Teatro/CRÍTICA
"O frenético Dancin' Days"
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Visceral pulsão de vida
Lionel Fischer
"Idealizada pelos amigos Nelson Motta, Scarlet Moon, Leonardo Netto, Dom Pepe e Djalma Limongi, a boate Dancin'Days foi inaugurada em 05 de agosto de 1976, no recém criado Shopping da Gávea. Mas funcionou por apenas quatro meses, pois o contrato era limitado ao período que antecedia a abertura do Teatro dos Quatro. A casa reunia famosos e anônimos, hippies e comunistas, todas as tribos com o único objetivo de celebrar a vida. E o sucesso foi tamanho que a casa foi reaberta no Morro da Urca e inspirou a novela Dancin' Days, de Gilberto Braga, que tinha a música homônima das Frenéticas como tema de abertura".
Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza a importância da Dancin' Days como um lugar essencialmente libertário, que abrigou a chegada da discoteca no país. Ali se apresentaram, dentre muitos outros, Lady Zu, a Banda Black in Rio, Tim Maia, Rita Lee, Raul Seixas e Gilberto Gil. E, como é sabido, foi no Dancin' Days que surgiram As Frenéticas. Em vista disso, me parece extremamente oportuna a proposta de relembrar o tempo em que, apesar da ditadura militar, o país inteiro caiu na gandaia e entrou na festa.
Com texto assinado por Nelson Motta e Patrícia Andrade, o musical "O frenético Dancin' Days" (Teatro Bradesco) chega à cena com direção geral de Deborah Colker - cabe assinalar que esta é a primeira encenação teatral de uma das maiores coreógrafas do mundo. No elenco, Stella Miranda (Dona Dayse), Ariane Souza (Madalena), Bruno Fraga (Nelson Motta), Cadu Fávero (Djalma), Franco Kuster (Léo Netto), André Ramiro (Dom Pepe), Gabriel Manita (Tony Manero/Inácio/Catarino), Karine Barros (coro), Larissa Venturini (Scarlet), Natasha Jascalevich (Bárbara) e as Frenéticas Carol Rangel (Edyr de Castro), Ester Freitas (Dhu Moraes), Ingrid Gaigher (Lidoca), Julia Gorman (Regina Chaves), Larissa Carneiro (Leiloca) e Ludmila Brandão (Sandra Pêra). Completam a equipe os bailarinos Romulo Vlad, Andrey Fellipy, Isadora Amorim, Elio Barbe, Eddy Soares, Julia Strauss e Rogger Castro.
Dividido em dois atos, no primeiro o espetáculo prioriza as premissas que levaram à criação da célebre boate. E aqui cabe salientar a tenacidade de Nelson Motta e seus parceiros no sentido de viabilizar a criação de um espaço destinado à música e à dança, e cujo permanente combustível seria a alegria. Já no segundo, com a casa em pleno funcionamento, a festa irrompe irresistível, tornando-se literalmente impossível não se deixar contagiar pela visceral pulsão de vida que emana do palco.
Bem escrito, contendo ótimos personagens e uma ação que diverte e emociona a plateia, "O frenético Dancin' Days" recebeu ótima versão cênica de Deborah Colker, não apenas no tocante à criatividade das marcações, mas também no que diz respeito à precisão dos tempos rítmicos. Quanto às coreografias, que Deborah assina em parceria com Jacqueline Motta, haveria de ser surpreendente se não fossem, como são, deslumbrantes, magnificamente executadas pelos ótimos bailarinos. E o mesmo deslumbre se faz presente nas preciosas colaborações de Alexandre Elias (direção musical), Gringo Cardia (cenografia e direção de arte), Maneco Quinderé (iluminação), Fernando Cozendey (figurinos) e Max Weber (visagismo).
Com relação ao elenco, todos os profissionais extraem o máximo de seus personagens. Mas é impossível não conferir um destaque especial a Stella Miranda, arrebatadora no breve momento que divide os dois atos e daí em diante, sempre exibindo sua fortíssima presença cênica, imenso carisma, delicioso humor e voz maravilhosa.
Finalmente, uma breve consideração sobre Nelson Motta, com quem jamais tive o privilégio de ter qualquer contato. Dentre seus muitos predicados - poeta, jornalista, repórter, colunista etc. - um deles me parece essencial: sua aparentemente inesgotável capacidade de gerar felicidade e alegria. Que Deus (caso exista) o conserve sempre assim. E que sua alma otimista e generosa nos ajude a acreditar que o tempo sombrio em que vivemos haverá de passar, como passou o da infame ditadura que muitos acreditavam que haveria de se perpetuar.
O FRENÉTICO DANCIN' DAYS - Texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade. Direção de Deborah Colker. Com Stella Miranda, Bruno Fraga, Cadu Fávero, Franco Kuster, André Ramiro e grande elenco. Teatro Bradesco. Sexta 21h, sábado 17h e 21h, domingo 18h.
domingo, 2 de setembro de 2018
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