quinta-feira, 7 de maio de 2009

August Strindberg

Robert Brustein

Aparentemente, Strindberg seria o espírito mais revolucionário do Teatro de Protesto. Na realidade, essa distinção deve caber a Ibsen, mas Strindberg é, certamente, o mais inquieto e experimental. Toda sua carreira foi de fato uma busca da pedra filosofal da verdade última através da experimentação em diversos empreendimentos. No seu teatro, em que quase cada uma de suas novas obras constitui um novo começo, uma arrancada para novos caminhos, Strindberg fez experiências com as peças poéticas byronianas, as tragédias naturalistas, as comédias de boulevard, o teatro fantástico de Maeterlinck, as crônicas shakespearianas, as peças oníricas expressionistas e as obras de câmara, em forma de sonata.

Em suas atitudes políticas e religiosas, ele percorre a inteira gama da crença e descrença, com escalas no positivismo, ateismo, socialismo, beatismo luterano, catolicismo, hinduismo, budismo e misticismo swendenborguiano. Nos seus estudos científicos, vai de Darwin ao ocultismo, do naturalismo ao super-naturalismo, da física à metafísica, da química à alquimia.

Strindberg oscila entre a afirmação e a negação, cedendo finalmente a um melancólico fatalismo que nunca se encontra em Ibsen. Na verdade, enquanto Ibsen abre caminho para uma forma trágica helênica, sua rebelião nunca deixará de ser vigorosa e constante. Strindberg, finalmente, atinge uma disposição de espírito trágica, segundo o modelo grego, mas suas rebelião é parcialmente dissipada pelo esforço de aceitação e compreensão.

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Prefácio à Senhorita Júlia
(Texto de Strindberg que consta do programa de estreia da peça)

Se falo da caracterização, não espero ser ouvido pelas atrizes que preferem parecer bonitas a parecerem verdadeiras, no papel que interpretam. Mas o ator poderia interrogar-se sobre a vantagem ou desvantagem que haverá para ele em se revestir, graças à caracterização, de um caráter abstrato, tal como uma máscara. Imaginemos que um ator, com um lápis de carvão, marque entre os olhos um traço violentamente colérico, e suponhamos que em determinado momento a rubrica o obriga a soltar uma gargalhada. Imagine-se que esgar atroz! E poderá uma testa falsa, lisa como uma bola de bilhar, franzir-se quando a personagem se encoleriza? Num moderno drama psicológico, em que os mais imperceptíveis estados de alma se devem refletir mais no rosto que nos gestos ou movimentos, valeria a pena experimentar uma forte luz lateral, sobre um pequeno palco, com atores não caracterizados ou, pelo menos, com a caracterização reduzida ao mínimo.

Se, além disso, evitássemos a orquestra à vista do público, com as suas lâmpadas incômodas e os rostos voltados para a sala, se o chão da platéia se pudesse elevar de modo que o olhar do espectador se erga acima dos joelhos do ator e se, enfim, pudéssemos obter o obscurecimento total da sala no decorrer da representação, e antes de mais um pequeno palco e uma pequena sala, talvez então se assistisse ao nascimento de uma nova arte dramática, e o teatro pudesse de novo tornar a ser um prazer para o público culto. E enquanto se espera que assim aconteça, dever-se-á sem dúvida armazenar peças e preparar o repertório do futuro.

Fiz uma experiência. Se falhou, temos tempo para recomeçar.
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Artigo extraído da revista Cadernos de Teatro nº 68/1976, edição já esgotada.

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