segunda-feira, 28 de junho de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Rebú"
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Melodrama em versão impecável
Lionel Fischer
Criada em 2006, a Cia. Teatro Independente começou sua trajetória de forma auspiciosa - o esquete "Cachorro" venceu o I Mercadão Cultural - RJ nas categorias "Melhor Esquete" e "Melhor Direção". No ano seguinte, este trabalho originou um espetáculo também intitulado "Cachorro", indicado ao Prêmio Shell na categoria "Melhor Direção". E agora o grupo volta à cena com "Rebú", de Jô Bilac, autor do já citado "Cachorro". Em cartaz no Teatro "Gláucio Gill", o texto conta com direção de Vinicius Arneiro e elenco formado por Carolina Pismel, Júlia Marini, Diego Becker e Paulo Verlings.
Segundo o release que nos foi enviado, o texto pretenderia o seguinte: "Em tom de tragicomédia, o Teatro Independente cria um verdadeiro 'rebú' em uma peça de época com ares cinematográficos. O clima remete a um set de filmagem, porém sem o uso de recursos de projeções e afins. Ambientada no fim do século XIX, a trama conta a história dos recém-acasados Matias e Bianca, que moram numa casa isolada em meio a um campo. O jovem casal prepara-se para receber Vladine, irmã adoentada de Matias, que traz consigo seu bem mais precioso: Nataniel, uma espécie de filho. A exagerada cautela com a saúde da hóspede e a presença de seu acompanhante faz com que Bianca, aos poucos, crie uma rivalidade com ambos, levando às últimas conseqüências o embate".
Efetivamente, o fragmento acima citado traduz o essencial da trama, cabendo apenas ressaltar que Nataniel, acompanhante de Vladine, é um bode cego, ainda que humanizado e destituído de chifres. Trata-se, realmente, de um divertido e surpreendente achado. E o enredo em questão apoia-se em uma estrutura narrativa típica do melodrama, só que elevando ao superlativo as surpresas, paixões, emoções e dilaceramentos inerentes ao gênero.
Quanto às surpresas e reviravoltas, não cabe aqui mencioná-las, pois isso privaria o espectador de usufruí-las. Mas torna-se imperioso registrar o seguinte: se a montagem não levasse 75 minutos e sim meia-hora, não tenho a menor dúvida de que sairia do teatro consciente de haver assistido a algo de grande interesse. No entanto, o texto nos parece excessivo, e aos poucos o interesse começa a decair, mesmo que a direção continue criando soluções surpreendentes e o trabalho dos atores se mantenha em excelente nível.
"Rebú" reafirma o talento de Jô Bilac como dramaturgo, pois seu texto cria situações "hilariantemente trágicas", assim conseguindo materializar um olhar divertidamente crítico com relação a um gênero estruturado em cima de paixões e situações sempre à beira do paroxismo. Mas, como já foi dito, sua extensão acaba comprometendo suas ótimas idéias e bem estruturados personagens.
Quanto ao espetáculo, a direção de Vinicius Arneiro traduz de forma exemplar os conteúdos propostos pelo autor, valendo-se de marcas em total consonância com os tresloucados arroubos do texto, sendo tais marcas primorosamente executadas pelo elenco. Neste particular, cumpre ressaltar a notável precisão dos intérpretes com relação ao divertido e passional universo gestual proposto, assim como a habilidade do conjunto no tocante a variações rítmicas e modulações vocais.
Na equipe técnica, Paulo César Medeiros ilumina a cena valendo-se de surpreendentes contrastes de luz e sombra, contribuindo de forma decisiva para a valorização dos múltiplos climas emocionais em jogo. A mesma eficiência se faz presente nos figurinos de Marcelo Olinto, na cenografia de Daniele Geammal e na trilha sonora original de Luciano Correa.
REBÚ - Texto de Jô Bilac. Direção de Vinicius Arneiro. Com Carolina Pisnel, Júlia Marini, Diego Becker e Paulo Verlings. Teatro Gláucio Gill. Sábado e domingo, 21h.

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