Teatro/CRÍTICA
"No se pude vívír sín amor"
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Fortes emoções no Galpão das Artes
Lionel Fischer
Jornalista, dramaturgo e escritor, o gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996) deixou uma obra vasta e diversificada, em grande parte abrangendo temas como o amor, o sexo, o medo, a solidão e a morte. Valendo-se de uma escrita intimista e passional, marcada por absoluta sinceridade, o autor conquistou uma grande legião de admiradores, que continua aumentando à medida que sua obra é reeditada ou ganha novas adaptações para o palco.
No presente caso, o espetáculo reúne, dentre outros, textos extraídos dos volumes "Pequenas epifanias", "Pedras de Calcutá", "Ovelhas negras", "Morangos mofados" e "Triângulo das águas", além de um poema e duas cartas inéditas escritas por Caio para sua grande amiga Nara Keiserman, responsável pela concepção e dramaturgia do espetáculo, e sua única intérprete. Demetrio Nicolau responde pela direção da montagem, em cartaz no Galpão das Artes (Espaço Tom Jobim).
Como expresso no parágrafo inicial, aqui o tema predominante é o amor. E certamente poderia me deter em particularizar um ou mais textos, tecendo considerações sobre os mesmos. Mas como os considero excelentes, julgo mais produtivo me focar na circunstância cênica que contribui para torná-los ainda mais atraentes.
No início do espetáculo, Nara Keiserman empreende aparentes exercício vocais. E digo aparentes porque, mais do que aquecer a própria voz, me parece que a atriz está aquecendo todo o seu corpo e, em particular, seu coração. A partir daí, tendo atingido o estado almejado, Nara canta, dança e, naturalmente, diz os textos de Caio, ora sentada em uma cadeira, ora aproximando-se e afastando-se de fechados focos de luz, como a sugerir que o visível e o invisível possuem idêntica importância.
E certamente a dinâmica cênica criada por Demetrio Nicolau, parceiro de palco e de vida da atriz, contribui de forma decisiva para que Nara Keiserman possa extrair o máximo potencial dos belos textos selecionados, cabendo registrar a genuína emoção da intérprete ao ler as cartas que Caio lhe endereçou.
E já que falei em emoção, acho imperioso ressaltar que o espetáculo só faz ratificar a mais bela definição de teatro que conheço, proferida pelo inglês Peter Brook: "O Teatro é a arte do encontro". Portanto, aqueles que acreditam na veracidade de tal assertiva não podem se dar ao luxo de perder um evento teatral tão marcante como este. Porque, além de poderem usufruir um maravilhoso encontro com Nara Keiserman e Caio Fernando Abreu, certamente terão um encontro igualmente belo consigo mesmos.
Na equipe técnica, Demetrio Nicolau responde (como já implícito) por sensível iluminação, sendo igualmente irretocáveis a cenografia e figurino de Carlos Alberto Nunes, a maquiagem de Mona Magalhães e a orientação musical de Alba Lírio.
NO SE PUEDE VÍVÍR SÍN AMOR - Textos de Caio Fernando Abreu. Direção de Demetrio Nicolau. Concepção, dramaturgia e atuação de Nara Keiserman. Galpão das Artes (Espaço Tom Jobim). Sexta e sábado, 20h30. Domingo, 19h30.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
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Valeu Lionel! Sempre sensível e atento às propostas das montagens. Abração do Demetrio.
ResponderExcluirDemetrio amigo,
Excluirte agradeço as palavras tão gentis.
abraços,
Eu