CLAES
OLDENBURG
Sou a favor de uma arte...
Sou a favor da arte que o garoto lambe,
depois de rasgar a embalagem.
Sou a favor da arte tragável como os
cigarros e fedorenta como os sapatos.
Sou a favor da arte que se enrosca e
grunhe como os lutadores.
Sou a favor da arte que solta pelo.
Sou a favor da arte que você senta em
cima.
Sou a favor da arte sob as saias, e da
arte de esmagar baratas.
Sou a favor da arte que diz as horas, ou
onde fica essa ou aquela rua.
Sou a favor da arte que ajuda velhinhas
a atravessar as ruas.
Sou a favor da arte das capas de chuva
de guerras passadas.
Sou a favor da arte que sai como vapor
dos bueiros no inverno.
Sou a favor da arte que estilhaça quando
se pisa numa poça congelada.
Sou a favor da arte dos vermes dentro da
maçã.
Sou a favor da arte do suor que surge
entre as pernas cruzadas.
Sou a favor da arte de rebocos e
esmaltes baratos.
Sou a favor da arte do mármore gasto e
da ardósia britada.
Sou a favor da arte das pedrinhas
espalhadas e da areia deslizante.
Sou a favor da arte das aves mortas.
Sou a favor da arte das marcas no
asfalto e das manchas na parede.
Sou a favor da arte de pancadas e
joelhos arranhados e traquinagens.
Sou a favor da arte dos cheiros das
crianças.
Sou a favor da arte dos murmúrios das
mães.
Sou a favor da arte de cair dos bancos
dos botecos.
Sou a favor da arte de roupas íntimas e
táxis.
Sou a favor da arte das casquinhas de
sorvete derrubadas no asfalto.
Sou a favor da arte que pisca,
iluminando a noite.
Sou a favor da arte de pneus de
caminhões imensos e olhos roxos.
Sou a favor da arte de estalido das
nozes com o vai e vem das baratas.
Sou a favor da arte triste e marrom das
maçãs apodrecendo.
Sou a favor da arte do mofo e da
ferrugem.
Sou a favor da arte de objetos perdidos
ou jogados fora na volta da escola.
Sou a favor da arte das caixas
abandonadas, enfaixadas como faraós.
_______________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário