sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Teatro/CRÍTICA

"A Próxima Estação - um espetáculo para ler"

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Encontro inesquecível no Sesc



Lionel Fischer



"Cacá Carvalho está no palco e dialoga com a projeção das imagens de Cristina Gardumi. Lê a história de Violeta e Massimo, um casal, cheio de ironias, poesias, conflitos, que vive junto por 50 anos. Vivem até o ano de 2065, em desentendimento com o mundo e o tempo vivido. As imagens cumprem o papel de dar fisicalidade aos personagens que se comunicam através da voz de Cacá".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá "A Próxima Estação - um espetáculo para ler", em cartaz no Sesc Copacabana (Mezanino). O ponto de partida do presente evento foi uma ideia de Luca Dini e Michele Santerano, com esta última respondendo pelo texto e direção do espetáculo. 

Como explicitado no parágrafo inicial, Cacá Carvalho lê a história de Violeta e Massimo, ao mesmo tempo em que são projetadas em um painel legendas e imagens dos personagens, que tanto podem ser encarados como animais humanizados ou criaturas humanas animalizadas. E tal estrutura, em meu entendimento, é ao mesmo tempo simples e complexa, pois estimula o espectador a estabelecer múltiplos envolvimentos. Senão, vejamos.

Caso não existissem as legendas e as imagens dos personagens, todo o foco recairia na narrativa feita pelo ator, o que já seria fantástico em função das pertinentes questões levantadas pelo texto e da inacreditável capacidade de Cacá Carvalho de materializar os personagens utilizando com total maestria sua deslumbrante voz. 

No entanto, se por um lado muitas vezes há sintonia entre o que é dito pelo ator e o que é visto e lido pelo público no painel, em outros momentos parece haver uma contradição, que gera - a meu ver, propositadamente - a seguinte dúvida: a verdade essencial deve ser atribuída às imagens e legendas ou ao narrador? 

No meu caso específico, tive a sensação de que as imagens e legendas muitas vezes obrigavam o narrador a alterar um pouco suas evocações, dele retirando o poder de contar o que quisesse e como bem entendesse - é claro que posso estar completamente enganado, mas para mim este curioso e imprevisto diálogo confere especial fascínio a este surpreendente e imperdível espetáculo. 

Com relação a Cacá Carvalho, já escrevi muitas vezes sobre este ator, que considero um dos maiores do planeta. Mas pensando em poupar meus eventuais leitores de tudo que já disse a seu respeito, vou ser extremamente econômico. Assim como ocorria com o falecido Rubens Corrêa (o melhor ator que vi em cena), quando Cacá Carvalho surge no palco o público tem absoluta certeza de que algo de muito especial haverá de acontecer. Por que será? Apenas em função de seus extraordinários recursos expressivos? Creio que não, pois existem alguns atores que também possuem esses predicados. Mas então, a que atribuir tal fascínio? Para tal pergunta, não encontro nenhuma resposta que me satisfaça. Mas certamente os Deuses do Teatro sabem perfeitamente por que Cacá Carvalho está entre seus eleitos.

Com relação à equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta imperdível empreitada teatral - Cacá Carvalho (tradução), Cristina Gardumi (ilustrações), Márcio Medina (coordenação artística), Roberto Bacci (colaboração artística), Sergio Altamura, Giorgio Vendola e Marcello Zinn (músicas originais) e Kako Guirado e Tiago Mello (sonorização e projeção).

A PRÓXIMA ESTAÇÃO - UM ESPETÁCULO PARA LER - Texto e direção de Michele Santeramo. Com Cacá Carvalho. Sesc Copacabana (Mezanino). Quinta a domingo, 20h.    










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