sábado, 13 de março de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Amadeus"

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Obra-prima em versão morna

Lionel Fischer


Sucesso avassalador nos palcos do mundo inteiro (inclusive no Brasil), o texto do inglês Peter Shaffer foi levado às telas pelo diretor Milos Forman obtendo idêntico êxito. Tendo como eixo central da narrativa a rivalidade entre Salieri e Mozart, a peça propõe uma reflexão sobre a mediocridade e a genialidade. Salieri era um bom músico, com grande prestígio e muitas de suas obras estão sendo atualmente reavaliadas. Mas frente a Mozart, não era ninguém. E tinha plena consciência disso. Mas como "entregara a alma a Deus" para que Ele o tonasse um músico de exceção, Salieri não se conformava que alguém - em sua opinião e de muitos outros - tão fútil, infantil, desbocado e beberrão pudesse escrever obras que pareciam ter sidos compostas pelo próprio Criador. E por isso acaba entrando em conflito com Deus e fazendo de tudo para arruinar Mozart - muitos sustentam, inclusive, que Salieri o envenenou.

Eis, em resumo, o enredo de "Amadeus", atual cartaz do Teatro Carlos Gomes. Naum Alves de Sousa assina a direção, estando o elenco formado por Roberto Birindelli (Salieri), Gustavo Rodrigues (Mozart), Silvia Buarque (Constanze, esposa de Mozart), Marcello Picchi (Joseph), Sérgio Fonta (Barão Gottfried), Herbert Richers Jnr. (Conde Frauz), Miro Marques (Conde Johann), Sérgio Maciel (Venticelli 1) e Henrique Pinho (Venticelli 2) e mais um coro composto por Fábio Cardoso, Gabriel Azambuja, Gabriela Werneck, Gutto Daloia, Juenes Paulo, Julyane Bodini, Manoel Madeira, Marilia Misailidis, Monique Franco e Victor Mattos - com relação aos nomes dos principais personagens, coloquei-os abreviados, pois ainda que tenha me esforçado ao máximo não consegui decifrar a caligrafia com que foram impressos no programa; assim, melhor errar para menos do que para mais...

"Amadeus" é uma obra fascinante, cuja movimentada trama em nada prejudica as reflexões que o autor empreende, afora oferecer ao público leigo um perfil bastante ousado do maior gênio da música, ao lado de Bach e Beethoven. No entanto, trata-se de uma peça de difícil realização, posto que depende muito do elenco e, em especial, da performance do ator que interpreta Salieri, protagonista absoluto do texto, que é por ele narrado e ao mesmo tempo vivido. E aqui esbarramos numa delicada questão.

Tomando por base seu vasto e significativo curriculo, em princípio o ator Roberto Birindelli estaria capacitado a encarnar Salieri. No entanto, na maior parte da montagem, e sobretudo no seu início, o ator fala num tom de voz tão baixo que às vezes torna-se inaudível (e cumpre ressaltar que sentei na terceira fila), o que me levou a supor que o Carlos Gomes estaria padecendo de graves deficiências acústicas.

Entretanto, Gustavo Rodrigues, Silvia Buarque, Marcello Picchi e Sérgio Fonta (para citar apenas os intérpretes dos papéis mais importantes), quase sempre articulam o texto sem nos causar qualquer incômodo. Então, me vi forçado a deduzir que talvez Birindelli careça de maior potência vocal, exceção feita aos momentos de maior arrebatamento de seu personagem. Mas sendo ele o protagonista absoluto, como já foi dito, é inegável que tal deficiência compromete muito o espetáculo.

Este, por sinal, e talvez em função do tom baixo do protagonista, transcorre em uma atmosfera carente de maior nuances e quase sempre em um ritmo muito parecido, diria mesmo monocórdio, ainda que por justiça se deva destacar algumas belas e expressivas soluções criadas pelo diretor Naum Alves de Souza. Mas estas, infelizmente, não são capazes de conferir maior emoção à brilhante narrativa de Peter Shaffer. E com relação aos atores já mencionados, e também aos demais, todos exibem atuações seguras e convincentes, mas certamente poderiam render bem mais desde que a montagem conseguisse atingir um nível bem maior de paixão, vigor e variedade rítmica.

Na equipe técnica, destaque absoluto para a surpreendente cenografia de Celina Richers, composta basicamente de um grande trono e um piano, ambos aparentemente feitos do mesmo material básico, sendo que o piano exibe uma estrutura, digamos, "transparente". Beth Filipecki, Renaldo Machado e Thanara Schörnardie respondem por excelentes figurinos, sendo igualmente de ótimo nível a trilha sonora de Edgar Duvivier e a iluminação de Wilson Reis, que contribuem para valorizar muito esta produção impecável, ainda que sujeita a restrições em outros de seus aspectos.

AMADEUS - Texto de Peter Shaffer. Direção de Naum Alves de Souza. Com Roberto Birindelli, Gustavo Rodrigues e outros. Teatro Carlos Gomes. Sexta e sábado, 20h. Domingo, 18h.

2 comentários:

  1. Olá, Lionel! Obrigada por ter assistido a estreia de Amadeus. Gostaria de fazer apenas uma correção quanto ao meu sobrenome- que é Werneck, e não “Wernec”. Parabéns pelo seu trabalho, que admiro muito!
    Obrigada,
    Gabriela Werneck

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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