segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"O pequeno Zacarias - uma ópera irresponsável"

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Texto excessivo ganha ótima montagem


Lionel Fischer



""Num pequeno reino, nasce, filho de uma mulher pobre, Zacarias, anão corcunda, que seria um fardo incapaz de sobreviver. Ocorre que o pequeno recebe uma dádiva da Senhorita Rosaverde, que é, na verdade, a Fada Rosabela. Ela precisa se manter incógnita e reclusa desde que o príncipe decretou que toda a população deveria guiar seu comportamento pelos princípios do Iluminismo, e as fadas deverias ser banidas do reino. A dádiva de Rosabela transforma o pequeno monstrengo numa celebridade instantânea, cultuada pela sociedade e pela academia. Mas, inexplicavelmente, alguns personagens ficam imunes ao feitiço, continuando a vê-lo como é, e passam a investigar o porquê de todos celebrarem aquele grotesco anão".

O trecho acima, extraído do ótimo release que me foi enviado pelos assessores de imprensa João Pontes e Stella Stephany, resume o enredo de "O pequeno Zacarias - uma ópera irresponsável", ópera cômica com música de Tim Rescala e texto e letras de José Mauro Brant. Adaptação do conto de fadas homônimo para adultos de E.T.A. Hoffmann (1776-1822), o espetáculo tem direção assinada por José Mauro Brant e Sueli Guerra, estando o elenco formado por José Mauro Brant, Soraya Ravenle, Janaína Azevedo, Chiara Santoro, Sandro Christopher, Wladimir Pinheiro, Rodrigo Cirne e Marcello Sader.

Como implícito no parágrafo inicial, estamos diante de um enredo que, a exemplo de tantos outros escritos por Hoffmann, evidencia a extraordinária imaginação do gênio alemão. E no presente caso, como muito bem explicitado no release, trata-se de "...um conto de fadas que, centrado em uma história de amor narrada com humor e ironia, nem por isso deixa de exibir uma divertida e refinada sátira social e política da Prússia do século XIX".

No entanto, apesar de todas as maravilhosas premissas que lhe deram origem, o texto de Brant é por demais extenso e um tanto confuso, dificultando sua compreensão por aqueles que não conhecem o original. Um exemplo: após uma excelente cena inicial, quando tomamos conhecimento do fato que irá impulsionar a trama, Zacarias só reaparece (ou é mencionado) quase uma hora depois, após longas passagens envolvendo a Fada e a Academia.  E no segundo ato, como a confirmar o que acaba de ser expresso, é dito algumas vezes que "a trama precisa avançar". 

Assim, acredito que, se no total, o espetáculo não durasse três horas (incluindo o intervalo), o público certamente haveria de se envolver bem mais com esta oportuna empreitada teatral, posto que a mesma não deixa de exibir incontestáveis méritos, a começar pela música original e direção musical de Tim Rescala. 

Um dos melhores, senão o melhor, compositor de obras para o teatro deste país, Rescala criou canções belíssimas que, aliadas a arranjos impecáveis, contribuem de forma decisiva para valorizar as (em geral) ótimas letras de Brant. Cabe também destacar as preciosas colaborações dos músicos Marcelo Jardim (regente), Ana de Oliveira (1º violino), Nichola Viggiano, (2º violino), Dhyan Toffolo (viola), Marcus Ribeiro (violoncelo), Batista Jr. (clarinete), Alessandro Jeremias (trompa) e Cosme Silveira (fagote).

Com relação ao espetáculo, Brant e Sueli Guerra impõem à cena uma dinâmica em total sintonia com a magia inerente ao contexto, cabendo salientar as ótimas coreografias de Sueli Guerra. E a ambos também deve ser creditada uma significativa parcela no que concerne às impecáveis performances exibidas pelo elenco, que se divide em muitos personagens e canta de forma esplêndida - neste quesito, torna-se imperioso destacar as contribuições de Agnes Moço e Janaína Azevedo na preparação vocal. Igualmente deslumbrantes a cenografia de Miguel Pinto Guimarães, os figurinos de Carol Lobato, os vídeos de Ricardo e Renato Villarouca, o visagismo de Mona Magalhães e a iluminação de Paulo Cesar Medeiros.

O PEQUENO ZACARIAS - UMA ÓPERA IRRESPONSÁVEL - Texto e letras de José Mauro Brant. Música original e direção musical de Tim Rescala. Direção de Brant e Sueli Guerra. Com José Mauro Brant, Soraya Ravenle, Janaína Azevedo, Chiara Santoro, Sandro Christopher, Wladimir Pinheiro, Rodrigo Cirne e Marcello Sader. Teatro Sesc Ginástico. Sexta a domingo às 19h (matinês às 16h nos dias 06, 13 e 20 de dezembro).

     


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