quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Que saudade, amigo...

          Hoje acordei com uma saudade quase física daquele que foi o grande amigo de minha vida - quando o conheci, tinha 21 anos; ele, dezoito. Já prestei aqui, neste blog, um breve tributo a esta pessoa maravilhosa que nos deixou recentemente: Bernardo Jablonski. Portanto, não voltarei a fazê-lo, ao menos de forma semelhante.

          Assim, decidi colocar aqui um breve trecho do livro de humor sobre o teatro que escrevemos juntos e lançamos em 2004 (Editora Caravansarai): "O Teatro por Dentro ou por Dentro do Teatro - tudo que você sempre quis saber sobre o teatro e nunca lhe ocorreu" - nunca é demais ressaltar que a publicação contou com uma pertinente e divertida orelha escrita por Domingos Oliveira.

Então, transcrevo aqui o prólogo que dá início à publicação e a seguir uma das questões levantadas - 50, no total.

Advertência

          Antes que o leitor inicie séria e atentamente a leitura do que se segue - e este livro só cumprirá sua finalidade se for lido séria e atentamente - os autores gostariam de esclarecer não as motivações que os levaram a produzir o presente volume, mas seu formato final. Por serem amigos de longa data e tendo sempre cultivado o hábito de refletirem juntos sobre o teatro, chegou o momento em que julgaram conveniente partilhar suas reflexões com o maior número possível de seres humanos.

          No entanto, e para constrangimento de ambos, já no início dos trabalhos começaram a divergir. E foram divergindo tanto, e a tal ponto, que, antes de cortarem relações para sempre, mas ainda desejando que o presente livro chegasse até o público, concluíram que ele só poderia ser finalizado se, a cada questão levantada, duas alternativas fossem apresentadas, ao contrário do que haviam previsto - como até então concordavam em praticamente tudo, imaginaram que bastaria uma resposta, que sintetizaria o pensamento da dupla.

          Portanto, cada pergunta terá como resposta um SIM e um NÃO. Mas o leitor jamais ficará sabendo a quem atribuir o SIM e o NÃO, pois nem quanto a isto Bernardo Jablonski e Lionel Fischer chegaram a um acordo. De fato, uma lástima, já que o teatro, sendo a arte do encontro, curiosamente separou dois amantes desta sublime atividade, cuja amizade perecia fadada a se perpetuar através dos tempos.

*     *     *

Questão 16

Poeta, autor, diretor e teórico, o alemão Bertolt Brecht ingressou na imortalidade não apenas em função das obras-primas que escreveu, mas também - e, quem sabe, sobretudo - por sua famosa teoria, conhecida como "distanciamento brechtiano". Pois bem: como ninguém jamais chegou a um acordo sobre o que isto significa, seria lícito supor que, em última instância, o que Brecht desejava mesmo era que a platéia se sentasse o mais longe possível do palco?

SIM - De acordo com os principais biógrafos do gênio alemão, Brecht nutria verdadeira ojeriza no que concerne à proximidade física, tanto em nível pessoal como artístico - não são poucos, por sinal, os que sustentam que até quando se relacionava sexualmente, sempre sob implacável coação, Brecht o fazia a uma certa distância, beneficiado pelo colossal membro que possuía. A mera hipótese de ter sua pele roçada por uma outra o colocava em estado de pânico total, sendo também avesso a cheiros - estes, segundo seus biógrafos, produziam reações alérgicas no artista, tanto internas (asma histérica) quanto externas (brotoejas coçativas).

          Assim sendo, e levando-se em conta que considerava seus atores como projeções de si mesmo, nada mais natural que Brecht estendesse a eles as precauções que adotava para salvaguardar sua integridade, o que o levou a afastar cada vez mais a platéia da cena, só interrompendo tal processo quando alguém o advertiu que muitos espectadores já estavam tendo que se valer de lunetas para apreciar as obras-primas que materializava com metódica constância.

NÃO - Na realidade, tal pergunta não mereceria sequer resposta, tamanha a sua carga de leviandade e ignorância. Em todo caso, e em respeito ao eventual despreparo teórico do leitor, cumpre registar o que se segue.

          O "distanciamento brechtiano" se deve, em primeiro lugar, à consciência que Brecht possuía da grande emotividade do povo alemão, que, em sua opinião, já derramara lágrimas em excesso com a perda da Primeira Guerra Mundial. Em segunda instância, havia a tentativa de não deixar a platéia se envolver "burguesa e acriticamente" com o que estava sendo dito no palco, o que atrapalharia o processo de conscientização que levaria à revolução socialista!

          Brecht, um sonhador, considerava como platéia ideal a formada por camponeses esclarecidos e conscientes, que assistiriam às suas peças com comentários irônicos, jocosos e altamente cônscio-revolucionários. Mais tarde, os roteiristas do programa de TV "Muppet Show" se aproveitaram desta dica colocando dois velhinhos ranzinzas e engraçados que sacaneavam o próprio programa - isso sim é que é distanciamento!

           Agora, esta história de membro colossal...sei não...só pode ser um guloso desvario de meu colega de escrita. Até onde se sabe, colossal é apenas a rica obra deixada por mestre Brecht. Mas como a comunidade gay costuma andar muito bem informada...pode ser, né?

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