Teatro/CRÍTICA
"Bibi, uma vida em musical"
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Inesquecível encontro entre palco e plateia
Lionel Fischer
"A história familiar, profissional e amorosa da artista se enredam. A formação em música, dança e línguas estrangeiras foi estimulada pela mãe Aida Izquierdo, bailarina espanhola. A estreia profissional no teatro, aos 19 anos, foi pela mão do pai, o ator Procópio Ferreira, em papel escrito por ele para a filha. Assim, o musical percorre todas as fases da vida de Bibi, da escolha do seu nome, sua preparação para os palcos, espetáculos musicais inesquecíveis como Gota d'Água, My Fair Lady, Alô Dolly e Piaf, a vida de uma estrela da canção, seus casamentos, o nascimento da filha única, Tina Ferreira, as viagens para Portugal e Inglaterra a trabalho, a homenagem da escola de samba Viradouro até sua chegada a um teatro da Broadway, aos 90 anos".
Extraído do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima explicita o enredo de "Bibi, uma vida em musical", em cartaz no Teatro Oi Casa Grande. Artur Xexéu e Luanna Guimarães respondem pelo texto, com Tadeu Aguiar assinando a direção. No elenco, Amanda Acosta, Analu Pimenta, André Luiz Odin, Bel Lima, Caio Giovani, Carlos Darzé, Chris Penna, Fernanda Gabriela, Flavia Santana, Guilherme Logullo, João Telles, Julie Duarte, Leandro Melo, Leo Bahia, Leonam Moraes, Luísa Vianna, Moira Osório, Rosana Penna e Simone Centurione.
Após digitar os dois parágrafos acima, meramente introdutórios, devo confessar que estou há uns 15 minutos sem saber por onde começar a análise deste espetáculo, que me divertiu e emocionou de forma tão arrebatadora que não hesito em inclui-lo entre os melhores que já assisti ao longo dos últimos 28 anos de exercício da crítica teatral. Então, inicio por una assertiva que talvez pareça um tanto abstrata, mas que para mim é absolutamente concreta: o presente espetáculo certamente contou com a irrestrita benção dos sempre caprichosos Deuses do Teatro. Em caso contrário, o espetáculo poderia até ser ótimo, mas ainda assim exibir pequenas ressalvas, ainda que insignificantes em face do todo. Mas aqui, não: tudo funciona maravilhosamente, o que talvez seja um prenúncio de que teremos uma temporada esplendorosa.
O texto de Artur Xexéu e Luanna Guimarães consegue, sem jamais ser didático, traçar um triplo perfil: da homenageada, da história política do país e do teatro nacional ao longo do século XX. Exibindo ótimos diálogos, personagens muito bem estruturados e mesclando, sempre com inegável eficiência, diversificados climas emocionais, "Bibi" proporciona um inesquecível encontro entre palco e plateia, cabendo também ressaltar a ótima ideia da trama ser conduzida por três narradores - uma cigana meio confusa e um tanto malcriada, um mestre de cerimônia simpático e malicioso, e Vó Irma, senhora portadora de hilária propensão de contestar seus parceiros.
Com relação ao espetáculo, este é absolutamente deslumbrante. Contando com as preciosas colaborações de Thereza Tinoco (música original e mais quatro canções), Tony Lucchesi (direção musical e arranjos), Sueli Guerra (coreografia), Natalia Lana (cenário), Ney Madeira e Dani Vidal (figurino), Rogério Wiltgen (desenho de luz), Gabriel D'Ângelo (desenho de som) e Ulysses Rabelo (visagismo), Tadeu Aguiar impõe à cena uma dinâmica plena de humor e humanidade, cabendo também ressaltar sua sensibilidade no tocante às passagens mais dramáticas, que jamais enveredam para a pieguice. Afora isto, ao encenador cabe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações de todo o elenco, a começar pela de Amanda Acosta.
Neste particular, cabe ressaltar que a atriz não imita Bibi Ferreira, mas se apropria de algumas de suas peculiaridades e a elas agrega algumas suas, daí resultando uma personagem que certamente é Bibi, mas também contém algo de Amanda Acosta - se tudo se resumisse a uma cópia, o resultado haveria de ser bem menos interessante, posto que nenhuma cópia, por mais esmerada que seja, consegue se equiparar ao original. Possuidora de belíssima voz, enorme carisma, fortíssima presença cênica e visceral capacidade de entrega, Amanda Acosta se insere entre as melhores atrizes de musicais de toda a história do teatro brasileiro.
No tocante aos demais atores, cujos desempenhos já disse que considero excelentes, ainda assim faço questão de mencionar a irretocável performance de Chris Penna na pele de Procópio Ferreira - a exemplo de Amanda Acosta, o ator também não se limita a copiar o modelo, mas a ele também agrega certamente algo que lhe é inerente.
Finalmente, um aplauso entusiasmado para os músicos, cuja excelência e virtuosismo se faz presente nas 33 canções que compõem o espetáculo, cinco delas compostas por Thereza Tinoco - Alexandre Queiroz (regência e piano), Miguel Schönmann (teclado, violão e cavaquinho), Léo Bandeira (bateria), David Nascimento (baixo), Thais Ferreira (violoncelo), Luiz Felipe Ferreira (violino), Everson Moraes (trombone) e Gilberto Pereira (flauta, clarinete, sax alto e sax tenor).
BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL - Texto de Artur Xexéu e Luanna Guimarães. Direção de Tadeu Aguiar. Com Amanda Acosta, Chris Penna e grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Quinta e sexta, 20h30. Sábado às 17 e 21h. Domingo, 19h.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2018
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Sensacional!!! Lindo, poético e necessário esse espetáculo!!!! Vida longa!!!
ResponderExcluirConcordo plenamente.
ResponderExcluirabraços,
eu