre o que Karin ouve, mas como ela ouve e o porquê do que ela ouve. Ou seja: questões meramente clínicas cederiam espaço a outras, essencialmente existenciais, espirituais ou até mesmo de natureza religiosa. Esta última hipótese, por sinal, é a que mais me atrai.
Não sei se a personagem possui uma fé cristã. No entanto, a partir de um certo momento do espetáculo, comecei a achar que Karin, ao constatar que não consegue ser compreendida por aqueles que a rodeiam, começa a buscar conscientemente (bem mais do que em função de sua doença) algum tipo de consolo e acolhimento no plano espiritual. E quem poderia consolá-la e acolhê-la sem reservas, já que possuidor de infinita misericórdia e igualmente infinita capacidade de amar? Deus, naturalmente.
Isto posto, e mais uma vez admitindo a hipótese de ter enveredado pelo lastimável campo do ridículo, torna-se imperioso destacar a magistral forma com que Bergman trabalha alguns de seus temas recorrentes, tais como a já mencionada incomunicabilidade entre os homens, o brutal sentimento de solidão, a relação com a morte e a dramaticidade inerente à criação artística, aqui materializados através de personagens brilhantemente construídos e diálogos que provavelmente Dostoiévski assinaria.
Com relação ao espetáculo, Ulysses Cruz impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - e aqui aproveito para destacar os impecáveis trabalhos de Marcos Daud (adaptação) e Valderez Cardoso Gomes (dramaturgia). Valendo-se de marcas criativas e expressivas, sempre capazes de enfatizar a claustrofóbica atmosfera em que se dá a ação, além disso o encenador exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações de todo o elenco.
Na pele de Karin, Gabriela Duarte exibe ótima voz (sobretudo quando trabalha os graves), impecável desenho corporal, notável capacidade de entrega e grande inteligência cênica, visível nas escolhas que faz. Sem dúvida, a atriz apresenta aqui a melhor performance de sua carreira. Joca Andreazza também convence plenamente vivendo o egoísta e algo cruel David, que não hesita em aproveitar a doença da filha como material de seu próximo livro - acredito apenas que o ator, possuidor de voz deslumbrante, talvez possa sujá-la um pouco em alguns momentos, atropelar eventualmente algumas falas, o que poderia contribuir para enfatizar ainda mais que, por trás de sua notória frieza, também existe um homem profundamente desesperado.
Vivendo Martin, médico completamente devotado à esposa e sempre disposto a amenizar os sofrimentos dela, afora exibir comovente disposição para tentar aparar todas as arestas afetivas com as quais se depara, Marcos Suchara é uma fortíssima e sedutora presença em cena. Finalmente, Lucas Lentini consegue materializar as principais características de Max, adolescente atormentado com sua relação com o pai, com a arte e com a própria sexualidade.
No tocante ao complemento da ficha técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de Leonardo Bertholini (direção de movimento), Renata Ferrari (preparação vocal), Lu Bueno (cenografia), Domingos Quintiliano (iluminação), Cassio Brasil (figurinos), Daniel Maia (trilha sonora original) e Yara Nagel (tradução).
ATRAVÉS DE UM ESPELHO - Texto de Ingmar Bergman. Versão teatral de Jenny Worton. Adaptação de Marcos Daud. Dramaturgia de Valderez Cardoso Gomes. Direção de Ulysses Cruz. Com Gabriela Duarte, Joca Andreazza, Marcos Suchara e Lucas Lentini. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Eugênia"
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Divertida saga no Planetário
Lionel Fischer
"A peça pretende discutir o papel da mulher na formação da identidade brasileira, levantando questões de gênero ao longo da história, mas lançando um olhar contemporâneo sobre a mulher no final do século XVIII e início do XIX. Quem foi Eugênia - bela, sedutora, amada, usada, grávida, confinada em um convento? O intuito é revelar o feminino oculto e velado dentro de uma sociedade machista. O que significava/significa ser esposa, amante, concubina, mãe, freira, escrava, prostituta, bastarda? O Brasil é uma nação de bastardos? A ideia é revelar ao público a história inédita dessa mulher - cujo enredo conta muito da história do Brasil, vista por de trás dos panos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita as premissas essenciais de "Eugênia", na realidade Eugênia José de Menezes, filha do governador de Minas Gerais no final do século XVIII e amante de Dom João VI - tendo ficado grávida e a fim de evitar maiores escândalos, ela é banida da corte. No caso do presente monólogo, de autoria de Miriam Halfim, a personagem retorna do mundo dos mortos para narrar sua versão dos fatos. Em cartaz no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), a montagem conta com direção de Sidnei Cruz e interpretação de Gisela de Castro.
Sendo a escritora, dramaturga e, para não me estender em demasia, a intelectual que é, em nada me surpreende que Miriam Halfim tenha feito extensa pesquisa sobre a personalidade que retrata e recria, podendo ser citados os livros "O português que nos pariu", "1808", "Carlota Joaquina, a rainha devassa", "1822" e "O segredo da bastarda". Torna-se evidente, portanto, que a autora tem pleno domínio do que está falando. Ainda assim, e mesmo reconhecendo os méritos do que escreveu, permito-me algumas questões - na realidade, basicamente uma única questão. Mas comecemos pelos méritos.
O texto é quase sempre muito engraçado, repleto de ironias e, em muitos momentos, de revelações surpreendentes - como se sabe, a História que nos é ensinada nos bancos escolares difere muito da que de fato aconteceu, posto que normalmente limita-se em atender aos interesses das classes dominantes. Assim, é muito provável que a plateia acompanhe com assombro a espantosa saga da protagonista, mesmo que ela contenha inserções ditadas pela imaginação da autora - tal fato, aliás, nada tem de equivocado, posto que a presente obra não nos é apresentada como uma biografia oficial e muito menos autorizada (isto seria impossível, evidentemente...)
No entanto, e mesmo reconhecendo as virtudes acima mencionadas, creio que a opção pelo monólogo minimiza um pouco o alcance de alguns objetivos mencionados no parágrafo inicial. E isto se dá pelo grande número de situações evocadas, já que algumas delas poderiam render belas cenas com mais personagens. Dada a presente estrutura narrativa, praticamente temos que nos contentar com a exposição de fatos e muito menos com uma reflexão cênica mais aprofundada sobre os mesmos. Mas, enfim...trata-se apenas de uma opinião e, como tal, sujeita a todos os enganos.
Com relação ao espetáculo, Sidnei Cruz impõe à cena uma dinâmica vertiginosa, repleta de soluções imprevistas e criativas, valorizando ao máximo o potencial crítico e divertido do texto. E cabe também ressaltar sua excelente parceria com Gisela de Castro - além de exibir presença, carisma, ótima voz e irretocável trabalho corporal, a atriz consegue estabelecer uma tal cumplicidade com a plateia que a mesma se delicia com o que assiste ao longo de todo o espetáculo.
Na equipe técnica, José Dias responde por uma cenografia engenhosa, basicamente composta por um grande caixote de onde, inicialmente, a atriz emerge (seu túmulo, certamente) e mais adiante todos os demais objetos que compõem a cena. Aurélio de Simoni ilumina a montagem de forma magistral, contribuindo decisivamente para estabelecer e/ou enfatizar os muitos climas emocionais em jogo. Samuel Abrantes assina figurinos e adereços deslumbrantes, impregnados de teatralidade e fantasia - quanto ao design de aparência, também de sua responsabilidade, achei a expressão chiquérrima, mas não sei o que significa. A destacar também as preciosas colaborações de Beto Lemos (direção musical, composição e execução), Morena Cattoni (preparação corporal) e Verônica Machado (preparação vocal).
EUGÊNIA - Texto de Miriam Halfim. Direção de Sidnei Cruz. Com Gisela de Castro. Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea). Sexta a domingo, 20h30.
"Eugênia"
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Divertida saga no Planetário
Lionel Fischer
"A peça pretende discutir o papel da mulher na formação da identidade brasileira, levantando questões de gênero ao longo da história, mas lançando um olhar contemporâneo sobre a mulher no final do século XVIII e início do XIX. Quem foi Eugênia - bela, sedutora, amada, usada, grávida, confinada em um convento? O intuito é revelar o feminino oculto e velado dentro de uma sociedade machista. O que significava/significa ser esposa, amante, concubina, mãe, freira, escrava, prostituta, bastarda? O Brasil é uma nação de bastardos? A ideia é revelar ao público a história inédita dessa mulher - cujo enredo conta muito da história do Brasil, vista por de trás dos panos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita as premissas essenciais de "Eugênia", na realidade Eugênia José de Menezes, filha do governador de Minas Gerais no final do século XVIII e amante de Dom João VI - tendo ficado grávida e a fim de evitar maiores escândalos, ela é banida da corte. No caso do presente monólogo, de autoria de Miriam Halfim, a personagem retorna do mundo dos mortos para narrar sua versão dos fatos. Em cartaz no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), a montagem conta com direção de Sidnei Cruz e interpretação de Gisela de Castro.
Sendo a escritora, dramaturga e, para não me estender em demasia, a intelectual que é, em nada me surpreende que Miriam Halfim tenha feito extensa pesquisa sobre a personalidade que retrata e recria, podendo ser citados os livros "O português que nos pariu", "1808", "Carlota Joaquina, a rainha devassa", "1822" e "O segredo da bastarda". Torna-se evidente, portanto, que a autora tem pleno domínio do que está falando. Ainda assim, e mesmo reconhecendo os méritos do que escreveu, permito-me algumas questões - na realidade, basicamente uma única questão. Mas comecemos pelos méritos.
O texto é quase sempre muito engraçado, repleto de ironias e, em muitos momentos, de revelações surpreendentes - como se sabe, a História que nos é ensinada nos bancos escolares difere muito da que de fato aconteceu, posto que normalmente limita-se em atender aos interesses das classes dominantes. Assim, é muito provável que a plateia acompanhe com assombro a espantosa saga da protagonista, mesmo que ela contenha inserções ditadas pela imaginação da autora - tal fato, aliás, nada tem de equivocado, posto que a presente obra não nos é apresentada como uma biografia oficial e muito menos autorizada (isto seria impossível, evidentemente...)
No entanto, e mesmo reconhecendo as virtudes acima mencionadas, creio que a opção pelo monólogo minimiza um pouco o alcance de alguns objetivos mencionados no parágrafo inicial. E isto se dá pelo grande número de situações evocadas, já que algumas delas poderiam render belas cenas com mais personagens. Dada a presente estrutura narrativa, praticamente temos que nos contentar com a exposição de fatos e muito menos com uma reflexão cênica mais aprofundada sobre os mesmos. Mas, enfim...trata-se apenas de uma opinião e, como tal, sujeita a todos os enganos.
Com relação ao espetáculo, Sidnei Cruz impõe à cena uma dinâmica vertiginosa, repleta de soluções imprevistas e criativas, valorizando ao máximo o potencial crítico e divertido do texto. E cabe também ressaltar sua excelente parceria com Gisela de Castro - além de exibir presença, carisma, ótima voz e irretocável trabalho corporal, a atriz consegue estabelecer uma tal cumplicidade com a plateia que a mesma se delicia com o que assiste ao longo de todo o espetáculo.
Na equipe técnica, José Dias responde por uma cenografia engenhosa, basicamente composta por um grande caixote de onde, inicialmente, a atriz emerge (seu túmulo, certamente) e mais adiante todos os demais objetos que compõem a cena. Aurélio de Simoni ilumina a montagem de forma magistral, contribuindo decisivamente para estabelecer e/ou enfatizar os muitos climas emocionais em jogo. Samuel Abrantes assina figurinos e adereços deslumbrantes, impregnados de teatralidade e fantasia - quanto ao design de aparência, também de sua responsabilidade, achei a expressão chiquérrima, mas não sei o que significa. A destacar também as preciosas colaborações de Beto Lemos (direção musical, composição e execução), Morena Cattoni (preparação corporal) e Verônica Machado (preparação vocal).
EUGÊNIA - Texto de Miriam Halfim. Direção de Sidnei Cruz. Com Gisela de Castro. Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea). Sexta a domingo, 20h30.
sexta-feira, 17 de abril de 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
(UNIRIO/PROEXC - PROJETO CULTURAL) E
SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RIO DE JANEIRO (SPRJ)
Caríssimos,
O FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA, no dia 24 de abril, às 18h, exibirá STELLA (Stella, 2008, 103 min.), um filme autobiográfico da diretora Sylvie Verheyde, focalizando a jovem adolescente do título que vive com seus pais em um bar na periferia de Paris, aonde atendem trabalhadores da região. Aos 11 anos, admitida em uma famosa escola parisiense, conhece Gladys, filha de um judeu intelectual e, por meio dessa amizade, é apresentada a um novo mundo, oposto a tudo que conhece. O filme trata das novas experiências que irão mudar a vida da jovem para sempre... Um filme fascinante que, por certo, ensejará um estimulante debate e troca de ideias.
SERVIÇO:
ANÁLISE CULTURAL: PROF. DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO
ANÁLISES PSICANALÍTCAS: DR. WALDEMAR ZUSMAN E DR. NEILTON SILVA
DATA: 24 DE ABRIL DE 2015
HORÁRIO: FILME: 18h; ANÁLISE E DEBATE: 20h às 22h.
LOCAL: SALA VERA JANACÓPULOS – UNIRIO
ENDEREÇO: AV. PASTEUR, 296.
ENTRADA FRANCA
Contando sempre com a divulgação e com os nossos agradecimentos pela presença, recebam um grande abraço, Ana Lúcia, Zusman e Neilton.
NOTA: Quem se interessar em adquirir o livro: Fórum de Psicanálise e Cinema: análises culturais e psicanalíticas, de Ana Lúcia de Castro e Neilton Silva, ele se encontra à venda pelo site - www.travessa.com.br/ - e nas diversas filiais da Livraria da Travessa, assim como nos dias do FÓRUM.
Igualmente, o livro do Dr. Waldemar Zusman: Poemas & Textos de um Psicanalista: rimas, risos & reflexões, poderá ser adquirido no Fórum.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Saco e Vanzetti"
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Poderoso libelo contra o preconceito e a hipocrisia
Lionel Fischer
"Os italianos Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti emigraram para os Estados Unidos quando jovens, no início do século XX, separadamente. Tendo Boston como nova morada, Sacco passou a trabalhar numa fábrica de calçados, enquanto Vanzetti desempenhou várias funções, dentre elas a de vendedor de peixe. A dupla se conheceu ao frequentar círculos anarquistas ítalo-americanos. Em maio de 1920, detidos em um comício anarquista por estar de posse de panfletos e algumas armas, foram acusados por assalto e assassinato de dois homens. Não havia qualquer prova contra eles, mas a Justiça montou um processo que acabou se transformando num ato político: um gesto exemplar para as classes perigosas. Nem mesmo a confissão de um detento que assumiu o crime serviu para impedir que ambos fossem executados na cadeira elétrica em 23 de agosto de 1927".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto de "Sacco e Vanzetti", primeira montagem da Companhia Ensaio Aberto no Armazém da Utopia, no Cais do Porto, que volta agora a ser exibida. De autoria do argentino Maurício Kartun, a peça conta com direção de Luiz Fernando Lobo e tem elenco formado por Adriano Soares, Alain Catein, Bruno Peixoto, Danielle Oliveira, Diego Diener, Douglas Amaral, Gilberto Miranda, João Rafael Schuler, João Raphael Alves, Luiza Moraes, Luiz Fernando Lobo, Nathália Marçal, Taís Alves, Tuca Moraes, Victor Oliveira e Vinícius Domingues.
Quem está minimamente familiarizado com o "caso Sacco e Vanzetti" e possui um grau mínimo de lucidez e imparcialidade sabe que ambos foram vítimas de um julgamento precipitado e privados de um processo justo, graças às suas convicções políticas. Mas por que estas foram consideradas tão ameaçadoras? Para o jurista Edmund Morgan, da Universidade de Harvard, que investigou o processo e o julgamento durante vários anos, Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti foram "vítimas de uma sociedade preconceituosa, chauvinista e perversa".
Curiosamente, em 1977, o governador de Massachusetts, Michael Dukakis, assinou uma declaração na qual reconheceu a injustiça cometida pelo tribunal e reabilitou o nome dos dois italianos. Será que tal ato contribuiu para reafirmar a máxima de que "a Justiça tarda, mas não falha?". Pode ser. Mas prefiro acreditar que a Justiça, ao menos quando aplicada aos menos favorecidos, não apenas tarda, mas quase sempre falha.
Com relação ao texto de Maurício Kartun, este exibe excelente carpintaria teatral e consegue retratar, com uma mescla de objetividade e emoção, o hediondo massacre humano de que foram vítimas os protagonistas. E ao mesmo tempo não deixa de facultar ao espectador um acurado exame das condições sociais e políticas que permitiram tal barbárie, e justamente em um país que apregoa deter o monopólio da liberdade e da justiça.
No tocante à montagem, as mesmas e preciosas virtudes que atribuo ao texto (objetividade e emoção) estão presentes na encenação de Luiz Fernando Lobo. E sendo este um declarado discípulo de Bertolt Brecht, nada mais natural que nos emocionemos com a trágica trajetória de Sacco e Vanzetti, mas sem que esta emoção se sobreponha à indispensável reflexão sobre os fatos retratados. Estamos diante de uma montagem impregnada de aspereza e tragicidade, de extremo rigor em termos formais e de exemplar coerência do ponto de vista estilístico. E cujo êxito também se deve, como não poderia deixar de ser, ao trabalho de todo elenco, cuja coesão e inteligência cênica considero impecáveis.
Na equipe técnica, são realmente notáveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - J.C. Serroni (cenografia), César de Ramires (iluminação e direção técnica), Beth Filipecki e Renaldo Machado (figurinos), Luiz Felipe Radicetti (música e direção musical), Tuca Moraes (preparação corporal) e Aurora Dias (preparação vocal).
SACCO E VANZETTI - Texto de Maurício Kartun. Direção de Luiz Fernando Lobo. Com a Companhia Ensaio Aberto. Armazém da Utopia (Cais do porto). Sexta às 21h. Sábado e Domingo, 19h.
"Saco e Vanzetti"
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Poderoso libelo contra o preconceito e a hipocrisia
Lionel Fischer
"Os italianos Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti emigraram para os Estados Unidos quando jovens, no início do século XX, separadamente. Tendo Boston como nova morada, Sacco passou a trabalhar numa fábrica de calçados, enquanto Vanzetti desempenhou várias funções, dentre elas a de vendedor de peixe. A dupla se conheceu ao frequentar círculos anarquistas ítalo-americanos. Em maio de 1920, detidos em um comício anarquista por estar de posse de panfletos e algumas armas, foram acusados por assalto e assassinato de dois homens. Não havia qualquer prova contra eles, mas a Justiça montou um processo que acabou se transformando num ato político: um gesto exemplar para as classes perigosas. Nem mesmo a confissão de um detento que assumiu o crime serviu para impedir que ambos fossem executados na cadeira elétrica em 23 de agosto de 1927".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto de "Sacco e Vanzetti", primeira montagem da Companhia Ensaio Aberto no Armazém da Utopia, no Cais do Porto, que volta agora a ser exibida. De autoria do argentino Maurício Kartun, a peça conta com direção de Luiz Fernando Lobo e tem elenco formado por Adriano Soares, Alain Catein, Bruno Peixoto, Danielle Oliveira, Diego Diener, Douglas Amaral, Gilberto Miranda, João Rafael Schuler, João Raphael Alves, Luiza Moraes, Luiz Fernando Lobo, Nathália Marçal, Taís Alves, Tuca Moraes, Victor Oliveira e Vinícius Domingues.
Quem está minimamente familiarizado com o "caso Sacco e Vanzetti" e possui um grau mínimo de lucidez e imparcialidade sabe que ambos foram vítimas de um julgamento precipitado e privados de um processo justo, graças às suas convicções políticas. Mas por que estas foram consideradas tão ameaçadoras? Para o jurista Edmund Morgan, da Universidade de Harvard, que investigou o processo e o julgamento durante vários anos, Nicola Sacco e Bartolomeu Vanzetti foram "vítimas de uma sociedade preconceituosa, chauvinista e perversa".
Curiosamente, em 1977, o governador de Massachusetts, Michael Dukakis, assinou uma declaração na qual reconheceu a injustiça cometida pelo tribunal e reabilitou o nome dos dois italianos. Será que tal ato contribuiu para reafirmar a máxima de que "a Justiça tarda, mas não falha?". Pode ser. Mas prefiro acreditar que a Justiça, ao menos quando aplicada aos menos favorecidos, não apenas tarda, mas quase sempre falha.
Com relação ao texto de Maurício Kartun, este exibe excelente carpintaria teatral e consegue retratar, com uma mescla de objetividade e emoção, o hediondo massacre humano de que foram vítimas os protagonistas. E ao mesmo tempo não deixa de facultar ao espectador um acurado exame das condições sociais e políticas que permitiram tal barbárie, e justamente em um país que apregoa deter o monopólio da liberdade e da justiça.
No tocante à montagem, as mesmas e preciosas virtudes que atribuo ao texto (objetividade e emoção) estão presentes na encenação de Luiz Fernando Lobo. E sendo este um declarado discípulo de Bertolt Brecht, nada mais natural que nos emocionemos com a trágica trajetória de Sacco e Vanzetti, mas sem que esta emoção se sobreponha à indispensável reflexão sobre os fatos retratados. Estamos diante de uma montagem impregnada de aspereza e tragicidade, de extremo rigor em termos formais e de exemplar coerência do ponto de vista estilístico. E cujo êxito também se deve, como não poderia deixar de ser, ao trabalho de todo elenco, cuja coesão e inteligência cênica considero impecáveis.
Na equipe técnica, são realmente notáveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - J.C. Serroni (cenografia), César de Ramires (iluminação e direção técnica), Beth Filipecki e Renaldo Machado (figurinos), Luiz Felipe Radicetti (música e direção musical), Tuca Moraes (preparação corporal) e Aurora Dias (preparação vocal).
SACCO E VANZETTI - Texto de Maurício Kartun. Direção de Luiz Fernando Lobo. Com a Companhia Ensaio Aberto. Armazém da Utopia (Cais do porto). Sexta às 21h. Sábado e Domingo, 19h.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Teatro/CRÍTICA
"No se pude vívír sín amor"
............................................................................
Fortes emoções no Galpão das Artes
Lionel Fischer
Jornalista, dramaturgo e escritor, o gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996) deixou uma obra vasta e diversificada, em grande parte abrangendo temas como o amor, o sexo, o medo, a solidão e a morte. Valendo-se de uma escrita intimista e passional, marcada por absoluta sinceridade, o autor conquistou uma grande legião de admiradores, que continua aumentando à medida que sua obra é reeditada ou ganha novas adaptações para o palco.
No presente caso, o espetáculo reúne, dentre outros, textos extraídos dos volumes "Pequenas epifanias", "Pedras de Calcutá", "Ovelhas negras", "Morangos mofados" e "Triângulo das águas", além de um poema e duas cartas inéditas escritas por Caio para sua grande amiga Nara Keiserman, responsável pela concepção e dramaturgia do espetáculo, e sua única intérprete. Demetrio Nicolau responde pela direção da montagem, em cartaz no Galpão das Artes (Espaço Tom Jobim).
Como expresso no parágrafo inicial, aqui o tema predominante é o amor. E certamente poderia me deter em particularizar um ou mais textos, tecendo considerações sobre os mesmos. Mas como os considero excelentes, julgo mais produtivo me focar na circunstância cênica que contribui para torná-los ainda mais atraentes.
No início do espetáculo, Nara Keiserman empreende aparentes exercício vocais. E digo aparentes porque, mais do que aquecer a própria voz, me parece que a atriz está aquecendo todo o seu corpo e, em particular, seu coração. A partir daí, tendo atingido o estado almejado, Nara canta, dança e, naturalmente, diz os textos de Caio, ora sentada em uma cadeira, ora aproximando-se e afastando-se de fechados focos de luz, como a sugerir que o visível e o invisível possuem idêntica importância.
E certamente a dinâmica cênica criada por Demetrio Nicolau, parceiro de palco e de vida da atriz, contribui de forma decisiva para que Nara Keiserman possa extrair o máximo potencial dos belos textos selecionados, cabendo registrar a genuína emoção da intérprete ao ler as cartas que Caio lhe endereçou.
E já que falei em emoção, acho imperioso ressaltar que o espetáculo só faz ratificar a mais bela definição de teatro que conheço, proferida pelo inglês Peter Brook: "O Teatro é a arte do encontro". Portanto, aqueles que acreditam na veracidade de tal assertiva não podem se dar ao luxo de perder um evento teatral tão marcante como este. Porque, além de poderem usufruir um maravilhoso encontro com Nara Keiserman e Caio Fernando Abreu, certamente terão um encontro igualmente belo consigo mesmos.
Na equipe técnica, Demetrio Nicolau responde (como já implícito) por sensível iluminação, sendo igualmente irretocáveis a cenografia e figurino de Carlos Alberto Nunes, a maquiagem de Mona Magalhães e a orientação musical de Alba Lírio.
NO SE PUEDE VÍVÍR SÍN AMOR - Textos de Caio Fernando Abreu. Direção de Demetrio Nicolau. Concepção, dramaturgia e atuação de Nara Keiserman. Galpão das Artes (Espaço Tom Jobim). Sexta e sábado, 20h30. Domingo, 19h30.
"No se pude vívír sín amor"
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Fortes emoções no Galpão das Artes
Lionel Fischer
Jornalista, dramaturgo e escritor, o gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996) deixou uma obra vasta e diversificada, em grande parte abrangendo temas como o amor, o sexo, o medo, a solidão e a morte. Valendo-se de uma escrita intimista e passional, marcada por absoluta sinceridade, o autor conquistou uma grande legião de admiradores, que continua aumentando à medida que sua obra é reeditada ou ganha novas adaptações para o palco.
No presente caso, o espetáculo reúne, dentre outros, textos extraídos dos volumes "Pequenas epifanias", "Pedras de Calcutá", "Ovelhas negras", "Morangos mofados" e "Triângulo das águas", além de um poema e duas cartas inéditas escritas por Caio para sua grande amiga Nara Keiserman, responsável pela concepção e dramaturgia do espetáculo, e sua única intérprete. Demetrio Nicolau responde pela direção da montagem, em cartaz no Galpão das Artes (Espaço Tom Jobim).
Como expresso no parágrafo inicial, aqui o tema predominante é o amor. E certamente poderia me deter em particularizar um ou mais textos, tecendo considerações sobre os mesmos. Mas como os considero excelentes, julgo mais produtivo me focar na circunstância cênica que contribui para torná-los ainda mais atraentes.
No início do espetáculo, Nara Keiserman empreende aparentes exercício vocais. E digo aparentes porque, mais do que aquecer a própria voz, me parece que a atriz está aquecendo todo o seu corpo e, em particular, seu coração. A partir daí, tendo atingido o estado almejado, Nara canta, dança e, naturalmente, diz os textos de Caio, ora sentada em uma cadeira, ora aproximando-se e afastando-se de fechados focos de luz, como a sugerir que o visível e o invisível possuem idêntica importância.
E certamente a dinâmica cênica criada por Demetrio Nicolau, parceiro de palco e de vida da atriz, contribui de forma decisiva para que Nara Keiserman possa extrair o máximo potencial dos belos textos selecionados, cabendo registrar a genuína emoção da intérprete ao ler as cartas que Caio lhe endereçou.
E já que falei em emoção, acho imperioso ressaltar que o espetáculo só faz ratificar a mais bela definição de teatro que conheço, proferida pelo inglês Peter Brook: "O Teatro é a arte do encontro". Portanto, aqueles que acreditam na veracidade de tal assertiva não podem se dar ao luxo de perder um evento teatral tão marcante como este. Porque, além de poderem usufruir um maravilhoso encontro com Nara Keiserman e Caio Fernando Abreu, certamente terão um encontro igualmente belo consigo mesmos.
Na equipe técnica, Demetrio Nicolau responde (como já implícito) por sensível iluminação, sendo igualmente irretocáveis a cenografia e figurino de Carlos Alberto Nunes, a maquiagem de Mona Magalhães e a orientação musical de Alba Lírio.
NO SE PUEDE VÍVÍR SÍN AMOR - Textos de Caio Fernando Abreu. Direção de Demetrio Nicolau. Concepção, dramaturgia e atuação de Nara Keiserman. Galpão das Artes (Espaço Tom Jobim). Sexta e sábado, 20h30. Domingo, 19h30.
Teatro/CRÍTICA
"Um recital à brasileira"
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Emocionante encontro com a Poesia
Lionel Fischer
"Somos filhos da língua, ela é parte fundamental da nossa identidade. Somos irmãos de Portugal, separados por um Atlântico e unidos pela História. Unir poetas brasileiros e portugueses nos irmana ainda mais. A nossa bandeira é a Poesia". (Elisa Lucinda). "O espetáculo aproxima o público da poesia, que tantas vezes se viu sufocada pelo excesso de formalidades e pompas da habitual declamação". (Geovana Pires).
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima, assinado pelas duas intérpretes, resume as premissas fundamentais que norteiam "Um recital à brasileira", mais recente produção da Companhia da Outra. Em cartaz na Sala Tônia Carrero (Teatro do Leblon), a montagem conta com roteiro e direção de Elisa Lucinda e Geovana Pires, com Amir Haddad assinando a supervisão artística.
Já apresentada com grande sucesso em diversas cidades brasileiras e também em Portugal (em curto vídeo exibido, o escritor José Saramago profere emocionadas palavras sobre o espetáculo), a montagem reúne 32 poemas de autores como Adélia Prado, Fernando Pessoa, Manoel Alegre, José Régio, Mário Quintana, Bocage, Camões e da própria Elisa Lucinda, dentre outros. E se a qualidade dos poetas selecionados já valeria, em princípio, uma ida ao teatro, a forma como são ditos e encenados confere à presente empreitada um valor e um charme absolutamente especiais.
Desde que começou a dar aulas, há cerca de 15 anos, Elisa Lucinda sempre incutiu em seus alunos a ideia de que é possível dizer poesia sem ser chato. Ou seja: renunciando a empoladas impostações e gestos grandiloquentes, e priorizando a simplicidade e o entendimento. Sua ex-aluna e mais adiante professora e sócia da Casa Poema, Geovana Pires absorveu por completo os ensinamentos da mestra e a parceria entre ambas se mostra cada vez mais sólida e encantadora a cada novo trabalho.
Costuma-se dizer que há sempre uma distância entre intenção e gesto. Mas aqui não há distância alguma entre as palavras proferidas e as emoções que geram, posto que as palavras são ditas e vivenciadas de tal forma que a plateia tem a sensação de que elas brotam não do palco, mas de todos os corações presentes. Sem dúvida, um espetáculo que merece ser prestigiado de forma incondicional por todos aqueles que já amam a poesia e, certamente, por todos que começarão a amá-la a partir deste encontro tão essencial com Elisa Lucinda e Geovana Pires.
Na equipe técnica, Cristina Cordeiro responde por belos e sensuais figurinos, assim como por uma despojada cenografia composta por duas estantes e duas cadeiras, assim como por uma mesa farta de frutas, uma espécie de simbólico convite para degustações não necessariamente (ou exclusivamente) de natureza frutífera. Djalma Amaral ilumina a cena com simplicidade e eficiência.
UM RECITAL À BRASILEIRA - Textos de vários poetas. Roteiro e direção de Elisa Lucinda e Geovana Pires. Supervisão artística de Amir Haddad. Com Elisa Lucinda e Geovana Pires. Sala Tônia Carrero (Teatro do Leblon). Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.
"Um recital à brasileira"
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Emocionante encontro com a Poesia
Lionel Fischer
"Somos filhos da língua, ela é parte fundamental da nossa identidade. Somos irmãos de Portugal, separados por um Atlântico e unidos pela História. Unir poetas brasileiros e portugueses nos irmana ainda mais. A nossa bandeira é a Poesia". (Elisa Lucinda). "O espetáculo aproxima o público da poesia, que tantas vezes se viu sufocada pelo excesso de formalidades e pompas da habitual declamação". (Geovana Pires).
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima, assinado pelas duas intérpretes, resume as premissas fundamentais que norteiam "Um recital à brasileira", mais recente produção da Companhia da Outra. Em cartaz na Sala Tônia Carrero (Teatro do Leblon), a montagem conta com roteiro e direção de Elisa Lucinda e Geovana Pires, com Amir Haddad assinando a supervisão artística.
Já apresentada com grande sucesso em diversas cidades brasileiras e também em Portugal (em curto vídeo exibido, o escritor José Saramago profere emocionadas palavras sobre o espetáculo), a montagem reúne 32 poemas de autores como Adélia Prado, Fernando Pessoa, Manoel Alegre, José Régio, Mário Quintana, Bocage, Camões e da própria Elisa Lucinda, dentre outros. E se a qualidade dos poetas selecionados já valeria, em princípio, uma ida ao teatro, a forma como são ditos e encenados confere à presente empreitada um valor e um charme absolutamente especiais.
Desde que começou a dar aulas, há cerca de 15 anos, Elisa Lucinda sempre incutiu em seus alunos a ideia de que é possível dizer poesia sem ser chato. Ou seja: renunciando a empoladas impostações e gestos grandiloquentes, e priorizando a simplicidade e o entendimento. Sua ex-aluna e mais adiante professora e sócia da Casa Poema, Geovana Pires absorveu por completo os ensinamentos da mestra e a parceria entre ambas se mostra cada vez mais sólida e encantadora a cada novo trabalho.
Costuma-se dizer que há sempre uma distância entre intenção e gesto. Mas aqui não há distância alguma entre as palavras proferidas e as emoções que geram, posto que as palavras são ditas e vivenciadas de tal forma que a plateia tem a sensação de que elas brotam não do palco, mas de todos os corações presentes. Sem dúvida, um espetáculo que merece ser prestigiado de forma incondicional por todos aqueles que já amam a poesia e, certamente, por todos que começarão a amá-la a partir deste encontro tão essencial com Elisa Lucinda e Geovana Pires.
Na equipe técnica, Cristina Cordeiro responde por belos e sensuais figurinos, assim como por uma despojada cenografia composta por duas estantes e duas cadeiras, assim como por uma mesa farta de frutas, uma espécie de simbólico convite para degustações não necessariamente (ou exclusivamente) de natureza frutífera. Djalma Amaral ilumina a cena com simplicidade e eficiência.
UM RECITAL À BRASILEIRA - Textos de vários poetas. Roteiro e direção de Elisa Lucinda e Geovana Pires. Supervisão artística de Amir Haddad. Com Elisa Lucinda e Geovana Pires. Sala Tônia Carrero (Teatro do Leblon). Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.
sexta-feira, 10 de abril de 2015
O ATOR E O TEXTO
Oficina com o diretor Eduardo Wotzik |
De 13 a 17 de abril de 2015
Segunda-feira, das 20h às 23h - Palestra com o diretor: O Ator e o Texto
Terça a Sexta, das 10h às 14h - Mergulho prático
Público-alvo: atores, profissionais de teatro (acima de 18 anos), professores, pesquisadores, produtores, roteiristas
Inscrições: encontroscomeduardowotzik@gmail.com
Enviar curriculo e carta de intenção. Vagas Limitadas
TEATRO DO LEBLON - Rio de Janeiro
Rua Conde de Bernadote, 26 - Leblon
|
quinta-feira, 9 de abril de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Bilac vê estrelas"
....................................................
Deliciosa comédia musical
Lionel Fischer
"A história se passa no início do século XX, em plena Belle Époque carioca, e apresenta personagens históricos como o poeta Olavo Bilac e o jornalista José do Patrocínio, em uma trama que mistura ficção e realidade. Os dois amigos têm que enfrentar a cobiça de uma espiã portuguesa que se alia a padre Maximiliano, interessados no projeto de um dirigível criado por Patrocínio".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo da comédia musical "Bilac vê estrelas", baseada no romance homônimo de Ruy Castro. Heloisa Seixas e Julia Romeu respondem pela adaptação e roteiro, estando a direção a cargo de João Fonseca. Em cartaz no Teatro dos Quatro, a montagem chega à cena com elenco formado por André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Alice Borges, Sergio Menezes, Reiner Tenente, Jefferson Almeida, Saulo Segreto e Gustavo Klein.
Como não li o romance, não tenho como avaliá-lo. Mas a adaptação feita por Heloisa Seixas e Julia Romeu é tão sedutora que a obra de Ruy Castro tem que ser maravilhosa - a trama é repleta de episódios surpreendentes e hilariantes, protagonizados por ótimos personagens que, na maior parte do tempo, exibem sedutora e ingênua malícia.
Com relação ao espetáculo, João Fonseca impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. As marcações são ágeis, leves e muito divertidas, e os tempos rítmicos trabalhados com extrema precisão. Afora isto, Fonseca conseguiu extrair ótimas atuações do elenco.
Na pele de Olavo Bilac, André Dias realiza um trabalho primoroso. Exibindo esmerado trabalho corporal, voz belíssima e apuradíssimo tempo de comédia, o ator realiza aqui uma das melhores performances de sua brilhante carreira. A mesma eficiência se faz presente na atuação de Izabella Bicalho (Dona Eduarda Bandeira, espiã portuguesa, e Mocinha), cuja voz dispensa comentários (alguém consegue se esquecer de sua atuação em "Gota d'água"?) e que aqui exercita seu lado de comediante com total eficácia.
Outra atuação marcante é a de Tadeu Aguiar: também possuidor de bela voz e forte presença cênica, o ator está engraçadíssimo na pele do padre mau caráter, cabendo destacar sua hilariantes saídas de cena, quando produz uma espécie de chilique corporal que provoca inevitáveis gargalhadas. Vivendo Madame Labiche, que funciona como uma espécie de narradora, Alice Borges convence plenamente na pele de uma personagem em que não explora sua conhecida e maravilhosa veia cômica, mas que funciona plenamente, tanto no canto como nas partes faladas. Com relação aos demais intérpretes, muitos interpretando vários personagens, a atuação de todos contribui de forma decisiva para o sucesso desta deliciosa empreitada teatral.
No tocante à equipe técnica, são irrepreensíveis as contribuições de Nello Marrese (cenografia), Carol Lobato (figurinos), Sueli Guerra (coreografias) e Daniela Sanchez (iluminação). E cabe também destacar a direção musical de Luís Filipe de Lima, as performances dos músicos Daniel Sanches (piano), Jorge Oscar (contrabaixo) e Oscar Bolão (bateria), e as maravilhosas composições originais de Nei Lopes, que abarcam diversos gêneros com o mesmo brilho.
BILAC VÊ ESTRELAS - Texto de Heloisa Seixas e Julia Romeu. Com André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Alice Borges e grande elenco. Direção de João Fonseca. Teatro dos Quatro. Quinta às 19h, sexta e sábado às 21h, domingo às 20h.
"Bilac vê estrelas"
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Deliciosa comédia musical
Lionel Fischer
"A história se passa no início do século XX, em plena Belle Époque carioca, e apresenta personagens históricos como o poeta Olavo Bilac e o jornalista José do Patrocínio, em uma trama que mistura ficção e realidade. Os dois amigos têm que enfrentar a cobiça de uma espiã portuguesa que se alia a padre Maximiliano, interessados no projeto de um dirigível criado por Patrocínio".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo da comédia musical "Bilac vê estrelas", baseada no romance homônimo de Ruy Castro. Heloisa Seixas e Julia Romeu respondem pela adaptação e roteiro, estando a direção a cargo de João Fonseca. Em cartaz no Teatro dos Quatro, a montagem chega à cena com elenco formado por André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Alice Borges, Sergio Menezes, Reiner Tenente, Jefferson Almeida, Saulo Segreto e Gustavo Klein.
Como não li o romance, não tenho como avaliá-lo. Mas a adaptação feita por Heloisa Seixas e Julia Romeu é tão sedutora que a obra de Ruy Castro tem que ser maravilhosa - a trama é repleta de episódios surpreendentes e hilariantes, protagonizados por ótimos personagens que, na maior parte do tempo, exibem sedutora e ingênua malícia.
Com relação ao espetáculo, João Fonseca impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. As marcações são ágeis, leves e muito divertidas, e os tempos rítmicos trabalhados com extrema precisão. Afora isto, Fonseca conseguiu extrair ótimas atuações do elenco.
Na pele de Olavo Bilac, André Dias realiza um trabalho primoroso. Exibindo esmerado trabalho corporal, voz belíssima e apuradíssimo tempo de comédia, o ator realiza aqui uma das melhores performances de sua brilhante carreira. A mesma eficiência se faz presente na atuação de Izabella Bicalho (Dona Eduarda Bandeira, espiã portuguesa, e Mocinha), cuja voz dispensa comentários (alguém consegue se esquecer de sua atuação em "Gota d'água"?) e que aqui exercita seu lado de comediante com total eficácia.
Outra atuação marcante é a de Tadeu Aguiar: também possuidor de bela voz e forte presença cênica, o ator está engraçadíssimo na pele do padre mau caráter, cabendo destacar sua hilariantes saídas de cena, quando produz uma espécie de chilique corporal que provoca inevitáveis gargalhadas. Vivendo Madame Labiche, que funciona como uma espécie de narradora, Alice Borges convence plenamente na pele de uma personagem em que não explora sua conhecida e maravilhosa veia cômica, mas que funciona plenamente, tanto no canto como nas partes faladas. Com relação aos demais intérpretes, muitos interpretando vários personagens, a atuação de todos contribui de forma decisiva para o sucesso desta deliciosa empreitada teatral.
No tocante à equipe técnica, são irrepreensíveis as contribuições de Nello Marrese (cenografia), Carol Lobato (figurinos), Sueli Guerra (coreografias) e Daniela Sanchez (iluminação). E cabe também destacar a direção musical de Luís Filipe de Lima, as performances dos músicos Daniel Sanches (piano), Jorge Oscar (contrabaixo) e Oscar Bolão (bateria), e as maravilhosas composições originais de Nei Lopes, que abarcam diversos gêneros com o mesmo brilho.
BILAC VÊ ESTRELAS - Texto de Heloisa Seixas e Julia Romeu. Com André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Alice Borges e grande elenco. Direção de João Fonseca. Teatro dos Quatro. Quinta às 19h, sexta e sábado às 21h, domingo às 20h.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Consertam-se imóveis"
.....................................................
Imobilidade sem conserto
Lionel Fischer
"A peça conta a história de uma família cuja trama é firmemente entrelaçada, figurando no centro um nó fundamental: a mãe, idosa e enferma. Ao se verem diante de situações inesperadas e de um iminente colapso, todos os seus membros se articulam em desdobrados esforços para poupar a matriarca de sobressaltos que podem ser fatais. Com relativo êxito, este controle dura até que alguns acontecimentos escapam novamente do roteiro inicial, obrigando-os a investir toda a energia em empreender novas mudanças justamente para que nada mais mude".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Consertam-se imóveis", de autoria de Keli Freitas. Em cartaz na Sala Multiuso do Espaço Sesc, a peça chega à cena com direção de Cynthia Reis e elenco formado por Alonso Zerbinato, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento.
No programa distribuído ao público, tanto a autora como a diretora explicitam sua admiração por Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino que se notabilizou, dentre outras razões, por sua fantástica capacidade de investigar facetas inquietantes e enigmáticas do cotidiano. E como toda admiração comporta a possibilidade de influência, esta não deixa de estar presente nesta curiosa e original peça teatral. A começar pelo título.
Como jamais leio nada a respeito de uma obra que vou analisar, inicialmente pensei que a peça em questão poderia girar em torno de reparos em apartamentos - tal ponto de partida haveria de ser um tanto prosaico, certamente, mas cada um escreve sobre o que deseja. No entanto, e mesmo que durante o espetáculo o espaço cênico seja constantemente remodelado, aos poucos foi ficando claro para mim que o "imóveis" do título nada tinha a ver com moradias, mas sim com os personagens, aprisionados em um contexto que não conseguem alterar.
De acordo com o explícito no parágrafo inicial, os personagens empreendem imensos esforços para poupar a matriarca de revelações capazes de agravar seu estado de saúde, físico e mental. Mas agindo assim nada mais fazem do que perpetuar uma situação ilusória, daí resultando uma imobilidade coletiva sem a menor chance de conserto - não sei se esta avaliação está em sintonia com os objetivos da autora; caso esteja, fico feliz; em caso contrário, humildemente me desculpo.
Estruturado não tanto em torno do que é dito, no sentido literal, mas sobretudo por trabalhar as palavras de forma a produzirem novos e inesperados significados (e assim reorganizando e reinventando a realidade), o texto de Keli Freitas evidencia uma dramaturga de ótimo potencial, cuja produção merece ser acompanhada com grande atenção.
Com relação ao espetáculo, Cynthia Reis impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Valendo-se de marcas originais e criativas, e evidenciando notável sensibilidade no tocante aos tempos rítmicos, a encenadora consegue criar uma atmosfera sombria e inquietante, que eventualmente é rompida com inusitados momentos de humor.
No tocante ao elenco, Raquel Alvarenga está engraçadíssima na pele da tia que, além de falar compulsivamente sem se importar se está sendo ouvida ou não, o faz com um sotaque mineiro deliciosamente assombroso. Suzana Nascimento evidencia, como de hábito, excelente trabalho corporal e notável inteligência cênica, valorizando ao extremo tanto as passagens mais hilariantes (como as estranhíssimas aulas de inglês) quanto aquelas em que a dramaticidade predomina. Em papéis de menores oportunidades, já que os mesmos carecem de maiores surpresas, ainda assim Alonso Zerbinato e Jarbas Albuquerque exibem desempenhos seguros e convincentes.
Na equipe técnica, considero irretocáveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Lorena Lima (cenário e produção de arte), Bruno Perlatto (figurino), Paulo César Medeiros (iluminação) e Federico Puppi, que assina a composição e direção musical, e que imagino ser o instrumentista que toca violoncelo com maestria. E gostaria também de ressaltar o fato de que a presente montagem contou com orientação filosófica de Alexandre Mendonça, que certamente foi preciosa para o trabalho do elenco e da direção. E finalmente: são belíssimas as fotos do programa de Guga Millet e não menos belo o projeto gráfico de Raquel Alvarenga.
CONSERTAM-SE IMÓVEIS - Texto de Keli Freitas. Direção de Cynthia Reis. Com Alonso Zerbinato, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento. Sala Multiuso do Espaço Sesc. Sexta e sábado, 19h. Domingo, 18h.
"Consertam-se imóveis"
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Imobilidade sem conserto
Lionel Fischer
"A peça conta a história de uma família cuja trama é firmemente entrelaçada, figurando no centro um nó fundamental: a mãe, idosa e enferma. Ao se verem diante de situações inesperadas e de um iminente colapso, todos os seus membros se articulam em desdobrados esforços para poupar a matriarca de sobressaltos que podem ser fatais. Com relativo êxito, este controle dura até que alguns acontecimentos escapam novamente do roteiro inicial, obrigando-os a investir toda a energia em empreender novas mudanças justamente para que nada mais mude".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Consertam-se imóveis", de autoria de Keli Freitas. Em cartaz na Sala Multiuso do Espaço Sesc, a peça chega à cena com direção de Cynthia Reis e elenco formado por Alonso Zerbinato, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento.
No programa distribuído ao público, tanto a autora como a diretora explicitam sua admiração por Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino que se notabilizou, dentre outras razões, por sua fantástica capacidade de investigar facetas inquietantes e enigmáticas do cotidiano. E como toda admiração comporta a possibilidade de influência, esta não deixa de estar presente nesta curiosa e original peça teatral. A começar pelo título.
Como jamais leio nada a respeito de uma obra que vou analisar, inicialmente pensei que a peça em questão poderia girar em torno de reparos em apartamentos - tal ponto de partida haveria de ser um tanto prosaico, certamente, mas cada um escreve sobre o que deseja. No entanto, e mesmo que durante o espetáculo o espaço cênico seja constantemente remodelado, aos poucos foi ficando claro para mim que o "imóveis" do título nada tinha a ver com moradias, mas sim com os personagens, aprisionados em um contexto que não conseguem alterar.
De acordo com o explícito no parágrafo inicial, os personagens empreendem imensos esforços para poupar a matriarca de revelações capazes de agravar seu estado de saúde, físico e mental. Mas agindo assim nada mais fazem do que perpetuar uma situação ilusória, daí resultando uma imobilidade coletiva sem a menor chance de conserto - não sei se esta avaliação está em sintonia com os objetivos da autora; caso esteja, fico feliz; em caso contrário, humildemente me desculpo.
Estruturado não tanto em torno do que é dito, no sentido literal, mas sobretudo por trabalhar as palavras de forma a produzirem novos e inesperados significados (e assim reorganizando e reinventando a realidade), o texto de Keli Freitas evidencia uma dramaturga de ótimo potencial, cuja produção merece ser acompanhada com grande atenção.
Com relação ao espetáculo, Cynthia Reis impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Valendo-se de marcas originais e criativas, e evidenciando notável sensibilidade no tocante aos tempos rítmicos, a encenadora consegue criar uma atmosfera sombria e inquietante, que eventualmente é rompida com inusitados momentos de humor.
No tocante ao elenco, Raquel Alvarenga está engraçadíssima na pele da tia que, além de falar compulsivamente sem se importar se está sendo ouvida ou não, o faz com um sotaque mineiro deliciosamente assombroso. Suzana Nascimento evidencia, como de hábito, excelente trabalho corporal e notável inteligência cênica, valorizando ao extremo tanto as passagens mais hilariantes (como as estranhíssimas aulas de inglês) quanto aquelas em que a dramaticidade predomina. Em papéis de menores oportunidades, já que os mesmos carecem de maiores surpresas, ainda assim Alonso Zerbinato e Jarbas Albuquerque exibem desempenhos seguros e convincentes.
Na equipe técnica, considero irretocáveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Lorena Lima (cenário e produção de arte), Bruno Perlatto (figurino), Paulo César Medeiros (iluminação) e Federico Puppi, que assina a composição e direção musical, e que imagino ser o instrumentista que toca violoncelo com maestria. E gostaria também de ressaltar o fato de que a presente montagem contou com orientação filosófica de Alexandre Mendonça, que certamente foi preciosa para o trabalho do elenco e da direção. E finalmente: são belíssimas as fotos do programa de Guga Millet e não menos belo o projeto gráfico de Raquel Alvarenga.
CONSERTAM-SE IMÓVEIS - Texto de Keli Freitas. Direção de Cynthia Reis. Com Alonso Zerbinato, Jarbas Albuquerque, Raquel Alvarenga e Suzana Nascimento. Sala Multiuso do Espaço Sesc. Sexta e sábado, 19h. Domingo, 18h.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Pessoal, vamos começar 5 oficinas novas na Casa de
Espanha, Humaitá – RJ: Humor em Foco, com Cláudio Manoel do
Casseta e Planeta, Prepare seu Número para Audição de Musical, com
o Diretor Musical Marcelo Castro, Contação de Histórias com
o diretor Isaac Bernat, Roteiro de Novela na Prática com a
autora de telenovelas Lais Pimentel eDublagem, com Ronaldo
Júlio. Vejam os detalhes da abaixo. Garantam já as suas vagas!
Informações e inscrições: www.atelieartisticodorio.com.br e
99666-9954
HUMOR EM FOCO
Ministrantes: Claudio Manoel (Casseta e
Planeta)
O que é:
A partir de sua experiência de mais de 20 anos
fazendo humor em programas de sucesso como TV Pirata e Casseta e Planeta,
Cláudio Manoel vai abordar as diversas formas de humor, seus limites, suas
nuances, sua utilização em diferentes mídias, épocas e formatos, a criação em
grupo, os prazos e a relação com o mercado de trabalho e o público. Vai
discutir também questões atuais pertinentes ao universo do humor e da
comunicação. Nesses 4 encontros, os alunos vão poder compartilhar um
pouco da experiência de Cláudio, que além de humorista, trabalhou também como
ator, redator e diretor ao longo desses anos. A oficina é voltada para
todos que tem curiosidade sobre humor: estudantes, comunicadores, chargistas,
atores, autores, criadores e interessados em geral.
Público-alvo:
Estudantes,
comunicadores, chargistas, pensadores, atores, autores, criadores e
interessados em humor em geral.
Detalhes
do Curso
·
Pré-requisitos:
Não há
Não há
·
Período:
04 a 25 de maio
04 a 25 de maio
·
Frequência:
segundas
segundas
·
Horário:
das 20h às 22h
das 20h às 22h
·
Preço com desconto:
531 reais
531 reais
590
à vista ou 2x 345,00 = 690,00
PREPARE SEU NÚMERO PARA AUDIÇÃO DE MUSICAL
Ministrantes: Marcelo Castro
O que é:
A partir de sua experiência como Diretor Musical de
espetáculos de grande sucesso como “Saltimbancos Trapalhões”, “Shrek, o
Musical”, “O Mágico de Oz”, “Hair”, “Gypsy” e “Avenida Q”, entre outros,
Marcelo Castro vai orientar os alunos na escolha da música adequada para cada
um e na preparação da mesma para audições de teatro musical, levando em
consideração aspectos como o atual mercado de trabalho, no qual há uma
mistura de belting com técnicas de MPB, o nível de dificuldade da música
escolhida, dicção, experiência prévia do aluno, profissionalismo e outros
cuidados que fazem a diferença na hora de conquistar uma vaga numa produção de
teatro musical.
Público-alvo:
Atores, cantores, dançarinos, estudantes de artes cênicas e interessados
em teatro musical
Detalhes
do Curso
·
Pré-requisitos:
de 14 anos em diante.
de 14 anos em diante.
·
Período:
06 à 27 de maio
·
Frequência:
quartas
quartas
·
Horário:
das 19h30 às 22h30
das 19h30 às 22h30
·
Preço com desconto:
504 reais
504 reais
560
à vista ou 2x 330,00 = 660,00
ROTEIRO DE NOVELA NA PRÁTICA
Ministrante: Lais Mendes Pimentel
O que é:
Autora-roteirista da Rede Globo, com 25 anos de
experiência em jornalismo, Lais Mendes Pimentel colaborou em duas novelas:
Cheias de Charme e Geração Brasil, de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.
A ideia da oficina é tratar dos diversos aspectos por trás do
desenvolvimento de uma novela, narrativa essencialmente brasileira e maior
produto de exportação da dramaturgia nacional. Através de exercícios práticos,
a turma se tornará uma equipe que trabalhará na criação de storyline,
présinopse, perfil de personagens, trilhas, arcos dramáticos, escaletas e
cenas. Usaremos material de arquivo, disponível na internet, para ilustrarmos
fartamente a jornada de uma ideia que se transforma num produto exibido na
televisão. Durante o curso, o contexto histórico e evolutivo das novelas será
abordado para observar para onde caminha a novela do terceiro milênio.
Público-alvo:
Autores,
jornalistas, roteiristas, atores e interessados em geral.
Detalhes
do Curso
·
Pré-requisitos:
Não há
Não há
·
Período:
14 de abril a 10 de junho
14 de abril a 10 de junho
·
Frequência:
Quartas
Quartas
·
Horário:
19:30h às 22h
19:30h às 22h
·
Preço com desconto:
585 reais
585 reais
650
à vista ou 2x 375,00 = 750,00
CONTAÇÃO DE
HISTÓRIAS – O Olhar do Griot
Ministrante: Isaac Bernat
O que é:
A partir dos anos
de convivência com o griot africano Sotigui Kouyaté, a oficina pretende
investigar o papel que o ato de contar histórias individualmente e em grupo
pode ter no reconhecimento da identidade do ator, bem como na afirmação e no
fortalecimento de sua autonomia criadora. A oficina é fundamentada na
convivência de 10 anos com Sotigui Kouyaté que originou a minha tese de
doutorado: “O olhar do griot sobre o ofício do ator: uma reflexão a partir dos
encontros com Sotigui Kouyaté”. Os griots têm uma função indispensável na
África Ocidental, pois são a memória do continente africano. Os griots são
sábios itinerantes, conselheiros dos reis e de chefes tradicionais, mediadores
e mestres de cerimônias em todas as épocas. Conhecidos como mestres da palavra
são também, cantores, músicos e contadores de história.
Através de
exercícios específicos que buscam resgatar a sensibilidade perdida no
cotidiano, o curso pretende expandir a percepção individual de cada aluno bem
como valorizar a noção de grupo através de um Encontro pleno entre os
participantes. Além dos exercícios, haverá um trabalho focado na figura do
contador de histórias que está na base de qualquer tipo de atuação. Através de
exercícios de percepção, escuta, sensibilização e presença, o aluno
experimentará as possibilidades inseridas no ato individual de contar uma
história, conto ou parábola, ao mesmo tempo em que terá a oportunidade de
mergulhar nas questões que surgem ao se tornar um dos elementos do grupo
durante uma contação coletiva.
PROGRAMA
-Vídeo sobre o
griot Sotigui Kouyaté
-Exercícios de
sensibilidade, escuta e jogo-relação.
- Histórias, contos
e provérbios
- Apresentação
final Roda de histórias
Público-alvo:
Contadores
de histórias, atores, não atores, estudantes e interessados em geral.
Detalhes
do Curso
·
Pré-requisitos:
Não há.
Não há.
·
Período:
14 de abril a 09 de junho
14 de abril a 09 de junho
·
Frequência:
Terças
Terças
·
Horário:
das 19h30m às 22h30m
das 19h30m às 22h30m
·
Preço com desconto:
540 reais
540 reais
600 reais à vista ou 2 x 350 reais = 700 reais.
DUBLAGEM
Ministrante: Ronaldo Júlio
O que é:
O Workshop objetiva familiarizar os alunos com as técnicas de dublagem
como sincronização de texto em português com imagem original, dicção, memória,
desenvolvimento de repertório de vozes, conhecimento do mercado e dos termos
técnicos da área. Os alunos terão a possiblidade de experimentar na
prática o procedimento utilizado nos estúdios de dublagem, assistindo às cenas
propostas, formatando a versão brasileira e colocando suas vozes sobre
elas. Suas dublagens comentadas e analisadas pela professora em sala
de aula.
Público-alvo:
Atores
e não atores de todas as idades
Detalhes
do Curso
·
Pré-requisitos:
Não há
Não há
·
Período:
14 de abril a 09 de junho
14 de abril a 09 de junho
·
Frequência:
Terças
Terças
·
Horário:
das 19h30 às 22h30
das 19h30 às 22h30
·
Preço com desconto:
720 reais
720 reais
800 reais à vista ou 2 x 450 reais = 900 reais
SERVIÇO DE BOOK FOTOGRÁFICO
Fotógrafo:
Sergio Santoian
O que é:
Faça seu book fotográfico com o fotógrafo Sérgio Santoian, incluindo 3
looks diferentes, 12 fotos tratadas e fornecimento de todo o material bruto.
Oferecemos ainda os serviços opcionais de Make-up (valor a combinar) e produção
do look (100 reais o look).
Público-alvo:
Atores e estudantes de teatro.
Detalhes do Serviço
Para agendar sua sessão de fotos, inscreva-se abaixo, que entraremos em
contato para agendar sua sessão de fotos.
390,00 à vista
(serviço não parcelado)
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: www.atelieartisticodorio.com.br E 21
3449-3712 e 21 99666-9954
Clube Casa de Espanha - Rua Vitório da Costa 254 – Humaitá - RJ