Teatro/CRÍTICA
"Quem tem medo de Virginia Woolf?"
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Excelente versão de obra-prima
Lionel Fischer
Casado com Marta há nais de 20 anos, Jorge é professor de História na universidade que tem o pai dela como reitor. Após retornarem de uma festa já um tanto embriagados, Marta continua desempenhando o papel que mais lhe agrada: o de insultar e humilhar Jorge, que limita-se a retrucar com frases condescendentes ou sutilmente irônicas. Mas logo o casal recebe a visita dos jovens Nick e Mel - ele leciona Biologia na mesma Universidade. Aos poucos, o encontro que deveria ocorrer de forma civilizada acaba enveredando para um universo em que realidade e fantasia se mesclam, povoado de jogos perversos e regado a muita bebida.
Eis, em resumo, o enredo de "Quem tem medo de Virginia Woolf?", a mais consagrada dentre todas as peças escritas pelo norte-americano Edward Albee. Victor Garcia Peralta assina a direção da montagem, em cartaz no Teatro dos Quatro. No elenco, Daniel Dantas, Zezé Polessa, Erom Cordeiro e Ana Kutner.
Tratados já foram escritos sobre esta obra-prima e certamente por pessoas muito mais capacitadas do que eu. Seja como for, o que me parece mais fascinante no texto é a capacidade do autor de duvidar das aparências, deixando clara sua crença de que todos, em maior ou menor grau, jamais exibem suas verdadeiras faces, fazendo o possível para ocultar o que não desejam que transpareça ou até mesmo ignoram. Mas os já mencionados jogos e o excesso de bebida contribuem para desmontar todas as defesas e os personagens são desnudados de forma absolutamente implacável.
Contendo ótimos personagens, diálogos brilhantes e uma ação que avança de forma avassaladora, o texto recebeu ótima versão de Victor Garcia Peralta. Consciente de que um texto desta natureza dispensa inócuas mirabolância formais, o encenador investiu sabiamente no trabalho dos intérpretes, mas sem jamais abdicar de uma dinâmica cênica eletrizante e agressiva, indispensável para a materialização de todos os conteúdos em jogo.
Na pele de Jorge, Daniel Dantas exibe um dos melhores trabalhos de sua carreira, valorizando com extrema sensibilidade e inteligência cênica as principais características do personagem - sua aparente submissão a Marta, a sagacidade de seus argumentos, o sarcasmo de que lança mão várias vezes e a perversão inerente aos jogos que propõe. A mesma excelência se faz presente no desempenho de Zezé Polessa, que confere a Marta uma dimensão à altura do dificílimo papel - a atriz convence plenamente nas passagens irônicas e agressivas, assim como naquelas em que exibe patética fragilidade.
Erom Cordeiro faz muito bem o jovem e ambicioso Nick, particularmente nos momentos em que acredita piamente em seu poder de sedução, quando na verdade está sendo apenas manipulado por Marta. Em papel de menores oportunidades, ainda assim Ana Kutner encontra um caminho que torna Mel uma figura marcante, graças à forma como trabalha a parvoíce da personagem e sua incapacidade de expressar um pensamento próprio ou minimamente interessante.
Com relação à equipe técnica, considero exemplar as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - João Polessa Dantas (tradução), Gringo Cardia (direção de arte e cenografia), Maneco Quinderé (iluminação), Marcelo Pies (figurinos), Fernando Torquato (visagismo) e Marcelo Alonso neves (trilha sonora).
QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF? - Texto de Edward Albee. Direção de Victor Garcia Peralta. Com Daniel Dantas, Zezé Polessa, Erom Cordeiro e Ana Kutner. Teatro dos Quatro. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
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