2016 - Delicioso retorno e gratíssima surpresa
Lionel Fischer
Quase que invariavelmente, ao longo dos últimos 26 anos escrevi retrospectivas sobre as temporadas teatrais - fiz isso nas revistas Manchete, Visão e Cadernos de Teatro (O Tablado), e nos jornais O Globo, Última Hora e Tribuna da Imprensa. Nessas retrospectivas assinalava os trabalhos que mais me impressionaram, em todas as categorias, especificando as razões de minhas escolhas.
Agora, no entanto, resolvi abordar a temporada teatral de 2016 sob uma perspectiva muito pessoal, mencionando apenas dois momentos que muito me emocionaram: meu retorno efetivo ao teatro (sem prejuízo da crítica teatral e do meu trabalho como jurado nos prêmios CESGRANRIO e APTR) e a gratíssima revelação de Claudia Mauro como autora e atriz dramática.
Boa noite, professor
Escrevi esse texto em parceria com minha filha mais jovem, Julia Stockler, e juntos também respondemos pela direção do espetáculo, que esteve em cartaz no Tablado em agosto e setembro. E para os que não sabem, há dez anos Julia passou a dar aulas comigo no espaço criado por Maria Clara Machado há 65 anos.
Mas que ninguém imagine que sairei tecendo elogios ao que fizemos, pois isto seria por demais cabotino. O que me faz mencionar este trabalho tem a ver, em primeiro lugar, com a confiança de Cacá Mourthé (diretora artística da casa) no projeto e na ajuda que prestou em todas as suas etapas - a ela, portanto, minha eterna gratidão. E depois pela possibilidade que tive de trabalhar com dois excelentes intérpretes (Ricardo Kosovski e Nina Reis) e a honra de contar com a colaboração de dois amigos da vida inteira, os excepcionais artistas José Dias (Cenografia) e Aurélio de Simoni (Iluminação).
Tive também o privilégio de ter como parceiro alguém que sempre admirei muitíssimo, mas a quem não conhecia pessoalmente: o maravilhoso músico Tato Taborda. Outro encontro marcante foi com a figurinista Ana Carolina Lopes e com o diretor de movimento Renato Linhares. A todos agradeço do fundo do coração as inestimáveis colaborações, às quais se somam as de Victor Hugo Cecatto (Programação Visual) Guga Melgar (Fotografia), João Sant'Anna (Produção Executiva), Fernando do Val (Direção de Produção) e Daniella Cavalcanti (Assessoria de Imprensa). E se os sempre caprichosos Deuses do Teatro assim o permitirem, Boa noite, professor haverá de voltar ao cartaz, quem sabe ainda em 2017.
A vida passou por aqui
Uma das características mais curiosas de nossa espécie diz respeito à mania que temos de aprisionar os outros em perfis que julgamos serem os corretos, sem jamais levarmos em conta a possibilidade desses perfis serem apenas parciais. E aqui chego a Claudia Mauro.
Como todos sabemos, a atriz possui longa e sólida carreira, mas grande parte dela voltada para o humor (no teatro e na televisão) e para os musicais. Assim, uma questão se impunha: seria ela capaz de realizar um trabalho essencialmente dramático, ainda que não dispensando pitadas de humor?
E quanto à escrita? Até meados do segundo semestre, será que alguém a imaginava capaz de produzir um texto com tamanha densidade, lirismo e percepção de nossa infinita capacidade de amar e se reconhecer no outro?
A ambas as questões, A vida passou por aqui nos ofertou respostas que, numa escala de zero a dez, mereceriam onze!
Como atriz, Claudia Mauro simplesmente me arrebatou. Não que a imaginasse incapaz de realizar uma performance dramática, apenas desconhecia esse potencial, daí minha gratíssima surpresa. Tanto em termos vocais como corporais, a atriz exibiu um patamar de excelência que me causou assombro, assim como me assombrou sua capacidade de passar da velhice da personagem à sua juventude numa fração de segundos, sempre de forma absolutamente convincente. Sem dúvida, e sob todos os aspectos, uma das mais brilhantes interpretações de 2016.
Com relação ao texto, aí minha comoção foi total. Não em termos formais, não em termos de estrutura, mas na maneira como Claudia Mauro, partindo de sua história pessoal, conseguiu criar uma peça que mexe profundamente com nossas emoções, já que em sua essência repousa algo que todos possuímos: nossas recordações familiares e, em especial, aquelas que dizem respeito aos nossos pais. Sem dúvida, e sob todos os aspectos, um dos textos mais relevantes da temporada de 2016. E também desejo que A vida passou por aqui retorne aos nossos palcos ainda em 2017.
No mais, a todos desejo que este réveillon que se avizinha seja o mais feliz de suas vidas!!!
Um beijo em todos,
Eu
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
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Que lindo, Lionel! Também senti a mesma empatia, o mesmo encantamento e a mesma admiração pela queridíssima atriz, autora, bailarina, passista, rainha de bateria Claudia Mauro. Sua peça também me comoveu. E que lindo você terminar o ano com esses dois momentos. Quero muito ver o seu trabalho no palco. Feliz 2017, meu querido. Que ele possa te deixar e fazer muito feliz em todos os sentidos!
ResponderExcluirFátima amada,
ResponderExcluirque bom te reencontrar aqui e como sempre de forma delicada, sensível e gentil. bom também saber que minha peça te comoveu. tomara que em 2017 possamos nos ver muitas vezes e desejo que o ano que se avizinha seja o mais feliz de tua vida!!!
Beijos,
Eu