segunda-feira, 18 de maio de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Próxima parada"

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Divertida e comovente homenagem



Lionel Fischer




"No ano em que o Brasil comemora 30 anos do fim do regime militar, o ineditismo do projeto vem do foco no percurso de ambos os autores e de personagens de suas obras, entrelaçando histórias reais e ficcionais, dados históricos e políticos, e depoimentos recolhidos através das cartas que José Vicente e Antonio Bivar trocaram ao longo de anos de amizade e de viagens feitas pela Europa e América Latina, atingindo a dramaturgia, a interpretação, a cenografia e demais elementos cênicos".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima explicita os objetivos de "Próxima parada", divertida e comovente homenagem a dois dos mais importantes dramaturgos brasileiros, o mineiro José Vicente (1945-2007) e o paulista Antonio Bivar. O primeiro assinou "Hoje é dia de rock" e "O assalto", e o segundo "Cordélia Brasil" e "O cão siamês ou Alzira Power", dentre muitas outras obras relevantes.

Em cartaz no Teatro Café Pequeno, "Próxima parada" tem dramaturgia assinada por Cesar Augusto e Felipe Vaz, direção de Cesar Augusto e elenco formado por André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas, Danilo Rosa, Felipe Frazão, Flavia Coutinho, Haroldo Costa Ferrari, Rômulo Chindelar, Sarah Lessa e Victor Albuquerque.

Como minha juventude coincidiu com a dos autores, assisti a todas as montagens de suas obras. E especialmente no que se refere a "Hoje é dia de rock" e "O assalto", minha relação com essas peças foi muito próxima, já que exibidas no Teatro Ipanema, espaço que vi nascer e que me propiciou fortíssimas relações de amizade com Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque. Assim, para mim foi muito fácil embarcar na viagem proposta pelo espetáculo. 

Sim, pois todas as referências e analogias, assim como a memória de episódios marcantes da época - os hippies, as drogas, a contracultura, a virulência do regime militar etc. - me são totalmente familiares. No entanto, não sei em que medida espectadores mais jovens, ou idosos reacionários que pouco se envolveram com a efervescência da época poderão acompanhar o espetáculo com facilidade. Talvez o texto necessitasse de um pouco mais de informação sobre os autores, sem que isso enveredasse para um enfadonho didatismo. 

Seja como for, o fato é que o texto me divertiu e comoveu em igual medida, assim como a montagem. Valendo-se de marcas criativas e imprevistas, ótima ocupação do espaço e notável domínio dos tempos rítmicos, o diretor Cesar Augusto construiu uma dinâmica cênica que retrata com humor e dramaticidade um dos períodos mais marcantes da recente história de nosso país. Além disso, conseguiu extrair seguras e convincentes atuações de todo o elenco, cuja coesão tornaria injusta a menção de algum intérprete em particular. Assim, a todos agradeço a maravilhosa noite que me proporcionaram e aproveito para desejar vida longa para este espetáculo tão significativo.

Na equipe técnica, Genilson Barbosa ilumina na cena com grande sensibilidade, sendo irretocáveis os figurinos de Lilian Bonfim e a trilha sonora de Rodrigo Marçal. Os vídeos de Elisa Mendes e João Marcelo Iglesias também colaboram de forma decisiva para o sucesso desta mais do que oportuna empreitada teatral.

PRÓXIMA PARADA - Dramaturgia de Cesar Augusto e Felippe Vaz. Direção de Cesar Augusto. Com André Rosa, Breno Motta, Dani Cavanellas e grande elenco. Teatro Café Pequeno. Sexta a domingo, 20h.  





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