quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Teatro/CRÍTICA

"A garota do biquíni vermelho"

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Emocionado e divertido tributo


Lionel Fischer


Ela estrelou filmes como "Garotas e samba", "De vento em popa", "É um maior", "Esse milhão é meu", "Pintando o sete", "O cupim", "Cacareco vem aí" e "Assim era a Atlântida", dentre outros. Na televisão, encantou e divertiu o país vivendo a inesquecível Ofélia, ao lado de Lúcio Mauro (Fernandinho), no programa "Balança mas não cai". Ainda na TV Globo, participou de "Planeta dos homens", "Satiricom" e "Chico City", no qual deu vida a outra personagem adorada pelo público: Terta, mulher de Pantaleão (Chico Anysio). Já é o bastante para identificar de quem estou falando? Talvez não. Então, prossigamos um pouco mais.

Pelas mãos de Silvio de Abreu, que a dirigiu em "Elas são do baralho" e "A árvore dos sexos", ela volta à TV na novela "Jogo da vida". Na extinta TV Rio, atuou nos programas "Noites cariocas" e "Praça Onze". E em 1978, com "Revista do Henfil", ganha o Prêmio Mambembe de melhor atriz, tornando-se a única ex-vedete a receber tal premiação. E agora? Já deu para matar a charada? Talvez ainda não, ao menos para os mais jovens. E justamente por isso, dentre outras razões, o presente projeto assume uma dimensão oportuníssima, pois presta emocionado e divertido tributo a uma artista popular da maior relevância: Sonia Mamed.

Em cartaz no Teatro Sesc Ginástico, "A garota do biquíni vermelho" leva a assinatura do jornalista Artur Xexéu, estando a direção a cargo de Marília Pêra, tendo o projeto sido idealizado por Eduardo Barata. No elenco, Regiane Alves (Sonia Mamed), Theresa Amayo (Dona Mercedes, mãe da protagonista), Karin Roepke (Dagmar Del Rio), Tatiana Pasquale, Ricca Barros (Narrador) e vários outros papéis, o mesmo ocorrendo com Ricardo Graça Mello, com ambos dando vida aos muitos homens com quem Sonia Mamed se relacionou. Manoel Francisco tem pequena partipação dançando um fragmento de "O corsário".

Sendo o Brasil um país que parece eternamente empenhado em relegar ao esquecimento artistas que marcaram época, o projeto em questão exibe mais este mérito: o de relembrar a importância que tiveram nomes como o de Sonia Mamed, falecida há 20 anos, e que fez enorme sucesso em todos os gêneros em que atuou, exibindo enorme versatilidade e um carisma que seduzia as mais diversificadas platéias.

Com relação ao texto, trata-se do primeiro escrito pelo jornalista Artur Xexéu, que tem como ponto de partida o seguinte: a artista está internada em um hospital, já à beira da morte, e então começa a recordar sua vida, sua carreira e seus muitos amores. Então o autor retorna no tempo e faculta ao público uma visão abrangente, divertida, humana e emocionada de Sonia Mamed. Mas é claro que, por ser um autor estreante, Xexéu ainda não domina completamente a carpintaria teatral, às vezes alongando um pouco algumas cenas, às vezes priorizando a informação em detrimento da ação. Mas tais detalhes em nada minimizam o alcance desta mais do que oportuna empreitada teatral.

No tocante ao espetáculo, senti falta de mais personagens em cena, ou talvez mais coristas nas passagens cantadas e dançadas. E essa carência se torna ainda mais evidente em função das dimensões do palco do Ginástico - em um espaço menor, tal carência seria menos gritante. Seja como for, Marília Pêra impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, conseguindo valorizá-lo ao máximo.

No que diz respeito ao elenco, Regiane Alves é uma figura encantadora no palco, mas talvez ainda possa explorar bem mais a malícia e sensualidade da homenageada, aqui materializadas de forma excessivamente ingênua. Theresa Amayo encarna bem a mãe eternamente preocupada com as atividades da filha, sendo que os demais intérpretes exibem desempenhos corretos, além da evidente alegria e emoção por estarem participando desta mais do que merecida homenagem.

Na equipe técnica, Kalma Murtinho responde por figurinos impecáveis, com Marcelo Marques assinando uma cenografia funcional, mas não muito expressiva. Tomás Ribas de Faria ilumina a cena de forma correta, a mesma correção presente na direção musical de Amora Pêra e Paula Leal, e na coreografia de Manoel Francisco, cuja participação dançando "O corsário" não cheguei a compreender.

A GAROTA DO BIQUÍNI VERMELHO - Texto de Artur Xexéu. Direção de Marília Pêra. Com Regiane Alves, Theresa Amayo e outros. Teatro Sesc Ginástico. Quarta a domingo, 19h.

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