quarta-feira, 6 de março de 2013

Anedotas teatrais


Peter Hay

Extraído de Theatrical Anecdotes (Oxford U. Press, 1987, N. York), o artigo oferece uma ampla amostra de como podem ser delicadas as relações entre quem faz e quem analisa, assim como exibe opiniões nada lisonjeiras de renomados críticos sobre os profissionais da cena. Estas opiniões, diga-se de passagem, às vezes extrapolam tanto os limites da função crítica que acabam se tornando cômicas - não para os criticados, evidentemente...

A tradução do texto é de Abelardo Jacobina, do Departamento de Letras da PUC-Rio, e o artigo está publicado na revista Cadernos de Teatro, do Tablado, nº 170.



* * *

Muy amigos...

          Robert Benchley sobre Perfectly scandalous: “É uma dessas peças na qual todos os atores têm, infelizmente, ótima dicção”.

          George S. Kaufman comentando uma comédia: “Houve algumas risadas dispersas no fundo da platéia, o que nos fez crer que alguém contava piadas por lá”.

          Bernard Shaw falando de Herbert Tree como Falstaff: “Para se tornar um excelente Falstaff, o sr. Tree precisa nascer de novo e o mais diferente possível de si mesmo. Ele também poderia tentar interpretar Julieta”.

          Dorothy Parker sobre Marion Davies: “Ela possui apenas duas expressões: alegria e indigestão”.

          Um crítico comentando a voz de Siobhan McKenna em Sons of Oedipus: “A voz da srta. McKenna é exatamente o meio termo entre uma gansa nova e um coral de carpideiras”.

          George Kaufman sobre a peça Beiween the devil , de Howard Dietz: “Se entendi bem, a sua nova peça é cheia de únicos sentidos”.

Combate

          John Forster, crítico de The Examiner, sobre o Macbeth de Edwin Forrest na sua segunda visita à Inglaterra: “Nosso velho amigo, o sr. Forrest, propiciou grande entretenimento ao público com o seu desempenho de Macbeth. Realmente, nossos melhores comediantes nem sempre provocam tamanha hilaridade. Foi imensa a transformação de um inaudível murmúrio em um clamor; mas o grande momento consistiu no combate, quando ficou esfregando a sua espada na de Macduff. Não conseguíamos entender o que o gesto significava até que um esclarecido crítico gritou da galeria: ‘Está bem, ela precisa ser amolada!’”.

Peter Pan

          Kenneth Tynan foi o mais importante crítico britânico do pós-guerra. Sua opinião sobre Noël Coward: “Quarenta anos atrás ele foi um dos meninos perdidos em Peter Pan, e pode-se dizer que permaneceu na Terra do Nunca desde então”.

Cortes

          Noël Coward falando da atuação de Griffith Jones na pele de uma criança-prodígio de 14 anos: “Duas coisas deveriam ser cortadas. O segundo ato e a garganta daquele jovem”.

Teimosia

          O famoso e temido crítico Piron não apreciou todas as produções dramáticas de Voltaire, que evidentemente ficava zangado. Contudo, sabendo da força esmagadora da opinião de Piron, Voltaire visitou-o um dia com uma peça nova que, julgava, havia sido elaborada a tal nível de perfeição que enfrentaria qualquer crítica.

Voltaire - Ei-la, meu caro amigo. Faça-me o favor de ler isso. Virei apanhá-la em dois dias e solicitar a sua franca opinião a respeito.

Passado esse tempo...

Voltaire - E aí, leu o texto?

Piron - Li.

Voltaire - O que é que acha da peça?

Piron - Acho que será vaiada.

Voltaire - Está enganado. Vamos ao teatro, semana que vem, e assista à representação.

Eles foram. O espetáculo começou, prosseguiu pesadamente por dois atos, tendo o cenário recebido alguns aplausos no terceiro. Os dois últimos atos, dado o grande empenho dos atores, correram tranqüilos e a cortina baixou. Voltaire sacudiu o acompanhante, que parecia semi-adormecido.

Voltaire - E agora, meu caro amigo, viu como estava enganado?

Piron - Nem tanto.

Voltaire - Sim, você achou que a peça seria vaiada.

Piron - Meu querido: como se pode vaiar enquanto se dorme?

Democracia

           Durante anos Robert Benchley levou a cabo uma guerra com um famigerado sucesso da Broadway, Abie's irish rose. Ele escreveu: “As pessoas riem da peça todas as noites, o que explica porque a democracia nunca pode ser um sucesso.”

Vingança

          Kenneth Tynan: “O crítico é um homem que conhece o caminho mas não sabe guiar”.

          Brendan Behan (dramaturgo irlandês): “Os críticos são como eunucos em um harém. Estão lá toda noite, vêem ser feito toda noite, vêem como deveria ser feito toda noite, mas são incapazes de fazê-lo”.

          Christopher Hampton (dramaturgo britânico): “Perguntar a um ator o que acha da crítica é como perguntar a um poste o que acha dos cachorros".

Saída

          James Agate disse o seguinte: “Quando uma peça é enfadonha, o crítico só tem uma saída: dormir. A propósito, cabe citar um comentário de William Archer: ‘A primeira qualificação para um crítico teatral é a sua capacidade de dormir sentado mantendo-se ereto’”.

Adesão

          O professor Brander Matthews era muito rigoroso quanto a convenções sociais. Uma noite, foi a uma estréia para fazer a crítica. No dia seguinte, um dos seus alunos da Columbia University lhe perguntou a sua opinião.

- Bem, senhores, a peça era em quatro atos e eu estava lá como convidado do autor. Após o primeiro ato, a platéia permaneceu em silêncio e eu aplaudi. Após o segundo ato, permaneci quieto enquanto a platéia vaiava. Após o terceiro ato, saí, comprei um lugar em pé e voltei para vaiar também.

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Alguns entretítulos foram modificados pela editoria.



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