Teatro/CRÍTICA
"Zilda Arns - A dona dos lírios"
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Belo tributo a uma mulher imprescindível
Lionel Fischer
Três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz, filha de alemães, Zilda Arns Neumman nasceu em 1934, em Santa Catarina. Médica pediátrica e sanitarista, irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, foi fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, que completou 35 anos em 2018, e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Com iniciativas como as campanhas do soro caseiro e da amamentação e pesagem regular de crianças até 2 anos, a médica conseguiu reduzir em 60% os índices da mortalidade infantil no Brasil dos anos 80. Recebeu um milhão de dólares da Fundação Woodrow Wilson pelo prêmio de melhores práticas globais. Doou o valor integral à Pastoral da Criança Internacional. A Pastoral da Criança, fundada no Paraná, foi expandida para outros 26 países, além de estar presente em quase todas as cidades brasileiras.
Dra. Zilda morreu, em 2010, durante o terremoto que devastou o Haiti. A dona dos lírios: em 16 de janeiro de 2010, dia do velório da Dra. Zilda, na cidade de Curitiba, inexplicavelmente fora de época, os lírios abriram em flor.
As informações acima foram extraídas do programa de "Zilda Arns - A dona dos lírios", que encerrou neste domingo sua temporada no Teatro Candido Mendes. Mas uma nova temporada está prevista para ainda este ano e queira o bom Deus que muitas outras a sucedam, pelas razões que explicitarei mais adiante. Luiz Antônio Rocha e Simone Kalil respondem pelo texto, cabendo ao primeiro a direção do espetáculo. Simone protagoniza o monólogo.
Em algum momento de sua vida, Bertolt Brecht disse algo mais ou menos assim: "Há pessoas que lutam durante um ano, e são boas pessoas; há pessoas que lutam durante 10 anos, e são pessoas admiráveis; mas há aquelas que lutam a vida inteira: essas são as pessoas imprescindíveis". E certamente Zilda Arns pertenceu a este seletíssimo rol, posto que durante toda a sua passagem por este curioso planeta que habitamos pensou fundamentalmente no outro - e por outro entenda-se aqueles que, sem sua preciosa ajuda, só haveriam de conhecer da vida o seu lado mais amargo.
O presente texto exibe dois grandes méritos. Por um lado, oferece ampla informação sobre a trajetória pessoal e profissional de Zilda; e por outro o faz sem jamais renunciar à poesia, o que elimina a possibilidade do mero didatismo. E o lúdico me parece que foi um componente fortíssimo desta extraordinária personalidade, mesmo nos momentos mais difíceis, quando a materialização de seus objetivos sugeria ser inalcançável.
Com relação ao espetáculo, Luiz Antônio Rocha impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com os conteúdos em jogo. Marcações simples e precisas enfatizam com delicadeza, lirismo e potência todas as passagens retratadas, cabendo também ressaltar sua atuação junto à intérprete. Simone Kalil não é apenas uma atriz possuidora de amplos recursos expressivos, mas alguém que nos cativa por sua inteligência cênica e visceral capacidade de entrega. Afora isso, possui um dos mais belos sorrisos do teatro brasileiro, e quando sorri converte tudo à sua volta em uma manhã de primavera. E não há nada mais precioso do que um belo sorriso para nos dar ao menos a esperança de que o tempo sombrio em que vivemos haverá de passar.
Na equipe técnica, é absolutamente extraordinária a direção musical e composição sonora de Beá, estruturada a partir da manipulação de instrumentos musicais, brinquedos e variados objetos cotidianos, daí resultando uma inestimável contribuição para o fortalecimento de todas as emoções em causa. Na noite em que assisti ao espetáculo, coube a Ana Magalhães responder pela execução musical, e ela o fez de forma irretocável. Cabe também ressaltar as excelentes participações de Ricardo Lyra (iluminação), Luiz Antônio Rocha e Eduardo Albini (cenografia), Caká Oliveira (figurinos), Jane Celeste (preparação vocal), Roberto Rodrigues (preparação corporal), André Luiz Nascimento (pintura artística do cenário e dos figurinos) e Josué Batista da Ponte (adereços em lata).
ZILDA ARNS - A DONA DOS LÍRIOS - Texto de Luiz Antônio Rocha e Simone Kalil. Direção de Luiz Antônio Rocha. Interpretação de Simone Kalil. O espetáculo voltará em breve ao cartaz.
terça-feira, 6 de novembro de 2018
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