terça-feira, 7 de junho de 2011

Teatro/CRÍTICA

"O gato branco"

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Mistério e suspense no Sérgio Porto


Lionel Fischer


No programa entregue ao público, o jovem, talentoso e premiado autor Jô Bilac revela que sua paixão por Agatha Christie remonta aos seus 15 anos, ou seja, teve início há uns oito ou nove anos - mas aqui o tempo é o que menos importa, mas sim a intensidade da referida paixão, como, aliás, é o que deveria prevalecer quando se trata de paixões amorosas, que podem durar tanto um dia como uma vida e serem igualmente significativas.

Apaixonado, pois, pela maior autora de livros de suspense, imagino que Jô Bilac tenha decidido lhe prestar um tributo, ou quem sabe se exercitar em um gênero que ainda não havia abordado. Seja como for, escreveu "O gato branco", em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto. João Fonseca assina a direção da montagem, que tem elenco formado por Bruno Ferrari, Camilo Bevilacqua, Fernanda Nobre, Leandro Almeida, Luciana Magalhães, Pablo Falcão e Paloma Duarte, com Antônio Abujamra fazendo participações em off.

Em termos de enredo, tudo gira em torno de um encontro em um barco por personagens que não se conheciam (ou se conheciam?) e, em princípio, nada teriam em comum (ou teriam?). Ali reunidos a convite de um misterioso anfitrião (ou não seria tão misterioso o tal anfitrião?), os personagens se vêem obrigados a decifrar um mistério, sob pena de gravíssimas conseqüências caso não obtenham êxito. E mais não posso revelar, por razões óbvias.

Se comparado à literatura ou ao cinema, esse tipo de texto perde muito no teatro, salvo em raríssimos casos. E isto se deve a duas constatações simples: quando se trata de um livro, o leitor vai entrando na trama a partir das imagens que a mesma lhe produz. No cinema, temos o close, sons de passos, uma mão sinistra que desliza por um corrimão, uma luz que se apaga subitamente e etc. Enfim, em termos cinematográficos, os recursos são infinitos e obrigam o espectador a ater-se naquilo que o cineasta privilegiou.

Já no teatro, e particularmente nesta peça, onde todos os personagens permanecem praticamente todo o tempo em cena, criar a atmosfera ideal (medo, terror, desejo de conhecer o assassino ou assassinos,  etc.) é tarefa sumamente ingrata. E mesmo que Jô Bilac tenha criado bons personagens e uma trama que não deixa de ser instigante, ao menos no meu caso meu interesse jamais ultrapassou o nível da mera curiosidade - mas isto não significa, que fique bem claro, que aqueles que compareceram à estreia não tenham sido tomados por um frenesi do qual não tive o privilégio de usufruir.

Quanto a ressalvas, acredito que o texto peca pelo excessivo número de palavras, afora o fato de certas passagens serem um tanto parecidas. Também não entendi o que levou a montagem a ser dividida em dois atos, já que não há mudança de cenário ou figurinos.

De qualquer forma, e como já deve ter ficado claro, o texto não deixa de possuir méritos, bastante valorizados pela ágil direção de João Fonseca e pela irretocável performance do elenco, tanto nas partes mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina.

Na equipe técnica, Nello Marrese assina uma cenografia que atende a todas as exigências do texto e do espetáculo, sendo corretos os figurinos de Mareu Nitschke, a iluminação de Daniela Sanchez e a trilha sonora de André Aquino, cabendo ainda mencionar a ótima direção de movimento de Rafaela Amado.

O GATO BRANCO - Texto de Jô Bilac. Direção de João Fonseca. Com Bruno Ferrari, Camilo Bevilacqua, Fernanda Nobre, Leandro Almeida, Luciana Magalhães, Pablo Falcão e Paloma Duarte. Espaço Cultural Sergio Porto. Ver dias e horários em veículos especializados.

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