Teatro/CRÍTICA
"Feliz por nada"
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Um belo encontro com Martha Medeiros
Lionel Fischer
"Um espetáculo que fala da amizade. Não da amizade que começa na infância, mas da amizade que surge no meio da vida, por acaso, e que passa a ser fundamental. Assim é a amizade de Juliana e Laura. Elas se conhecem aos 40 anos e passam a ser inseparáveis após um episódio no aeroporto de Tóquio, quando Laura se perde das filhas. Juliana é quem ajuda. Nasce, então, uma belíssima amizade que será posta à prova por causa de um homem, Joca, marido de Laura e ex-namorado de Juliana".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Feliz por nada", livro de crônicas de Martha Medeiros adaptado para o palco por Regiana Antonini. Ernesto Piccolo assina a direção do espetáculo, em cartaz no Teatro das Artes. No elenco, Christiana Oliveira (Laura), Luisa Thiré (Juliana) e Gil Hernandez (Joca).
Dizem os sábios que o amor é o maior sentimento que existe. Talvez seja. Mas acredito que a amizade o supera, posto que dispensa ciúmes, necessidade de posse e exclusividade, dentre outros quesitos. Seja como for, o que importa ressaltar é que aqui a autora aborda tanto o amor como amizade, assim como temas que dizem respeito a todos nós, alguns angustiantes - insegurança, anseios, frustrações, medo da solidão - e outros diametralmente opostos - desejo de realizações, a crença de que a vida pode e deve ser usufruída com alegria e leveza, a capacidade de enxergar o outro não como um adversário, mas como um cúmplice, a imperiosa necessidade de estabelecer relações viscerais e sobretudo perceber a transcendência que pode estar contida em coisas aparentemente insignificantes.
Mas o que mais me encanta na obra de Martha Medeiros é que ela jamais escreve como se detivesse o monopólio da verdade. Pelo contrário. Emite suas opiniões, naturalmente, mas nunca as considera superior à dos outros e muito menos definitivas. E tais predicados a aproximam de tal forma do leitor/espectador que este tende a considerar a autora uma amiga de longa data, muito mais propensa a entender do que julgar. Por tudo isto, não hesito em afirmar que Martha Medeiros pertence ao seleto rol de escritoras imprescindíveis deste país.
Com relação à adaptação, Regiana Antonini realizou um trabalho impecável, já que conseguiu criar um enredo com começo, meio e fim a partir de um volume com mais de 80 crônicas. E a mesma eficiência se faz presente na direção de Ernesto Piccolo, tanto nas passagens em que os personagens contracenam como naquelas em que se dirigem diretamente ao público, com ele partilhando reflexões
da maior pertinência. Um espetáculo simples, despojado, que sabiamente aposta na força do texto e dos intérpretes.
Na pele de Laura, Christiana Oliveira consegue materializar todas as inseguranças e frustrações da personagem, assim como seu comovente desejo de dar uma virada em sua vida, estimulada pela amiga. Luisa Thiré está impecável vivendo uma mulher solar, mas nem por isso isenta de eventuais dúvidas. E ambas estão brilhantes na linda cena que envolve um dilacerado pedido de perdão - não a detalho aqui pois isso privaria o espectador do momento mais impactante da montagem. Interpretando Joca, Gil Hernandez extrai o máximo do personagem, um homem ao mesmo tempo sedutor e frágil, predicados um tanto raros no universo masculino.
Na equipe técnica, Clivia Cohen optou acertadamente por um espaço praticamente vazio, sendo ótimos os adereços que criou. Helena Araújo responde por figurinos em total sintonia com o caráter e condição social dos personagens, sendo igualmente apropriadas a luz de Aurélio de Simoni e a trilha sonora de Rodrigo Penna.
FELIZ POR NADA - Texto de Martha Medeiros. Adaptação de Regiana Antonini. Direção de Ernesto Piccolo. Com Christiana Oliveira, Luisa Thiré e Gil Hernandez. Teatro das Artes. Quinta a sábado, 19h. Domingo, 18h30.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
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também achei tudo isso!! EXCELENTE!!!
ResponderExcluirLuisa ta simplesmente plena e divina em cena!!
abração Lionel!!
Nicolau
Nicolau amigo,
ResponderExcluirque bom que concordamos, embora eventuais divergências sejam sempre bem-vindas neste blog.
Abraços,
Eu