quinta-feira, 9 de junho de 2016

Teatro/CRÍTICA

"O camareiro"

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Ótima montagem de texto maravilhoso



Lionel Fischer



"Durante a Segunda Guerra Mundial, um ator de teatro à beira de um colapso nervoso luta no limite de suas forças para interpretar mais uma vez o Rei Lear,  de Shakespeare. Mesmo senil e com sua saúde debilitada, o Sir, como é chamado por todos, lidera com tirania sua companhia, que começa a desmoronar. Ele conta com Norman, seu dedicado camareiro, que desdobra-se para atender às exigência do patrão, cuida de sua saúde e tenta ajudá-lo a lembrar suas falas, já que Sir encontra-se confuso e desorientado. A dedicação e o esforço de Norman, que faz qualquer coisa por este homem que ele aprendeu a amar e respeitar, mostra que existe uma forte ligação entre eles e que ambos, ator e camareiro, são servidores de algo maior que eles mesmos: o teatro".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "O camareiro", do autor britânico Ronald Harwood, em cartaz no Teatro Sesc Ginástico. Ulysses Cruz assina a direção do espetáculo, estando o elenco formado por Tarcísio Meira (Sir), Kiko Mascarenhas (Norman), Lara Córdulla (Milady, atriz e esposa de Sir), Analu Prestes (Madge, assistente de direção), Ravel Cabral e Silvio Matos (atores Oxenby e Geoffrey) e Karen Coelho (Irene,atriz).

Como talvez tenha ficado implícito no parágrafo inicial, o grande personagem deste texto maravilhoso é o teatro. Sim, pois além de proporcionar entretenimento, reflexão e transformação, o teatro é também um poderoso elemento de resistência, tanto no que diz respeito a turbulências internas quanto àquelas vindas do exterior, como no presente caso - a ação se passa em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, e a cidade está sendo bombardeada pelos nazistas. Apesar disto, o espetáculo não pode parar, não pode deixar de ser feito, mesmo quando o protagonista encontra-se debilitado e exista uma real e iminente possibilidade de destruição.

Contendo ótimos personagens, diálogos brilhantes e uma ação que alterna momentos altamente dramáticos com outros em que o humor predomina, "O camareiro" recebeu excelente versão cênica de Ulysses Cruz. Tal excelência pode ser aferida na expressividade do desenho cênico, na maestria dos tempos rítmicos e na capacidade do encenador de conferir grandeza e humanidade tanto às passagens mais trágicas como àquelas em que a banalidade das relações cotidianas predomina. Afora isso, o encenador extrai um rendimento impecável de todo o elenco.

Na pele de Sir, Tarcísio Meira exibe performance irrepreensível, valorizando em igual medida, e com a mesma excelência, o caráter despótico do personagem e sua atual fragilidade. Vivendo Norman, Kiko Mascarenhas apresenta um trabalho magistral, tanto do ponto de vista vocal como corporal. Afora isto, sua inteligência cênica o faz enveredar para soluções sempre imprevistas, o que constitui o cerne de todo intérprete de exceção. Encarnando personagens coadjuvantes, mas de grande importância para a narrativa, Lara Córdulla, Karen Coelho, Silvio Matos, Ravel Cabral e Analu Prestes valorizam ao máximo todas as suas participações.

Na equipe técnica, parabenizo com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de André Cortez (cenografia), Beth Filipecki e Renaldo Machado (figurinos), Domingos Quintiliano (iluminação), Rafael Langoni (trilha original) e Emi Sato e Rose Verçosa (visagismo).

O CAMAREIRO - Texto de Ronald Harwood. Direção de Ulysses Cruz. Com Tarcísio Meira, Kiko Mascarenhas, Lara Córdulla, Karen Coelho, Silvio Matos, Ravel Cabral e Analu Prestes. Teatro Sesc Ginástico. Sexta e sábado, 19h. Domingo, 18h.







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