quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Teatro/CRÍTICA

"A paz perpétua"

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Poderosa metáfora no Oi Futuro



Lionel Fischer



As raças diferem, assim como os instintos, mas os três cães têm em comum o mesmo objetivo: ganhar a coleira branca, ambicionado prêmio para aquele que se revelar mais apto para combater o terrorismo. Um dos cães (Emanuel) revela propensões filosóficas, outro (Odin) exibe singular cinismo e o terceiro (John-John) é a perfeita materialização da força bruta. Há um quarto cão, paralítico, que coordena as provas e a quem cabe julgar o desempenho dos demais. Finalmente, um único homem, cuja função básica consiste em conduzir os cães para um outro espaço, onde se realizam a maioria dos testes.

Eis, em resumo, o contexto em que se dá "A paz perpétua", de autoria do espanhol Juan Mayorga, em cartaz no Oi Futuro Flamengo. Aderbal Freire-Filho assina a tradução e a direção do espetáculo, estando o elenco formado por Alex Nader, Gillray Coutinho, João Velho, José Loreto e Kadú Garcia.

Diante do exposto no parágrafo inicial, muitas interpretações podem ser feitas capazes de legitimar personagens híbridos, mescla de cães e homens. Haveria alguma humanidade nos primeiros, adquirida pelo convívio com os humanos? Os homens teriam se brutalizado a ponto de jamais conseguirem se libertar de sua selvagem origem? Ou será que Juan Mayorga, ao criar uma circunstância cênica plena de estranhamento, objetivou que ela fosse entendida como metáfora de um mundo em irreversível processo de esfacelamento ético e moral? Sinceramente, não cheguei a uma conclusão definitiva a respeito das intenções do autor, ainda que tenha feito muitas outras conjecturas além das expostas. 

Seja como for, o que importa é que estamos diante de um texto que aborda relevantes questões, sendo as mais significativas - ao menos para mim - a eliminação do outro como condição imprescindível para o triunfo pessoal, a perplexidade diante de tarefas incompreensíveis que ainda assim precisam ser cumpridas e a existência ou não de Deus, aqui discutido à luz de Pascal. E tais questões nos chegam através de excelentes diálogos e de personagens maravilhosamente construídos, predicados que contribuem de forma decisiva para manter a plateia em permanente estado de tensão e interesse.

Mas é claro que o êxito da presente empreitada também deve ser creditado a todos os profissionais nela envolvidos. A começar por Aderbal Freire-Filho. Além de assinar ótima tradução, Aderbal impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o contexto - marcações expressivas, precisão rítmica e sensível valorização de todos os conteúdos emocionais, políticos e filosóficos em jogo. Afora reiterar, uma vez mais, sua enorme capacidade de extrair excelentes atuações dos atores que dirige.

Neste particular, por sinal, gostaria de dizer o seguinte: é muito raro se assistir a um espetáculo em que todos os intérpretes, além de extraírem o máximo de seus personagens, também exibem uma contracena tão forte e visceral. Assim, parabenizo com o mesmo entusiasmo Alex Nader (cão paralítico), Gillray Coutinho (Homem), João Velho (Odin), José Loreto (John-John) e Kadú Garcia (Emanuel) e a todos agradeço a emocionante noite que me proporcionaram. 

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta instigante empreitada teatral - Maneco Quinderé (iluminação), Aderbal Freire-Filho (cenografia), Tato Taborda (música) e Antônio Medeiros (figurino).

A PAZ PERPÉTUA - Texto de Juan Mayorga. Tradução e direção de Aderbal Freire-Filho. Com Alex Nader, Gillray Coutinho, João Velho, José Loreto e Kadú Garcia. Teatro Oi Futuro. Quinta a domingo, 20h.  





  



   




sexta-feira, 25 de novembro de 2016

FESTIVAL DE TEATRO DO RIO CHEGA A SUA 20º EDIÇÃO E HOMENAGEIA JOSÉ CELSO MARTINEZ, LÍDER DO TEATRO OFICINA. ESTE ANO, SERÃO DISTRIBUÍDOS MAIS DE 50 MIL REAIS EM PRÊMIOS. 
De 01 a 17 de dezembro, com apresentações gratuitas na Sala Baden Powell, Cidade das Artes, Cinelândia, Madureira, Praça Mauá e Paquetá.

Um dos eventos teatrais mais antigos do Rio de Janeiro, o Festival de Teatro do Rio, tornou-se referência para classe, estudantes e público em geral. Nesta edição, o objetivo é realizar um evento com o maior alcance de público de sua história, com uma programação de qualidade, estímulo à linguagem teatral e intercâmbio. Em sua 20ª edição, o Festival terá duração de 16 dias e contará com a participação de diversos grupos do país, apresentando espetáculo consagrados, como “Estamira”, Mercedes, Amor, Te e “Em um lugar chamado lugar nenhum, entre outros. 

Serão duas semanas de apresentações gratuitas de peças, esquetes, debates, oficinas e atividades teatrais, com expectativa de receber pessoas das Zonas Centro, Sul, Norte e Oeste da cidade. O evento oferece a toda sociedade um panorama do que há de melhor na nova cena teatral.

O HOMENAGEADO

Em 2016, o Festival irá homenagear José Celso Martinez, grande ícone do teatro brasileiro. Diretor, autor e ator, destacado encenador da década de 1960, inquieto e irreverente, líder do Teatro Oficina, uma das companhias mais conectadas com o seu tempo. Uma das pessoas mais importantes ligadas ao teatro, seu trabalho é visto com antropogáfico. Por experimentar formas ousadas de se realizar uma peça teatral, Zé Celso já se viu entre críticas sensacionalistas. 

Construiu um dos mais originais percursos dos palcos brasileiros. É, provavelmente, a personalidade criativa mais forte do teatro brasileiro. Foi, em todo o caso, o encenador mais aberto a ideias ousadas e sempre renovadas, capaz de realizar, a partir delas, espetáculos surpreendentes, generosos, provocantes, excepcionalmente inventivosAtualmente, Zé Celso, como é conhecido, se intercala entre cinema e teatro.

A cada edição, o Festival de Teatro do Rio homenageia um artista que tenha, em sua história profissional, grande ligação com os palcos. Entre os prestigiados em edições anteriores estão: Domingos de Oliveira, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Maria Clara Machado, Milton Gonçalves, Nathália Timberg, Paulo José, Renata Sorrah, Laura Cardoso, Tônia Carrero e Sérgio Britto, além do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone e do Retiro dos Artistas.


MOSTRAS COMPETITIVAS

Para compor as Mostras Competitivas, foram selecionados, 9 trabalhos de cenas longas, peças com no mínimo 45 minutos, e 16 cenas curtas, além de esquetes com no máximo 17 minutos. Os espetáculos serão apresentados na Cidade das Artes e avaliados por um corpo de cinco jurados, além do voto popular. As obras serão indicadas e premiadas nas categorias (para cenas longas e curtas, cada):

           Melhor Espetáculo Teatral
           Melhor Espetáculo Teatral pelo Júri Popular
           Melhor Texto
           Melhor Direção
           Melhor Ator
           Melhor Atriz
           Visualidade (cenário, luz e figurino)

O Festival de Teatro do Rio é o único evento do gênero realizado há mais de 17 anos na cidade. Sua relevância cultural está diretamente ligada à sua vocação de valorizar pequenas companhias e grupos teatrais, desenvolver, fomentar e difundir as artes cênicas no Brasil, a partir da promoção do intercâmbio entre artistas, produtores,
diretores, estudantes e intelectuais.

O Festival também proporciona o desenvolvimento de ideias, a partir do contato, da resposta e do debate com o público. 

São oportunidades excelentes de exercício e experimentação, que podem indicar caminhos futuros de espetáculos e linguagens transformadores.

O evento dá a oportunidade a pequenos grupos teatrais de se apresentarem em espaços consagrados do teatro carioca submetendo-se ao julgamento de profissionais de destaque neste campo artístico. As oficinas e o projeto educativo de formação de público dão acesso democrático ao teatro, incentivando as novas gerações a pensar o teatro contemporâneo, seja como espectadores, seja como artistas no palco.

PROGRAMAÇÃO FESTIVAL

01/12 à 04/12
Mostra Cenas Curtas, na Sala Municipal Baden Powell, às 19h
Endereço: Av. Nossa Sra. de Copacabana, 360 - Copacabana, Rio de Janeiro - RJ

05, 06, 12 e 13/12 – Mostra de Rua
05/12 - Cinelândia - Praça Floriano - Centro, Rio de Janeiro - RJ, 20031-050
06/12 - Madureira - R. Parque Madureira, S/N - Madureira, Rio de Janeiro - RJ, (Entrada portão 1, próximo ao shopping Madureira)
12/12 - Praça Mauá - Praça Mauá, 1 - Centro, Rio de Janeiro, RJ.
13/12 - Paquetá - Escola Municipal Pedro Bruno R. Padre Juvenal - Paquetá, Rio de Janeiro - RJ

07 à 11/12 e 14 à 17/12 – Mostra Espetáculos
Fundação Cidade das Artes, às 20h - Endereço: Av das Américas 5.300, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro – RJ

05,06,07/12 – Mesas
Endereço: Av. Pasteur, 458 - Urca, Rio de Janeiro - RJ, 22290-240

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Mesa de debates 'Outras mídias' vai discutir, dia 29/11 no Oi Futuro Flamengo,
 novas maneiras de se fazer comunicação no país

Evento faz parte do Ciclo Ato Criador – Outros Possíveis, que completa 10 anos, e vai reunir
 David Miranda (vereador e ativista), Ana Karenina (fundadora e editora da Caneta Desmanipuladora), André Miguéis (fundador e articulista da Mídia Independente Coletiva-MIC) e Dríade Aguiar (fundadora e integrante da Mídia Ninja) 

Responsáveis por projetos de comunicação ousados, Ana Karenina (fundadora e editora da Caneta Desmanipuladora), André Miguéis (fundador e articulista da Mídia Independente Coletiva-MIC), Dríade Aguiar (fundadora e integrante da Mídia Ninja) e David Miranda (vereador e ativista) vão se reunir no Oi Futuro Flamengo, terça-feira (dia 29/11), na mesa de debates Outras Mídias, para discutir diferentes modelos de se fazer jornalismo, textos e vídeos a partir do uso de novas tecnologias e das mídias sociais. O evento faz parte do Ciclo Ato Criador - Outros Possíveis, dirigido por Ana Lucia Pardo, que completa 10 anos de atividades e que até o fim do ano ainda vai reunir nomes como Bia Lessa, Gregório Duvivier, Elisa Lucinda, Leandro Karnal e Jessé Souza em debates sobre temas atuais. 



Mesa Outras Mídias
Com reunião de grandes representantes da chamada ‘mídia alternativa’, a mesa vai discutir outros modelos de se fazer jornalismo, conteúdo e comunicação no Brasil e no mundo. Com uso de novas tecnologias e mídias sociais, Ana Karenina (fundadora e editora da Caneta Desmanipuladora), André Miguéis (fundador e articulista da Mídia Independente Coletiva-MIC), Dríade Aguiar (fundadora e integrante da Mídia Ninja) e David Miranda (vereador e ativista) apresentam outros olhares para a vida política, cultural e econômica do Brasil.

Ana Karenina Riehl
Atriz e visagista, Ana Karenina é fundadora e editora-chefe da Caneta Desmanipuladora, projeto que desconstrói reportagens substituindo um ou outro termo de manchetes de jornal e publicando nas redes sociais (a página na internet, criada em parceria com Rafael Caliari, conquistou cerca de 260 mil seguidores no Facebook; 3,5 mil no Instagram, 2,5 mil no Twitter e mil no Telegram – por enquanto). 

André Miguéis
Cineasta, articulista e membro fundador/ participante do conselho gestor da Mídia Independente Coletiva-MIC - Coletivo de mídia, fundado em 2013 e formado por jornalistas, cineastas e cidadãos interessados no processo de democratização da comunicação social no Brasil. Posteriormente, o coletivo passou a se dedicar à defesa dos direitos civis nas comunidades carentes e periferias da cidade do Rio de Janeiro. Atualmente, a Mídia Independente Coletiva-MIC possui representações em seis estados brasileiros. 

Dríade Aguiar
Integrante e uma das fundadoras do Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) – rede descentralizada de mídia de esquerda, com atuação em mais de 150 cidades no Brasil. Sua abordagem é conhecida pelo ativismo sociopolítico, declarando-se ser uma alternativa à imprensa tradicional, com amplo emprego das redes sociais na divulgação de notícias. O grupo ganhou repercussão internacional na transmissão dos protestos no Brasil em 2013. 

 David Miranda
David Miranda foi eleito o primeiro vereador LGBT da câmara do Rio nestas eleições. Casado há 11 anos com Glenn Greenwald, protagonizou grandes enfrentamentos, ao lado de Edward Snowden, pela liberdade na internet. Detido pelo governo britânico de maneira ilegal e enquadrado na lei antiterror, processou o Estado e venceu. Com o coletivo Juntos!, ele impulsionou a Casa da Juventude, projeto na Zona Portuária que mistura ativismo, midialivrismo e produção cultural. Coordenou a campanha contra o fim do programa “Rio Sem Homofobia”. Este ano, um artigo seu no jornal britânico The Guardian alcançou repercussão mundial ao denunciar a parcialidade de grandes grupos de mídia brasileiros.

Serviço:

Mesa Novas Mídias: Dia 29/11 – terça-feira, 19h. Oi Futuro Flamengo – Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo. Telefone: (21) 3131-3060.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Teatro/CRÍTICA

"A paixão segundo Adélia Prado"

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Apaixonante encontro na Laura Alvim



Lionel Fischer



Tão carente em tantos aspectos, o Rio de Janeiro acaba de receber um inestimável presente: a reinauguração do Teatro Laura Alvim, fechado há mais de um ano. E isto se dá através de um espetáculo admirável, que faculta ao público conhecer um pouco mais a vida e a obra de nossa maior poeta viva, Adélia Prado. Com adaptação teatral assinada por Elisa Lucinda e Geovana Pires, direção de Geovana e interpretação de Elisa, que divide a cena com o músico André Ramos, "A paixão segundo Adélia Prado" vai cumprir temporada de três meses, o que promete tornar ainda mais apaixonante o verão que se aproxima.  

O primeiro grande trunfo da montagem diz respeito ao excelente roteiro. A partir de versos, textos em prosa e entrevistas, as adaptadoras criam uma circunstância cênica que, sem abdicar da teatralidade, aproxima de forma calorosa a poeta daqueles que a assistem. Em dados momentos, tive a sensação de estar diante de Adélia na sala de sua casa, sendo merecedor de saborosas e aparentemente corriqueiras confissões. Mas em outras passagens, o tom ameno cede espaço aos dilacerantes embates de uma mulher que procura um ponto de equilíbrio entre o profano e o sagrado, que tenta desesperadamente conciliar seu arrebatador erotismo com os preceitos essenciais do catolicismo. A alma e o corpo são inconciliáveis? O desejo e a fé são incompatíveis? O espectro da punição é na realidade nosso anjo da guarda?

Enfim...essas e muitas outras questões são abordadas com delicadeza e furor neste espetáculo dirigido de forma impecável por Geovana Pires, que valoriza com enorme sensibilidade os muitos e diversificados climas emocionais em jogo. E a Geovana Pires cabe o mérito suplementar de haver extraído excelente performance de Elisa Lucinda, ela também uma poeta de primeiríssima linha.

Além de possuir ótima voz, expressividade corporal e inteligência cênica, Elisa Lucinda exibe a rara qualidade de nos magnetizar por completo desde que entre em cena, faça ela o que fizer, e ainda que nada faça. Um exemplo: há uma passagem em que ela permanece sentada olhando para a plateia. Através de sutis alterações faciais e corporais, a atriz sugere que a personagem pode estar pensando algo a respeito de si mesma, ou então que seu alvo somos nós, que a olhamos. Aos poucos, um riso algo nervoso, algo cúmplice, se estabelece. E logo todos estamos sorrindo, sem saber exatamente por que. Sob todos os aspectos, um breve e memorável momento de total comunhão entre quem faz e quem assiste.

Mas é óbvio que a atuação de Elisa Lucinda não se resume ao momento acima mencionado. Ao longo de todo o espetáculo, é maravilhoso ver a coragem com que mergulha visceralmente em um universo em que lágrimas e sorrisos caminham sempre de mãos dadas, em que momentâneas tréguas são sempre o prenúncio de inevitáveis tempestades. Assim, só me resta agradecer o privilégio de ver em cena uma artista do porte de Elisa Lucinda - muito bem acompanhada pelo excelente músico André Ramos -, e desejar que os sempre caprichosos deuses do teatro abençoem esta imperdível empreitada teatral.

Com relação à equipe técnica, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo - Carlos Malta (direção musical), Djalma Amaral (iluminação), Bia Junqueira (cenografia), Madu Penido (figurino), Duda Maia (direção de movimento), Ronald Valle (preparação vocal) e David Lima e Bruno Cachimbo (direção artística).

A PAIXÃO SEGUNDO ADÉLIA PRADO - Textos de Adélia Prado. Adaptação teatral de Elisa Lucinda e Geovana Pires. Direção de Geovana Pires. Com Elisa Lucinda e o músico André Ramos. Teatro Laura Alvim. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.






quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Caros amigos,
O ano está praticamente no fim e vamos encerrar nosso FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA apresentando no dia 25 de novembro, às 18h, na Sala Vera Janacópulos da UNIRIO, um filme sensível e penetrante: O VISITANTE (The Visitor, 2008, 105 min.), segundo longa-metragem dirigido pelo premiado  Tom McCarthy, expoente do Oscar de  roteiro original obtido pelo filme Spotlight: segredos revelados (2015).
O título escolhido para fecharmos o ano obteve significativo reconhecimento em diversos festivais internacionais com um elenco de pesosendo o personagem principal interpretado por Richard Jenkinsindicado ao Oscar de melhor ator e a outros prêmios por sua atuação, contando ainda com a participação da extraordinária atriz árabe-israelense, Hiam Abbass, conhecida no Brasil pelo filme Lemon Tree.
Exibido na mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2008, a película tangencia o estado paranoico do pós 11 de setembro, e segue para além de questões políticas ou da discussão étnico cultural, versando sobre as surpresas que a vida traz quando se permite seguir seu fluxo sem julgamentos ou preconceitos. É um filme que emociona com leveza, sem ser dramático, acompanhando como o personagem Walter se envolve com seus inquilinos – amigos, transformando completamente sua vida monótona e vazia.
Enfim, uma oportunidade imperdível de se assistir e comentar um trabalho indagador. Contando, como sempre, com a divulgação aos amigos e interessados no viés cultural e psicanalítico, aguardamos todos vocês para mais um instigante debate. 
E, nos reencontraremos no mês de março de 2017, após o recesso da UNIRIO e terminarmos a seleção dos filmes, que será enviada a todos. Um abraço de Ana Lúcia de Castro e Neilton Silva.
SERVIÇO:
DATA: 25 DE NOVEMBRO DE 2016.
HORÁRIO: FILME: 18h; ANÁLISE E DEBATE: 20 h às 22 h.
LOCAL: SALA VERA JANACÓPULOS – UNIRIO
ENDEREÇO: AV. PASTEUR, 296.
ANÁLISE CULTURAL: PROF. DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO
ANÁLISE PSICANALÍTICA: DR. NEILTON SILVA
ENTRADA FRANCA - INFORMAÇÕES: forumpsicinema@gmail.com
NOTA: Quem se interessar em adquirir o livro: Fórum de Psicanálise e Cinema: 20 filmes analisados, de autoria de Ana Lúcia de Castro e Neilton Silva, ele se encontra à venda nos dias do FÓRUM. 
HISTÓRICO: O FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA FOI CRIADO EM 1997, COMO UM PROJETO CIENTÍFICO DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA RIO 3, PELO ENTÃO PRESIDENTE, DR. WALDEMAR ZUSMAN, E PELO DIRETOR DO INSTITUTO, DR. NEILTON DIAS DA SILVA. DESDE 2004 PASSOU A CONTAR COM A PARTICIPAÇÃO DA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO, DRA ANA LÚCIA DE CASTRO, RESPONSÁVEL PELAS ANÁLISES CULTURAIS DOS FILMES. EM 2006, A APRIO 3, ATUAL SPRJ, CELEBROU  PARCERIA COM A UNIRIO PARA SEDIAR O PROJETO MENSALMENTE, SEMPRE MUITO CONCORRIDO.


sábado, 5 de novembro de 2016

Teatro/CRÍTICA

"A vida passou por aqui"

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Montagem imperdível no Café Pequeno



Lionel Fischer



"A peça conta a história de uma profunda amizade entre uma mulher e um homem de estratos sociais diferentes. Silvia, professora e artista plástica, viveu grande parte de sua vida às voltas com as crises em seu casamento. Floriano, contínuo, inteligente e de hábitos simples, sempre levou a vida com leveza e bom humor. Quando se inicia a ação, Silvia é uma mulher solitária que se recupera de um AVC e Floriano é o único amigo presente. Aos poucos, graças a seu bom humor e alegria, ele contagia Silvia a ponto de fazê-la recuperar os movimentos. E juntos se divertem e comemoram os altos e baixos de quase 50 anos de amizade". 

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "A vida passou por aqui", de autoria de Claudia Mauro, em cartaz no Teatro Café Pequeno. Alice Borges assina a direção do espetáculo, tendo Marcos Ácher como diretor assistente. No elenco, Claudia Mauro e Édio Nunes.

Como se sabe, muitos textos já foram escritos abordando a amizade e, mais especificamente, a amizade entre um homem e uma mulher. Mas este me parece especial, não tanto porque envolve pessoas pertencentes a estratos sociais diferentes, mas sobretudo porque enfatiza o poder que a alegria possui de promover verdadeiros milagres. 

Sem entrar em maiores detalhes sobre o enredo, pois isso privaria o espectador de deliciosas surpresas, ao longo da peça constatamos que Silvia pertence àquele grupo de pessoas que tende a reagir de forma drástica aos percalços da vida, independentemente de sua maior ou menor gravidade. Já Floriano adota uma postura inversa, pois apesar de também sofrer eventuais percalços, não os encara  
como determinantes do seu futuro, talvez pela consciência que possui de que é impossível levar um barco sem temporais. Enquanto Silvia acredita estar sempre à beira de um naufrágio, Floriano aposta no caráter efêmero do vento. 

Sob todos os aspectos, "A vida passou por aqui" é um texto de primeiríssima qualidade. Valendo-se de ótimos diálogos e de personagens maravilhosamente estruturados, Claudia Mauro aborda, sempre com humor e delicadeza, não apenas a amizade entre um homem e uma mulher, mas também questões referentes à velhice, à relação com os filhos, aos sonhos que acalentamos e nem sempre materializamos, dentre outros temas. E, em última instância, parece nos sugerir que, se eventualmente lágrimas são inevitáveis, ainda assim elas devem ser encaradas como prenúncio de muitos risos. 

Com relação ao espetáculo, a excelente atriz Alice Borges realizou um trabalho primoroso, tanto pela dinâmica que impõe à cena - marcações expressivas, notável precisão rítmica - quanto por sua atuação junto ao elenco. Sem nenhum temor de estar equivocado, não hesito em afirmar que Claudia Mauro e Édio Nunes exibem as melhores performances de suas carreiras. 

Ambos com aplaudidas atuações mais voltadas para o humor, aqui os intérpretes mergulham profundamente em um universo em que só eventualmente a exuberância se materializa - isto ocorre nas passagens em que dançam, humilhando impiedosamente os mortais que os assistem. Mas na maior parte da peça, o que prevalece são gestos delicados, vozes que articulam o texto sem apelar para desnecessárias ênfases, o que nos permite absorver os múltiplos conteúdos com uma serena sensação de cumplicidade. A ambos, portanto, agradeço a maravilhosa noite que me proporcionaram, e desejo que muitos possam ter o privilégio de usufruir emoções semelhantes às que senti na noite de ontem.

Com relação à equipe técnica,  considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta imperdível empreitada teatral - Nello Marrese (cenografia), Ana Roque (figurinos), Paulo César Medeiros (iluminação), Claudio Lins e Patricia Mauro (trilha sonora), Larissa Bracher (coach), Paula Águas (supervisão de movimento), Édio Nunes (coreografias) e Renata Paschoal, que cada vez mais se firma como uma das melhores profissionais de produção do teatro carioca.

A VIDA PASSOU POR AQUI - Texto de Claudia Mauro. Direção de Alice Borges. Com Claudia Mauro e Édio Nunes. Teatro Café Pequeno. Sexta a domingo, 20h.