Teatro/CRÍTICA

"Uma relação pornográfica"

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Belíssima reflexão sobre o amor



Lionel Fischer



O primeiro encontro se deu num site de relacionamento. O segundo, em um café, em frente a um hotel onde ambos passaram a se encontrar toda quinta-feira. Nada pretendiam além de fazer sexo e por isso nenhuma informação pessoal vinha à tona. No entanto, aos poucos, o contato das peles foi se revelando insatisfatório, porque ambos começaram a perceber que talvez também fosse possível um contato entre as almas. Mas certamente o medo de amar - tão comum em nossos dias - terminou por inviabilizar uma relação que poderia ter caminhado para uma bela história.

Eis, em resumo, o enredo de "Uma relação pornográfica", de autoria do iraniano Philippe Blasband. Após cumprir temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, a montagem, assinada por Victor Garcia Peralta, está em cartaz no Teatro do Leblon (Sala Marília Pêra). No elenco, Ana Beatriz Nogueira (Ela) e Guilherme Leme Garcia (Ele).

Com a ação situada no passado, o autor utiliza uma estrutura narrativa que mescla a relação dos personagens com confissões dos mesmos à plateia. Isso nos permite verificar como agiam quando estavam juntos e todas as conjecturas que teciam ao estarem separados. E é curioso como, muitas vezes, os desejos de ambos se assemelham. Mas logo brotam impasses, decorrentes não de divergências incontornáveis, mas de mecanismos de defesa contra a possibilidade de total entrega ao amor.

Bem escrito, contendo ótimos personagens e uma ação que cativa o espectador ao longo de toda a montagem, "Uma relação pornográfica" recebeu excelente versão cênica de Victor Garcia Peralta. Tendo como cenografia apenas duas cadeiras, sempre utilizadas de forma diferenciada e expressiva, o espetáculo transcorre em uma atmosfera sóbria e elegante, com o encenador exibindo o mérito suplementar de haver extraído impecáveis atuações do elenco. 

Em uma peça como esta, que combina paixão e delicadeza, torna-se imperioso o estabelecimento de uma contracena que priorize uma certa calma na exposição e vivência de sentimentos tão complexos e não raro contraditórios. Aqui, arroubos interpretativos haveriam de se revelar inconvenientes, e uma eventual passionalidade comprometeria todas as sutilezas desta belíssima reflexão sobre o amor. Por isso, considero de altíssimo nível as performances de Ana Beatriz Nogueira e Guilherme Leme Garcia, já que ambos conseguem nos emocionar profundamente e ao mesmo tempo nos fazer pensar sobre o que estamos fazendo com nossa capacidade de amar. 

Na equipe técnica, acredito que Maneco Quinderé exiba aqui um de seus mais expressivos trabalhos como iluminador. Através de sutis alterações luminísticas, ora utilizando tons mais quentes, ora mais frios, Maneco Quinderé sublinha com extrema propriedade todos os climas emocionais em jogo. Igualmente irrepreensíveis as contribuições de Liane Lazoski e Renato Beniatto (tradução), Victor Garcia Peralta e Guilherme Leme Garcia (cenografia), Ana Beatriz Nogueira e Guilherme Leme Garcia (figurinos) e Marcelo H (trilha sonora).

UMA RELAÇÃO PORNOGRÁFICA - Texto de Philippe Blasband. Direção de Victor Garcia Peralta. Com Ana Beatriz Nogueira e Guilherme Leme Garcia. Teatro do Leblon (Sala Marília Pêra). Quinta, 17h. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.