sábado, 9 de janeiro de 2016

Teatro/CRÍTICA

"Brimas"

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Precioso encontro no Cândido Mendes




Lionel Fischer




"Inspiradas em suas avós, as atrizes trazem para o palco histórias reais de suas famílias, que, mesmo sendo de religiões diferentes, são similares quando tangem o idioma, hábitos e costumes. A peça fala sobre o amor à terra em que se nasce, orgulho de pertencer à pátria brasileira que as acolheu como filhas, a travessia, o ir em frente, a esperança, a memória do que ficou para trás, a saudade e a expectativa da alegria de dias melhores".

Extraído do material de divulgação entregue à imprensa, o trecho acima resume o contexto em que se dá "Brimas", que, após vitoriosa temporada no ano passado no Midrash, está novamente em cartaz, agora no Teatro Candido Mendes. Beth Zalcman e Somone Kalil respondem pelo texto e pela atuação, estando a direção a cargo de Luiz Antônio Rocha.

Em uma época em que conflitos de todas as naturezas parecem fadados a se perpetuar, com a intolerância se sobrepondo à razão e aos sentimentos mais elementares, assim eliminando (ou parecendo eliminar) qualquer possibilidade de entendimento entre os homens, uma peça como "Brimas" assume conotações preciosas. 

E aqui não me refiro à carpintaria teatral, sem dúvida deliciosa, mas de grande simplicidade: o essencial diz respeito à mensagem que o texto transmite e que consiste, basicamente, em demonstrar que é possível manter-se fiel às suas convicções, sem que isso implique em rejeitar aqueles que pensam diferente - desde que a ética, naturalmente, predomine.

Impregnado de humor e humanidade, mesclando fantasia e realidade em um contexto singelo (duas mulheres preparam quitutes para um velório), "Brimas" recebeu excelente versão cênica de Luiz Antônio Rocha, que sabiamente optou por uma dinâmica isenta de inócuas firulas formais e assim conseguiu, de forma emocionante e emocionada, valorizar ao extremo todos os conteúdos propostos. Além disso, Rocha exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas performances de Beth Zalcman e Simone Kalil.

Irrepreensíveis tanto do ponto de vista vocal como corporal, as duas atrizes evidenciam aquele raro tipo de cumplicidade cênica que só existe quando os intérpretes acreditam totalmente no que estão fazendo, nas ideias e sentimentos que defendem, na importância que atribuem ao espetáculo em que estão atuando. 

Peter Brook, o maior encenador vivo, definiu o teatro como "A arte do encontro", deixando implícito que um forte elo precisa ser estabelecido entre quem faz e quem assiste. Sendo tal definição verdadeira, e acredito piamente nela, não hesito em afirmar que todos aqueles que comparecerem ao Cândido Mendes dele sairão plenamente convictos de que o Teatro - assim como os diamantes e O Tablado - é eterno. 

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições dos profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Toninho Lôbo (cenário e adereços) e Claudia Goldbach (figurino). Gostaria de citar o responsável pela sensível iluminação, mas infelizmente seu nome não consta do programa que me foi entregue.

BRIMAS - Texto e atuação de Beth Zalcman e Simone Kalil. Direção de Luiz Antônio Rocha. Teatro Cândido Mendes. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.


 


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