segunda-feira, 31 de março de 2014


Teatro grego: Diferenças entre comédia e tragédia


Valéria Peixoto de Alencar*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação


O teatro na Grécia Antiga surgiu a partir de manifestações a Dioniso, deus do vinho, da vegetação, do êxtase e das metamorfoses. Pouco a pouco, os rituais dionisíacos foram se modificando e se transformando em tragédias e comédias. Dioniso se tornou, assim, o deus do teatro.

Teatro Dioniso Atenas
Teatro de Dioniso, em Atenas

Atenas é considerada a terra natal do teatro antigo, e, sendo assim, também do teatro ocidental. "Fazer teatro" significava respeitar e seguir o culto a Dionisio.

O período entre os séculos 6 a.C. e 5 a.C. é conhecido como o "Século de Ouro". Foi durante esse intervalo de tempo que a cultura grega atingiu seu auge. Atenas tornou-se o centro dessas manifestações culturais e reuniu autores de toda a Grécia, cujos textos eram apresentados em festas de veneração a Dioniso.

O teatro grego pode ser dividido em três partes: tragédia, comédia antiga e comédia nova.


A tragédia


Do grego "tragoidía" ("tragos" = bode e "oidé" = canto). Canto ao bode é uma manifestação ao deus Dioniso, que se transformava em bode para fugir da perseguição da deusa Hera. Em alguns rituais se sacrificavam esses animais em homenagem ao deus.
A tragédia apresentava como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Para os autores clássicos, era o mais nobre dos gêneros literários.

Era constituída por cinco atos e, além dos atores, intervinha o coro, que manifestava a voz do bom senso, da harmonia, da moderação, face à exaltação dos protagonistas.

Diferentemente do drama, na tragédia o herói sofre sem culpa. Ele teve o destino traçado e seu sofrimento é irrefutável. Por exemplo, Édipo nasce com o destino de matar o pai, Laio, e se casar com a mãe. É um dos exemplos de histórias da mitologia grega que serviram de base para o teatro.

Autores trágicos


Por se tratar de uma sociedade antiga, deve-se muito à arqueologia o resgate dessa memória. A partir de alguns registros, acredita-se que foram cerca de 150 os autores trágicos.

Os três tragediógrafos que conhecemos, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes escreveram cerca de 300 peças, das quais apenas 10% chegaram até nós.

Ésquilo (cerca de 525 a.C. a 456 a.C.)

Considerado o fundador do gênero, sete peças suas sobreviveram à destruição do tempo: "Os Persas", "Sete contra Tebas", "As Suplicantes", "Prometeu Acorrentado", "Agamêmnon", "Coéforas" e "Eumênides".

Sófocles (496 a.C. a 406 .a.C.)

Importante tragediógrafo, também trabalhava como ator. Entre suas peças estão a trilogia "Édipo Rei", "Édipo em Colona" e "Antígona".

Eurípides (485 a.C. a 406 a.C.)

Pouco se sabe sobre sua vida. Ainda assim, é dele o maior número de peças que chegaram até nós. São 18 no total, entre elas: "Medéia", "As Bacantes", "Heracles", "Electra", "Ifigênia em Áulis" e "Orestes".

A comédia antiga

A origem da comédia é a mesma da tragédia: as festas ao deus Dioniso. A palavra comédia vem do grego "komoidía" ("komos" remete ao sentido de procissão).

Na Grécia havia dois tipos de procissão que eram denominadas "komoi". Numa, os jovens saiam às ruas, fantasiados de animais, batendo de porta em porta pedindo prendas, brincando com os habitantes da cidade. No segundo tipo, era celebrada a fertilidade da natureza.

Apesar de também ser representada nas festas dionisíacas, a comédia era considerada um gênero literário menor. É que o júri que apreciava a tragédia era nobre, enquanto o da comédia era escolhido entre as pessoas da platéia.

Também a temática diferia nos dois gêneros. A tragédia contava a história de deuses e heróis. A comédia falava de homens comuns.

Um gênero ligado à democracia

A encenação da comédia antiga era dividida em duas partes, com um intervalo. Na primeira, chamada "agón", prevalecia um duelo verbal entre o protagonista e o coro.

No intervalo, o coro retirava as máscaras e falava diretamente com o público para definir uma conclusão para a primeira parte. A seguir, vinha a segunda parte da comédia. Seu objetivo era esclarecer os problemas que surgiram no "agón".

A comédia antiga, por fazer alusões jocosas aos mortos, satirizar personalidades vivas e até mesmo os deuses, teve sempre a sua existência muito ligada à democracia. A rendição de Atenas na Guerra do Peloponeso, no ano de 404 a.C., levou consigo a democracia e, conseqüentemente, pôs fim a comédia antiga.

Aristófanes (447 a.C. a 385 a.C.)

Considerado o maior autor da comédia antiga, escreveu mais de 40 peças, das quais conhecemos apenas 11, entre elas: "Lisístrata", "As Vespas", "As Nuvens" e "Assembléia de Mulheres".

A comédia nova

Após a capitulação de Atenas frente a Esparta, surgiu a comédia nova, que se iniciou no fim do século 4 a.C. e durou até o começo do século 3 a.C. Essa última fase da dramaturgia grega exerceu profunda influência nos autores romanos, especialmente em Plauto e Terêncio.

A comédia nova e a comédia antiga possuem muitas diferenças. Na primeira, o coro já não é um elemento atuante, sua participação fica resumida à coreografia dos momentos de pausa da ação, a política quase não é discutida. Seu tema são as relações humanas, como por exemplo, as intrigas amorosas.

Não existem mais as sátiras violentas. A comédia nova é mais realista e procura, utilizando uma linguagem bem comportada, estudar as emoções do ser humano.


Menandro (343 a.C. a 291 a.C.)

Principal comediógrafo dessa fase, mais de 100 peças suas chegaram recentemente até nós. Muitas conhecemos apenas por título ou por fragmentos citados por outros autores antigos, com exceção de "O Misantropo", uma de suas oito peças premiadas, cujo texto completo, preservado num papiro egípcio, foi encontrado e publicado em 1958.
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José Wilker (1945)


Biografia

José Wilker (Juazeiro do Norte CE 1945). Ator, diretor
e autor. Conhecido, nos anos 1970, como ator de
espetáculos de vanguarda, José Wilker atua em alguns
dos principais grupos de teatro do país. Seu estilo
teatralista de criação e composição físicas se mantém
desde 1969, em O Arquiteto e o Imperador da Assíria,
no Teatro Ipanema, até 1985, em
Assim É...(Se Lhe Parece), no Teatro dos Quatro.

José Wilker começa a fazer teatro político e engajado
em Recife, no início dos anos 1960, junto ao Movimento
de Cultura Popular (MCP), que trabalha para a
conscientização política da classe operária por meio da
alfabetização e da cultura popular, na linha de Miguel
Arraes. Depois do golpe militar, em 1964, pressionado
pela repressão que coloca o MCP na ilegalidade,
Wilker parte para o Rio de Janeiro.

Com Luiz Mendonça, diretor de teatro do MCP,
Isabel RibeiroCamilla Amado e Carlos Vereza,
funda o Grupo Chegança, no qual atua durante
quatro anos em montagens comoMorte e Vida 
Severina, de João Cabral de Melo Neto e A Excelência.

Em 1965, estreia em Chão dos Penitentes, de
Francisco Pereira da Silva, com produção do
Teatro Jovem. Em 1967, trabalha ao lado de
 Marília Pêra e Dulcina de Moraes em A Ópera dos 
Três Vinténs, de Bertolt Brecht, direção de José Renato.
Ingressa na Faculdade de Sociologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). No
Grupo Opinião, atua em Antígone, de Sófocles,
sendo dirigido por João das Neves, em 1968. No mesmo
ano, ganha um prêmio do Seminário de Dramaturgia,
montando, em seguida, seu primeiro texto, O Trágico 
Acidente que Destronou Teresa.

Participa, a partir de então, dos espetáculos mais
importantes do Teatro Ipanema, centro de produções
teatrais de Ivan de Albuquerque e Rubens Corrêa: em
1969, faz uma substituição em O Assalto, espetáculo
que revela o autor José Vicente; no ano seguinte, atua
em O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando
Arrabal, que lhe vale o Prêmio Molière de melhor ator.
Está em Hoje É Dia de Rock, também de José Vicente,
em 1971, espetáculo ícone da década de 1970.

Participa da montagem brasileira de A Mãe, em 1971,
dirigida pelo francês Claude Régy, numa produção da
Companhia de Tereza Raquel. Volta ao Ipanema como
ator e autor em A China é Azul, de 1972. Atua também
em Ensaio Selvagem, mais uma peça de José Vicente,
1974. Em 1976, ganha os prêmios Molière e Governador
do Estado de melhor ator em Os Filhos de Kennedy,
de Robert Patrick, com direção de Sergio Britto.

A partir de então, afasta-se dos palcos por nove anos.
Torna-se importante ator de TV, destacando-se em novelas da
Globo, tais como: Anjo MauGabrielaSalvador da Pátria,
Roque Santeiro. No cinema, projeta-se pelos desempenhos
em Dona Flor e seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, 1976;
Bye, Bye Brasil, de Cacá Diegues, 1979, e O Homem da 
Capa Preta, de Sérgio Rezende, 1986.

No início dos anos 1980, assume a direção da Escola
de Teatro Martins Pena, tendo como colaboradores,
entre outros, Aderbal Freire-Filho e Alcione Araújo. Retorna
para o palco em 1985, com a equipe do Teatro dos Quatro,
onde a interpretação do Sr. Ponza, em Assim É...(Se lhe Parece),
de Luigi Pirandello, sob a direção de Paulo Betti, lhe vale seu
terceiro Prêmio Molière de melhor ator.

Passa a atuar como diretor de teatro em importantes
produções como Sábado, Domingo e Segunda, de
Eduardo De Filippo, em 1986; Perversidade Sexual em 
Chicago, de David Mamet, em 1989; A Morte e a Donzela,
de Ariel Dorfman, 1993; Querida Mamãe, de Maria Adelaide 
Amaral, em 1994.

Cinéfilo inveterado, nos anos 1990 abandona os palcos para
dedicar-se à sua carreira cinematográfica; produz e
atua no filme Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, e
torna-se também crítico de cinema na TV Cultura. Com
regularidade escreve  crônicas sobre o assunto para o
Jornal do Brasil e publica uma coletânia desta produção em
1996, no livro Como Deixar um Relógio Emocionado.

Wilker marca presença no teatro, no cinema e na televisão,
sendo requisitado como protagonista em todas estas áreas,
revelando ser um dos principais atores da sua geração.
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Fonte: Enciclopédia Itaú. Atualizado em 07/04/2011

Veja nas
Enciclopédias
literatura - nomes
Melo Neto, João Cabral de (1920 - 1999)

sábado, 29 de março de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Peça ruim"

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Delicioso caos no Café Pequeno



Lionel Fischer



Comandados por um jovem diretor, um grupo de jovens atores ensaia "Édipo Rei". E ao mesmo tempo em que assistimos ao caótico e hilário processo, temos acesso às principais e desvairadas angústias do diretor, sendo a principal sua paixão avassaladora por uma atriz, paixão esta que não é correspondida. Lá pelas tantas, o diretor informa ao grupo que eles terão que se apresentar para uma banca e falar com sotaque baiano, uma vez que, obtendo patrocínio, a montagem será exibida na Bahia. A partir de então, o delicioso caos assume conotações quase que paroxísticas.

Eis, em resumo, o contexto de "Peça ruim", que após cumprir boa temporada no Teatro O Tablado pode ser assistida no Café Pequeno. Daniel Belmonte assina o texto e a direção do espetáculo, estando o elenco formado por Adriano Martins (Ator de Teatro), André Dale (Bisão, o diretor), Eduardo Speroni (Idiota 2), Hernane Cardoso (Ricky), Joana de Castro (Idiota 3), Marianna Pastori (Tal Garota Que Anda Mexendo Com A Minha Cabeça) e Pedro Thomé (Idiota 1) - no espetáculo que assisti, Joana Castro e Marianna Pastori foram substituídos, respectivamente, por Leonardo Bianchi e Nina Reis.

Exibindo uma estrutura que mescla os ensaios com considerações do diretor sobre o processo do grupo e sua já mencionada paixão por uma das atrizes, sendo tais considerações feitas diretamente para a plateia, o texto de Daniel Belmonte faculta ao espectador uma divertida possibilidade de acesso aos mecanismos de construção de uma montagem feita por um grupo muito jovem, apaixonado e caótico, cujo enorme desejo de acertar é diretamente proporcional à precariedade de sua cultura e de recursos técnicos.

Entretanto, cabe ressaltar que todas as precariedades exibidas, assim como a deliciosa ingenuidade coletiva são aqui exacerbadas de forma proposital, sendo óbvia a pretensão de lançar um olhar crítico sobre um processo em que o exercício do ofício jamais está desvinculado de questões emocionais. Estamos, portanto, diante de um texto que propõe uma divertida reflexão sobre o fazer teatral.

Com relação ao espetáculo, Daniel Belmonte impõe à cena uma dinâmica deliberadamente suja e anárquica, com marcações esquisitíssimas e quase sempre despropositadas - mas fica evidente que tais marcações são fruto não do despreparo do diretor, mas de uma proposta crítica quanto ao processo de criação.

No tocante ao elenco, é evidente que alguns atores, em função de seus personagens, tem maiores oportunidades. Mas o que importa ressaltar aqui é a coesão do conjunto, a ótima contracena que todos estabelecem e a enorme alegria que exibem por estar em cena fazendo um espetáculo em que acreditam totalmente. A todos, portanto, parabenizo com o mesmo entusiasmo.

Na equipe técnica, Rodrigo Belay responde por ótima iluminação, cabendo ressaltar as passagens em que, propositadamente, ilumina mal a cena. A mesma eficiência se faz presente na cenografia de Julia Marina, nos criativos figurinos de Anouk Van der Zee (supervisão de Colmar Diniz) e na preparação vocal e orientação em prosódia de Leila Mendes.

PEÇA RUIM - Texto e direção de Daniel Belmonte. Com Adriano Martins, André Dale, Eduardo Speroni, Hernane Cardoso, Leonardo Bianchi, Nina Reis e Pedro Thomé. Teatro Café Pequeno. Sexta, 21h - apresentações extras nos dias 12 e 13 de abril (sábado às 21h e domingo às 20h).

quinta-feira, 27 de março de 2014

Diferentes tipos de desempenho

Michael Chekhov

TRAGÉDIA

O que acontece a um ser humano quando ele, por alguma razão, passa por experiências trágicas (ou heróicas)? Sublinharemos apenas uma característica de tal estado de espírito: ele sente como se as fronteiras comuns de seu ego fossem derrubadas; sente que tanto psicológica quanto fisicamente está exposto a certas forças que são muito mais fortes, muito mais poderosas do que ele próprio. Sua experiência trágica chega, toma posse de si e abala todo o seu ser. Sua sensação, reduzida a palavras, pode ser descrita como: "algo poderoso está agora presente lado a lado comigo, e isso é independente de mim no mesmo grau em que sou dependente disso". Essa sensação permanece, quer seja causada por um conflito trágico interno, como no caso dos principais conflitos de Hamlet, quer o golpe provenha de fora e seja ocasionado pelo destino, como no caso do Rei Lear.

Em suma, uma pessoa pode sofrer intensamente, mas a intensidade do sofrimento, por si só, é drama e ainda não é tragédia. A pessoa deve também sentir essa poderosa presença de "Algo" a seu lado, antes que seus sofrimentos possam ser genuinamente qualificados de trágicos. Desse ponto de vista, não concordariam que Lear causa uma impressão verdadeiramente trágica, ao passo que Gloucester suscita uma um tanto dramática?

Vejamos agora que sentido prático tal interpretação do estado de espírito trágico pode ter para nós, atores. A investigação é extremamente simples. Tudo o que um ator tem a fazer quando prepara um papel trágico é imaginar, em todo o tempo em que estiver no palco (ensaiando ou, depois, diante do público), que "Alguma coisa" ou "Alguém" está a segui-lo, "Alguma coisa" ou "Alguém" que é muitíssimo mais poderoso do que sua personagem ou do que ele próprio. Deve ser uma espécie de Presença sobre-humana!

O ator deve consentir que esse espectro, fantasma ou aparição atue através da personagem que o inspira. Assim fazendo, o ator não tardará em realizar uma agradável descoberta, a de que não precisa exagerar seus movimentos nem suas falas. Tampouco necessita se enfurnar psicologicamente por meios artificiais ou recorrer a um páthos vazio a fim de conseguir grandeza, as verdadeiras dimensões de um estado de espírito trágico. Tudo acontecerá por si mesmo.

Seu Doppelgänger (literalmente, o sósia), seu fantasma, estando de posse de poderes e sentimentos sobre-humanos, cuidará de tudo isso. O desempenho do ator permanecerá verdadeiro sem se tornar tão confrangedoramente "natural" que perca todo o seu sabor trágico e sem se tornar aflitivamente artificial por causa de excessivos esforços para "desempenhar" naquele estilo grandiloqüente que toda a tragédia exige dele.

A espécie de Presença sobre-humana que o ator pressente numa dada circunstância deve ser deixada inteiramente à mercê de sua imaginação livre e criativa. Pode ser um gênio bom ou mau, feio e vingativo ou heróico e belo; pode ser ameaçador, perigoso, perseguidor, deprimente ou consolador. Tudo depende da peça e da personagem. Em algumas peças, os próprios autores tornaram essas Presenças tangíveis, como as Fúrias nas tragédias gregas, as bruxas em Macbeth, o espectro do pai em Hamlet, Mefistófeles no Fausto, etc.

Mas, sejam indicadas ou não pelo autor, o ator fará bem em criá-las ele mesmo, a fim de sintonizar sua estrutura psicológica naquele tom que o habilitará a interpretar papéis trágicos. Tente fazer essa experiência e verá como se acostuma depressa à sensação de tal Presença a seu lado. Em pouco tempo não haverá sequer a necessidade de pensar nela. Você sentirá apenas que está capacitado para interpretar tragédias com perfeita liberdade e verdade. Jogue livremente com a Presença que inventou; deixe que ela o siga ou o preceda, que caminhe a seu lado ou mesmo voe acima de sua cabeça, de acordo com a missão que quer que ela cumpra.





quarta-feira, 26 de março de 2014

Filmes Peruanos ganham espaço na 
13ª Mostra do Filme Livre
 Com o objetivo de promover a integração e a troca de conhecimento entre cineastas brasileiros e peruanos, será realizada na 13ª Mostra do Filme Livre - MFL, a Sessão Peruana, no CCBB. O evento, contará com a exibição de dois longas. Nesta quinta-feira, dia 27, às 19h, será o filme “El Espacio Entre Las Cosas”, dirigido por Raúl del Busto. Já a segunda exibição será na sexta-feira, dia 28, às 20h, com o filme “Uma Semana Com Poucas Mortes” de Farid Rodriguez. Logo após a segunda sessão, será realizado o debate “Cinema Peruano Hoje” com Alonso Izaguirre, diretor do Festival Lima Independiente. Em 2013, a MFL participou do Festival em Lima, com uma sessão especial de filmes brasileiros, e agora é a vez deles mostrarem um pedaço de suas produções por aqui. Uma parceria que tem rendido boas trocas de experiências entre os dois países.

Programação:
 Dia 27 (quinta-feira)
19:00 - Sessão Peruana 1
- El Espacio Entre Las Cosas, direção:  Raúl del Busto
  Dia 28 (sexta-feira)
20:00 - Sessão Peruana 2
Uma Semana Com Poucas Mortes, direção: Farid Rodriguez

A MFL segue até o dia 4 de abril. Toda a programação pode ser conferida no sitewww.mostradofilmelivre.com



Teatro/CRÍTICA

"Fim de partida"

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Texto de Beckett em ótima montagem

Lionel Fischer



"Composta de um único ato, a peça retrata os dois protagonistas, Hamm e Clov, reclusos num abrigo, sofrendo com a escassez de alimentos e remédios. O enredo transcorre em torno de uma possível partida de Clov, enquanto Hamm, seu decrépito senhor, paralítico e cego, administra o fim das provisões: alimentos, remédios, sonhos, ideais. Os pais de Hamm, Nagg e Nell, acentuam as relações de dependência e solidão. O ambiente é fechado, claustrofóbico, e do lado de fora temos um mundo em destruição".

O trecho acima, extraído do release que me foi enviado e levemente editado, resume o contexto de "Fim de partida", de Samuel Beckett, em cartaz no Teatro Ipanema. Mais recente produção da Cia. Alfândega 88, a montagem leva a assinatura de Danielle Martins de Farias, estando o elenco formado por Adriana Seiffert (Nell), Leonardo Hinckell (Hamm), Rafael Mannheimer (Clov) e Silvano Monteiro (Nagg).

Como tratados já foram escritos sobre este texto pelos mais brilhantes ensaístas do século XX, julgo ter pouco a acrescentar sobre o que já foi dito. Ainda assim, gostaria de enfatizar minha crença de que "Fim de partida" talvez seja a peça que melhor traduz as premissas essenciais do chamado Teatro do Absurdo - surgido logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, este gênero constitui uma tentativa de se materializar na cena (e de forma não realista) a sensação de vazio que se apossou da Europa ao término do insano conflito. Mais do que uma ruína financeira, o que predominava era uma ruína ética, uma ausência mínima de perspectivas. A vida parecia não fazer mais o menor sentido. O ato de viver se afigurou como Absurdo.

Neste texto em que as palavras importam tanto quanto sua musicalidade e as pausas surgem impregnadas de significado, o essencial é transmitir uma devastadora sensação de solidão, decorrente da constatação de que não há mais nenhuma possibilidade de escapatória. Encarada sob esta perspectiva, a montagem assinada por Danielle Martins de Farias pode ser considerada de ótimo nível. 

Valendo-se de marcações diversificadas e criativas, e trabalhando de forma irrepreensível os tempos rítmicos, a encenadora exibe o mérito suplementar de haver extraído sensíveis atuações de todo o elenco. Adriana Seiffert, Leonardo Hinckell, Rafael Mannheimer e Silvano Monteiro demonstram perfeita compreensão do contexto em que atuam e exibem dotes interpretativos de grande qualidade. 

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta oportuna empreitada teatral - Aurélio de Simoni (iluminação), Sergio Marimba (cenografia), Raquel Theo (figurinos) e Fabio de Souza Andrade (tradução).

FIM DE PARTIDA - Texto de Samuel Beckett. Direção de Danielle Martins de Farias. Com Adriana Seiffert, Leonardo Hinckell, Rafael Mannheimer e Silvano Monteiro. Teatro Ipanema. Terças e quartas, 21h.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Prêmio OFF FLIP 2014 abre inscrições

(Conto, Poesia e Literatura Infanto-Juvenil)


Estão abertas até 5 de maio de 2014 as inscrições para a 9ª edição do Prêmio Off Flip de Literatura. Podem participar autores de qualquer nacionalidade residentes no Brasil, bem como brasileiros que residem no exterior e autores de países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).

O Prêmio oferecerá aos vencedores R$ 23 mil no total, além de estadia em Paraty, ingressos para mesas de debate da FLIP, passeio de escuna e cota de livros. Os primeiros colocados participarão da programação do Circuito Off Flip, da FLIMAR (Festa Literária de Marechal Deodoro/AL) e da FLAP (Feira do Livro do Amapá/AP).

Os textos serão avaliados por escritores de expressão no cenário literário brasileiro e os selecionados em conto e poesia serão publicados em coletânea. Este ano serão contempladas também obras de literatura infanto-juvenil e os vencedores firmarão um contrato de edição com o Selo Off Flip.  O sarau de premiação acontecerá no Centro Cultural SESC Paraty, paralelamente à Festa Literária Internacional de Paraty.

As inscrições serão feitas pelo correio e o regulamento com todas as informações pode ser lido no site <www.premio-offflip.net>, e eventuais dúvidas devem ser encaminhadas para o e-mail indicado no próprio site. Este ano os organizadores estão inaugurando um programa de cotas de patrocínio (interessados podem acessar a proposta de adesão no site do Prêmio).

 

Assessoria de imprensa
Nanda Dias – (21) 2490.5354/ 9.9764.0655nandadias15@uol.com.br
Nani Santoro – (21) 3324.5200/ 9.9855.1939nanisantoro@uol.com.br

Contato Paraty
Marília van Boekel Cheola – (24) 9901.9221mariliavbch@yahoo.com.br


Fórum de Psicanálise e Cinema
Caríssimos,
Com alegria, retomamos o contato com vocês para anunciar nosso primeiro filme de 2014, no dia 28 de março, às 18h . O instigante JOVEM E BELA, do diretor francês, François Ozon, vem despertando polêmica por onde passa.  Sua filmografia é marcada pela abordagem de questões sem perspectiva moral, porém discute com precisão cirúrgica as contradições humanas,sobretudo da classe média francesa, sem perder a dimensão universal.
Por esse pequeno apanhado, pode-se imaginar que as análise e os debates ensejarão variadas abordagens dos problemas que envolvem a personagem Isabelle, a jovem e bela, que se prostitui a partir dos 17 anos, cujas motivações são a grande pergunta que todos se fazem. Por que?
Assim, aguardamos vocês no dia 28 de março, às 18h, na Sala Vera Janacópulos, na UNIRIO, para mais um encontro, contando sempre com a divulgação como apoio.
Com os nossos agradecimentos pela presença, recebam um grande abraço.
Ana Lúcia, Neilton e Zusman.
NOTA: Quem se interessar em adquirir o livro: Fórum de Psicanálise e Cinema: análises culturais e psicanalíticas, de Ana Lúcia de Castro e Neilton Silva, ele se encontra à venda pelo site -www.travessa.com.br - e nas diversas filiais da Livraria da Travessa, assim como nos dias do  FÓRUM. 
Também o livro do Dr. Waldemar Zusman: Poemas & Textos de um Psicanalista: rimas, risos & reflexões,poderá se adquirido no FÓRUM.

SERVIÇO:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
(UNIRIO/PROEXC - PROJETO CULTURAL) E
SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RIO DE JANEIRO (SPRJ)
Apresentam:
FÓRUM DE 
PSICANÁLISE 
E CINEMA / 2014
Últimas sextas-feiras do mês / filme às 18 h; debate às 20 h.
SALA VERA JANACOPOLUS / REITORIA DA UNIRIO
AVENIDA PASTEUR, 296 – URCA.
ENTRADA FRANCA E ESTACIONAMENTO.
FILME: JOVEM E BELA. 2013, 95 MIN.
DIA: 28 /03 / 2014
DIREÇÃO: FRANÇOIS OZON / Debatedor: Dr. NEILTON SILVA 
SINOPSE: Durante uma viagem de verão com a família, Isabellede 17 anos, vive sua primeira experiência sexual.
Ao voltar para casa, divide o seu tempo entre a escola e o novo trabalho, como prostituta de luxo.

FILMES ANALISADOS PELOS PSICANALISTAS:
Neilton Silva (ndsilva@ism.com.br ) eWaldemar Zusman (zusman@terra.com.br)
e pela museóloga e professora da UNIRIO:
Ana Lúcia de Castro (anadecastro@terra.com.br).

HORÁRIO: FILME: 18h; ANÁLISE E DEBATE: 20h às 22h.
LOCAL: SALA VERA JANACÓPULOS – UNIRIO
ENDEREÇO: AV. PASTEUR, 296.
ENTRADA FRANCA E ESTACIONAMENTO
PEQUENO HISTÓRICO DO FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
O Fórum de Psicanálise e Cinema foi criado em 1997 como uma atividade de extensão científica da Associação Psicanalítica Rio 3, pelo então presidente, Dr. Waldemar Zusman, e pelo diretor do Instituto, Dr. Neilton Dias da Silva. Após várias interrupções, desde 2004, passou a contar com a participação da museóloga Prof.ª D.ª da UNIRIO, Ana Lúcia de Castro, responsável pela análise cultural dos filmes. A partir de 2006, a APRIO 3 celebrou parceria com a UNIRIO para, mensalmente, sediar Fórum de Psicanálise e Cinema. Em agosto de 2011, a APRIO 3 fundiu-se com a Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ) sendo mantida a parceria para sediar o evento, sempre muito concorrido.
  Últimas sextas-feiras do mês / filme:18 h às 20 h; debate às 20 h até 22 h.


Emily Dickinson

Emily Dickinson nasceu em 10 de dezembro de 1830, em Amherst, Massachusetts. Ela participou de seminário fêmea Holyoke Monte em South Hadley, mas apenas por um ano. Ao longo de sua vida, ela raramente deixou sua casa e os visitantes eram poucas. As pessoas com quem ela tinha entrado em contato, no entanto, teve um enorme impacto sobre a sua poesia. Ela foi particularmente agitado pelo Reverendo Charles Wadsworth, a quem ela conheceu em uma viagem para a Filadélfia. Ele partiu para a Costa Oeste logo após uma visita à sua casa, em 1860, e alguns críticos acreditam que a sua partida deu origem ao fluxo heartsick do verso de Dickinson nos anos que se seguiram. Embora seja certo que ele foi uma figura importante na sua vida, não é claro que o relacionamento deles era romântica, ela o chamou de "meu amigo terreno mais próximo." Outras possibilidades para o amor não correspondido que foi tema de muitos dos poemas de Dickinson incluir Otis P. Senhor, um juiz da Suprema Corte de Massachusetts, e Samuel Bowles, editor da Springfield Republicano .

Por volta de 1860, Dickinson viveu em isolamento quase total do mundo exterior, mas manteve ativamente muitas correspondências e ler muito. Ela passou uma grande parte deste tempo com sua família. Seu pai, Edward Dickinson, participou activamente na política estadual e nacional, servindo no Congresso para um mandato. Seu irmão, Austin, que o curso de Direito e tornou-se um advogado, morava ao lado com sua esposa, Susan Gilbert. Irmã mais nova de Dickinson, Lavinia, também viveu em casa por toda a sua vida em isolamento similar. Lavinia e Austin não eram só da família, mas companheiros intelectuais para Dickinson durante sua vida.

A poesia de Dickinson foi fortemente influenciado pelos poetas metafísicos da Inglaterra do século XVII, bem como sua leitura do livro do Apocalipse e sua educação em uma cidade puritana Nova Inglaterra, que incentivou um calvinista, ortodoxo, e abordagem conservadora ao cristianismo.

Ela admirava a poesia de Robert e Elizabeth Barrett Browning , assim como John Keats Embora ela foi dissuadido de ler o versículo de seu contemporâneo Walt Whitman por rumores de sua disgracefulness, os dois poetas estão agora ligados pelo lugar de destaque que ocupam como os fundadores de uma voz poética exclusivamente americano. Enquanto Dickinson foi extremamente prolífico como poeta e poemas regularmente fechados em cartas a amigos, ela não foi reconhecido publicamente durante sua vida. O primeiro volume de sua obra foi publicada postumamente em 1890 eo último em 1955. Ela morreu em Amherst em 1886.
Após a sua morte, a família de Dickinson descobriu quarenta volumes handbound de quase 1.800 poemas, ou "fascículos", como são chamados às vezes. Dickinson montado esses livretos dobrando e costurando cinco ou seis folhas de papel dos artigos de papelaria e copiar o que parecem ser versões finais dos poemas. Os poemas manuscritos mostram uma variedade de marcas de traço-como de vários tamanhos e direções (alguns são mesmo vertical). Os poemas foram inicialmente não ligado e publicados de acordo com a estética de seus muitos editores de início, que tirou os traços incomuns e variadas e substituindo-os com pontuação tradicional. A versão atual padrão de seus poemas substitui seus traços com um padrão "n-traço", que é uma maior aproximação de digitação para sua intenção. A ordem original dos poemas não foi restaurado até 1981, quando Ralph W. Franklin usou a evidência física do próprio papel para restaurar sua ordem pretendida, contando com marcas de sujeiras, perfurações de agulhas, e outras pistas para remontar os pacotes. Desde então, muitos críticos têm argumentado que há uma unidade temática nestas pequenas coleções, ao invés de sua forma de ser simplesmente cronológica ou conveniente. manuscrito livros de Emily Dickinson (Belknap Press, 1981) é o único volume que mantém a ordem intacta.



A Bibliografia selecionada
Poesia
A belíssima Nothings: Poemas envelope de Emily Dickinson (Nova Direção, de 2013) final de colheita: Poemas de Emily Dickinson (Little, Brown, 1962) Os poemas completos de Emily Dickinson (Little, Brown, 1960) Parafusos de Melody: Novos Poemas de Emily Dickinson ( Harper & Brothers, 1945) poemas inéditos de Emily Dickinson (Little, Brown, 1935) Outros Poemas de Emily Dickinson: negada a publicação de sua irmã Lavínia (Little, Brown, 1929) Os poemas completos de Emily Dickinson (Little, Brown, 1924 ) O único Hound: Poemas de uma Vida (Little, Brown, 1914) : Poemas da Terceira Série (Roberts Brothers, 1896) Poemas: Segunda Série (Roberts Brothers, 1892) Poemas (Roberts Brothers, 1890)



Herman Melville

Nasceu em Nova York, no dia 1º de agosto de 1819, em uma família de origens inglesa e holandesa. Durante sua infância, a situação social da família era confortável. Mas seu pai, um senhor refinado, teve sérios problemas financeiros que o levaram à falência no ano de 1830. Ele morreu logo em seguida, deixando a mulher e os oito filhos numa situação instável, fazendo com que a educação de Herman cessasse por volta dos seus quinze anos de idade. Ele começou a trabalhar para auxiliar no sustento da família, e foram várias as suas ocupações: bancário, vendedor na loja de peles do irmão, professor e colono. Em 1839, embarcou como cama­reiro em um navio que zarpava para Liver­pool. A viagem, angustiante e ao mesmo tempo romântica foi mais tarde descrita no seu texto Redburn e ensinou a Herman o amor pelo mar. Outra viagem – desta vez iniciada em 1841, com duração de dezoito meses –, em um baleeiro pelos mares do sul, também forneceria muito da matéria-prima utilizada posteriormente pelo escritor na sua obra, em especial na sua obra-prima, o romance Moby Dick
Em julho de 1842, Melville desertou do navio na Polinésia, vivendo entre selvagens nas ilhas Marquesas por vários meses. Juntou-se a uma embarcação comercial australiana, mas abandonou novamente o navio por ocasião de um motim e foi preso no Taiti, acusado de deserção. Voltou aos Estados Unidos em 1844, como um marinheiro, na fragata chamada United States, que aportou em Boston. As histórias de aventura Taipi (sua primeira obra), Omoo e White-Jacket – todas escritas com base nessas viagens, sendo que as duas primeiras relatam suas experiências com os povos autóctones – renderam-lhe sucesso imediato e um vasto público.
Casou-se em 1847 e em 1850 mudou-se com a mulher para uma fazenda de propriedade do casal, no estado norte-americano de Massachusetts, onde redigiria Moby Dick, considerado por inúmeros estudiosos como um dos romances mais importantes da literatura ocidental. Melville e sua mulher viveram nessa fazenda por quinze anos. Durante esse tempo, o casal tornou-se íntimo do vizinho e colega de letras, o escritor Nathaniel Hawthorne (1804-1864), autor de A casa dos sete patamares, entre outros livros, e a quem Moby Dick é dedicado. Nathaniel Hawthorne e Herman Melville formariam um importante par da intelec­tuali­dade norte-americana da época. Em uma fase de definição da identidade estado-unidense, quando a estética romântica dominava o Novo Mundo, a ética da literatura deles fez eco ao bardo Walt Whitman (1819-1892) e sua busca quase religiosa pela essência das coisas e dos homens. Estudiosos da literatura norte-americana viriam a chamar Hawthorne, Whitman e Melville, assim como outros escritores da Nova Inglaterra de então, de “transcenden­talistas” por conta do viés religioso, por vezes messiânico, da sua literatura, que buscava, através das letras, uma conexão de bondade, compaixão, sentimento de amor onipresente e virtude com todo o Universo.
Em 1851 é publicado Moby Dick. A popularidade de Melville diminui. Na medida em que o escritor optou por tratar de temas mais complexos e elaborados, sua obra foi tornando-se desin­teressante para os leitores que esperavam simples relatos de aventuras, como seus primeiros escritos.
Em novembro de 1853 é publicado o primeiro encarte de Bartleby, o escriturário: uma história de Wall Street, no periódico Putnam’sBartleby, considerado hoje um dos melhores contos da obra melvilliana, está igualmente imbuído daquele sentimento que é a marca registrada do escritor: a noção da importância daqueles momentos na vida quando, contrariando uma orientação consciente, algo da nossa natureza de seres humanos misteriosamente toma o comando, conduzindo-nos de modo aparentemente contrário a nossa vontade, e, igualmente, a noção de que são esses os momentos em que a nossa história moral é determinada.
Nas histórias do período que vai de 1853 a 1856, nota-se uma forte preocupação autobiográfica. O duro esquecimento por parte do público e o desgoverno da carreira literária de Melville refletem-se no papel em situações de retiro pessoal, resignação, derrota, resistência estóica e sofrimento passivo em um mundo duro – além de personagens vivendo e sobrevivendo após terríveis desastres – e esforços, por vezes vãos, para evitar catástrofes maiores.
No período de 1856 a 1885, Melville abandonou a escrita em prosa (assim como abandonara a idéia de uma carreira bem-sucedida de escritor), dedicando-se apenas a versos, incluindo poemas sobre busca religiosa. Em 1860, o período criativo de Melville já terminara, e ele tentou ganhar dinheiro como palestrante. Mudou-se para a cidade de Nova York durante a Guerra Civil Norte-Americana e três anos depois, em 1866, foi nomeado fiscal da alfândega. Permaneceu no cargo burocrático por dezenove anos. Morreu em Nova York, sua cidade natal, em 28 de setembro de 1891, deixando alguns manuscritos incompletos, entre os quais Billy Budd, Sailor, descoberto apenas em 1920.
Somente a partir das primeiras décadas do século XX é que a obra de Melville seria reava­liada em uma escala de importância, renovando o prestígio do autor. Como toda a sua literatura é perpassada pela busca da perfeição do homem e pela constante luta entre o Bem e o Mal, a crítica da segunda metade do século XX viu em Melville um precursor do existencialismo, e o escritor francês Albert Camus chamou-o de “O Homero do oceano Pacífico”. Antes ou depois de Melville, nunca a idéia de retidão moral foi tão atraente, justi­ficada e ou transcendente.

Leon Tolstoi

9/9/1828, Yasnaia Poliana, Rússia
20/11/1910, Astapovo, Rússia

"Dormia no terraço, ao ar livre, e os raios oblíquos do sol matinal
me despertavam. Vestia-me às pressas, punha debaixo do braço
uma toalha, um romance francês, e ia-me banhar no riacho, à sombra
de um bétula que ficava a meia versta de casa. Depois, estirava-me
e lia, parando às vezes para contemplar o lilás sombrio da superfície
do riacho que começava a se agitar ao sopro da brisa da manhã,
ou o campo dourado de centeio que ficava na margem oposta."

Essa deliciosa descrição da juventude do escritor Leon Tolstoi
está registrada nas suas "Memórias".

Nascido numa família nobre, em Yasnaia Poliana, na Rússia, em
9 de setembro de 1828, Leon Tolstoi ficou órfão aos nove anos e f
oi educado por preceptores.

Em 1843, iniciou o curso de letras e direito na Universidade de Kazan.
Depois de formado, passou um período em Moscou e logo se alistou na guarnição do Cáucaso, seguindo seu irmão Nicolenka, oficial do
exército russo.

No Cáucaso, escreveu o livro "Infância" e a primeira parte de
"Memórias". "Infância" foi publicado em 1852 e alcançou grande êxito.
Depois de nomeado suboficial, em 1854, Tolstoi voltou brevemente a
sua terra natal, mas retornou à vida militar, participando da Guerra da
Criméia.

Em 1856, abandonada a carreira militar, Leon Tolstoi passou a viver
em sociedade, ampliando suas relações pessoais. Viajou à Europa,
visitando diversos países. Ao regressar, isolou-se em sua propriedade
rural, determinado a dedicar-se à literatura. Casou-se nesse período
obras literárias de todos os tempos. Trata-se de um extenso romance
que aborda as guerras napoleônicas e traça um quadro da sociedade
russa do século 19.

Em fins da década de 1870, Leon Tolstoi escreveu o romance
psicológico "Ana Karenina", que também obteve grande repercussão.
Aos poucos suas inclinações voltaram-se para a religião. Leon Tolstoi
tornou-se pouco a pouco um cristão evangélico, uma espécie de
apóstolo, pregando para os seus. Ao renegar a religião ortodoxa,
acabou excomungado pela Igreja.

Suas posições políticas também se radicalizaram, tendendo ao
anarquismo. Tolstoi criou uma escola alternativa, para a qual chegou
a redigir os livros didáticos.

Suas convicções cada vez mais exaltadas atraíam a atenção de místicos
do mundo inteiro. Ao mesmo tempo, ampliava-se sua fama de grande romancista.

Distanciando-se cada vez mais de sua família, Tolstoi decidiu entrar
para um mosteiro. Planejou a fuga e, no dia 31 de outubro de 1910,
finalmente embarcou num trem, acompanhado apenas da filha Alexandra
e de um criado. Com a saúde abalada, foi obrigado a descer na
cidadezinha de Astapovo, sendo acolhido pelo próprio agente da estação.

O fato tornou-se público e telegramas e visitas começaram a chegar
de toda a Rússia e de outras partes da Europa. Leon Tolstoi resistiu
apenas alguns dias, falecendo pouco depois, em 20 de novembro de
1910, em Astapovo.
Fonte: Uol Educação