Teatro/CRÍTICA
"Madame Bovary"
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Brilhante adaptação de obra-prima
Lionel Fischer
"Madame Bovary sou eu".
A frase, dita por Gustave Flaubert (1821-1880) na Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena, sintetiza sua defesa ante as acusações de ofensa à moral e à religião que lhe foram feitas quando da publicação de seu romance "Madame Bovary". Flaubert acabou absolvido pelo tribunal, mas os críticos puritanos da época não o perdoaram pelo tratamento (segundo eles) cru que tinha dado ao tema do adultério e, fundamentalmente, pelas ácidas críticas ao clero e à burguesia.
Considerado o primeiro romance realista da história da literatura e sem dúvida uma das maiores obras-primas já escritas, "Madame Bovary" ganha agora uma adaptação teatral, assinada por Bruno Lara Resende, também responsável pela tradução. Em cartaz no Teatro dos Quatro, a montagem conta com direção de Bruno Lara Resende e Rafaela Amado (com colaboração artística no espetáculo de Marcio Abreu e André Lepecki). No elenco, Raquel Iantas, Joelson Medeiros, Alcemar Vieira, Lourival Prudêncio e Vilma Mello.
"A linda Emma, mortalmente insatisfeita com sua vida pequeno-burguesa no interior da França, anseia por luxo, prestígio e paixão e quer, desesperadamente, deixar para trás o que considera medíocre e pobre. Charles, seu marido, homem comum, conformado, fiel, leal, está cegamente apaixonado, mas é incapaz de acender a mais leve faísca na mulher que idolatra. Os choques entre visões de mundo, desejos e objetivos - e suas consequências - constroem, ao mesmo tempo com ironia e empatia, um dos romances mais referenciais da literatura ocidental: Madame Bovary".
Extraído do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo do extraordinário romance. Mas por que extraordinário, poderia indagar alguém que não tenha lido a obra?
E tal indagação não seria nem um pouco despropositada, já que o livro possui um enredo simples e todos os personagens quase nunca transcendem a mais absoluta mediocridade. Sendo assim, o que confere a "Madame Bovary" o status de obra-prima?
Bem, aqui poderia citar uma infinidade de análises de críticos literários, ensaístas e filósofos que se debruçaram sobre a obra. Mas volto ao release, que sintetiza em duas frases o que me parece essencial: "A força do livro não está na sua história. O que faz a diferença é a qualidade do texto, a beleza e força insuperáveis dessa narrativa". Isto posto, passemos ao espetáculo.
Inicialmente cabe registrar a maravilhosa adaptação feita por Bruno Lara Resende, que permite apreender o que de mais essencial existe na história. E esta foi materializada na cena de forma não menos brilhante, tanto pela opção narrativa adotada - os atores encarnam os personagens e ao mesmo tempo narram e comentam os acontecimentos - quanto pela dinâmica cênica em si, cuja expressividade é fruto de marcações muito criativas e da inventiva manipulação dos poucos objetos cênicos - cadeiras e mesas. Sem dúvida, um dos melhores espetáculos da atual temporada, que merece ser prestigiado de forma incondicional pelo público.
Com relação ao elenco, Raquel Iantas consegue valorizar, de forma extremamente sensível, todas as características de sua complexa personagem, convencendo tantos nas passagens em que Emma exibe submissão e conformismo quanto naquelas em que parece possuída do furor das grandes tempestades. Sem dúvida a atriz exibe aqui a melhor performance de sua carreira - afora o fato de, não custa nada lembrar, estar mais linda do que nunca, em especial nas passagens em que, diáfana, caminha pelo palco com uma deslumbrante echarpe lilás...
O mesmo pode ser dito de Joelson Medeiros, que constrói um Charles apaixonado, totalmente devotado à mulher, alma ingênua e pura, incapaz de qualquer desconfiança, capaz de todos os sacrifícios para fazer Emma feliz. Seu desempenho é emocionante e emocionado, e ouso supor que o ator às vezes nem consiga camuflar sua emoção no desempenho do papel - posso estar enganado, mas na noite em que assisti ao espetáculo, logo depois de Charles dizer a Emma "Mas o que vai ser de minha mãe?" (ou algo parecido), tive a impressão de que Joelson, ao deixar o palco, enxugou discretamente uma furtiva lágrima. Ou terão sido duas?
Igualmente maravilhosas as participações de Alcemar Vieira, Lourival Prudêncio e Vilma Mello, que se revezam em diversos personagens, de todos eles extraindo o máximo que é possível. E aqui gostaria de deixar bem clara minha irrestrita admiração por estes profissionais que, circunstancialmente nesta montagem atuando como coadjuvantes, contribuem de forma decisiva para o seu absoluto êxito. Portanto, vida longa aos coadjuvantes! - desde que maravilhosos, como no presente caso.
Na equipe técnica, considero de primeiríssimo nível as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna e imperdível empreitada teatral - Marcelo Lipiani (cenografia), Patrícia Lambert (figurinos), Renato Machado (iluminação), Marcia Rubin (direção de movimento), Antonio Saraiva (música) e Bruno Lara Resende (tradução).
MADAME BOVARY - Texto de Gustave Flaubert. Adaptação de Bruno Lara Resende. Direção de Lara Resende e Rafaela Amado. Com Raquel Iantas, Joelson Medeiros, Alcemar Vieira, Lourival Prudêncio e Vilma Mello. Teatro dos Quatro. Terça e quarta, 20h.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Família Lyons"
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Humor e tragédia no Glaucio Gill
Lionel Fischer
"Ben está em um hospital em estágio terminal de câncer, com a família ao redor: Rita, sua mulher, e seus filhos Lisa e Curtis. Ben já perdeu o senso de educação e diz o que lhe vem à cabeça. Rita, presa a um casamento de 40 anos sem amor, imagina agora o futuro sem Ben, e planeja redecorar a casa. Lisa é alcoólatra e acaba de sair de um casamento abusivo; Curtis, homossexual, tem muito pouco em comum com o pai. A família se reúne no hospital e aproveita os últimos momentos de vida do pai para um acerto final".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o contexto de "Família Lyons", do norte-americano Nicky Silver, em cartaz no Teatro Glaucio Gill. Marcos Caruso assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Suzana Faini (Rita), Emilio Orciollo Netto (Curtis), Zulma Mercadante (Lisa), Pedro Osório (Brian, corretor de imóveis), Rose Lima (Enfermeira) e Rogério Fróes (Ben).
Com obras já encenadas com sucesso no Brasil ("Pterodátilos", "Os altruístas" e "Criados em cativeiro"), Nicky Silver explicitou, em uma entrevista, algumas premissas essenciais de seu trabalho: "Eu parto do princípio de que existe humor em tudo, pois, sem isso, certamente não existiria a espécie humana. Mas, a fronteira entre a graça e a tragédia depende muito do tipo de família de que estamos tratando".
No presente caso, de que tipo de família o autor está tratando? De uma família obviamente desestruturada, cujos membros parecem desconhecer totalmente sentimentos como amor, parceria ou solidariedade. Estamos, portanto, diante de um universo trágico. No entanto, em função das peripécies criadas, essa tragicidade é contrabalançada por irresistíveis momentos de humor, sempre desconcertante e ácido, daí resultando um texto em que a amargura e o deboche caminham de mãos dadas.
Certamente sabedor de que um texto como este não comporta mirabolâncias formais de qualquer espécie, Marcos Caruso impõe à cena uma dinâmica despojada e simples, e que por isso mesmo permite a total apreensão de todos os conteúdos propostos pelo autor. Mas tal mérito, evidentemente, também é fruto da ótima colaboração de todo o elenco.
Na pele de Rita, Suzana Faini exibe uma vez mais sua notável capacidade de obter humor através de grande sutileza, já que consegue proferir frases atrozes como se fossem banalidades. Emílio Orciollo Netto faz muito bem o homossexual Curtis, em especial na sua relação com o corretor - só não entendi sua grande afetação na cena inicial no hospital, já que a mesma desaparece mais adiante; seria uma tentativa de afrontar a família, e em especial o pai, que é homofóbico?.
Zulma Mercadante (Lisa) materializa com sensibilidade uma personagem essencialmente parva, que nos comove por sua extrema fragilidade e desproteção. Pedro Osório também dá vida a um personagem impregnado de grande parvoice, sendo muito engraçadas as passagens em que Brian, ao sentir-se pressionado, faz um grande esforço para ativar seus poucos neurônios. Rose Lima cumpre com eficiência sua pequena participação como a enfermeira, com Rogério Fróes valorizando ao máximo o caráter intempestivo e dilacerado do pai em estado de pré-agonia.
Na equipe técnica, é muito boa a tradução de Juliana Burneiko, sendo corretas as contribuições dos demais envolvidos nesta oportuna empreitada teatral - Alexandre Murucci (cenário), Patrícia Muniz (figurino), Felipe Lourenço (iluminação) e Marcelo Alonso Neves (direção musical).
FAMÍLIA LYONS - Texto de Nicky Silver. Direção de Marcos Caruso. Com Suzana Faini, Emilio Orciollo Netto, Zulma Mercadante, Pedro Osório, Rose Lima e Rogério Fróes. Teatro Glaucio Gill. Sexta a segunda, 20h.
"Família Lyons"
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Humor e tragédia no Glaucio Gill
Lionel Fischer
"Ben está em um hospital em estágio terminal de câncer, com a família ao redor: Rita, sua mulher, e seus filhos Lisa e Curtis. Ben já perdeu o senso de educação e diz o que lhe vem à cabeça. Rita, presa a um casamento de 40 anos sem amor, imagina agora o futuro sem Ben, e planeja redecorar a casa. Lisa é alcoólatra e acaba de sair de um casamento abusivo; Curtis, homossexual, tem muito pouco em comum com o pai. A família se reúne no hospital e aproveita os últimos momentos de vida do pai para um acerto final".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o contexto de "Família Lyons", do norte-americano Nicky Silver, em cartaz no Teatro Glaucio Gill. Marcos Caruso assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Suzana Faini (Rita), Emilio Orciollo Netto (Curtis), Zulma Mercadante (Lisa), Pedro Osório (Brian, corretor de imóveis), Rose Lima (Enfermeira) e Rogério Fróes (Ben).
Com obras já encenadas com sucesso no Brasil ("Pterodátilos", "Os altruístas" e "Criados em cativeiro"), Nicky Silver explicitou, em uma entrevista, algumas premissas essenciais de seu trabalho: "Eu parto do princípio de que existe humor em tudo, pois, sem isso, certamente não existiria a espécie humana. Mas, a fronteira entre a graça e a tragédia depende muito do tipo de família de que estamos tratando".
No presente caso, de que tipo de família o autor está tratando? De uma família obviamente desestruturada, cujos membros parecem desconhecer totalmente sentimentos como amor, parceria ou solidariedade. Estamos, portanto, diante de um universo trágico. No entanto, em função das peripécies criadas, essa tragicidade é contrabalançada por irresistíveis momentos de humor, sempre desconcertante e ácido, daí resultando um texto em que a amargura e o deboche caminham de mãos dadas.
Certamente sabedor de que um texto como este não comporta mirabolâncias formais de qualquer espécie, Marcos Caruso impõe à cena uma dinâmica despojada e simples, e que por isso mesmo permite a total apreensão de todos os conteúdos propostos pelo autor. Mas tal mérito, evidentemente, também é fruto da ótima colaboração de todo o elenco.
Na pele de Rita, Suzana Faini exibe uma vez mais sua notável capacidade de obter humor através de grande sutileza, já que consegue proferir frases atrozes como se fossem banalidades. Emílio Orciollo Netto faz muito bem o homossexual Curtis, em especial na sua relação com o corretor - só não entendi sua grande afetação na cena inicial no hospital, já que a mesma desaparece mais adiante; seria uma tentativa de afrontar a família, e em especial o pai, que é homofóbico?.
Zulma Mercadante (Lisa) materializa com sensibilidade uma personagem essencialmente parva, que nos comove por sua extrema fragilidade e desproteção. Pedro Osório também dá vida a um personagem impregnado de grande parvoice, sendo muito engraçadas as passagens em que Brian, ao sentir-se pressionado, faz um grande esforço para ativar seus poucos neurônios. Rose Lima cumpre com eficiência sua pequena participação como a enfermeira, com Rogério Fróes valorizando ao máximo o caráter intempestivo e dilacerado do pai em estado de pré-agonia.
Na equipe técnica, é muito boa a tradução de Juliana Burneiko, sendo corretas as contribuições dos demais envolvidos nesta oportuna empreitada teatral - Alexandre Murucci (cenário), Patrícia Muniz (figurino), Felipe Lourenço (iluminação) e Marcelo Alonso Neves (direção musical).
FAMÍLIA LYONS - Texto de Nicky Silver. Direção de Marcos Caruso. Com Suzana Faini, Emilio Orciollo Netto, Zulma Mercadante, Pedro Osório, Rose Lima e Rogério Fróes. Teatro Glaucio Gill. Sexta a segunda, 20h.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
Teatro/CRÍTICA
"2x2 = 5 - O homem do subsolo"
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Profundo mergulho na alma humana
Lionel Fischer
Publicado em 1864, o pequeno romance "Memórias do subsolo" divide-se em duas partes: na primeira, "O subterrâneo" (11 capítulos), o funcionário aposentado basicamente faz uma paródia de falas alheias, assim como afirma, dentre outras coisas, que gostaria de encontrar um sentido para a própria vida; na segunda parte, "A propósito da neve fundida" (10 capítulos), três episódios retratam o personagem como que encurralado pelos discursos e ações de uma sociedade despótica, e aqui constata-se um dos melhores exemplos do recurso literário conhecido como fluxo de consciência.
De autoria do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), o romance ganha agora uma versão teatral, "2x2 = 5 - O homem do subsolo", em cartaz no Espaço Sesc. Stefano Geraci responde pela dramaturgia e Roberto Bacci pela direção, estando a interpretação do único personagem a cargo de Cacá Carvalho.
Como a presente obra-prima já foi alvo de incontáveis análises de renomados especialistas de todo o mundo, certamente muito mais capazes do que eu, não me atreverei a acrescentar muita coisa ao que já foi dito. Limito-me, apenas, e com total modéstia, a supor que o dito subsolo possa ser entendido como uma metáfora do inconsciente, o que deixa implícita a possibilidade de os fatos evocados não terem necessariamente ocorrido no real da vida do protagonista - ou ao menos não exatamente como ele os relata..
Mas tenham ou não ocorrido tais fatos, esteja correta ou não minha suposição, o que realmente importa destacar é a extraordinária capacidade de Dostoiévski - para mim o maior romancista de todos os tempos - de mergulhar tão profundamente na alma humana, vasculhando suas entranhas com a obstinação de um arqueólogo obcecado em fazer emergir tudo aquilo que não é visível.
Impondo à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - claustrofóbica, sufocante e muitas vezes impregnada de ácida ironia -, Roberto Bacci exibe o mérito suplementar de, mais uma vez, extrair a máxima expressividade de Cacá Carvalho. Já muitas vezes escrevi sobre este ator de exceção, que a cada nova performance só faz ratificar seus excepcionais dotes interpretativos. Se o teatro é, como afirma Peter Brook, a arte do encontro, então nenhum espectador minimamente sensível pode se dar ao luxo de faltar a este memorável encontro com Cacá Carvalho.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Stefano Geraci (dramaturgia), Márcio Medina (cenário e figurino), Fábio Retti (iluminação), Ares Tavolazzi (música original) e Anna Mantovani (tradução para o português).
2x2 = 5 - O HOMEM DO SUBSOLO - Texto de Dostoiévski. Dramaturgia de Stefano Geraci. Direção de Roberto Bacci. Com Cacá Carvalho. Espaço Sesc. Quinta e sexta às 20h30. Sábado às 18h e 20h30. Domingo às 17h e 19h. Terça (26/05) às 20h30. Quarta (27/05) às 20h30.
"2x2 = 5 - O homem do subsolo"
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Profundo mergulho na alma humana
Lionel Fischer
Publicado em 1864, o pequeno romance "Memórias do subsolo" divide-se em duas partes: na primeira, "O subterrâneo" (11 capítulos), o funcionário aposentado basicamente faz uma paródia de falas alheias, assim como afirma, dentre outras coisas, que gostaria de encontrar um sentido para a própria vida; na segunda parte, "A propósito da neve fundida" (10 capítulos), três episódios retratam o personagem como que encurralado pelos discursos e ações de uma sociedade despótica, e aqui constata-se um dos melhores exemplos do recurso literário conhecido como fluxo de consciência.
De autoria do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), o romance ganha agora uma versão teatral, "2x2 = 5 - O homem do subsolo", em cartaz no Espaço Sesc. Stefano Geraci responde pela dramaturgia e Roberto Bacci pela direção, estando a interpretação do único personagem a cargo de Cacá Carvalho.
Como a presente obra-prima já foi alvo de incontáveis análises de renomados especialistas de todo o mundo, certamente muito mais capazes do que eu, não me atreverei a acrescentar muita coisa ao que já foi dito. Limito-me, apenas, e com total modéstia, a supor que o dito subsolo possa ser entendido como uma metáfora do inconsciente, o que deixa implícita a possibilidade de os fatos evocados não terem necessariamente ocorrido no real da vida do protagonista - ou ao menos não exatamente como ele os relata..
Mas tenham ou não ocorrido tais fatos, esteja correta ou não minha suposição, o que realmente importa destacar é a extraordinária capacidade de Dostoiévski - para mim o maior romancista de todos os tempos - de mergulhar tão profundamente na alma humana, vasculhando suas entranhas com a obstinação de um arqueólogo obcecado em fazer emergir tudo aquilo que não é visível.
Impondo à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - claustrofóbica, sufocante e muitas vezes impregnada de ácida ironia -, Roberto Bacci exibe o mérito suplementar de, mais uma vez, extrair a máxima expressividade de Cacá Carvalho. Já muitas vezes escrevi sobre este ator de exceção, que a cada nova performance só faz ratificar seus excepcionais dotes interpretativos. Se o teatro é, como afirma Peter Brook, a arte do encontro, então nenhum espectador minimamente sensível pode se dar ao luxo de faltar a este memorável encontro com Cacá Carvalho.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Stefano Geraci (dramaturgia), Márcio Medina (cenário e figurino), Fábio Retti (iluminação), Ares Tavolazzi (música original) e Anna Mantovani (tradução para o português).
2x2 = 5 - O HOMEM DO SUBSOLO - Texto de Dostoiévski. Dramaturgia de Stefano Geraci. Direção de Roberto Bacci. Com Cacá Carvalho. Espaço Sesc. Quinta e sexta às 20h30. Sábado às 18h e 20h30. Domingo às 17h e 19h. Terça (26/05) às 20h30. Quarta (27/05) às 20h30.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
(UNIRIO/PROEXC - PROJETO CULTURAL) E
SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RIO DE JANEIRO (SPRJ)
Amigos,
O FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA, no dia 29 de maio, às 18h, exibirá o belo filme francês: ANTES DO INVERNO (Avant l’inver, 2013, 102 min.), narrativa com toques autobiográficos do diretor, roteirista e escritor Philippe Claudel. O filme apresenta a jornada de um neurocirurgião de sucesso, na faixa de 63 anos, cuja rotina se altera após buquês de rosas serem deixados anonimamente em sua casa e em seu consultório, a partir do momento em que Lou, uma moça de vinte anos, cruza seu caminho a todo instante. O roteiro possibilita uma série de questionamentos na busca de respostas, a partir de indagações formuladas pelo diretor: As pessoas são realmente quem elas pretendem ser? Será agora, justamente antes da velhice, o momento certo para revelar os segredos?
Um filme fascinante que, por certo, ensejará um estimulante debate e troca de ideias.
SERVIÇO:
ANÁLISE CULTURAL: PROF. DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO
ANÁLISES PSICANALÍTICAS: DR. NEILTON SILVA E DR. WALDEMAR ZUSMAN.
FILME: ANTES DO INVERNO; DIREÇÃO: PHILIPPE CLAUDEL.
ELENCO: DANIEL AUTEUIL, KRISTIN SCOTT THOMAS ERICHARD BERRY.
DATA: 29 DE MAIO DE 2015
HORÁRIO: FILME - 18h; ANÁLISE E DEBATE - 20h às 22h
LOCAL: SALA VERA JANACÓPULOS – UNIRIO
ENDEREÇO: AV. PASTEUR, 296.
ENTRADA FRANCA
Contando sempre com a divulgação e com os nossos agradecimentos pela presença, recebam um grande abraço, Ana Lúcia, Neilton e Zusman.
NOTA: Quem se interessar em adquirir o livro: Fórum de Psicanálise e Cinema: análises culturais e psicanalíticas, de Ana Lúcia de Castro e Neilton Silva, ele se encontra à venda pelo site - www.travessa.com.br/ - e nas diversas filiais da Livraria da Travessa, assim como nos dias do FÓRUM.
Igualmente, o livro do Dr. Waldemar Zusman: Poemas & Textos de um Psicanalista: rimas, risos & reflexões, poderá ser adquirido no Fórum.
Grupo Moitará apresenta a
Palestra-Espetáculo
"A Máscara na Energia do Ator"
Uma
reflexão sobre a influência da máscara no teatro e na cultura. Esta é uma das
propostas da palestra-espetáculo “A Máscara na Energia do Ator”, do Grupo
Moitará, que acontece no dia 29 de maio, às 20 horas, no Espaço Moitará, na
Lapa.
Unindo a
parte didática com o lúdico, o Moitará apresenta ainda algumas demonstrações de
trabalho baseadas na pesquisa sobre a dramaturgia do ator desenvolvida nos
últimos 27 anos.
Além de
aprender um pouco mais sobre essa linguagem, utilizada nas artes e
especialmente no teatro há milhares de anos, o público ainda vai se divertir e
se emocionar com as cenas, acompanhadas por música ao vivo.
“A
palestra foi a primeira estrutura didática e pedagógica criada pelo Grupo
Moitará, ainda no seu início. Mas ela é mutante. A cada nova palestra, vão
entrando outras máscaras com novas cenas, reflexo do trabalho de pesquisa
continuada desenvolvido pelo grupo”, aponta Venício Fonseca, diretor do Grupo
Moitará.
Um dos
compromissos do Grupo Moitará com a cidade é a acessibilidade da comunidade
surda. Além do projeto “Palavras Visíveis”, focado na capacitação de atores
surdos, a palestra-espetáculo também contará com a presença de um intérprete de
LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).
As senhas
serão distribuídas a partir das 19 horas.
Sobre o
Grupo Moitará
Com uma
efetiva participação na cena teatral brasileira através da participação em
festivais nacionais e internacionais, e também pela atuação pedagógica, o Grupo
Moitará desenvolve há 27 anos ininterruptos o trabalho de pesquisa sobre a
dramaturgia do ator com a linguagem da máscara teatral.
Aliado ao
trabalho diário de pesquisa dos atores, o grupo ainda democratiza os
conhecimentos sobre a Linguagem da Máscara a estudantes, pesquisadores,
artistas e ao público em geral, através de oficinas, palestras-espetáculo,
seminários e intercâmbios, oferecendo rica contribuição ao desenvolvimento
cultural do país.
Moitará é um termo kamaiurá que
significa troca, escambo, comércio e é também a única ocasião em que diferentes
tribos indígenas do Alto Xingú acampam no mesmo local para realizar trocas de
artefatos. O Moitará subsiste como forma estimuladora de
contatos e é também uma oportunidade para que haja o confronto e a
autoafirmação dos grupos como entidades distintas.
É esta a
dimensão que o nome dá ao Grupo Teatral Moitará, um espaço de trocas, de
valorização das diferenças culturais.
Serviço:
Palestra-espetáculo
“A Máscara na Energia do Ator”
29 de
maio
Às 20hs.
Entrada
gratuita e classificação livre
Senhas
distribuídas uma hora antes do início do evento.
Espaço
Moitará – Rua Joaquim Silva, 56/2º andar
Teatro/CRÍTICA
"Acorda, amor!"
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Humor e encantamento no Eva Herz
Lionel Fischer
Desde que comecei a exercer a profissão (dentre outras) de crítico teatral, há exatos 26 anos, venho elaborando uma teoria que, mesmo sem estar ainda concluída, pode se resumir ao seguinte: todos os espetáculos podem ter 15 minutos a menos. Inclusive os mais extraordinários. Quanto aos lamentáveis, é evidente que o tempo de redução deveria ser bem maior.
E tal premissa, por uma questão de coerência, deveria valer para o presente espetáculo. No entanto, acabei desejando que o mesmo durasse bem mais do que 50 minutos, tal o encantamento que me gerou - as razões serão explicitadas a seguir. Adaptação de "A Bela Adormecida", de Charles Perrault, "Acorda, amor!" (Teatro Eva Herz) tem dramaturgia assinada por Florencia Santángelo e Marcos Camelo, sendo que ela interpreta o monólogo e ele o dirige. O projeto é da Cia Quatro Manos.
Falei acima de encantamento. E este se deve a uma série de fatores. A começar pela ótima dramaturgia, que sintetiza o original de forma brilhante. E por dramaturgia entenda-se, no presente caso, não apenas o que se refere ao texto articulado, mas também a palavras cujo sentido apreendemos em função dos gestos a que estão associadas. Finalmente, um destaque todo especial para o universo sonoro, determinante para o fortalecimento das imagens sugeridas.
Impondo à cena uma dinâmica criativa e imprevista, impregnada de humor e lirismo, e irretocável no tocante aos tempos rítmicos, Marcos Camelo exibe o mérito suplementar de haver contribuído para a maravilhosa performance de Florencia Santángelo. Possuidora de ótima voz e impecável trabalho corporal, a atriz também evidencia notável capacidade de improviso e grande inteligência cênica, perceptível pelas escolhas que faz, que jamais privilegiam o previsível. Sob todos os pontos de vista, estamos diante de um espetáculo e de um desempenho que se inserem entre os mais significativos da atual temporada.
Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que portuna e imperdível empreitada teatral - Rodrigo Maia (preparação corporal e direção de movimento), Paulo Denizot (cenografia e iluminação), Florencia Santángelo (figurino) e André Vidal (visagismo).
ACORDA, AMOR! - Dramaturgia de Florencia Santángelo e Marcos Camelo. Direção de Marcos Camelo. Com Florencia Santángelo. Teatro Eva Herz.Terças e quartas, 19h30.
"Acorda, amor!"
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Humor e encantamento no Eva Herz
Lionel Fischer
Desde que comecei a exercer a profissão (dentre outras) de crítico teatral, há exatos 26 anos, venho elaborando uma teoria que, mesmo sem estar ainda concluída, pode se resumir ao seguinte: todos os espetáculos podem ter 15 minutos a menos. Inclusive os mais extraordinários. Quanto aos lamentáveis, é evidente que o tempo de redução deveria ser bem maior.
E tal premissa, por uma questão de coerência, deveria valer para o presente espetáculo. No entanto, acabei desejando que o mesmo durasse bem mais do que 50 minutos, tal o encantamento que me gerou - as razões serão explicitadas a seguir. Adaptação de "A Bela Adormecida", de Charles Perrault, "Acorda, amor!" (Teatro Eva Herz) tem dramaturgia assinada por Florencia Santángelo e Marcos Camelo, sendo que ela interpreta o monólogo e ele o dirige. O projeto é da Cia Quatro Manos.
Falei acima de encantamento. E este se deve a uma série de fatores. A começar pela ótima dramaturgia, que sintetiza o original de forma brilhante. E por dramaturgia entenda-se, no presente caso, não apenas o que se refere ao texto articulado, mas também a palavras cujo sentido apreendemos em função dos gestos a que estão associadas. Finalmente, um destaque todo especial para o universo sonoro, determinante para o fortalecimento das imagens sugeridas.
Impondo à cena uma dinâmica criativa e imprevista, impregnada de humor e lirismo, e irretocável no tocante aos tempos rítmicos, Marcos Camelo exibe o mérito suplementar de haver contribuído para a maravilhosa performance de Florencia Santángelo. Possuidora de ótima voz e impecável trabalho corporal, a atriz também evidencia notável capacidade de improviso e grande inteligência cênica, perceptível pelas escolhas que faz, que jamais privilegiam o previsível. Sob todos os pontos de vista, estamos diante de um espetáculo e de um desempenho que se inserem entre os mais significativos da atual temporada.
Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que portuna e imperdível empreitada teatral - Rodrigo Maia (preparação corporal e direção de movimento), Paulo Denizot (cenografia e iluminação), Florencia Santángelo (figurino) e André Vidal (visagismo).
ACORDA, AMOR! - Dramaturgia de Florencia Santángelo e Marcos Camelo. Direção de Marcos Camelo. Com Florencia Santángelo. Teatro Eva Herz.Terças e quartas, 19h30.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Próxima parada"
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Divertida e comovente homenagem
Lionel Fischer
"No ano em que o Brasil comemora 30 anos do fim do regime militar, o ineditismo do projeto vem do foco no percurso de ambos os autores e de personagens de suas obras, entrelaçando histórias reais e ficcionais, dados históricos e políticos, e depoimentos recolhidos através das cartas que José Vicente e Antonio Bivar trocaram ao longo de anos de amizade e de viagens feitas pela Europa e América Latina, atingindo a dramaturgia, a interpretação, a cenografia e demais elementos cênicos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita os objetivos de "Próxima parada", divertida e comovente homenagem a dois dos mais importantes dramaturgos brasileiros, o mineiro José Vicente (1945-2007) e o paulista Antonio Bivar. O primeiro assinou "Hoje é dia de rock" e "O assalto", e o segundo "Cordélia Brasil" e "O cão siamês ou Alzira Power", dentre muitas outras obras relevantes.
Em cartaz no Teatro Café Pequeno, "Próxima parada" tem dramaturgia assinada por Cesar Augusto e Felipe Vaz, direção de Cesar Augusto e elenco formado por André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas, Danilo Rosa, Felipe Frazão, Flavia Coutinho, Haroldo Costa Ferrari, Rômulo Chindelar, Sarah Lessa e Victor Albuquerque.
Como minha juventude coincidiu com a dos autores, assisti a todas as montagens de suas obras. E especialmente no que se refere a "Hoje é dia de rock" e "O assalto", minha relação com essas peças foi muito próxima, já que exibidas no Teatro Ipanema, espaço que vi nascer e que me propiciou fortíssimas relações de amizade com Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque. Assim, para mim foi muito fácil embarcar na viagem proposta pelo espetáculo.
Sim, pois todas as referências e analogias, assim como a memória de episódios marcantes da época - os hippies, as drogas, a contracultura, a virulência do regime militar etc. - me são totalmente familiares. No entanto, não sei em que medida espectadores mais jovens, ou idosos reacionários que pouco se envolveram com a efervescência da época poderão acompanhar o espetáculo com facilidade. Talvez o texto necessitasse de um pouco mais de informação sobre os autores, sem que isso enveredasse para um enfadonho didatismo.
Seja como for, o fato é que o texto me divertiu e comoveu em igual medida, assim como a montagem. Valendo-se de marcas criativas e imprevistas, ótima ocupação do espaço e notável domínio dos tempos rítmicos, o diretor Cesar Augusto construiu uma dinâmica cênica que retrata com humor e dramaticidade um dos períodos mais marcantes da recente história de nosso país. Além disso, conseguiu extrair seguras e convincentes atuações de todo o elenco, cuja coesão tornaria injusta a menção de algum intérprete em particular. Assim, a todos agradeço a maravilhosa noite que me proporcionaram e aproveito para desejar vida longa para este espetáculo tão significativo.
Na equipe técnica, Genilson Barbosa ilumina na cena com grande sensibilidade, sendo irretocáveis os figurinos de Lilian Bonfim e a trilha sonora de Rodrigo Marçal. Os vídeos de Elisa Mendes e João Marcelo Iglesias também colaboram de forma decisiva para o sucesso desta mais do que oportuna empreitada teatral.
PRÓXIMA PARADA - Dramaturgia de Cesar Augusto e Felippe Vaz. Direção de Cesar Augusto. Com André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas e grande elenco. Teatro Café Pequeno. Sexta a domingo, 20h.
"Próxima parada"
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Divertida e comovente homenagem
Lionel Fischer
"No ano em que o Brasil comemora 30 anos do fim do regime militar, o ineditismo do projeto vem do foco no percurso de ambos os autores e de personagens de suas obras, entrelaçando histórias reais e ficcionais, dados históricos e políticos, e depoimentos recolhidos através das cartas que José Vicente e Antonio Bivar trocaram ao longo de anos de amizade e de viagens feitas pela Europa e América Latina, atingindo a dramaturgia, a interpretação, a cenografia e demais elementos cênicos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita os objetivos de "Próxima parada", divertida e comovente homenagem a dois dos mais importantes dramaturgos brasileiros, o mineiro José Vicente (1945-2007) e o paulista Antonio Bivar. O primeiro assinou "Hoje é dia de rock" e "O assalto", e o segundo "Cordélia Brasil" e "O cão siamês ou Alzira Power", dentre muitas outras obras relevantes.
Em cartaz no Teatro Café Pequeno, "Próxima parada" tem dramaturgia assinada por Cesar Augusto e Felipe Vaz, direção de Cesar Augusto e elenco formado por André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas, Danilo Rosa, Felipe Frazão, Flavia Coutinho, Haroldo Costa Ferrari, Rômulo Chindelar, Sarah Lessa e Victor Albuquerque.
Como minha juventude coincidiu com a dos autores, assisti a todas as montagens de suas obras. E especialmente no que se refere a "Hoje é dia de rock" e "O assalto", minha relação com essas peças foi muito próxima, já que exibidas no Teatro Ipanema, espaço que vi nascer e que me propiciou fortíssimas relações de amizade com Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque. Assim, para mim foi muito fácil embarcar na viagem proposta pelo espetáculo.
Sim, pois todas as referências e analogias, assim como a memória de episódios marcantes da época - os hippies, as drogas, a contracultura, a virulência do regime militar etc. - me são totalmente familiares. No entanto, não sei em que medida espectadores mais jovens, ou idosos reacionários que pouco se envolveram com a efervescência da época poderão acompanhar o espetáculo com facilidade. Talvez o texto necessitasse de um pouco mais de informação sobre os autores, sem que isso enveredasse para um enfadonho didatismo.
Seja como for, o fato é que o texto me divertiu e comoveu em igual medida, assim como a montagem. Valendo-se de marcas criativas e imprevistas, ótima ocupação do espaço e notável domínio dos tempos rítmicos, o diretor Cesar Augusto construiu uma dinâmica cênica que retrata com humor e dramaticidade um dos períodos mais marcantes da recente história de nosso país. Além disso, conseguiu extrair seguras e convincentes atuações de todo o elenco, cuja coesão tornaria injusta a menção de algum intérprete em particular. Assim, a todos agradeço a maravilhosa noite que me proporcionaram e aproveito para desejar vida longa para este espetáculo tão significativo.
Na equipe técnica, Genilson Barbosa ilumina na cena com grande sensibilidade, sendo irretocáveis os figurinos de Lilian Bonfim e a trilha sonora de Rodrigo Marçal. Os vídeos de Elisa Mendes e João Marcelo Iglesias também colaboram de forma decisiva para o sucesso desta mais do que oportuna empreitada teatral.
PRÓXIMA PARADA - Dramaturgia de Cesar Augusto e Felippe Vaz. Direção de Cesar Augusto. Com André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas e grande elenco. Teatro Café Pequeno. Sexta a domingo, 20h.
quarta-feira, 13 de maio de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Contra o vento - um musicaos"
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Montagem imperdível no CCBB
Lionel Fischer
"A peça conta a história de um diário (fictício) que teria sido encontrado na demolição do Solar da Fossa. Este diário tem, presas à sua capa, somente as páginas do início em 1967 e do final em 1969, pois todo o conteúdo do meio está espalhado por entre páginas soltas e desordenadas. Por isso as histórias da peça não seguem numa ordem cronológica, e o espetáculo pode acontecer a cada dia em uma ordem diferente. Para decidir essa ordem haverá uma votação feita pelo público no início de cada apresentação".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita a premissa dramatúrgica e a forma como se dá cada espetáculo - mais adiante falarei um pouco sobre o Solar da Fossa. De autoria de Daniela Pereira de Carvalho, o texto chega à cena (Teatro I do CCBB) com direção de Felipe Vidal e elenco formado por Adassa Martins (D. Jurema), Clarisse Zarvos (Ana), Felipe Antello (Tavares), Gui Stutz (Claudio), Guilherme Miranda (Caos), Izak Dahora (Betinho), Jefferson Almeida (Rômulo/Romina), Julia Bernat (Rita), Julie Wein (Laura), Laura Becker (Maria), Leonardo Corajo (Leo), Luciano Moreira (Tonico/Velho Aposentado) e Tainá Nogueira (Clarice, dona do diário).
O Solar da Fossa era um casarão situado em Botafogo onde hoje fica o Shopping Rio Sul. Funcionava como pensão e abrigou dezenas de artistas, ainda desconhecidos, como Caetano Veloso, Gal Costa, Tim Maia e Paulo Coelho. Palco de histórias memoráveis, o Solar tem aqui sua história recriada (em termos ficcionais) e ao mesmo tempo a autora oferta ao público uma divertida visão do movimento tropicalista. E como o país vivia os tenebrosos Anos de Chumbo, Daniela Pereira de Carvalho inseriu dolorosas passagens abordando fatos inerentes à escabrosa ditadura militar.
Dividido em três blocos - "Panis et circencis", "Sinal Fechado" e "Três da madrugada" -, o texto presta emocionado tributo aos artistas (aqui, mais especificamente, aos ligados à musica) que tiveram a coragem de enfrentar o autoritarismo e se dispuseram a romper com todas as regras e propor novos caminhos, tanto em termos de criação quanto de postura perante a vida.
Exibindo ótimos personagens, diálogos fluentes e uma narrativa que prende a atenção do público desde o início, "Contra o vento" recebeu esplêndida direção de Felipe Vidal. A começar pelo olhar coloquial que impõe à cena, totalmente despida de grandiloquentes empostações, o que certamente gera um clima de familiaridade com que todos se identificam. Tudo transcorre em uma atmosfera tão engenhosamente construída que se torna absolutamente natural a fusão do texto com as canções, treze das quais (em um total de 21) compostas por Vidal em parceria com Luciano Moreira, em sua maioria belíssimas.
Mas os méritos de Felipe Vidal vão além. Valendo-se de marcações imprevistas e criativas, o encenador extrai grande expressividade tanto das passagens mais divertidas quanto daquelas em que a dramaticidade predomina. E, como se não bastasse, ainda contribui decisivamente no tocante às maravilhosas performances de todo o elenco, impecável na elocução do texto, nas partes cantadas e na execução de uma infinidade de instrumentos. Sem sombra de dúvida, Felipe Vidal materializa aqui a melhor direção de sua carreira.
Na equipe técnica, considero brilhantes as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Marcelo Alonso Neves (direção musical), cabendo aqui destacar o deslumbrante arranjo para "Portas abertas", Mona Vilardo (preparação e arranjos vocais), Renata Jambeiro (preparação corporal e direção de movimento), Aurora dos Campos (cenografia), Flávio Souza e Raquel Theo (figurinos), Tomás Ribas (iluminação), Eduardo Souza e Paulo Caetano (videografismo e programação visual), Daniele Avila Small (interlocução crítica) e Juliana Mendes (visagismo).
CONTRA O VENTO - UM MUSICAOS - Texto de Daniela Pereira de Carvalho. Direção de Felipe Vidal. Uma realização do Complexo Duplo e Fomenta Produções. Com Julia Bernat, Julie Wein e grande elenco. Teatro I do CCBB. Quarta a domingo, 19h.
"Contra o vento - um musicaos"
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Montagem imperdível no CCBB
Lionel Fischer
"A peça conta a história de um diário (fictício) que teria sido encontrado na demolição do Solar da Fossa. Este diário tem, presas à sua capa, somente as páginas do início em 1967 e do final em 1969, pois todo o conteúdo do meio está espalhado por entre páginas soltas e desordenadas. Por isso as histórias da peça não seguem numa ordem cronológica, e o espetáculo pode acontecer a cada dia em uma ordem diferente. Para decidir essa ordem haverá uma votação feita pelo público no início de cada apresentação".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita a premissa dramatúrgica e a forma como se dá cada espetáculo - mais adiante falarei um pouco sobre o Solar da Fossa. De autoria de Daniela Pereira de Carvalho, o texto chega à cena (Teatro I do CCBB) com direção de Felipe Vidal e elenco formado por Adassa Martins (D. Jurema), Clarisse Zarvos (Ana), Felipe Antello (Tavares), Gui Stutz (Claudio), Guilherme Miranda (Caos), Izak Dahora (Betinho), Jefferson Almeida (Rômulo/Romina), Julia Bernat (Rita), Julie Wein (Laura), Laura Becker (Maria), Leonardo Corajo (Leo), Luciano Moreira (Tonico/Velho Aposentado) e Tainá Nogueira (Clarice, dona do diário).
O Solar da Fossa era um casarão situado em Botafogo onde hoje fica o Shopping Rio Sul. Funcionava como pensão e abrigou dezenas de artistas, ainda desconhecidos, como Caetano Veloso, Gal Costa, Tim Maia e Paulo Coelho. Palco de histórias memoráveis, o Solar tem aqui sua história recriada (em termos ficcionais) e ao mesmo tempo a autora oferta ao público uma divertida visão do movimento tropicalista. E como o país vivia os tenebrosos Anos de Chumbo, Daniela Pereira de Carvalho inseriu dolorosas passagens abordando fatos inerentes à escabrosa ditadura militar.
Dividido em três blocos - "Panis et circencis", "Sinal Fechado" e "Três da madrugada" -, o texto presta emocionado tributo aos artistas (aqui, mais especificamente, aos ligados à musica) que tiveram a coragem de enfrentar o autoritarismo e se dispuseram a romper com todas as regras e propor novos caminhos, tanto em termos de criação quanto de postura perante a vida.
Exibindo ótimos personagens, diálogos fluentes e uma narrativa que prende a atenção do público desde o início, "Contra o vento" recebeu esplêndida direção de Felipe Vidal. A começar pelo olhar coloquial que impõe à cena, totalmente despida de grandiloquentes empostações, o que certamente gera um clima de familiaridade com que todos se identificam. Tudo transcorre em uma atmosfera tão engenhosamente construída que se torna absolutamente natural a fusão do texto com as canções, treze das quais (em um total de 21) compostas por Vidal em parceria com Luciano Moreira, em sua maioria belíssimas.
Mas os méritos de Felipe Vidal vão além. Valendo-se de marcações imprevistas e criativas, o encenador extrai grande expressividade tanto das passagens mais divertidas quanto daquelas em que a dramaticidade predomina. E, como se não bastasse, ainda contribui decisivamente no tocante às maravilhosas performances de todo o elenco, impecável na elocução do texto, nas partes cantadas e na execução de uma infinidade de instrumentos. Sem sombra de dúvida, Felipe Vidal materializa aqui a melhor direção de sua carreira.
Na equipe técnica, considero brilhantes as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Marcelo Alonso Neves (direção musical), cabendo aqui destacar o deslumbrante arranjo para "Portas abertas", Mona Vilardo (preparação e arranjos vocais), Renata Jambeiro (preparação corporal e direção de movimento), Aurora dos Campos (cenografia), Flávio Souza e Raquel Theo (figurinos), Tomás Ribas (iluminação), Eduardo Souza e Paulo Caetano (videografismo e programação visual), Daniele Avila Small (interlocução crítica) e Juliana Mendes (visagismo).
CONTRA O VENTO - UM MUSICAOS - Texto de Daniela Pereira de Carvalho. Direção de Felipe Vidal. Uma realização do Complexo Duplo e Fomenta Produções. Com Julia Bernat, Julie Wein e grande elenco. Teatro I do CCBB. Quarta a domingo, 19h.
terça-feira, 12 de maio de 2015
Teatro/CRÍTICA
"O acompanhamento"
................................................................
Amizade e loucura no Eva Herz
Lionel Fischer
"O metalúrgico Tuco, pouco antes de sua aposentadoria, abandona o trabalho para viver seu grande sonho: tornar-se cantor. Ridicularizado pelos amigos em função de uma fracassada apresentação que fizera - segundo ele, os músicos que o acompanharam não foram capazes de acertar o tom - e pressionado pela família, Tuco se tranca em um porão. Nesse refúgio ele ensaia sozinho enquanto aguarda a chegada dos violonistas, o acompanhamento prometido por um conhecido. Mas quem bate à porta é Sebastian, um velho amigo cuja missão é trazê-lo de volta à razão".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto de "O acompanhamento", de autoria de Carlos Gorostiza. Escrita em 1981 e considerada uma das obras argentinas mais relevantes sobre o tema da amizade, a peça chega à cena (Teatro Eva Herz) com tradução e adaptação de Daniel Archangelo e Wilmar Amaral, direção de Archangelo e elenco formado por Wilmar Amaral (Tuco) e Roberto Frota (Sebastian).
Muitas são as razões que podem levar alguém a perder progressivamente a razão. No caso de Tuco, além do mencionado fracasso artístico, há também que se levar em consideração o fato de não mais suportar seu trabalho em uma fábrica. E como um conhecido lhe diz (por piedade ou galhofa, jamais se chega a saber) que enviará à sua casa violonistas competentes, o contexto alienante se materializa e Tuco passa realmente a acreditar que sua desforra artística se resume tão somente a uma questão de tempo.
A chegada de Sebastian sugere que esse amargo quadro pode ser alterado, pois ele se empenha com toda a potência de seu amor e amizade para convencer o amigo de que os violonistas não virão e de que ele precisa retomar sua atividades normais. Mas é tudo inútil e finalmente Sebastian se convence de que nada lhe resta a não ser simular que acredita no delírio de Tuco - este momento, que não julgo adequado revelar aqui, se dá de uma forma absolutamente singela e lírica, e por isso mesmo profundamente comovente.
Bem escrito, contendo ótimos personagens e pleno de amor e humanidade, "O acompanhamento" recebeu excelente versão cênica de Daniel Archangelo. Priorizando o trabalho dos intérpretes, que é o que mais importa em textos dessa natureza, o encenador criou uma dinâmica que valoriza ao extremo as sutilezas, os silêncios, os encontros e desencontros de Tuco e Sebastian, sempre valendo-se de marcas simples, mas nem por isso pouco expressivas. Afora isso, o diretor exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações dos atores.
Na pele de Tuco, Wilmar Amaral constrói uma figura patética, impregnada de lirismo e dor, tão convincente em seus momentos de delírio quanto naqueles em que parece recuperar momentaneamente sua lucidez. Há que se destacar também sua visceral capacidade de entrega, sua ótima voz e impecável trabalho corporal. Quanto a Roberto Frota, acredito que o ator exibe aqui uma das melhores performances de sua carreira. Alternando paciência e rigor, doses equivalentes de bom senso e sincera esperança, Frota converte seu personagem na perfeita materialização da amizade - mas também julgo imperioso destacar a engraçadíssima passagem em que narra a visita de uma senhora à sua loja e que, inicialmente suave e polida, converte-se aos poucos em incontido furor.
Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta belíssima e comovente empreitada teatral - Daniel Archangelo e Wilmar Amaral (tradução), Carlos Augusto Campos (cenografia), Ricardo Rocha (figurino) e Daniel Archangelo (iluminação).
O ACOMPANHAMENTO - Texto de Carlos Gorostiza. Direção de Daniel Archangelo. Com Wilmar Amaral e Roberto Frota. Teatro Eva Herz. Quinta a sábado, 19h30.
"O acompanhamento"
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Amizade e loucura no Eva Herz
Lionel Fischer
"O metalúrgico Tuco, pouco antes de sua aposentadoria, abandona o trabalho para viver seu grande sonho: tornar-se cantor. Ridicularizado pelos amigos em função de uma fracassada apresentação que fizera - segundo ele, os músicos que o acompanharam não foram capazes de acertar o tom - e pressionado pela família, Tuco se tranca em um porão. Nesse refúgio ele ensaia sozinho enquanto aguarda a chegada dos violonistas, o acompanhamento prometido por um conhecido. Mas quem bate à porta é Sebastian, um velho amigo cuja missão é trazê-lo de volta à razão".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto de "O acompanhamento", de autoria de Carlos Gorostiza. Escrita em 1981 e considerada uma das obras argentinas mais relevantes sobre o tema da amizade, a peça chega à cena (Teatro Eva Herz) com tradução e adaptação de Daniel Archangelo e Wilmar Amaral, direção de Archangelo e elenco formado por Wilmar Amaral (Tuco) e Roberto Frota (Sebastian).
Muitas são as razões que podem levar alguém a perder progressivamente a razão. No caso de Tuco, além do mencionado fracasso artístico, há também que se levar em consideração o fato de não mais suportar seu trabalho em uma fábrica. E como um conhecido lhe diz (por piedade ou galhofa, jamais se chega a saber) que enviará à sua casa violonistas competentes, o contexto alienante se materializa e Tuco passa realmente a acreditar que sua desforra artística se resume tão somente a uma questão de tempo.
A chegada de Sebastian sugere que esse amargo quadro pode ser alterado, pois ele se empenha com toda a potência de seu amor e amizade para convencer o amigo de que os violonistas não virão e de que ele precisa retomar sua atividades normais. Mas é tudo inútil e finalmente Sebastian se convence de que nada lhe resta a não ser simular que acredita no delírio de Tuco - este momento, que não julgo adequado revelar aqui, se dá de uma forma absolutamente singela e lírica, e por isso mesmo profundamente comovente.
Bem escrito, contendo ótimos personagens e pleno de amor e humanidade, "O acompanhamento" recebeu excelente versão cênica de Daniel Archangelo. Priorizando o trabalho dos intérpretes, que é o que mais importa em textos dessa natureza, o encenador criou uma dinâmica que valoriza ao extremo as sutilezas, os silêncios, os encontros e desencontros de Tuco e Sebastian, sempre valendo-se de marcas simples, mas nem por isso pouco expressivas. Afora isso, o diretor exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações dos atores.
Na pele de Tuco, Wilmar Amaral constrói uma figura patética, impregnada de lirismo e dor, tão convincente em seus momentos de delírio quanto naqueles em que parece recuperar momentaneamente sua lucidez. Há que se destacar também sua visceral capacidade de entrega, sua ótima voz e impecável trabalho corporal. Quanto a Roberto Frota, acredito que o ator exibe aqui uma das melhores performances de sua carreira. Alternando paciência e rigor, doses equivalentes de bom senso e sincera esperança, Frota converte seu personagem na perfeita materialização da amizade - mas também julgo imperioso destacar a engraçadíssima passagem em que narra a visita de uma senhora à sua loja e que, inicialmente suave e polida, converte-se aos poucos em incontido furor.
Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta belíssima e comovente empreitada teatral - Daniel Archangelo e Wilmar Amaral (tradução), Carlos Augusto Campos (cenografia), Ricardo Rocha (figurino) e Daniel Archangelo (iluminação).
O ACOMPANHAMENTO - Texto de Carlos Gorostiza. Direção de Daniel Archangelo. Com Wilmar Amaral e Roberto Frota. Teatro Eva Herz. Quinta a sábado, 19h30.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Teatro/CRÍTICA
"Infância, tiros e plumas"
..................................................................
Ótima proposta gera texto irregular
Lionel Fischer
"Desequilibrada e bipolar, Marín está num processo litigioso de separação com Henrique, médico famoso por inventar um antidepressivo que cura traumas de infância. Porém, mesmo nessa situação, resolvem comemorar o aniversário de nove anos de Júnior numa viagem à Disney. Suzaninha, garota mimada e arrogante, é candidata à Miss Universo Mirim e está acompanhada de seu segurança Argos. No mesmo voo ainda viajam os traficantes Pitil e Fernando, que são funcionários da companhia aérea e sequestram Juanito, um cucaracho de quatro anos, para fazê-lo de mula. Fechando o grupo, a comissária Sângela, amante de Henrique".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima reproduz o enredo de "Infância, tiros e plumas", de Jô Bilac, mais recente produção da Cia OmondÉ. Em cartaz no Teatro SESC Ginástico, a peça chega à cena com direção de Inez Viana, estando o elenco formado por Carolina Pismel (Suzaninha), Debora Lamm (Marín), Iano Salomão (Argos), Jefferson Schroeder (Juanito), Juliane Bodini (Sângela), Junior Dantas (Cheval), Leonardo Brício (Henrique), Luis Antonio Fortes (Junior) e Zé Wendell (Pitil).
Em depoimento que consta do programa, a diretora Inez Viana revela que, ao longo de dez meses, ela e o grupo se dedicaram a examinar a própria infância e a passagem desta para a adolescência - e finalmente para a vida adulta. À medida que essa reflexão avançava e questões eram formuladas, o material ia sendo enviado para Jô Bilac, que respondia com pertinentes perguntas. Como se vê, tão longo e empenhado processo não deixa margem a nenhuma dúvida quanto à seriedade do projeto. No entanto, o texto dele resultante deixa um pouco a desejar.
Que Jô Bilac é um autor muito talentoso, isso todos sabemos - caso fosse desprovido de méritos dramatúrgicos não teria escrito, dentre outras, peças como "Conselho de classe " ou "Beije minha lápide". Sendo assim , em nada me surpreende que o texto contenha alguns personagens interessantes, eventuais diálogos muito saborosos e situações cujo proposital desvario objetiva uma crítica à sociedade de consumo. Mas esta, aos poucos, acaba perdendo sua potência, pois o autor prioriza em igual medida passagens significativas e outras bem menos relevantes. Neste sentido, talvez o resultado final fosse bem mais atraente se o número de personagens fosse um pouco menor. Enfim...trata-se apenas de uma opinião e como tal sujeita a todos os enganos.
Em contrapartida, o espetáculo assinado por Inez Viana é excelente, cabendo destacar a originalidade das marcações, o domínio dos tempos rítmicos e a coragem de levar às últimas consequências a desvairada proposta do autor no tocante aos personagens. Estes, por sinal, interpretados de forma irretocável por um elenco coeso e que evidencia total adesão ao jogo cênico proposto. Ainda assim, acho imperioso ressaltar as maravilhosas performances de Debora Lamm e Carolina Pismel. A primeira por sua capacidade de mesclar humor e dramaticidade, e a segunda pelo delicioso despudor que confere à ensandecida Suzaninha.
Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos no projeto - Mina Quental (cenografia), Flavio Souza (figurinos), Renato Machado e Ana Luzia Simoni (iluminação), Marcelo Alonso Neves (direção musical) e Dani Amorim (direção de movimento).
INFÂNCIA, TIROS E PLUMAS - Texto de Jô Bilac. Direção de Inez Viana. Com a Cia OmondÉ. Teatro SESC Ginástico. Quinta a domingo, 19h.
"Infância, tiros e plumas"
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Ótima proposta gera texto irregular
Lionel Fischer
"Desequilibrada e bipolar, Marín está num processo litigioso de separação com Henrique, médico famoso por inventar um antidepressivo que cura traumas de infância. Porém, mesmo nessa situação, resolvem comemorar o aniversário de nove anos de Júnior numa viagem à Disney. Suzaninha, garota mimada e arrogante, é candidata à Miss Universo Mirim e está acompanhada de seu segurança Argos. No mesmo voo ainda viajam os traficantes Pitil e Fernando, que são funcionários da companhia aérea e sequestram Juanito, um cucaracho de quatro anos, para fazê-lo de mula. Fechando o grupo, a comissária Sângela, amante de Henrique".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima reproduz o enredo de "Infância, tiros e plumas", de Jô Bilac, mais recente produção da Cia OmondÉ. Em cartaz no Teatro SESC Ginástico, a peça chega à cena com direção de Inez Viana, estando o elenco formado por Carolina Pismel (Suzaninha), Debora Lamm (Marín), Iano Salomão (Argos), Jefferson Schroeder (Juanito), Juliane Bodini (Sângela), Junior Dantas (Cheval), Leonardo Brício (Henrique), Luis Antonio Fortes (Junior) e Zé Wendell (Pitil).
Em depoimento que consta do programa, a diretora Inez Viana revela que, ao longo de dez meses, ela e o grupo se dedicaram a examinar a própria infância e a passagem desta para a adolescência - e finalmente para a vida adulta. À medida que essa reflexão avançava e questões eram formuladas, o material ia sendo enviado para Jô Bilac, que respondia com pertinentes perguntas. Como se vê, tão longo e empenhado processo não deixa margem a nenhuma dúvida quanto à seriedade do projeto. No entanto, o texto dele resultante deixa um pouco a desejar.
Que Jô Bilac é um autor muito talentoso, isso todos sabemos - caso fosse desprovido de méritos dramatúrgicos não teria escrito, dentre outras, peças como "Conselho de classe " ou "Beije minha lápide". Sendo assim , em nada me surpreende que o texto contenha alguns personagens interessantes, eventuais diálogos muito saborosos e situações cujo proposital desvario objetiva uma crítica à sociedade de consumo. Mas esta, aos poucos, acaba perdendo sua potência, pois o autor prioriza em igual medida passagens significativas e outras bem menos relevantes. Neste sentido, talvez o resultado final fosse bem mais atraente se o número de personagens fosse um pouco menor. Enfim...trata-se apenas de uma opinião e como tal sujeita a todos os enganos.
Em contrapartida, o espetáculo assinado por Inez Viana é excelente, cabendo destacar a originalidade das marcações, o domínio dos tempos rítmicos e a coragem de levar às últimas consequências a desvairada proposta do autor no tocante aos personagens. Estes, por sinal, interpretados de forma irretocável por um elenco coeso e que evidencia total adesão ao jogo cênico proposto. Ainda assim, acho imperioso ressaltar as maravilhosas performances de Debora Lamm e Carolina Pismel. A primeira por sua capacidade de mesclar humor e dramaticidade, e a segunda pelo delicioso despudor que confere à ensandecida Suzaninha.
Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos no projeto - Mina Quental (cenografia), Flavio Souza (figurinos), Renato Machado e Ana Luzia Simoni (iluminação), Marcelo Alonso Neves (direção musical) e Dani Amorim (direção de movimento).
INFÂNCIA, TIROS E PLUMAS - Texto de Jô Bilac. Direção de Inez Viana. Com a Cia OmondÉ. Teatro SESC Ginástico. Quinta a domingo, 19h.