Teatro/CRÍTICA
"Bilac vê estrelas"
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Deliciosa comédia musical
Lionel Fischer
"A história se passa no início do século XX, em plena Belle Époque carioca, e apresenta personagens históricos como o poeta Olavo Bilac e o jornalista José do Patrocínio, em uma trama que mistura ficção e realidade. Os dois amigos têm que enfrentar a cobiça de uma espiã portuguesa que se alia a padre Maximiliano, interessados no projeto de um dirigível criado por Patrocínio".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo da comédia musical "Bilac vê estrelas", baseada no romance homônimo de Ruy Castro. Heloisa Seixas e Julia Romeu respondem pela adaptação e roteiro, estando a direção a cargo de João Fonseca. Em cartaz no Teatro dos Quatro, a montagem chega à cena com elenco formado por André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Alice Borges, Sergio Menezes, Reiner Tenente, Jefferson Almeida, Saulo Segreto e Gustavo Klein.
Como não li o romance, não tenho como avaliá-lo. Mas a adaptação feita por Heloisa Seixas e Julia Romeu é tão sedutora que a obra de Ruy Castro tem que ser maravilhosa - a trama é repleta de episódios surpreendentes e hilariantes, protagonizados por ótimos personagens que, na maior parte do tempo, exibem sedutora e ingênua malícia.
Com relação ao espetáculo, João Fonseca impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. As marcações são ágeis, leves e muito divertidas, e os tempos rítmicos trabalhados com extrema precisão. Afora isto, Fonseca conseguiu extrair ótimas atuações do elenco.
Na pele de Olavo Bilac, André Dias realiza um trabalho primoroso. Exibindo esmerado trabalho corporal, voz belíssima e apuradíssimo tempo de comédia, o ator realiza aqui uma das melhores performances de sua brilhante carreira. A mesma eficiência se faz presente na atuação de Izabella Bicalho (Dona Eduarda Bandeira, espiã portuguesa, e Mocinha), cuja voz dispensa comentários (alguém consegue se esquecer de sua atuação em "Gota d'água"?) e que aqui exercita seu lado de comediante com total eficácia.
Outra atuação marcante é a de Tadeu Aguiar: também possuidor de bela voz e forte presença cênica, o ator está engraçadíssimo na pele do padre mau caráter, cabendo destacar sua hilariantes saídas de cena, quando produz uma espécie de chilique corporal que provoca inevitáveis gargalhadas. Vivendo Madame Labiche, que funciona como uma espécie de narradora, Alice Borges convence plenamente na pele de uma personagem em que não explora sua conhecida e maravilhosa veia cômica, mas que funciona plenamente, tanto no canto como nas partes faladas. Com relação aos demais intérpretes, muitos interpretando vários personagens, a atuação de todos contribui de forma decisiva para o sucesso desta deliciosa empreitada teatral.
No tocante à equipe técnica, são irrepreensíveis as contribuições de Nello Marrese (cenografia), Carol Lobato (figurinos), Sueli Guerra (coreografias) e Daniela Sanchez (iluminação). E cabe também destacar a direção musical de Luís Filipe de Lima, as performances dos músicos Daniel Sanches (piano), Jorge Oscar (contrabaixo) e Oscar Bolão (bateria), e as maravilhosas composições originais de Nei Lopes, que abarcam diversos gêneros com o mesmo brilho.
BILAC VÊ ESTRELAS - Texto de Heloisa Seixas e Julia Romeu. Com André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Alice Borges e grande elenco. Direção de João Fonseca. Teatro dos Quatro. Quinta às 19h, sexta e sábado às 21h, domingo às 20h.
quinta-feira, 9 de abril de 2015
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