sexta-feira, 23 de março de 2018

Queridos amigos,

O Tablado foi fundado e se mantém até hoje sobre os principais pilares do teatro amador: trabalho em grupo e amor ao teatro. Somos uma associação sem fins lucrativos, portanto, a receita das nossas bilheterias é revertida para a montagem do espetáculo seguinte. São muitos os desafios que enfrentamos para garantir a manutenção deste teatro e o legado inestimável de Maria Clara Machado.

Agora, aos 67 anos, O Tablado não conta com nenhum apoio, seja ele público ou privado. Isto se deve, em parte, à falta de uma política cultural efetiva voltada para crianças e adolescentes.

As portas do Tablado são abertas a todos que queiram aprender, criar, somar, colaborar. É um lugar que valoriza a amizade, a ética, o respeito e a arte. Porém, recentemente, devido a ações desleais de uma pessoa que considerávamos dignas de nossa confiança, sofremos sérios prejuízos.

Por conta disso, o Teatro O Tablado se encontra hoje em uma situação financeira grave que ameaça a sua continuidade. Reunimos forças e criamos estratégias para juntos conseguirmos superar e sairmos mais fortes desta experiência. Convidamos você, amigo do Tablado, a se unir a nós através da Campanha S.O.S. O Tablado que realizará 2 sessões beneficentes do infantil “O Camaleão e as batatas mágicas”, de Maria Clara Machado.

Dia 21/04, às 17 horas
Dia 22/04, às 17 horas
Colaboração: R$ 200,00  (um ingresso)


Formas de adquirir seu ingresso:

· No Tablado
Com Cris Chevriet, de segunda a sexta de 14h às 19h, em dinheiro ou cheque.

· Depósito na conta do Tablado

Banco Bradesco
Teatro Amador O Tablado
CNPJ: 03.393.2039/0001-04

Agencia: 1444
Conta corrente: 0027505-0

-Após a realização do depósito, favor enviar o comprovante para o e-mail: otablado@otablado.com.br com o dia da sessão, a quantidade de ingressos e um endereço para entrega.

Em reconhecimento seu nome constará na nossa lista de agradecimentos.



Conto com vocês,
Cacá Mourthé


“O trabalho no Tablado nos deu sempre a sensação de estarmos vivos - vivos mesmo quando o preconceito, a ganância, o medo de amar invadem nosso espaço de viver. Estamos criando esperanças, criando responsabilidades, criando vínculos que nos serão úteis para o resto da vida. Estas são as coisas que realmente importam. 
O resto vem por acréscimo.”
Maria Clara Machado, 1986.


O
 
Ontem, 21:24
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quinta-feira, 22 de março de 2018

Teatro/CRÍTICA

"Romeu & Julieta"

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Ousada e meritória versão



Lionel Fischer




Embora me pareça incontestável que William Shakespeare é o maior dramaturgo da História, encenar uma de suas peças, e em especial as tragédias, implica em se empreender algumas reflexões, dentre elas a mais aguda: como fazê-lo? Se o texto for feito na íntegra, provavelmente o espectador atual não se mostrará disponível para se manter atento ao longo de muitas horas. Se a opção for fazer uma adaptação, mesmo que pertinente, ainda assim corre-se o risco de minimizar o alcance do original. Então, qual seria o caminho mais viável? 

Em minha opinião, uma adaptação, como ocorre no presente caso, sendo que a mesma materializa dois desafios suplementares: a tragédia foi convertida em um musical e as canções são assinadas por Marisa Monte, ou seja, totalmente inseridas na contemporaneidade.   

Em cartaz no Teatro Riachuelo, "Romeu & Julieta" tem concepção e direção assinadas por Guilherme Leme Garcia. Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche respondem pela adaptação e roteiro musical, sendo que o projeto também contou com a colaboração artística de Vera Holtz.

No elenco, Bárbara Sut (Julieta), Thiago Machado (Romeu), Ícaro Silva (Mercuccio), Pedro Caetano (Teobaldo), Bruno Narchi (Benvolio), Stella Maria Rodrigues (Ama), Claudio Galvan (Frei Lourenço), Kacau Gomes (Sra. Capuleto) e Marcelo Escorel (Sr. Capuleto). Neusa Romano (Sra. Montecchio), Max Gracio (Sr. Montecchio), Kadu Veiga (Príncipe), Diego Luri (Paris) e Saulo Segreto (Pedro) interpretam os citados personagens e também compõem o elenco de apoio. Os que se seguem integram apenas o elenco de apoio - Franco Kuster, Gabriel Vicente, Laura Carolinah, Luci Salutes, Thiago Lemmos, Vitor Moresco, Gabi Porto, Santiago Villalba, Natalia Glanz e Daniel Haidar.

Como tratados sobre esta obra-prima já foram escritos por renomados críticos, pensadores, ensaístas, filósofos e psicanalistas do mundo inteiro, certamente muito mais capazes do que eu, julgo pueril ter a pretensão de acrescentar algo ao que já foi dito. No entanto, permito-me apenas uma singela observação. Mesmo que o texto materialize a mais bela história de amor já escrita, creio que seu maior mérito consiste na feroz investida que Shakespeare faz contra a intolerância, que desde os primórdios da humanidade tem sido a maior responsável pelas inúmeras e diversificadas tragédias que parecem fadadas a se perpetuar.

Com relação à opção de converter "Romeu & Julieta" em um musical, acho perfeitamente válido - ao menos em princípio, toda obra pode ser convertida em musical. Mas, no presente caso, é grande a ousadia, pois, como já foi dito, todas as canções são de Marisa Monte, totalmente inseridas na contemporaneidade. Diante disto, algumas questões se impõem: tal opção funciona ou minimiza a potência do original? Foi adotada para facilitar o envolvimento do espectador, já que o mesmo se reconhece e se identifica com muitas das canções?  Em meu entendimento, estamos diante de uma proposta totalmente válida, e certamente as canções selecionadas contribuem decisivamente para o fortalecimento dos múltiplos climas emocionais em jogo e os aspectos políticos inerentes à obra. 

No tocante ao espetáculo, Guilherme Leme Garcia impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico e com as canções de Marisa Monte. Tanto as passagens mais líricas e luminosas, como as impregnadas de dor e essencialmente sombrias são trabalhadas de forma impecável, propiciando ao espectador um belo encontro com uma obra que será lida e representada até que não exista mais ninguém neste curioso planeta que habitamos.

No que diz respeito ao elenco, Bárbara Sut desenha com grande sensibilidade toda a curva emocional de Julieta, inicialmente uma aristocrata apenas impregnada de juvenil paixão e mais adiante consciente das graves questões que determinarão seu trágico desfecho. Cabe também salientar sua belíssima voz e a graciosidade de seu universo gestual. A mesma eficiência se faz presente no Romeu a cargo de Thiago Machado, com o ator mergulhando de forma visceral em todos os estados emocionais do personagem, afora cantar de forma irretocável. 

Outros destaquem ficam por conta das performances de Stella Maria Rodrigues e Claudio Galvan. A primeira constrói uma Ama encantadora, tanto por seu humor quanto por sua infinita capacidade de amar e tentar entender os conflitos de Julieta. Já Galvan exibe um desempenho que mescla, em igual e apropriada medida, afeto e lucidez. Quanto a Ícaro Silva, o excelente ator compõe um Mercuccio priorizando um estado exacerbado e pleno de afetação, além de sugerir uma possível homossexualidade do personagem, que a meu ver nada acrescenta de significativo à trama. Com relação aos demais intérpretes, todos contribuem de forma decisiva, tanto no canto quanto na dança, para o sucesso desta oportuna empreitada teatral.   

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as preciosas colaborações de Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche (adaptação e roteiro musical), Vera Holtz (colaboração artística), Apollo Nove (direção musical), Jules Vandystadt (direção vocal), Toni Rodrigues (coreografia), Renato Rocha (lutas), Daniela Thomas (cenário), João Pimenta (figurino), Fernando Torquatto (visagismo), Monique Gardenberg e Adriana Ortiz (desenho de luz), Carlos Esteves (desenho de som), Victor Hugo (desenho gráfico) e Marcela Altberg (produção de elenco). Cabe também destacar as maravilhosas contribuições de Claudia Elizeu (maestrina), Gabriel Gravina (teclado), André Barros (violões e bandolim), Tássio Ramos (baixo acústico), Arthur Pontes (violino e viola), Fábio Meg (cello acústico), Gabriel Guenther (percussão orquestral) e Gelton Galvão (harpa).

ROMEU & JULIETA - Texto de William Shakespeare. Concepção e direção de Guilherme Leme Garcia. Músicas de Marisa Monte. Adaptação e roteiro musical de Gustavo Gasparani e Eduardo Rieche. Colaboração artística de Vera Hotlz. Com Bárbara Sut, Thiago Machado e grande elenco. Teatro Riachuelo. Sexta e sábado, 20h. Domingo, 18h.




quarta-feira, 14 de março de 2018





Vencedores do Prêmio Shell de Teatro 2017
  • Autor
    Braulio Tavares por “Suassuna - O Auto do Reino do Sol”
  • Direção
    Rodrigo Portella por “Tom na Fazenda”
  • Ator
    Gustavo Vaz por “Tom na Fazenda”
  • Atriz
    Yara de Novaes por “Love Love Love”
  • Cenário
    Carla Berri e Paulo de Moraes por “Hamlet”
  • Figurino
    Kika Lopes e Heloisa Stockler por “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”
  • Iluminação
    Paulo Cesar Medeiros por “O Jornal”
  • Música
    Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del Penho por “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”
  • Inovação
    Espetáculo “Tripas” pela forma de realização entre a universidade, através dos programas de pós-graduação, e a produção teatral.
  • Homenagem
    Hélio Eichbauer por seu trabalho ao longo de mais de 50 anos de renovação da cenografia brasileira.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Teatro/CRÍTICA

"CAOS"

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Sensível retrato de nossa realidade



Lionel Fischer



"Impasses e surpresas que todos estão sujeitos a vivenciar no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro. A montagem é uma reunião de contos que a atriz e idealizadora do projeto escreveu ao longo dos últimos anos. Interferências, desconfortos, possíveis perdas, maus tratos, indiferenças, acidentes e desvios da cidade caos. Todos os contos materializam experiências vividas pela autora".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza as premissas básicas de "CAOS", de autoria de Rita Fischer. Em cartaz no Teatro Municipal Sergio Porto, a montagem leva a assinatura de Thiago Bomilcar Braga, estando o elenco formado por Maria Carol e Rita Fischer.

Como explicitado no parágrafo inicial, os contos encenados objetivam retratar o que está acontecendo em nossa cidade ao longo dos últimos anos. Mas a autora fez uma clara opção no sentido de não investir em passagens trágicas, no sentido máximo do termo, como ocorre quando alguém é assaltado ou brutalizado na rua por uma razão fútil. 

No entanto, a tragicidade não deixa de estar presente, como na passagem que envolve um menino de rua que vasculha desesperadamente uma lata de lixo em busca de comida.
A personagem tenta ajudar ao máximo, oferece ao menino o sanduíche que está prestes a comer, ele aceita e finalmente pede que ela o leve consigo para morar em sua casa. Isso não é possível, evidentemente, e a cena termina evidenciando a dor de ambos e deixando no ar uma pergunta que parece que não será jamais respondida: a quem deve ser creditada a responsabilidade por tamanha miséria e abandono?

Em outros momentos, em que o humor predomina, o texto aborda situações que nos infernizam cotidianamente, como o mal atendimento nos bancos, nas lojas, a impaciência generalizada com o outro, a indiferença e descaso dos órgãos públicos com questões que poderiam ser facilmente resolvidas desde que houvesse um mínimo de boa vontade. E ainda no quesito humor, a autora ironiza o vício de postar fotos nas redes sociais e o machismo dos que ainda acreditam que a mulher não passa de um objeto usável e que não lhe cabe se revoltar contra isso.

E em meio a todo esse caos, pleno de desamor e indiferença, cabe ressaltar a belíssima passagem em que a autora retrata sua relação com sua cadela Futrica, já bem velhinha e totalmente cega. Após explicitar seu incondicional amor por ela, a autora encerra este segmento dizendo mais ou menos o seguinte: "Não importa que você caminhe com dificuldade, porque eu te ajudo a caminhar. E também não importa que você esteja cega, porque você vai continuar enxergando o mundo através dos meus olhos". Sem dúvida, um momento de grande emoção, que a plateia compartilha no mais absoluto silêncio e em meio a furtivas lágrimas.

Os 15 contos exibidos oferecem um sensível retrato do que estamos vivendo, e a encenação dos mesmos está em plena sintonia com os conteúdos propostos. O diretor Thiago Bomilcar Braga optou sabiamente por uma dinâmica simples e despojada, mas nem por isso isenta de expressividade. E seu maior mérito diz respeito ao seu trabalho junto às atrizes. 

Ambas fazem quase todos os personagens, às vezes sozinhas, às vezes contracenando. E o rendimento de ambas é excelente. Rita Fischer exibe uma vez mais seus inegáveis dotes de comediante, ainda que caiba a ela a comovente passagem com sua cadela, em que também demonstra ser capaz de transitar com a mesma eficiência pelo drama. Quanto a Maria Carol, esta evidencia, assim como sua parceira de cena, forte presença cênica, grande carisma e uma voz privilegiada, afora uma total cumplicidade com o material dramatúrgico, dele se apropriando como se fosse de sua autoria.

Na equipe técnica, Luíza Pitta responde por uma excelente direção de movimento, determinante para conferir grande expressividade ao trabalho das atrizes. Paulo Cesar Medeiros consegue o prodígio de, valendo-se de poucos refletores, contribuir decisivamente para o fortalecimento dos múltiplos climas emocionais em jogo. Dora Devin assina figurinos neutros, perfeitamente adequados às propostas da direção. Rádio Lixo responde por correta trilha sonora, sendo belíssimo o cartaz (identidade visual) criado por  David Lima.

CAOS - Texto de Rita Fischer. Direção de Thiago Bomilcar Braga. Com Maria Carol e Rita Fischer. Teatro Municipal Sergio Porto. Sábado, domingo e segunda às 19h.


quarta-feira, 7 de março de 2018


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO/PROEXC/ESCOLA DE TEATRO) &
SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RIO DE JANEIRO (SPRJ)
APRESENTAM:
FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
PROGRAMAÇÃO DE 2018-1
FILMES ANALISADOS PELO PSICANALISTA:
DR. NEILTON SILVA
E PELA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO:
DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO
30/03 – ME CHAME PELO SEU NOME
DIREÇÃO: Luca Guadagnino, 2017, 108 min.
O jovem Elio está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda com a chegada de Oliver, um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.
27/04 – CENAS DE UM CASAMENTO
DIREÇÃO: Ingmar Bergman, 1973, 168 min.
Johan e Marianne são casados e parecem ter tudo. Sua felicidade, no entanto, é afetada quando Johan admite que tem um caso. O casal se separa e se divorcia, mas ainda tenta se reconciliar.
25/05 – TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME
DIREÇÃO: Martin McDonagh, 2017, 108 min.
Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo assassinato de sua filha, mãe chama atenção com três outdoors em uma estrada A inesperada atitude repercute em toda a cidade.
DIREÇÃO: Radu Mihăileanu, 2006, 140 min.
Salomão tem 9 anos e é um cristão negro que vive no Sudão. Com ajuda da própria mãe, ele finge ser judeu e órfão para poder ir para Israel e ter chances de vida, mas a adaptação não é fácil.
SERVIÇO:
SEMPRE ÀS ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DO MÊS, DAS 18H ÀS 22H.
LOCAL – SALA VERA JANACOPOLUS / REITORIA DA UNIRIO
ENDEREÇO: AVENIDA PASTEUR, 296 – URCA.
ENTRADA FRANCA E ESTACIONAMENTO. FILME: 18H; DEBATE: 20H
PEQUENO HISTÓRICO DO FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
O FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA FOI CRIADO PELOS PSICANALISTAS: DR. WALDEMAR ZUSMAN E DR. NEILTON SILVA. A PARTIR DE 2004, PASSA A CONTAR COM A PARTICIPAÇÃO DA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO, DRA. ANA LÚCIA DE CASTRO, RESPONSÁVEL PELA PESQUISA, DIVULGAÇÃO E ANÁLISE CULTURAL DOS FILMES.
COM A PARCERIA: UNIRIO – PROEXC - ESCOLA DE TEATRO E SPRJ, O PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA MANTÉM UMA REGULARIDADE HÁ MAIS DE ONZE ANOS, TORNANDO-SE UM EVENTO MUITO CONCORRIDO, COM UM PÚBLICO FIEL E PARTICIPATIVO.
INFORMAÇÕES: forumpsicinema@gmail.com

Teatro/CRÍTICA

"Grande sertão: veredas"

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Obra-prima em versão inesquecível



Lionel Fischer



"Em montagem inédita na rotunda do CCBB, Bia Lessa propõe a um só tempo uma peça de teatro e uma instalação em sua adaptação do livro "Grande sertão: veredas" - matriz do moderno romance brasileiro e obra-prima de João Guimarães Rosa. A peça traz para o palco a saga do jagunço Riobaldo que atravessa o sertão para combater seu inimigo, Hermógenes, fazer o pacto com o diabo e viver seu amor por Diadorim. O cenário-instalação estará aberto à visitação do público".

Extraído do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá "Grande sertão: veredas", que chega ao Rio de Janeiro após cumprir maravilhosa temporada em São Paulo, sempre com casas lotadas - como está acontecendo aqui - e irrestrita aprovação tanto do público quanto da crítica (fato um tanto raro...). Com concepção, direção geral, iluminação (em parceria com Binho Schafer) e adaptação a cargo de Bia Lessa, a montagem traz no elenco Balbino de Paula, Caio Blat, Daniel Passi, Elias de Castro, Leon Góes, Leonardo Miggiorin, Lucas Oranmian, Luisa Arraes, Luiza Lemmetz e Clara Lessa.

Antes de tecer algumas considerações sobre a presente montagem, gostaria de fazer duas confissões. A primeira: por tratar-se da maior obra literária nacional do século XX e já tendo sido a mesma analisada por críticos literários, ensaístas, filósofos e pensadores infinitamente mais capazes do que eu, não me parece oportuno ter a pretensão de acrescentar algo de significativo ao que já foi dito. A segunda confissão: não sei por onde começar as já mencionadas considerações. No entanto, como é preciso fazê-lo, opto pelo momento em que cheguei ao CCBB.

E logo me deparei com a instalação, composta por uma infinidade de bonecos de feltro com tamanho humano. O que significariam essas figuras? Teriam sido petrificadas pelas lavas de um vulcão? Comporiam uma espécie de presépio cuja dramaticidade materializa algo que nesse momento me escapou? É possível que a segunda hipótese seja a correta, pois mais adiante me foi impossível não associar a postura dos bonecos com a de Diadorim na hora de sua morte - posso estar enganado, naturalmente, mas foi o que pensei.

Em seguida, quando ocupei meu lugar, uma surpresa me aguardava. Fones de ouvido estavam disponibilizados para cada espectador, e todos fomos informados (minutos antes de o espetáculo começar) de que deveríamos usá-los. Ao mesmo tempo, os atores se aqueciam no palco, se alongavam, exercitavam sua vozes e a estrutura tubular do cenário, que constitui uma espécie de barreira entre os atores e o público, me deu a sensação de que os intérpretes, supostamente aprisionados, logo haveriam de iniciar um processo de libertação advindo da necessidade imperiosa de compartilhar com a plateia algo que não poderia ser adiado. Finalmente, o espetáculo recomeça - digo recomeça porque, ao menos para mim, já havia se iniciado. E aí somos brindados com uma das mais potentes, criativas e expressivas encenações já vistas no Rio de Janeiro.

Dentre seus incontáveis méritos, gostaria de enfatizar o que mais me impressionou: a ausência de cenas, no sentido tradicional do termo. Ou seja: ao invés de assistirmos a uma cena, depois a outra e assim por diante, tudo se dá como fruto de virulentos, poéticos e desesperados impulsos, como se todos os gestos e palavras brotassem não de opções racionais, mas de regiões obscuras que raramente ousamos acessar. 

E isso inviabiliza qualquer possibilidade de o espectador se sentir confortável, pois a todo momento a cena se transforma, os atores abandonam seus papéis e se convertem em animais, criam esculturas plenas de significados, para em seguida darem prosseguimento à narrativa. E esse permanente processo de ruptura e transformação não apenas potencializa os conteúdos emocionais propostos pelo autor, mas como que nos alerta para o que constitui a essência do ato de viver, que não está atrelado apenas àquilo que desejamos, mas também a uma infinidade de variantes sobre as quais não temos o menor controle.

Com relação ao elenco, já disse inúmeras vezes que este país pode padecer de tudo, menos de grandes intérpretes. E mesmo levando-se em conta que alguns, por razões óbvias, têm maiores oportunidades, o que mais impressiona é a força do conjunto, a visceral capacidade de entrega de todos os intérpretes em todos os momentos e a fortíssima contracena que estabelecem, o que só é possível quando a confiança no outro é inabalável e também inquestionável a certeza de que estão inseridos em um projeto admirável.

Ainda assim, não há como não destacar a deslumbrante performance de Caio Blat na pele de Riobaldo. E aqui não me refiro a questões de natureza técnica, pois todo intérprete - na plena acepção do termo - tem obrigação de possuir domínio sobre seus recursos expressivos. E Caio Blat já demonstrou, em muitas ocasiões, que é de fato um grande ator. Mas meu encantamento advém sobretudo da sensação que senti de que Blat se entrega ao personagem como se não fosse representá-lo mais, como se o fizesse pela última vez, o que o leva a explorar com poético desespero todos os estados emocionais em jogo. Sem dúvida, uma atuação inesquecível. Luisa Arraes, que vive Riobaldo na infância, também exibe performance admirável, talvez fruto do mesmo impulso de Blat. Luiza Lemmertz (Diadorim) extrai tudo que é possível do personagem, cabendo também destacar a forte presença cênica de Leon Góes vivendo Hermógenes.    

Na equipe técnica, Egberto Gismosti responde por uma das mais belas e expressivas trilhas sonoras da história do teatro brasileiro, abrangendo sons e ruídos ambientes, músicas de sua autoria e outras que atingem nossa memória afetiva. Outro destaque especialíssimo diz respeito aos figurinos de Sylvie Leblanc, que conseguem expressar o sertão sem no entanto a ele se limitar, dando a entender que o sertão também é o mundo. Quanto aos demais profissionais que participaram desta inesquecível empreitada teatral, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo - Fernando Henna e Daniel Turini (desenho de som), Camila Toledo, com a colaboração de Paulo Mendes da Rocha (concepção espacial), Fernando Mello Da Costa (adereços), Binho Schaefer, em parceria com Bia Lessa (desenho de luz), Marcio Pilot (projeto de áudio) e Flora Sussekind, Marília Rothier, Silviano Santiago, Ana Luiza Martis Costa e Roberto Machado (colaboração artística)

GRANDE SERTÃO: VEREDAS - Texto de João Guimarães Rosa. Concepção, direção geral e a adaptação de Bia Lessa. Com Balbino de Paula, Caio Blat, Daniel Passi, Elias de Castro, Leon Góes, Leonardo Miggiorin, Lucas Oranmian, Luisa Arraes, Luiza Lemmertz e Clara Lessa. Centro Cultural Banco do Brasil. Quarta a domingo, 21h.

     








sexta-feira, 2 de março de 2018

Teatro/CRÍTICA

"A visita da velha senhora"

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Segura versão de obra-prima



Lionel Fischer



No início - dizem - era o Verbo. Aqui, a Paixão. Alfred tinha 20 anos, Claire 17. Ela engravida, mas ele não assume ser o pai. Então, Claire move uma ação de reconhecimento de paternidade contra Alfred. Este, no entanto, produz falsas testemunhas no julgamento, e Claire acaba sendo condenada. E em função desta condenação, é obrigada a deixar Güllen numa fria noite de inverno, grávida de uma menina e sob o impiedoso olhar dos habitantes da pequena cidade. Mas ainda no trem que a levará a Hamburgo, Claire jura para si mesma que um dia retornará para se vingar.

Passados mais de quarenta anos, ela retorna. E o faz possuidora de imensa riqueza, fruto de seu casamento com um milionário que por ela se apaixonara em um bordel. E reencontra sua cidade completamente falida e seus habitantes - já sabedores de sua atual condição financeira - acreditando piamente que ela irá salvá-los da miséria. E ela aparentemente acena com essa possibilidade: oferece 500 milhões para recuperar a economia da cidade e a mesma quantia a ser dividida igualitariamente entre todos os cidadãos. Mas impõe uma única condição: para que esse bilhão possa ser disponibilizado, exige que Alfred seja assassinado.  

Eis, em resumo, o contexto de "A visita da velha senhora", do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990). Após cumprir bela temporada em São Paulo, a montagem dirigida por Luiz Villaça está em cartaz no Teatro Sesc Ginástico. Christine Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala respondem pela a adaptação, estando o elenco formado por Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela, Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Tayu, Luiz Ramalho, Fernando Neves, Fábio Nassar e Rafael Faustino.

Por tratar-se de uma das mais brilhantes peças escritas no século XX, "A visita da velha senhora" foi encenada em dezenas de países e mereceu ensaios de renomados críticos, ensaístas e filósofos. E tendo lido alguns destes ensaios, creio que muito pouco - ou quase nada - teria a acrescentar ao que já foi dito. Mesmo assim, e ainda que rubro de modéstia, me permito umas poucas e breves considerações sobre a presente obra.

Se por um lado é evidente que a mola propulsora do texto é um desejo de vingança, no presente caso mais do que justo - se é que pode haver justiça advinda de um desejo de vingança -, o que confere especial contundência ao texto é a forma como o autor ironiza impiedosamente a Justiça, a Igreja, a Polícia e toda a hipocrisia inerente às relações humanas, ainda que nos esforcemos para ocultá-la desde sempre. 

Na época do julgamento de Claire, toda a cidade ficou ao lado de Alfred. Agora, no entanto, ante a ameaça concreta de uma miserabilidade irreversível e uma real possibilidade de evitá-la, todos aderem à segunda opção, ainda que sustentem que nada efetivamente acontecerá, que ninguém haverá de matar Alfred, que as coisas acabarão se ajeitando sem a necessidade de uma tragédia etc. Ao mesmo tempo, os habitantes de Güllen começam a contrair dívidas, o que configura curiosa contradição, já que, para quitá-las, precisam do dinheiro de Claire, que só estará disponível caso se cumpra seu macabro desejo. 

Ou seja: ainda que em meio a sorrisos e supostas demonstrações de solidariedade, os habitantes da cidade estão efetivamente sedimentando a morte de Alfred, que não deixa de perceber o que está acontecendo e acaba buscando socorro - expõe seu desespero à polícia, ao padre e ao prefeito. Mas tais instituições já estão completamente contaminadas pelo poder do dinheiro, e nada fazem para evitar o trágico desfecho. 

Contendo ótimos personagens, diálogos magníficos, abordando com maestria temas da maior pertinência e exibindo uma ação que prende a atenção do espectador ao longo de toda a narrativa, o texto de Dürrenmatt recebeu segura versão cênica de Luiz Villaça, estruturada de forma a priorizar o distanciamento proposto por Brecht - embora a emoção não esteja banida, o essencial é a reflexão sobre os fatos exibidos. 

E é também muito interessante a ideia de comprometer os espectadores, já que estes são tratados como se também fossem habitantes da cidade e portanto igualmente responsáveis pelo que está acontecendo. Minha única ressalva fica por conta de algumas passagens em que o humor é trabalhado de uma forma que gera risos superficiais, quando o ideal seria que tais risos fossem fruto da incômoda percepção de que não somos  agentes passivos de uma realidade abjeta, mas cúmplices da mesma. 

Com relação ao elenco, Denise Fraga é uma atriz completa, como todos sabemos, sendo capaz de transitar com a mesma eficiência por todos os gêneros. E na pele de Claire exibe performance que atende a todas as exigências da personagem - minha única ressalva é a mesma que fiz com relação ao encenador, ou seja, em alguns momentos os risos que a personagem provoca poderiam gerar mais incômodo do que conforto. Tuca Andrada está irrepreensível na pele de Alfred, explorando com grande sensibilidade todos os estados emocionais do personagem. Cabe também destacar as irretocáveis participações de Fábio Herford (Prefeito), Renato Caldas (Policial), Eduardo Estrela (Padre) e Romis Ferreira (Professor). Quanto aos demais, todos exibem atuações seguras e convincentes.

Na equipe técnica, são de excelente nível a tradução de Christine Röhrig, a iluminação de Nadja Naira e a cenografia, figurinos e adereços de Ronaldo Fraga. Com relação à trilha sonora original de Dimi Kireeff e Rafael Faustino, ela está em plena sintonia com os objetivos da montagem, sendo igualmente meritória a adaptação de Christine Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala. Quanto à direção musical de Kireeff, em muitos momentos não consegui ouvir com clareza as letras das canções, não sei se por uma deficiência do elenco ou por ter-me sentado perto de uma caixa de som de onde saía um volume instrumental excessivo.     

A VISITA DA VELHA SENHORA - Texto de Friedrich Dürrenmatt. Direção de Luiz Villaça. Com Denise Fraga, Tuca Andrada e grande elenco. Teatro Sesc Ginástico. Quinta a sábado, 19h. Domingo, 18h. Sessões extras nos dias 23 e 24, às 15h.