quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Teatro Grego


Atendendo a muitos pedidos, transcrevo a seguir um resumo da obra dos quatro mais importantes dramaturgos da Grécia Antiga, berço do teatro: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes - os três primeiros autores trágicos e o último, o maior comediógrafo da Antigüidade. O presente material foi extraído de 501 Grandes Escritores, que pode ser adquirido em qualquer banca de jornal pela módica quantia de R$ 19,99 (Editor Geral: Julian Patrick. Prefácio de John Sutherland. Editora Sextante)


ÉSQUILO

NASCIMENTO: 525 a.C (Elêusis, próximo a Atenas, Grécia)

MORTE: 455 a.C (Gela, Sicília)

ESTILO e GÊNERO: com uma linguagem repleta de riqueza descritiva e imagens complexas, Ésquilo fez inovações ousadas na forma dramática e deu destaque a temas políticos e religiosos.

PRINCIPAIS OBRAS:

Os persas
Os sete contra Tebas
As suplicantes
Prometeu acorrentado
Oréstia

          O epitáfio de Ésquilo dizia simplesmente que ela havia lutado contra os persas em Maratona, em defesa de sua Atenas natal. Omitia, porém, o vigor de seus feitos literários: sua inovações formais tiveram um papel decisivo nos primórdios da tragédia grega, e sua poesia é notável pela força contínua e pela beleza das imagens.

          Nascido quando Atenas ainda era governada por um tirano, Ésquilo testemunhou a fundação da democracia ateniense e a aurora da era clássica. Durante uma carreira que durou quase meio século, ele produziu cerca de 80 peças, das quais apenas sete sobreviveram. Cada uma dessas peças demonstra a influência da era de transição em que foram escritas, caracterizadas por preocupações políticas com a democracia que ainda dava seus primeiros passos.

           Acompanhando essa consciência política está arraigada uma sensibilidade religiosa que, ao reconhecer a responsabilidade individual, considera que as ações humanas estão inextricavelmente vinculadas à vontade divina. O progresso humano é possível, mas apenas por meio do sofrimento imposto pelos deuses (tema que é magistralmente exemplificado na obra-prima de Ésquilo, a trilogia Oréstia)

          A seriedade dos temas enfrentados pelo autor combina com a majestade de seu estilo. Delicia-se em enfileirar uma sequência de adjetivos compostos e misturar imagens, e valoriza mais a grandeza misteriosa do que a clareza. Além de ser um poeta de primeira linha, Ésquilo foi o mais inovador dos antigos autores de tragédias e responsável pela introdução do segundo ator (a tragédia anteriormente envolvia apenas um ator e o coro).

          Com essa combinação de estilo refinado e inovação ousada, Ésquilo abriu caminho para a era de ouro do teatro clássico e preparou o palco para a entrada de seus sucessores, Sófocles e Eurípedes.


SÓFOCLES

NASCIMENTO: 496 a.C (Hippelos Colonus, Grécia)

MORTE: 406 a.C (Atenas, Grécia)

ESTILO E GÊNERO: Sófocles foi um dramaturgo de escritos ousados, compactos e contidos (se comparados com os de Ésquilo). Usava o contraste de personagens, temas e climas e empregava a ironia com grande habilidade.

PRINCIPAIS OBRAS:

Aias
Antígona
As traquínias
Édipo rei 
Édipo em Colono
Electra
Filoctetes

          Durante sua longa vida, Sófocles de Atenas escreveu 123 peças e competiu tanto com Ésquilo quanto com Eurípedes. As sete tragédias remanescentes exploram a grandeza e o sofrimentro de seres humanos exepcionais, com habilidades quase divinas, que precisam escolher entre um desastre certeiro ou um compromisso que trairia a natureza heroica que os separa dos mais comuns dos mortais. A habilidade dramatúrgica de Sófocles foi reconhecida desde Aristóteles, que elogiava seu domínio do ritmo narrativo e da tensão dramática, até então sem paralelos.

          Quando a loucura enviada pelos deuses faz com que Ajax traga a desgraça para si em Troia, em Aias, um feroz senso de honra e de vergonha não permite que reste ao mais poderoso guerreiro grego outra opção além do suicídio. Édipo rei dramatiza como a própria inteligência que outorga poder ao monarca conduz sua implacável busca pela verdade, levando em seguida à loucura, à cegueira autoprovocada e ao exílio.

          Esses dilemas trágicos podem ser compreendidos em termos políticos mais amplos como confronto entre valores de um passado homérico, que privilegiava o indivíduo, e os contemporâneos, da democracia ateniense do século V, que servia aos interesses da comunidade e desencorajava comportamentos extremos.

          A intransigência heroica leva a um isolamento total e assustador, até mesmo dos deuses, em um mundo governado por um destino misterioso e cruel. As traquínias nos mostra que Zeus não salvará nem mesmo seu filho Héracles (Hércules, na versão latina), modelo do heroísmo grego, de uma morte torturante que o despe tanto de sua carne quanto da sua celebrada masculinidade.

          Porém, a opção livre e autônoma do sofrimento no lugar da aceitação das limitações humanas dota os heróis de Sófocles de assombro e poder num mundo onde o passado não lega qualquer conhecimento, o futuro não reserva esperanças e o presente traz apenas padecimento.


EURÍPEDES

NASCIMENTO: 480 a.C (Salamis, Grécia)

MORTE: 406 a.C (Macedônia)

ESTILO E GÊNERO: Eurípedes foi o enfant terrible da tragédia grega do século V a.C. Seus protagonistas desfigurados pela guerra exibem um ceticismo sofista e sofisticado em relação aos mitos e heróis.

PRINCIPAIS OBRAS:

Medeia
Hipólito
Hécuba
Electra
As troianas
Helena
Ifigênia em Áulis
As bacantes


          Fascinado por deuses e monstros, Eurípedes poderia ser chamado de o primeiro dramaturgo moderno. Embora evitasse a política - ao contrário de seus contemporâneos mais velhos e de Sófocles, seu rival -, Eurípedes deixava clara sua desilusão pela cultura ateniense, vestindo seus heróis com farrapos. Em As troianas, chegou a criticar abertamente a política de relações exteriores da cidade-estado ao comparar o massacre de Melos com a destruição de Troia - vista, de forma incomum, pelo ponto de vista dos troianos.

          Para protestar contra a Guerra do Vienã, em 1971, Michael Cocoyannis filmou As troianas valendo-se de uma tradução feita por Edith Hamilton em 1937, que via Eurípedes como um pacifista vivendo em uma era beligerante. Certamente, suas outras peças sobre os mitos heroicos fundadores da Grécia - Helena, Ifigênia em Áulis e Hécuba - perguntam "Guerra? Para que serve?". Peças como As bacantes, que satirizam os fundadores da Grécia, revelam o autor como um iconoclasta. Seus deuses, como o Baco selvagem e carismático, são monstros. Mais do que isso, são políticos.

          Enquanto as peças de Ésquilo sugerem um temor ritual pela incompreensão das ações dos deuses, e os dramas de Sófocles exploram sua lógica de longo prazo, Eurípedes vê os deuses e os seres humanos envolvidos em uma dança do poder volúvel, egoísta, profunda e dolorosamente constrangedora.

          Embora considerado um poeta menor em comparação a seus predecessores, Eurípedes demonstra sua sagacidade selvagem ao olhar o lado oculto das palavras e dos personagens. Em Medeia, várias vezes atribui-se à heroína a qualidade de sophronsyne, o mais alto nível de sabedoria masculina para os gregos. Eurípedes quer demonstrar, em parte, que sophronsyne é diferente para as mulheres e também que o pensamento, como todos os dons dos deuses, é uma faca de dois gumes. Suas peças ainda são afiadas o bastante para lacerar.


ARISTÓFANES

NASCIMENTO: 448 a.C (Provavelmente Atenas, Grécia)

MORTE: 388-385 a.C (local desconhecido)

ESTILO E GÊNERO: considerado o mais representativo da comédia grega por seu estilo, que une deboche e invenções pessoais à sátira política e paródia sutil da literatura.

PRINCIPAIS OBRAS:

Os acarnenses
Os cavaleiros
As nuvens
As vespas
A paz
As aves
Lisístrata
As tesmoforiantes
As rãs
A revolução das mulheres
Um deus chamado dinheiro


          O primeiro perfil de Aristófanes encontra-se em Simpósio, de Platão, um retrato amistoso de um homem que apreciava os prazeres da vida e era, como suas comédias, ao mesmo tempo divertido e sério. A maior parte do material biográfico sobre Aristófanes, porém, não é comprovada e provavelmente baseia-se em suas peças.

          Os acarnenses, sua obra mais antiga a sobreviver, incorpora preocupações altamente atuais e enredos fantásticos característicos das peças "políticas" da velha comédia de Atenas do século V antes da era cristã: um herói simpático, frustrado com a situação, emprega toda a sua sagacidade maliciosa para superar seus inimigos com meios sobrenaturais. O pobre fazendeiro Dicaeopolis passa a perna nos demagogos linha-dura de Atenas ao obter, em particular, a paz com os espartanos, garantindo para si, dessa forma, todos os prazeres impedidos pela Guerra do Peloponeso - comida, vinho e sexo.

          Acompanhando a obscenidade onipresente e o humor grosseiro, tais interesses genéricos da antiga comédia colocavam a ação no mundo cotidiano, no aqui e agora, em contraste extremo com o passado mitológico, altivo, austero e distante empregado pelo gênero rival, a tragédia grega. Os acarnenses também prima por conter o trecho indiscutivelmente mais picante da literatura antiga, no qual o herói negocia as filhas de um comerciante recorrendo a uma série de trocadilhos muito explícitos sobre a vagina.

          Aristófanes estilhaçou a ilusão dramática preservada a todo custo pela tragédia graças ao abuso do ad hominem, recurso adotado pela mais antiga tradição da poesia iâmbica. Para provocar riso, o poeta cômico desfazia dos políticos, de cidadãos, de outros poetas e da própria plateia com deboche disperso e persistente. O implacável retrato de Sócrates em As nuvens, onde aparece como um charlatão excêntrico e representativo do crescente movimento sofista, levou fama de ter contribuído para a execução do filósofo.

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