Teatro/CRÍTICA
"Como sobrevivi a mim mesma nesta quarentena"
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Imperdível montagem de ótimo texto
Lionel Fischer
Como todos sabemos, existem inúmeros manuais de sobrevivência. Alguns ensinam como sobreviver a um naufrágio, outros a uma avalanche de neve e certamente muitos dão preciosas dicas caso você, por exemplo, esteja fazendo um safári na África e subitamente se depare com um leão faminto.
Mas aqui, ainda que tudo aconteça em função de um fator externo - a pandemia da Covid 19 -, as soluções dependem exclusivamente das alternativas criadas por aqueles que se viram obrigados a lidar com a própria solidão.
E é este exatamente o contexto de "Como sobrevivi a mim mesma nesta quarentena", de autoria de Rita Fischer, também intérprete do monólogo. A montagem, em cartaz no Espaço Provocações (Shopping Barra Point), leva a assinatura de Thiago Bomilcar Braga.
Um dos muitos méritos do texto consiste em sua estrutura fragmentada, com muitas idas e vindas no tempo, abarcando não somente o período da pandemia em si como também outros em que a personagem usufruía a vida sem jamais imaginar o que o futuro lhe reservava. E a forma como a autora trabalha este contraponto prioriza, de forma totalmente coerente, o estado caótico que a acometeu durante a pandemia.
Cabe também ressaltar a capacidade de Rita Fischer de alternar passagens em que o humor predomina com outras em que o desespero impera. E isto sempre ocorre sem nenhuma preparação, assim impedindo a platéia de se sentir confortável - são muitas as passagens em que o riso é subitamente interrompido por uma súbita mudança de postura da intérprete ou um silêncio que ninguém poderia supor que ocorreria.
Repleto de humor, dramaticidade e fantasia, assim como de pertinentes observações sobre a natureza humana, "Como sobrevivi a mim mesma nesta quarentena" recebeu excelente versão cênica de Thiago Bomilcar Braga, que teve a sapiência de se abster de inócuas mirabolâncias formais e apostou todas as suas fichas em seu trabalho junto à intérprete - mas isso não significa que a cena careça de expressividade, muito pelo contrário. Cabe também ressaltar a ideia do diretor de pontuar os quadros com românticas canções francesas.
Com relação à atriz Rita Fischer, esta exibe vastíssimos recursos expressivos, tanto vocais como corporais. Dotada de um tempo de comédia absolutamente extraordinário, assim como de um magnetismo que fascina a platéia ao longo de toda a montagem, a intérprete exibe uma das melhores performances da atual temporada teatral. E caso conte, mais do que merecidamente, com as bençãos dos sempre caprichosos Deuses do Teatro, tudo leva a crer que "Como sobrevivi a mim mesma nesta quarentena" haverá de cumprir longa e bem sucedida temporada, que ora se inicia no Espaço Provocações.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as participações de todos os envolvidos nesta mais do que oportuna e imperdível empreitada teatral - Rita Fischer (figurino e produção), Cristina Fagundes (orientação dramatúrgica) e Léo Dallendone (identidade visual).
COMO SOBREVIVI A MIM MESMA NESTA QUARENTENA - Texto e atuação de Rita Fischer. Direção de Thiago Bomilcar Braga. Espaço Provocações (Shopping Barra Point, Avenida Armando Lombardi 350). Ingressos promocionais pela SYMPLA (R$ 25,00) e pelo Rio no Teatro.
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