Teatro/CRÍTICA
"Tudo que existe entre nós"
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Encontros e desencontros no Sesc
Lionel Fischer
Apresentada na Mostra Internacional de Teatro de Oeiras (Portugal), a presente montagem tem como premissa básica empreender uma reflexão sobre os fatores que contribuem para aproximar ou separar pessoas e culturas. Além disso, objetiva trabalhar uma série de outros temas, dentre eles "a violência do desejo, a vontade de se fundir com o ser amado, a necessidade de diferenciação, o fim do amor e a dificuldade de deixar o outro partir" - este trecho aspeado consta do release que me foi enviado.
Com direção e dramaturgia assinadas por Ivan Sugahara, "Tudo que existe entre nós" está em cartaz no Espaço Sesc (Mezanino). No elenco, Bruno Luca (nascido em Moçambique), Letícia Liesenfeld (brasileira) e Vítor d'Andrade (português).
Além da língua comum (fator de aproximação), os três intérpretes residem em Lisboa. Mas o fato de morarem na mesma cidade e falarem o mesmo idioma não elimina singularidades, diferenciadas experiências artísticas e humanas. Ou seja: o que de fato importa - ao menos do meu ponto de vista - não é tanto o que aproxima, mas sobretudo aquilo que pode separar. Como todos sabemos, muitas vezes estamos em um contexto (seja qual for sua natureza) que parece reunir todas as condições para que tudo dê certo e no entanto...
No presente caso, estamos diante de um espetáculo criado a partir das vivências dos intérpretes. E dada a riqueza e diversidade das mesmas, o resultado certamente abarca muito do que os espectadores também vivenciaram, daí a enorme empatia que a montagem desperta. Torna-se literalmente impossível não nos identificarmos com muitas passagens, tanto as mais dramáticas quanto aquelas em que o humor predomina. E como o texto possui grande qualidade, só uma montagem completamente desastrada minimizaria seu alcance. Mas felizmente não é o que acontece.
Impondo à montagem uma dinâmica que mescla a realidade da cena com a realidade dos intérpretes, o diretor Ivan Sugahara constrói uma encenação plena de criatividade e fantasia, cabendo ressaltar, dentre outros símbolos utilizados, o que advém dos inúmeros pares de sapato que aos poucos se acumulam no palco. Neste particular, acredito que a intenção tenha sido a de sugerir a possibilidade de se trilhar múltiplos caminhos e o que realmente importa não é tanto aonde se chega, mas a consciência da permanente necessidade de caminhar.
Quanto ao elenco, Bruno Huca e Vitor d'Andrade exibem atuações exuberantes - ambos possuem ótima voz, impecável trabalho corporal e grande presença cênica. No que diz respeito a Letícia Liesenfeld, a atriz também exibe qualidades, mas acredito que sua performance ainda possa evoluir sobretudo no tocante ao texto, por vezes proferido com poucas variações de ritmo e entonação.
Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Paulo César Medeiros (iluminação), Carolina Sugahara (cenografia) e Ivan Sugahara (figurino e trilha sonora).
TUDO QUE EXISTE ENTRE NÓS - Direção e dramaturgia de Ivan Sugahara. Com Bruno Huca, Letícia Liesenfeld e Vítor d'Andrade. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h30.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
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