Teatro/CRÍTICA
"A Ponte"
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Lionel Fischer
"Três irmãs, separadas pela vida, são obrigadas a se reunir para enfrentar a morte iminente da mãe. Theresa, a mais velha, é uma freira que se isolou da família em um retiro religioso. Agnes, a irmã do meio, vive uma atriz falida, que foi tentar a sorte longe de sua cidade natal. Louise, a mais jovem, é obcecada por séries de TV e desinteressada pelo mundo além do virtual. Neste reencontro, ambientado na cozinha da casa onde foram criadas, as três revelam os seus valores, crenças e diferenças em busca da possível reconstrução de uma célula familiar há muito fragmentada".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "A Ponte", do dramaturgo canadense Daniel MacIvor. Em cartaz no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, a montagem leva a assinatura de Adriano Guimarães, estando o elenco formado por Bel Kowarick (Theresa), Debora Lamm (Agnes) e Maria Flor (Louise).
Autor de vários textos já encenados no Brasil - "In on It", "À primeira vista", "Aqui jaz Henry" e "Cine-Monstro" -, Daniel MacIvor possui, dentre seus muitos méritos, dois que me parecem essenciais: tem sempre o que dizer e dá enorme importância ao trabalho dos atores - esta última assertiva, na verdade uma suposição, me parece válida à medida que suas peças jamais podem ser plenamente usufruídas se em cena não estiverem excelentes intérpretes, como no presente caso, como se verá mais adiante.
A primeira curiosidade com relação à peça diz respeito à sua ambientação. Por razões óbvias, a ação não poderia se passar no quarto da mãe agonizante, a menos que a intenção fosse a de conferir um caráter mórbido à narrativa. Se esta acontecesse no quarto de uma das irmãs, isto poderia sinalizar algum tipo de ascendência, o que não é o caso. Então chegamos ao ambiente escolhido: a cozinha. Ainda que possa estar enganado, penso que o autor objetivou conferir ao espaço um caráter que transcende o prosaico, pois ali os alimentos consumidos não buscam saciar necessidades físicas, mas aquelas de há muito represadas no coração das três irmãs.
Bem escrito, contendo personagens maravilhosamente estruturados e uma ação que prende por completo a atenção do espectador - isto se dá à medida que a trama foge por completo ao previsível, sendo literalmente impossível se prever o que virá em seguida -, creio que o maior mérito de "A ponte" tenha total relação com seu título. Vejamos: as três irmãs possuem histórias de vida e personalidades diametralmente opostas, o que em princípio inviabilizaria qualquer possibilidade de entendimento.
No entanto, as circunstâncias as levam a explicitar mágoas e carências jamais reveladas, e quando renunciam a todas as defesas e decidem abrir seus corações sem reservas, o que antes se afigurava como um abismo aparentemente intransponível converte-se em uma ponte capaz de aproximá-las, o que me permite supor que o autor acredita na possibilidade de que possamos e devamos conviver com as diferenças - nos sombrios tempos que correm, tal crença é não apenas necessária, mas inadiável.
Com relação ao espetáculo, e ainda que este exiba marcas diversificadas e expressivas, torna-se evidente que o diretor Adriano Guimarães deu especial atenção ao elenco, encarregado de materializar personagens de altíssima complexidade. E o resultado não poderia ser melhor: Bel Kowarick, Debora Lamm e Maria Flor extraem o máximo de suas personagens, cabendo ressaltar a coletiva capacidade de entrega, a ótima contracena e a inegável inteligência cênica das intérpretes, que nos brindam com atuações inesquecíveis. Sem sombra de dúvida, um raro presente para aqueles que, como eu, acreditam que o teatro pertence essencialmente aos que estão em cena.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as belíssimas contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Emanuel Aragão (dramaturgia), Adriano Guimarães e Ismael Monticelli (cenografia), Bárbara Duvivier (tradução), Ticiana Passos (figurino), Wagner Pinto (iluminação) e Denise Stutz (direção de movimento).
A PONTE - Texto original de Daniel MacIvor. Dramaturgia de Emanuel Aragão. Direção de Adriano Guimarães. Com Bel Kowarick, Debora Lamm e Maria Flor. Teatro II do CCBB. Quinta a segunda, 19h30.
domingo, 21 de julho de 2019
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ResponderExcluirEstou doido para assitir, Lionel! Vou dar um pulo lá essa semana!
Não dixe de ir, amigo, pois o espetáculo é maravilhoso!
Excluirabraços,
eu