segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Callas"

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A trágica vida de um mito



Lionel Fischer



"Paris, 15 de setembro de 1977. Um dia antes de seu falecimento, Maria Callas vai ao encontro do jornalista e amigo John Adams para ajudar na organização da abertura de uma exposição sobre sua vida e carreira. Entre figurinos, jóias, quadros, discos e imagens, a cantora lembra sua trajetória gloriosa no mundo lírico e aos poucos vai se desarmando, tira a máscara e mostra o abismo que sempre existiu entre a diva do palco e a mulher do dia a dia. Fala da carreira de sucesso, do fim do casamento, do conturbado relacionamento com Aristóteles Onassis e da morte do filho, dentre outros assuntos que surgem no decorrer do encontro".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Callas", de Fernando Duarte, que acaba de entrar em cartaz no Teatro do Leblon (Sala Fernanda Montenegro). Marília Pêra assina a direção do espetáculo, que tem elenco formado por Silvia Pfeifer e Cássio Reis.

Se em "Orgulhosa demais, frágil demais", que estreou no ano passado e ainda está em cartaz no Centro Cultural Correios, Fernando Duarte dividiu seu foco entre Maria Callas e Marilyn Monroe, agora o autor concentra todas as atenções em esmiuçar ainda mais a vida e trajetória artística daquela que é considerada a maior cantora lírica da história.  

Embora relute em acreditar que a genialidade só se faça presente naqueles que padecem ou tenham padecido de sofrimentos só comparáveis aos de Jó, ainda assim não deixa de ser curioso o fato de que a maioria dos artistas de exceção não passaram pela vida em branca nuvem e muito menos em plácido repouso adormeceram. No caso específico de Maria Callas, é possível que a tragicidade de sua vida tenha em muito contribuído para a força trágica que exibia em cena. E talvez seja esse paralelo que tenha motivado o autor a escrever a presente obra.

Aqui, estimulada por John Adams, Callas revive seus momentos mais gloriosos, mas também aqueles em que foi depreciada pela crítica e ironizada pelo público. Fala de seus amores, em especial por Aristóteles Onassis, mas não hesita em explicitar a dor que sentiu ao ser por ele abandonada. Menciona seu desejo desesperado de ser mãe e a perda precoce de seu filho. Aborda sua obsessão pela perfeição e o desprezo que nutria por suas rivais. Revela o pavor que sente da solidão e sua revolta por não ter, no final de sua vida, outras companhias além da governanta e do motorista.

Estamos, portanto, diante de um texto que faculta ao espectador uma visão abrangente da mulher e do mito, e cuja versão cênica contribui decisivamente para enfatizar os méritos que lhe são inerentes. Impondo à cena uma dinâmica cuja refinada elegância confere ainda mais tragicidade aos temas abordados e explorando com grande eficiência os ótimos vídeos selecionados por Mídias Organizadas, Marília Pera exibe o mérito suplementar de haver extraído seguras e sensíveis atuações do elenco.

Na pele de John Adams, Cássio Reis consegue materializar todas as características de um personagem completamente fascinado por Callas, cabendo destacar a clareza e elegância de seu universo gestual, assim como a mescla de firmeza e doçura que impõe à sua voz. Vivendo Callas, Silvia Pfeifer exibe a melhor atuação de sua carreira, explorando com a mesma eficiência tanto o ferino sarcasmo da personagem quanto sua espantosa carência e fragilidade. Cabe também ressaltar sua grande capacidade de entrega, sem a qual seria impossível interpretar uma personalidade tão complexa como Maria Callas. 

Na equipe técnica, destaco com grande entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Sonia Soares (figurino), Rafael Guedes (cenário), Paulo César Medeiros (iluminação), Paulo Arguelles (trilha sonora), Alessandro Person (desenho de som), Evânio Alves (visagismo) e Duda Maya (preparação corporal).

CALLAS - Texto de Fernando Duarte. Direção de Marília Pêra. Com Silvia Pfeifer e Cássio Reis. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 19h. Domingo, 18h.








2 comentários:

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  2. texto preconceituoso que apaga o brilho da obra e a torna pretensiosa de uma forma negativa ao ligar a imagem de um templo da arte a falas fúteis desnecessárias e de mal gosto, uma maria callas delirante e simplória que em nada alem dos primeiros 5 minutos lembra o mito nem a mulher que callas conhecemos, me abismo ao ver o nome de Marilia pera ligado a uma pataquada como esta onde o menor defeito e o figurino despreparado que nao se mantem como deveria, mas vale parabenizar a cenografia.

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