segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Teatro/CRÍTICA

"Tebas Land - A história de um jovem parricida"

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Insólito e revelador encontro



Lionel Fischer




"Inspirado no mito de Édipo e na vida de São Martinho de Tours, santo europeu do século IV, a peça tem como tema central um parricídio, e em algumas passagens a mesma temática é abordada, com menções às obras "Os irmãos Karamazov" (Dostoiévski), "Um parricida" (Maupassant) e "O parricídio" (Freud). O espetáculo, porém, não foca na reconstrução do crime, mas nos encontros entre um jovem parricida e um dramaturgo interessado em escrever a história desse crime".

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá "Tebas Land- A história de um jovem parricida", de autoria do dramaturgo uruguaio Sergio Blanco. Em cartaz no Oi Futuro, a montagem leva a assinatura de Victor Garcia Peralta, estando o elenco formado por Otto Jr. e Robson Torini.

Em uma espécie de prólogo, o ator Otto Jr., que mais adiante interpreta o dramaturgo, revela à plateia as premissas do projeto, dando a entender, em um primeiro momento, que o personagem do parricida será vivido pelo próprio. Com o andar da carruagem, uma série de impossibilidades são aclaradas: o diretor do presídio e a Secretaria de Segurança não autorizam a participação do assassino como ator e também proíbem sua presença nos ensaios - restaria a possibilidade de ele assistir a montagem, escoltado por dois policiais, o que acaba não se consumando.

Isto posto, torna-se imperioso ressaltar que achei inteiramente  desnecessária essa simulação, pois alguém que já tenha visto Robson Torini em um palco sabe perfeitamente que ele não é um parricida. Quanto ao fato de Otto Jr. estar em cena alternando sua participação como narrador e personagem (dramaturgo), o mesmo ocorrendo com Robson Torini (jovem parricida e um ator em processo de ensaio), tal estrutura é perfeitamente plausível.

A ótima cenografia de José Baltazar divide em dois o espaço. À direita, uma mesa com anotações, fotos que mais adiante serão projetadas e outros objetos; à esquerda, uma quadra de basquete onde se dão os encontros do dramaturgo com o parricida, assim como momentos em que os intérpretes conversam sobre o espetáculo, o que também ocorre no primeiro espaço. Ainda que não inédita, tal estrutura (o teatro dentro do teatro) é muito bem trabalhada pelo autor, na medida em que ficção e realidade acabam promovendo inesperadas convergências, daí resultando reflexões cuja perplexidade e amargura não constariam, em princípio, do roteiro original

Com relação ao espetáculo, Victor Garcia Peralta impõe à cena, como de hábito, grande expressividade, cabendo ressaltar sua sensibilidade no tocante aos tempos rítmicos e sua habilidade em extrair ótimas atuações do elenco. Otto Jr. exibe mais uma vez sua forte presença e visceral capacidade de entrega, convencendo plenamente em todos os momentos. A mesma eficiência se faz presente na performance de Robson Torini, cabendo ressaltar sua capacidade de conferir características totalmente diversas aos dois personagens que interpreta. 

No complemento da fica técnica, parabenizo com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de Esteban Campanela (tradução), Maneco Quinderé (iluminação), Cris Amadeo (direção de movimento) e Marcello H (trilha sonora).

TEBAS LAND - A HISTÓRIA DE UM JOVEM PARRICIDA - Texto de Sergio Blanco. Direção de Victor Garcia Peralta. Com Otto Jr. e Robson Totini. Oi Futuro. Quinta a domingo, 20h.



  


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