sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

 Teatro/Crítica


"Onde fica a curva?"


....................................................

Munição para a vida


Lionel Fischer


"A peça se passa em um vestiário de uma fábrica e narra a trajetória de duas mulheres que se conhecem durante o intervalo de suas jornadas de trabalho. Esse encontro casual abre caminho para elas refletirem sobre suas vidas e os tempos atuais, desencadeando assim uma profunda transformação em seus destinos".

Extraído do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima explicita o contexto em que se dá "Onde fica a curva?", peça encenada na Sala Multiuso do Sesc Copacabana. O texto leva a assinatura de Carolina Lavigne, estando o elenco formado por Michele Cosendey e Catarina Dall'orto, também responsáveis pela idealização do projeto. Nina da Costa Reis responde pela direção.

Como todos sabemos, curva é um substantivo feminino, que permite muitas interpretações além de seu sentido óbvio. No presente caso, talvez seja lícito supor que a palavra possa ser entendida como um desvio, uma tentativa de alterar uma realidade massacrante e a partir desta ruptura conferir um novo sentido à vida. Tal suposição é decorrente de algumas questões levantadas pelas personagens: "Já parou pra pensar pra onde vai o que a gente constrói? Quem se beneficia? Quem lucra e quem perde? Quem é o alvo? Pra quem a gente realmente trabalha?"

Tais perguntas jamais são respondidas concretamente, o que constitui uma sábia decisão da autora. Sim, pois seja o que for que a dita fábrica produza - e ainda que, supostamente, possam ser armas -,  o essencial diz respeito aos breves e sucessivos momentos em que a atividade mecânica das personagens dá lugar a uma progressiva necessidade de mútuo conhecimento, de exposição de anseios e fragilidades, de compartilhamento de emoções há muito represadas.  

Com relação à montagem, Nina da Costa Reis impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, valorizando ao máximo os conteúdos propostos através de marcações extremamente expressivas e de uma precisa manipulação dos tempos rítmicos. Além disso, extrai ótimas performances de Michele Cosendey e Catarina Dall'orto, tanto no que se refere ao texto articulado como ao universo gestual. 

No tocante à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de Miwa Yanagizawa (colaboração artística), Julianna Firme (preparação corporal), Julia Marina e Mag Pastori (cenografia), Tiago Ribeiro (figurinos), João Gioia (iluminação) e Transbordo Produções - Augusto Feres e Paulo Beto.