segunda-feira, 15 de março de 2010

Teatro/CRÍTICA

"A gaiola das loucas"
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Deliciosa crítica à hipocrisia
Lionel Fischer
Sucesso absoluto nos palcos do mundo inteiro, sucesso absoluto quando transposta para o cinema, sucesso absoluto quando convertida em musical, "A gaiola das loucas " constitui um verdadeiro fenômeno, desses que só acontecem muito raramente. E embora imagine que quase todos conheçam seu enredo, pensando nos espectadores/leitores mais jovens reproduzo abaixo a sinopse do texto, ainda que um pouco reduzida, extraída do ótimo release que nos foi enviado:
"Georges (Mihuel Falabella) é proprietário do cabaré A gaiola das loucas, a jóia e o orgulho de St. Tropez. O cabaré, famoso pelos seus shows de transformistas, tem sua vedete: Zazá, o transformista mais famoso de toda a Riviera que, ao tirar a maquiagem, transforma-se em Albin (Diogo Vilela), com quem Georges mantém uma relação estável há mais de 20 anos. Ambos tem um filho, Jean Michel, fruto de uma aventura de Georges nos bastidores do Lido com uma corista, que não quis criar o filho. Então, Georges e Albin assumem a tarefa. Mas logo no início da peça Jean Michel chega em casa com uma notícia avassaladora: vai se casar com Anne. Até aí a coisa não seria tão grave, não fosse Anne filha única de Édouard Dindon, prsidente do PFTM, Partido da Família, Tradição e Moralidade, que prometeu varrer do mapa os homossexuais da Rviera, no caso de ser eleito".
De autoria de Jean Poiret, "A gaiola das locas" está aqui apresentada na forma de um musical, com músicas e letras de Jerry Herman e texto de Harvey Fierstein. Miguel Falabella assina a versão brasileira e a direção do espetáculo e Cininha de Paula a co-direção do mesmo. No elenco, Falabella, Diogo Vilela (Albin e Zazá) Carla Martelli (Anne Dindon), Davi Guilherme (Jean Michel), Gustavo Klein (Francis), Jorge Maya (Jacó), Maurício Moço (Sr. Dindon), Mirna Rubin (Sra. Renauld e Sra. Dindon) e Sylvia Massari (Jacqueline), que dividem o palco com "As loucas da gaiola", os cantores/bailarinos Alberto Goya (Dherma), Allison Klein (Clo Clo), Brenda Nadler (Monique), Bruno Khimura (Lo Singh), Carlos Leça (Nicole e Sr. Renauld), Clara Camargo (Bitelle), Felippe Moraes (Antoniette)), Fernando Rocha (Mercedes), Leonardo Sandoval (Josefine), Marcelo Freire (Swing), Marcelo Vasquez (Hanna), Maysa Mundim (Angelique), Olivia Teixeira (Paulette), Paulo de Mello (Phedra), Renato Bellinni (Chantal) e Thaty Abra (Odette).
Em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, o espetáculo conta ainda com Carlos Bauzys (Diretor musical e maestro responsável), Daniel Rocha (Diretor musical assistente e regente) e os músicos Alex Freitas (Palheta 1), Bernardo Ramos (Guitarra), Elias Borges (Palheta 3), Everson Moraes (Trombone), Helena Imasato (Violino), Levi Chaves (Palheta 2), Lucas Vargas (Teclado 3), Maico Veigas Lopes (Trompete), Marcos Rocha (Bateria), Priscila Azevedo (Teclado 2), Raul Oliveira (Baixo), Rodrigo Hyppolito (Teclado 1), Waleska Beltrami (Trompa) e Watson Clis (Cello).
Exibindo um total de 16 números musicais, todos determinantes para a compreensão e desenvolvimento da narrativa, "A gaiola das loucas" poderia ser encarada apenas como uma deliciosa comédia, repleta de quiprocós dignos dos melhores vaudevilles. No entanto, e sem deixar de ser engraçadíssima, a peça tem também aspectos sérios e absolutamente relevantes, dentre eles a denúncia que faz da hipocrisia e da discriminação e, acima de tudo, a valorização que propõe do amor, seja qual for a sua natureza. Assim, o texto permanece atualíssimo, pois ainda que os gays venham conquistando cada vez o espaço que sempre deveriam ter tido, não podemos ser cínicos a ponto de negar que ainda sofrem múltiplas perseguições, mesmo que mais sutis que as de tempos passados.
Contendo ótimos personagens, diálogos hilariantes e uma trama que seduz a platéia desde o início, este brilhante e crítico texto recebeu ótima versão cênica de Miguel Falabella, que através de marcas sempre criativas e divertidas consegue materializar todos os conteúdos propostos pelo autor, valorizando tanto as passagens mais engraçadas quanto aquelas em que uma certa melancolia predomina. E também deve ser creditado ao encenador as ótimas atuações que extrai de todo elenco. A começar pela própria e a de Diogo Vilela.
Ne pele de Georges, Falabella exibe seu habitual carisma, inteligência cênica e estupenda vocação de comediante, mostrando segurança nas partes cantadas. Quanto a Diogo Vilella, o ator está impecável nos dois personagens que interpreta, evitando habilmente a caricatura e investindo na comovente humanidade dos papéis, além de cantar maravilhosamente. Miguel e Diogo, por sinal, formam uma dupla entrosadíssima, cuja contracena deve servir de exemplo a todos os atores - iniciantes ou não - que julgam que contracenar é apenas estabelecer um diálogo, quando na verdade implica em total capacidade de entrega e absoluta cumplicidade. Na pele do mordomo Jacó, Jorge Maya também exibe atuação irretocável, o mesmo aplicando-se ao restante do elenco, todo ele perfeitamente integrado às propostas da direção. E cabe também destacar a irrepeensível e bem-humorada participação dos cantores/bailarinos.
Com elação à equipe técnica, destacamos com o mesmo entusiasmo o trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral, cabendo ressaltar as determinantes participações dos músicos, dos diretores musicais e do regente, assim como a coreografia de Chet Walker, os figurinos de Claudio Tovar, a cenografia de Clivia Cohen e a iluminação de Maneco Quinderé.
A GAIOLA DAS LOUCAS - Texto de Harvey Fierstein, baseado na peça de Jean Poiret. Direção de Miguel Falabella. Com Falabella, Diogo Vilela e grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Quinta e sexta, 21h. Sábado às 18 e 21h30. Domingo, 19h.

2 comentários:

  1. Excelente crítica. concordo plenamente.
    ótimo espetaculo!

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  2. Prezado Lionel, gostaria de usar uma frase sua ("Um verdadeiro fenômeno") como chamada para anúncio da peça, agora em cartaz em SP. A frase apareceria entre aspas, sendo a mesma devidamente creditada a "Lionel Fischer - crítico e professor de teatro". O anúncio será veiculado em jornais de circulação nacional. Posso contar com sua autorização?

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