Teatro/CRÍTICA
"Eu, Mãe"
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Bela reflexão sobre o tempo e a maternidade
Lionel Fischer
"Criando uma espécie de peça-cápsula-do-tempo, a atriz encena e registra para suas duas filhas, por meio de uma câmera, todo seu assombro com a passagem do tempo e com a maternidade recente, para que elas assistam no futuro e compreendam como a mãe delas se sentia aos 43 anos de idade. Em diversos momentos da peça, a intérprete se dirige à câmera, como se conversasse com as filhas do outro lado da tela".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá "Eu, Mãe", de autoria de Cristina Fagundes, também responsável pela atuação. Em cartaz na Casa Rio, o espetáculo leva a assinatura de Alexandre Barros, Cristina Fagundes e Daniel Leuback.
"Eu quero que você, Nina, que hoje está com cinco anos, e que você, Bruna, que hoje está com três anos, possam, aí no futuro, me ver como eu sou hoje, no auge da saúde, da vitalidade. No auge da minha vida. E quero que assistam a essa gravação também quanto tiverem 43 anos de idade cada uma para que possamos por pelo menos uma vez na vida, num encontro único no tempo, ter a mesma idade. Eu queria ser amiga de vocês, ir caminhando junto com vocês, mas não posso, meu tempo é outro, eu vim primeiro. Então vamos fazer esse registro, está bem? Esta cápsula do tempo".
Esta fala, que consta do espetáculo, me tocou profundamente. E por diversas razões, sendo a principal a de que sempre desejei, como a autora, que o tempo me permitisse o impossível, ou seja, me encontrar com minhas duas filhas e meu filho quando tivéssemos a mesma idade. Como seria esse encontro? Talvez eu perguntasse: "E aí, amados? Eu fui um bom pai? Eu acolhi vocês nos momentos mais duros e com vocês brindei os mais alegres?".
Caso a resposta fosse afirmativa - e acredito que seria - então talvez enchêssemos a cara e fôssemos os quatro dançar forró na Feira de São Cristóvão, como a autora fez inúmeras vezes, evidenciando notável habilidade - e aqui, sem falsa modéstia, gostaria de dizer que meus filhos e eu também somos forrozeiros deslumbrantes. Mas voltemos à peça.
Estamos diante de um texto cujo principal mérito reside na capacidade da autora de conferir poesia a fatos inerentes à maternidade que todos conhecem - a dor do parto, as horas de sono subtraídas, a perda (ao menos circunstancial) da antiga liberdade etc. -, assim como a outros que dizem respeito à passagem do tempo e às relações que estabelecemos com aqueles que nos precederam. Neste último quesito, achei particularmente tocante a passagem em que a atriz fala de sua mãe e de sua avó, deixando claro que ambas estão nela e sempre estarão, mesmo quando tiverem partido, posto que instaladas em seu coração.
Com relação ao espetáculo, estruturado em uma chave hiper realista - toda a ação se passa na cozinha da Casa Rio e os objetos manipulados estão atrelados ao cotidiano -, nem por isso as soluções encontradas pela direção estão circunscritas ao previsível. Neste sentido, poderia destacar inúmeras passagens, mas opto por aquela que mais me encantou - a água transborda de um copo e se converte em chuva.
No tocante a Cristina Fagundes, trata-se de uma excelente atriz, possuidora de vastos recursos expressivos e que sempre se entrega de forma visceral às personagens que interpreta. No presente caso, não interpreta ninguém, pois está em cena vivendo a si própria e nos contando sua história. E esta merece ser prestigiada por todos aqueles que, a exemplo da autora, conseguem enxergar a vida como uma verdadeira dádiva.
Na equipe técnica, parabenizo a todos com o mesmo entusiasmo - Fernanda Montovani (iluminação), Alice Cruz e Tuca Benvenutti (cenário e adereços), Flavia Espírito Santo (figurino) e Cristina Fagundes e Gui Stutz (trilha sonora)
EU, MÃE - Texto e atuação de Cristina Fagundes. Direção de Alexandre Barros, Cristina Fagundes e Daniel Leuback. Casa Rio. Quartas e quintas às 20h.
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
segunda-feira, 12 de agosto de 2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO/PROEXC/ESCOLA DE TEATRO)
&
SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RIO DE JANEIRO (SPRJ)
APRESENTAM:
FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
PROGRAMAÇÃO DE 2019-2
FILMES ANALISADOS PELO PSICANALISTA: DR. NEILTON DIAS DA SILVA
E PELA MUSEÓLOGA DA UNIRIO: PROF. DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO.
30/08 – A FESTA (The Party, 2018, 71 min.)
DIREÇÃO: SALLY PORTER
Sinopse: Janet, uma política de esquerda, convida os amigos do partido para comemorar a sua escolha para o cargo de Ministra da Saúde britânica, porém, durante a festa, a surpresa revelada pelo marido de Janet, o intelectual Bill, transforma completamente o clima da celebração.
27/09 – A CASA DOS ESPÍRITOS (La Casa De Los Espíritus, 1994, 146 min.)
DIREÇÃO: BILLY AUSGUST
Sinopse: A partir do romance de Isabel Allende, o filme analisa a saga da família Trueba, da década de 1920 aos anos 1970, com a união de um homem simples que enriquece com uma jovem de poderes paranormais, até a família ser atingida pelo golpe que derrubou o presidente Salvador Allende.
25/10 – A GAROTA DO TREM (The Girl On The Train, 2016, 117 min.)
DIREÇÃO: TATE TAYLOR
Sinopse: Arrasada por seu recente divórcio, Rachel vive fantasiando sobre um casal aparentemente perfeito que mora em uma casa pela qual seu trem passa todos os dias. Certo dia, ela presencia algo estranho e começa sua própria investigação.
29/11 – NASCE UMA ESTRELA (A Star Is Born, 2018, 146 min.)
DIREÇÃO: BRADLEY COOPER
Sinopse: Jackson Maine, um cantor famoso, conhece Ally, uma cantora que trabalha em um restaurante. Encantado com seu talento, decide acolhê-la. Ally, ao ascender ao estrelato, Jackson vive uma crise pessoal e profissional devido aos problemas com o álcool.
SERVIÇO:
SEMPRE ÀS ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DO MÊS, DAS 18H ÀS 22H.
LOCAL – SALA VERA JANACOPOLUS / REITORIA DA UNIRIO
ENDEREÇO: AVENIDA PASTEUR, 296 – URCA.
ENTRADA FRANCA E ESTACIONAMENTO. FILME: 18H; DEBATE: 20H
PEQUENO HISTÓRICO DO FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA:
CRIADO PELOS PSICANALISTAS: DR. WALDEMAR ZUSMAN E DR. NEILTON DIAS DA SILVA, A PARTIR DE 2004 PASSA A CONTAR COM A PARTICIPAÇÃO DA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO, DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO, RESPONSÁVEL PELA PESQUISA, DIVULGAÇÃO E ANÁLISE CULTURAL DOS FILMES.
COM A PARCERIA: UNIRIO – PROEXC - ESCOLA DE TEATRO E SPRJ, O PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA MANTÉM UMA REGULARIDADE HÁ MAIS DE ONZE ANOS, TORNANDO-SE UM EVENTO MUITO CONCORRIDO, COM UM PÚBLICO FIEL E PARTICIPATIVO.
INFORMAÇÕES: forumpsicinema@gmail.com