quarta-feira, 25 de junho de 2014

Teatro/CRÍTICA

"A moça da cidade"

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Deliciosa montagem no Sesc



Lionel Fischer



No estúdio de uma rádio, nos anos 1940, três intérpretes encarnam os personagens de uma radionovela e também emprestam suas vozes a vários anúncios. A partir de um certo ponto, a cena se amplia e a narrativa radiofônica converte-se em fato teatral. E então acompanhamos a trajetória de Ambrosina, jovem que sai do Nordeste e vem tentar a vida no Rio de Janeiro. Ela se hospeda na pensão de Dona Rosa e conhece Leitinho, que ocupa um quarto ao lado do seu e que acaba se apaixonando perdidamente por ela.

Eis, em resumo, o enredo de "A moça da cidade", em cartaz na Sala Multiuso do Espaço Sesc. De autoria de Anderson Boch, a peça marca a estreia do ator Rodrigo Pandolfo na direção. No elenco, Lu Camy (Ambrosina), Dida Camero (Dona Rosa) e Gabriel Delfino Marques (Leitinho).

Vencedor do Prêmio Funarte de Dramaturgia da Região Centro-Oeste, em 2001, o texto do dramaturgo sul mato-grossense Anderson Boch exibe uma trama repleta de encontros e desencontros, paixões e desejos, sempre priorizando uma atmosfera deliciosamente ingênua, lírica e divertida. 

E o fato de os atores se alternarem entre os profissionais da rádio e os personagens materializados na cena confere um charme todo especial à narrativa, afora permitir aos intérpretes exibirem grande versatilidade. A única ressalva fica por conta da extensão do texto que, sem ser propriamente longo, se um pouco reduzido teria um alcance ainda maior.

Com relação ao espetáculo, Rodrigo Pandolfo impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, cabendo destacar as passagens em que os intérpretes se relacionam com vídeos de filmes famosos, sendo que nesses momentos as vozes originais são dubladas - o efeito é realmente muito engraçado. E a Pandolfo também deve ser creditado o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações do elenco.

Na pele de Leitinho, Gabriel Delfino Marques valoriza ao máximo todo o romantismo do jovem apaixonado, cuja língua presa o torna hilariante - mas Delfino também está muito bem quando encarna outros personagens. A mesma eficiência se faz presente na divertida composição de Dida Camero, que utiliza com extrema propriedade sua voz poderosa e seu ótimo tempo de comédia. Lu Camy converte Ambrosina numa figura adorável, explorando com humor e sensibilidade o temperamento ao mesmo tempo explosivo e frágil da excelente personagem que interpreta, afora exibir preciso trabalho corporal.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de todos os profissionais envolvidos nesta curiosa empreitada teatral - Marcelo Alonso Neves (direção musical), Rodrigo Pandolfo (trilha sonora), Ana Achcar (preparadora corporal), Victor Maia (direção de movimento e coreografias), Tomás Ribas (iluminação), Miguel Pinto Guimarães (cenografia), Bruno Perlatto (figurinos), Sid Andrade (visagismo) e Felipe Bond (direção de vídeo). 

A MOÇA DA CIDADE - Texto de Anderson Boch. Direção de Rodrigo Pandolfo. Sala Multiuso do Espaço Sesc. Com Gabriel Delfino Marques, Lu Camy e Dida Camero. Sexta e sábado, 19h. Domingo, 18h. 





  

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