segunda-feira, 15 de maio de 2017

Teatro/CRÍTICA

"E se eu não te amar amanhã?"

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Sensível e divertida comédia romântica


Lionel Fischer


"Samantha, atriz de novelas, e Gustavo, escritor sem inspiração, acabaram de se separar por causa de uma aparente bobagem. E parecem aceitar o fato de que o casamento deles não tem mais volta. Mas o amigo Zé Roberto não consegue conceber que aquele casal, que ele tanto amou, não estará mais junto. E através de sua tentativa frustrada de unir novamente os dois, e de Suelen, garota de programa transsexual contratada por Gustavo, a peça mergulha num quebra-cabeças em que os personagens aos poucos vão descortinando seus medos e desejos. E a trama, que antes parecia uma comédia romântica inofensiva, se revela como uma profunda reflexão das relações amorosas contemporâneas".


Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "E se eu não te amar amanhã?", em cartaz no Teatro do Leblon. Julia Spadaccini assina o texto, estando a direção a cargo da cineasta Sandra Werneck, que faz sua estreia como diretora teatral - Michel Blois responde pela codireção. No elenco, Luana Piovani, Leonardo Medeiros e Marcelo Laham.

Como se sabe, muitas peças já foram escritas sobre relacionamentos amorosos, e nada me impede de acreditar que o tema continue a ser explorado. E embora o resumo do enredo, exposto no parágrafo inicial, aborde o que ele possui de mais essencial, me permito discordar da afirmativa a trama, que antes parecia uma comédia romântica inofensiva, se revela uma profunda reflexão das relações amorosas contemporâneas.

Antes de mais nada, não sei exatamente o que se pretendeu dizer com "comédia inofensiva" - é possível que o objetivo tenha sido o de classificá-la como leve, sem maiores pretensões. Mas quanto a profunda reflexão das relações amorosas contemporâneas, em nenhum momento consegui detectar tal profundidade, pois embora os conflitos abordados não deixem de ser pertinentes, a leveza e o humor com que são tratados inviabiliza a profunda reflexão pretendida. No entanto, isso não significa que a peça careça de méritos, muito pelo contrário: Julia Spadaccini criou uma narrativa fluente, ótimos personagens e diálogos que prendem a atenção do espectador ao longo de toda a montagem.

Com relação ao espetáculo, Sandra Werneck faz uma ótima estreia como diretora teatral, criando uma dinâmica cênica que aproveita sua sólida experiência como cineasta, pois temos sempre a sensação de que tudo ocorre em um set de filmagem - todos os ambientes são vistos ao mesmo tempo, contrarregras colocam e recolocam objetos, fazem ajustes de luz e assim por diante. Afora isto, cabe à encenadora o mérito suplementar de haver extraído ótimas performances do elenco.

Luana Piovani, mais linda do que nunca, convence plenamente tanto na pele de Samantha quanto na da garota de programa transexual, estabelecendo impecável diversidade vocal e corporal entre ambas. Leonardo Medeiros, ator de bela trajetória profissional, trabalha com grande sensibilidade as principais características de Gustavo, tais como sua insegurança, amorosidade e, em alguma medida, o humor com que lida com sua aparente falta de talento. Com relação a Marcelo Laham, este converte Zé Roberto em um personagem adorável, pleno de afeto e acossado por dúvidas que aqui não cabe revelar, pois isso privaria o espectador de muitas surpresas, cabendo também registrar o excelente tempo de comédia do ator. 

No tocante à equipe técnica, parabenizo com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de Aurora dos Campos (cenografia), Tomás Ribas (iluminação), Kika Lopes (figurinos), Diego Nardes (visagismo) e João Nabuco (trilha sonora original).

E SE EU NÃO TE AMAR AMANHÃ? - Texto de Julia Spadaccini. Direção de Sandra Werneck. Com Luana Piovani, Leonardo Medeiros e Marcelo Laham. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.












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