segunda-feira, 19 de julho de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Festa selvagem na Era do jazz"

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Decadência e permissividade


Lionel Fischer


Tendo por base o poema "The wild party", do norte-americano Joseph M. March, já levado à cena na Broadway na forma de um musical, Paulo Afonso de Lima fez uma adaptação da obra e também assina a dramaturgia e direção do espetáculo, que mantém uma estrutura musical e pode ser visto no Teatro Ipanema, interpretado por Ronaldo Dal'Bianco (Burrs), Simone Rosa (Queenie), Diego Fonseca (Black), Paola Lopes (Kate), Lele Mendonza (Dolores), Reynaldo Machado (Don), Daniela Schmitz (Madeleine), Daruína Oliveira (Mae), Mariana Milani (Nadine), Emerson Espíndola (Jackie), Adriana Bandeira (Sally), Cristiano Morais (Oscar), Franco Kuster (Phill), Alfredo Garcês (Goldberg) e Lu Baratz (Mestre de Cerimônias).

Ambientada em Nova Iorque, em 1928, a peça gira em torno de uma festa a qual comparecem vários e diversificados personagens. O objetivo da tal festa não fica muito claro, o que equivale a dizer que não cheguei a compreender exatamente os objetivos do autor. Posso, no máximo, supor que pretendeu criar um quadro de decadência e permissividade, já que no ano seguinte os Estados Unidos entrariam em total colapso financeiro - guardadas as devidas proporções, estaríamos diante de uma espécie de "Baile da Ilha Fiscal", final de uma época, o que poderia justificar o fato de todos os personagens (ou quase todos) se permitirem todos os excessos e se desfazerem de suas máscaras, já que mantê-las seria inútil.

O que acabo de dizer se resume, apenas, a algumas conjecturas, sujeitas, portanto, a todos os enganos. Mas seja como for, o fato é que, embora potencialmente interessante, a idéia acaba aos poucos perdendo sua possível contundência, pois o texto se alonga em demasia, é muitas vezes repetitivo e só muito raramente algum personagem diz algo que nos provoque uma emoção genuína ou uma reflexão mais pertinente.

Quanto ao espetáculo, Paulo Afonso de Lima impõe à cena uma dinâmica criativa e vigorosa, cabendo destacar as passagens em que os personagens se imobilizam, criando quadros-vivos, como a sugerir fotos de um álbum de retratos. No que concerne às coreografias, cumpre destacar o ótimo trabalho realizado por Adriana Bandeira, executado com eficiência pelo elenco.

Já as músicas, só algumas poderiam se destacadas, sendo que muitas soam um tanto parecidas. E no que se refere ao canto, os atores exibem performances um tanto desiguais, o mesmo ocorrendo no que diz respeito às interpretações - e aqui isto é perfeitamente compreensível em função do grande número de profissionais em cena. Mas que fique bem claro que a maioria exibe bom potencial, que certamente poderá ser melhor avaliado em uma peça que permita atuações não tão fragmentadas.

No complemento da ficha técnica, Cibele Vidal e Paulo Afonso de Lima respondem por uma excelente cenografia, que atende a todas as exigências da montagem, cabendo ainda destacar os ótimos figurinos criados por Mary Martini e a expressiva iluminação de Ericeira Júnior, sendo corretos os arranjos musicais de Rafael Pereira.

FESTA SELVAGEM NA ERA DO JAZZ - Texto de Joseph March. Adaptação, dramaturgia e direção de Paulo Afonso de Lima. Com grande elenco. Teatro Ipanema. Sexta e sábado às 21h30, domingo às 20h30.

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