quinta-feira, 28 de julho de 2022

 

DRAMA DE UM APAIXONADO


Quando a conheci tinha 16 anos.
Ela eu não sei.
Fomos apresentados numa festa
por um carinha que se dizia meu
amigo.
Foi amor a 1ª vista. Ela me
enlouquecia. Nosso amor chegou a
um ponto que já não conseguia
mais viver sem ela. Mas era um
amor proibido.
Meus pais não aceitaram.
Fui repreendido na escola e
passamos até a nos encontrar
escondido, mas aí não deu mais.
Fiquei louco!
Eu queria mas não a tinha. Eu
não podia permitir que me
afastassem DELA.
Eu a amava.
Bati com o carro. Quebrei tudo
dentro de casa e quase matei
minha irmã.
Estava louco! Precisava DELA.
Hoje tenho 39 anos, estou
internado num hospital, sou
inútil e vou morrer abandonado
pelos meus pais, amigos e por
ELA.
Seu nome?
COCAÍNA !!!
Devo tudo a Ela, Meu Amor,
Minha Vida, Minha Destruição e
Minha MORTE.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

 

Improvisação Teatral:

você sabe realmente o que é isso?

 

Lionel Fischer


                Assim como muitas barbaridades são perpetradas em nome de inestimáveis valores como liberdade, igualdade, fraternidade etc., da mesma forma uma série de equívocos costumam ocorrer quando se trata de improvisação teatral, sendo o mais comum a crença de que desenvoltura verbal é o suficiente - neste particular, a mestra de todos nós, Maria Clara Machado, costumava dizer que o excesso de palavras é quase sempre proporcional à ausência de sentimento.

Mas antes de nos aprofundarmos no tema, talvez seja imperioso recorrer à conceituação. No caso, do verbo Improvisar. Segundo mestre Aurélio...

 

         Improvisar: fazer arranjar, inventar ou preparar às pressas, de repente (improvisar uma fantasia, improvisar uma mentira); falar, escrever, compor, sem preparação, de improviso (improvisar um discurso).

 

         De suas palavras podemos deduzir no mínimo duas coisas. A primeira: que improvisar requer imaginação (inventar). A segunda: que é inerente ao verbo um sentimento de urgência (preparar às pressas). E tais atributos estão aqui restritos ao universo cotidiano, pois quando entramos no terreno teatral, muitas outras premissas se fazem indispensáveis, embora não raro desprezadas ou ignoradas. Vamos a algumas delas.

 

Disponibilidade

                  Antes de qualquer outra coisa, o aluno/ator tem que tentar se colocar em um estado de total disponibilidade, pois só assim conseguirá interagir verdadeiramente com seus parceiros através dos estímulos que recebe e envia. Mas atenção: estar disponível para o outro não significa aderir a qualquer proposta apresentada, se esta se afigura como um disparate. Neste caso, e sem interromper a improvisação, o aluno deve buscar uma alternativa imediata para dar um novo rumo (ou tornar mais plausível) a uma iniciativa equivocada de seu colega, sem questioná-la com palavras inúteis, priorizando a ação.        


 Coragem

                  De todas as artes, a do ator talvez seja a que contenha os maiores riscos, posto que exercida ao vivo e sem qualquer tipo de intermediação com a platéia. Ou seja: mesmo que uma peça tenha sido exaustivamente ensaiada, ou já esteja em cartaz há muito tempo, nada impede que numa determinada noite ocorra algum imprevisto, obrigando o ator a esquecer o combinado e partir corajosamente para uma solução improvisada. Neste caso, a URGÊNCIA de encontrar uma saída convincente estimulará ao máximo a IMAGINAÇÃO do intérprete.

        Entretanto, o ato de partir corajosamente para uma solução improvisada não nasce do nada, mas certamente é fruto de um treinamento específico, de preferência constante, a que todos os intérpretes devem se submeter - sejam eles profissionais consagrados ou jovens que estejam dando início ao seu aprendizado. E ainda que alguns exibam mais facilidade para improvisar do que outros, a coragem de lançar-se em um terreno desconhecido é essencial para qualquer um que pretenda intitular-se ATOR.

 

Medo

        Atores ou não, todos temos medo, ainda que em graus variados, de nos confrontarmos com o desconhecido. Isso significa penetrar em um local isento de referenciais tranqüilizadores, uma espécie de terra de ninguém, de onde podemos retornar mais enriquecidos ou com inquietações que não supúnhamos ter. Mas esta é uma das regras do jogo e para usufruí-lo plenamente é preciso ao menos tentar esquecer, ainda que momentaneamente, todos os receios que tendem a nos paralisar e impedir de vivenciar novas experiências. É claro que essa disponibilidade não nasce de uma hora para outra, mas também jamais ocorrerá por insistência do professor ou em decorrência de qualquer outro tipo de estímulo externo. O aluno tem que querer e é essa vontade que o fará superar aos poucos todos os bloqueios que o inibem.

 

Ilusão

        Entretanto, é muito comum nos depararmos com alunos de improvisação que julgam, erroneamente, já estarem em um estágio muito avançado no tocante ao tema, pelo simples fato de freqüentarem a algum tempo um curso específico ou já terem freqüentado vários. E se incitados a justificar o porquê de avaliação tão lisonjeira, em geral as respostas são muito parecidas, podendo ser resumidas a dois singelos tópicos:

 

1º A timidez inicial cedeu lugar à desenvoltura.

2º As parcas palavras de outrora passaram a jorrar aos borbotões.

Ou seja: ausência de timidez e fluência verbal estariam na essência da complexa arte de improvisar...

            Nada mais enganoso, obviamente. Um aluno pode ser extremamente desenvolto em cena (no sentido de ausência de timidez) e falar pelos cotovelos sem que isso signifique que algum dia tenha verdadeiramente improvisado. Ou seja: se aventurado em universos distantes de seu cotidiano. E por nunca tê-lo feito, cria sempre “personagens” que o tem como principal referência. E por isso tende a falar, se locomover e gesticular como o faz na vida real.

Sugestões

            Sempre que estiver improvisando...          

1) Procure, sempre que possível, fugir de seu universo pessoal.

2) Fale apenas o essencial. Palavras em excesso comprometem os sentimentos.

3) Aprenda a escutar os outros. Só assim os outros escutarão você.

4) Não faça questão de impor suas idéias. É importante aceitar outras.

5) Contracenar implica em troca: saber dar e saber receber.

6) Teatro é ação, não digressão.

7) Quando perceber uma dificuldade, invista nela.

8) Reaja prontamente a todos os estímulos, sem maiores racionalizações.

9) Pense sempre que você está atuando para alguém.

10) Não sofra se algo der errado numa improvisação. Acertos só nascem de equívocos.

 

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Exercícios de Improvisação

Para iniciantes

 

Lionel Fischer

 

Cena curta criar uma cena passando pelos três estímulos, na ordem.

 

A       angústia/alívio/amor

B       busca/bondade/beijo/

C        carência/carícia/casamento

D       dívida/dádiva/dúvida

E       esperança/espera/escrotice

F         força/foco/fica

G      gemido/ganância/gozo

H      história/histeria/habitação

I          intriga/instante/inútil

J         jogo/justiça/jaca

L         luta/luto/luz

M       medo/mácula/música

N        negação/novidade/nudismo 

O        onda/ódio/onde

P       perda/perto/perplexidade

Q        querer/queimadura/queijo

R       raiva/rosto/rumo

S       susto/sinto/saudad

T       teimosia/temporal/tenacidade

U       único/última/ultimato

V       vitória/ vontade/ volúpia

X        xuxu/ xepa/xispa

Z       zona/zodíaco/zero

 

Tesouras rítmicas – dois alunos, duas tesouras. O primeiro faz uma pequena seqüência, que o segundo tem que repetir. Depois, inverter. Até aqui, só memória. Em seguida, o primeiro faz uma pequena seqüência, um aluno de fora coloca um texto. O segundo responde com a tesoura, um outro aluno coloca um texto. E assim seguimos por um tempo.

 

Criando um textoo aluno entra, já com uma atitude/sentimento. Pára num local, congela. Em seguida, vai para outro ponto e congela. Vamos fazer cinco mudanças. O aluno repete tudo que fez. Em seguida, repete, parando, e alguém de fora coloca um texto quando a cena congela.  Depois, nova repetição, outro aluno coloca um novo texto, completamente diferente, em cima da mesma seqüência. Finalmente, o primeiro aluno faz toda a seqüência colocando seu próprio texto.   

 

 História em duplas - oito atores, lado a lado, em fila. O primeiro começa a relembrar qualquer coisa envolvendo aquele que está ao seu lado. Este retruca. Em seguida, os dois vão para o final da fila e a dupla seguinte avança. Cada ator só pode usar uma frase, de preferência curta. E o assunto deve evoluir, podendo tomar rumos imprevistos. Mas não vale criar frases disparatadas. A história tem que fazer sentido, mesmo que sua conclusão seja completamente inesperada com relação ao início. Vamos rodar as filas três vezes.

 

Ida e volta - dois atores, sentados, bem perto, um de frente para o outro. Começam a trocar ofensas, num ritmo bem rápido.  As ofensas devem se limitar a uma palavra. Ao mesmo tempo em que se ofendem, vão recuando o corpo. Quando estão bem afastados, congelam. A seguir, vão se reaproximando, só que agora trocando palavras gentis, num ritmo bem lento. 

 

Criando uma história - dois atores iniciam uma cena.  No sinal, congelam. Outros dois os substituem e continuam a cena. E assim por diante. Fazer com quatro duplas. A última deve concluir a cena, que deverá necessariamente evoluir, como se fosse um pequeno esquete.

 

Cantando um trecho de música - quatro atores. Cada um canta um trecho de uma música. Depois, cada um repete o trecho cantado como se fosse o texto de uma peça.  

 

Reação instantânea – individual. O professor diz a frase e o aluno deve justificá-la, com toda a seriedade, no prazo máximo de 1 minuto.

 

Se chifre fosse flor, a cabeça do Lionel era um jardim!

Quando a jabuticaba é pouca, a gente engole o caroço!

Mesmo quando descansa, o Diabo amola as moscas com o rabo!

O mentiroso, quando diz a verdade, adoece!

Os apaixonados sofrem mais que sovaco de aleijado!

 

Fazendo um jingle - 4 atores no palco. A cada um o professor diz um nome – sapato, calcinha, relógio etc. O aluno deve imediatamente fazer uma música curtíssima.

 

Frase que aumenta  - 4 duplas, uma de cada vez. A primeira e a última palavra não podem mudar. Exemplo: “Você é muito burra”. “Você, desde ontem, é muito burra”.  “Você, desde ontem, depois de negar o que eu pedi, é muito burra”. “Você, desde ontem, depois de negar o que eu pedi, e eu pedi com tanta delicadeza, é muito burra”. “Você, desde ontem, depois de negar o que eu pedi, e eu pedi com tanta delicadeza e sorrindo, é muito burra”. E etc. Objetivo: construir a maior frase possível.

 

Cortando palavrasA partir de um tema – por exemplo, separação – dois alunos fazem uma cena, só podendo usar frases de quatro palavras. Em seguida, outra dupla faz a mesma cena, mas só usando três palavras por frase. A terceira dupla usa duas palavras e a última, uma.   

 

Desfazendo um sonho – individual. Uma jovem de 15, 16 anos, está diante de um espelho, acabando de se arrumar. Vai sair, pela primeira vez, com aquele que julga ser o menino da sua vida. O telefone toca. Ela atende e nada fala, só escuta o rapaz dizer que não poderá vir.  Ela volta para o espelho, começa a tirar a maquiagem etc., sem  pronunciar uma única palavra.

 

Cortando palavrasA partir de um tema – por exemplo, separação – dois alunos fazem uma cena, só podendo usar frases de quatro palavras. Em seguida, outra dupla faz a mesma cena, mas só usando três palavras por frase. A terceira dupla usa duas palavras e a última, uma.   

 

Desfazendo um sonho – individual. Uma jovem de 15, 16 anos, está diante de um espelho, acabando de se arrumar. Vai sair, pela primeira vez, com aquele que julga ser o menino da sua vida. O telefone toca. Ela atende e nada fala, só escuta o rapaz dizer que não poderá vir.  Ela volta para o espelho, começa a tirar a maquiagem etc., sem  pronunciar uma única palavra.

 

 Criação em grupo 1 dividir a turma em grupos. Cinco minutos para preparar uma cena que tenha como tema uma frase – por exemplo, “Nunca mais”. Em algum momento essa frase tem que ser dita. Cenas curtas.

 

Criação em grupo 2 toda a turma. O tema pode ser, por exemplo,  “Na primavera eu volto”. Tempo de preparação: 15 minutos. Tempo da cena: 10 minutos. OBS: a frase/tema tem que fechar a cena.

 

Conquista em versosexercício para duplas. Cada apaixonado diz uma frase  bem curta e o outro a completa. Por exemplo:

 

Ele – Quando te vi, era inverno.

Ela – Você estava lindo, de terno.

 

OBS: o importante é não apenas rimar, mas criar uma pequena história.

 

Memória exercício em duplas. O exercício termina quando algum dado for omitido na seqüência de frases. Por exemplo:

Qual o seu nome? Meu nome é Paulo / Mentira. Seu nome é Henrique/ Tem razão. Meu nome é Henrique/ Quantos anos você tem?/ 35 / Mentira.  Seu nome é Henrique e você tem 23 anos./ Tem razão. Meu nome é Henrique e eu tenho 23 anos/ Qual a sua profissão?/ Engenheiro/ Mentira. Seu nome é Henrique, você tem 23 anos e é personal training / Tem razão. Meu nome é Henrique, tenho 23 anos e sou personal training/ Você tem namorada?/ Tenho / Mentira. Seu nome é Henrique, você tem 23 anos, é personal training e não tem namorada/ Tem razão. Meu nome é Henrique, tenho 23 anos, sou personal training e não tenho namorada/ Onde você mora?/ Leme/ Mentira. Seu nome é Henrique etc...

 

Perdão Amigas desde a infância, já adultas uma dela se torna amante do marido da primeira. O caso é descoberto. Rompimento. Arrependimento. Tentativas de encontro fracassadas. Até que um dia, dois anos depois, a que foi traída resolve receber a ex-amiga. Houve suas razões. Há possibilidade de perdão?

 

Encontros Inesperados 


1)      Bordel – cafetina, pai e filha. A cafetina diz à garota que hoje ela vai conhecer um cliente super importante, um homem riquíssimo, de São Paulo. A cafetina sai. A garota está se ajeitando diante de um espelho. O homem entra. Se aproxima. Acaricia a garota. Ela se vira. O homem está diante de sua filha. Pouquíssimas palavras, de preferência nenhuma. O que importa é o impacto da situação.

2)      Num bar – reencontro com um grande amor. Ela está sentada, ele a vê. Tiveram um romance muito tempo atrás. Ambos se casaram com outras pessoas. Mas...Ele se aproxima, uma grande emoção toma conta dos dois. O que fazer?

 

Confissão


Filho diante de pai agonizante – algo ficou por dizer? Algum agradecimento?

 

 Despedidaduplas. Começa num abraço, se separam, se afastam. Se olham, correm, se abraçam, se afastam. No final, apenas se olham, de longe, e não mais se aproximam.

 

Interpretando anúnciosO aluno abre um jornal numa página qualquer, escolhe um anúncio e o lê de três maneiras diferentes, impulsos emocionais diferentes.

 

Esculturas oito alunos. Três grupos. Três músicas diferentes produzem três esculturas diferentes. Depois de prontas, as esculturas são desfeitas – o último que entrou sai primeiro, depois o penúltimo etc., até ficar o primeiro.

 

Conversa loucaduplas, frases curtas. Toda frase tem que começar com a última palavra dita pelo outro. Por exemplo:

 

A – Você não passa de um idiota!

B – Idiota eu fui quando me apaixonei por você!

A -  Você está sendo agressivo...

B – Agressivo? Você ainda não viu nada!

 

Pecados Capitais - dividir o grupo. Cada grupo terá 10 minutos para bolar uma cena sobre um determinado Pecado (Luxúria, Avareza, Soberba, Gula, Inveja, Ira e Preguiça). Detalhe: todas as cenas terão que ser cômicas e não vale aproveitar cenas já feitas ou conhecidas.

 

 No sótãoquatro irmãos visitam o sótão da casa em que passaram a infância. Com a morte dos pais, a casa será vendida. Recordações. Os brinquedos. O sótão está igual.

 

 Caretas - exercício para duplas. Sentados lado a lado, olhando pra frente, no sinal os alunos fazem um careta, que deforma seu rosto. Em seguida, sem desarmar essa careta, travam um diálogo, como se estivessem se vendo pela primeira após marcarem um encontro via Internet. A voz tem que ser resultante dessa careta.

 

Briga de facaRitmo mais lento possível. Quatro contra quatro.

 

Discussão em língua estranha com tradução simultâneasentados na mesa de um bar, um casal discute numa língua incompreensível. Cada um dos personagens tem a seu lado um tradutor simultâneo, que fala em português, imediatamente, o que a pessoa falou. As frases têm que ser curtas.

 

Subversivos – à espera do próximo interrogatório. Depois de um tempo, entra um guarda. Leva um deles.

 

Aquecimento – luta, conduite.

 

Desfazendo um sonho – adolescente diante de um espelho, aprontando-se para o primeiro encontro com o “menino de sua vida”. Anos 50/60. O telefone toca. O cara diz que não vai. Ela nada diz. Volta para a cômoda/espelho e retira a maquiagem, as coisas que colocara etc.

 

Exame – clínica. Cada personagem está à espera do resultado de um exame que poderá significar morrer ou viver. Entra a enfermeira, distribui os envelopes. No que estiver escrito POSITIVO, a pessoa vai morrer. No negativo, vai viver. Sem palavras, sem relação entre os personagens.

 

Solidão – grupo caminha lentamente pelo espaço, sem estabelecer qualquer tipo de relação. Os atores caminham o mais lentamente possível. Num dado momento, quando entra o piano, correm até um ponto e julgam ver passar, ao longe, a pessoa “que se foi”. Acompanham com o olhar essa pessoa, que logo adiante desaparece. Todos retornam ao estado inicial, só que ainda mais sozinhos. Este exercício será feito tendo como música de fundo o 2º movimento do Concerto “Imperador”, de Beethoven. OBS: cada ator imagina o que quiser, mas tem que ter sido uma perda grave.

 

A partir de um sentimento/postura – o ator caminha pelo palco e para num dado momento, expressando o mais possível um sentimento, uma situação, um estado. Congela. Em seguida, ele repete o que fez e congela. Então, um outro ator, previamente escolhido e que o observava, entra e faz uma cena a partir do que sentiu na postura congelada. OBS: o ator que entra não tem como adivinhar a razão da postura, mas vai propor algo a partir dela. Ou seja: se o ator congela com “medo”, o que entra não sabe a razão desse medo, e pode piorar esse estado, suavizá-lo etc.

 

Apenas 1 minuto – dividir a turma em três grupos. Propor ao primeiro uma cena, especificando o contexto, quem são os personagens e o objetivo principal de cada um. O grupo tem 1 minuto para preparar a cena e 1 minuto para apresentar. As propostas vão sendo dadas depois que cada grupo realiza a sua, senão o segundo e terceiro grupos, por exemplo, teriam mais tempo para preparar. Feitas as três cenas, escolhemos a mais interessante. Então, o grupo que a realizou a repete, aumentando-a um pouco. No sinal, congelam e entram outros três, que dão prosseguimento à cena, aumentando-a. Finalmente, entra o terceiro grupo, repetindo o mesmo mecanismo. Ou seja, o que durara apenas 1 minuto no início, pode durar uns 15 minutos no final.

 

Pescadores – mulheres (ou parentes) de pescadores estão na beira da praia, aguardando a volta de seus entes queridos. Soube-se que houve uma forte tempestade. Depois de um tempo, algumas velas começam a aparecer no horizonte. As jangadas se aproximam. Todas as pessoas, menos uma, reconhece alguém. Fica uma última. Seu homem (ou parente) não voltou. Exercício sem palavras.

 

Retirantes – grupo exausto de retirantes nordestinos fugindo da seca. Não conseguem mais caminhar. Então se acomodam, depositando toda a esperança de sobrevivência na chuva. Depois de um tempo, surge ao longe uma nuvem escura. Mais adiante, essa nuvem se aproxima. Finalmente, ela para em cima do grupo. Choverá ou não? Começa a chover. Aos poucos, uma chuva fina. Depois, um toró. O grupo está salvo. Viver a esperança, a expectativa, a surpresa,e, finalmente, o enorme alívio.

Exercício sem palavras. Talvez caiba uma reza e, no final, exclamações.

 

Uma pessoa no meio – duas histórias, um ouvinte. Frases curtas. No fim, o ouvinte deve ser capaz de sintetizar as duas histórias. Estas devem ser contadas rapidamente, sem intervalo, e o que escuta nada diz – no máximo, um “sim”, ou “não”, um  “é verdade” etc.

 

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 Cenas para Estudo


                        “A cerimônia do adeus” 

                                                    (Mauro Rasi)


(trecho da cena 1, ato I). OBS: aqui Juliano é ainda um adolescente

 (Juliano entra na sala, com ar de enfado. Aspázia precipita-se sobre ele, feito uma leoa, tentando fazê-lo abrir a boca.).

ASPÁZIA – Abre a boca! Abre a boca!

JULIANO – O que é isso? Me larga!

ASPÁZIA – Bebeu: tô sentindo daqui!

JULIANO – Foi gemada que eu tomei, com vinho do Porto.

ASPÁZIA – Cínico! Seu primo contou que você bebe na escola! (Agarrando a bolsa dele e remexendo.) Solta! Deixe eu ver o que tem aí dentro!

JULIANO – Não tem nada aí. Tem só caderno, lápis...

ASPÁZIA (Encontrando uma garrafa) – Conhaque? Então é verdade? Bebendo conhaque na escola, ordinário, cafajeste! E eu não queria acreditar...

JULIANO – Olha aí: tá deixando cair tudo...

ASPÁZIA – O que é isso aqui? (Folheando.) Cheio de vagabunda nua!

JULIANO (Tomando de volta) – Meu ‘Cahier du Cinema’.

ASPÁZIA – Fazendo seu pai gastar dinheiro: se não quer estudar, vai trabalhar, vagabundo! O que é isso aqui: ‘O Estrangeiro’? Isso é coisa da escola?

JULIANO – Foi a professora de francês que pediu, para fazer um trabalho sobre Camus...

ASPÁZIA – Vá atrás dessa gente, desses escritores: belas idéias tão te enfiando na cabeça! O piano tá lá: fechado! Nunca mais tocou nele. A freira me telefonou, dizendo que você nem aparece mais no Conservatório! Olha só pros seus dedos: tudo manchado de nicotina! E não era você que dizia que ia ser concertista, que ia ser um Rubinstein?

JULIANO – Desisti: agora quer ter a bondade de me devolver o Camus?

ASPÁZIA – Eu vou queimar isso!

JULIANO – Como já queimou os meus Ginsberg, os meus Faulkner, os meus Gide, os meus...

ASPÁZIA – Faço isso pro seu bem. Essa literatura está te deixando doente. Olha pro seu estado: amarelo, abatido, pálido, magro, cheio de olheiras de tanto ficar trancado naquele maldito quarto. Parece um velho!

JULIANO – Estou destinado à literatura! Quero ser ao mesmo tempo Spinoza e Stendhal.

ASPÁZIA – Vai namorar, menino! Vai se divertir! Vai sair com as moças! Larga essa vagabunda francesa...

JULIANO – Que ‘vagabunda francesa’?

ASPÁZIA – Essa tal de Simone de Buvuá. (Faz careta de desdém.) Ah, mas eu vou entrar lá dentro, abrir bem aquela janela, arejar bem aquele túmulo, pegar aquelas porcarias todas e fazer uma fogueira!

JULIANO (Erguendo, ameaçadoramente, a garrafa contra ela) – Pára! No meu quarto, ninguém entra!

ASPÁZIA – Ergue a mão pra sua mãe: ergue, indecente – que Deus te dá um castigo que você vai ver só!

JULIANO – Olha que eu queimo os seus livrinhos de sacanagem, hein? (Aspázia olha-o, surpresa. Ele confirma.) De sacanagem, sim, que a senhora lê e a tia Brunilde tem. E não adianta encapar eles e esconder não, que eu achei ‘O Garanhão’ e ‘Os Insaciáveis’ de Harold Robbins! Vocês já leram a obra completa dele!

ASPÁZIA – Tá querendo dar um show, tá? Dá: dá logo um show para a vizinhança toda ouvir e saber o demônio que você é.

JULIANO – Sua obscurantista! Sua Hitler!

ASPÁZIA – Ofende! Ofende que eu te dou um tapa na cara e ainda deixo a marca da minha mão no seu rosto, demônio!

JULIANO (Puxando) – Larga o meu livro, sua puta! (Aspázia dá-lhe uma bofetada no rosto.) Rasgou! Rasgou! Agora eu vou rasgar o seu! (Corre para apanhar o livro escondido.).

ASPÁZIA – Juliano: é da sua tia! Larga! Lar... (Dá-lhe várias bofetadas no rosto.).

JULIANO (Chorando) – É por isso que eu não gosto de voltar pra casa. Essa casa é um inferno! Um inferno! (Corre para o quarto.).

ASPÁZIA – Juliano! Juliano!... (Ele entra no quarto, que está totalmente escuro, fecha a porta, ofegando. Volta-se e acende a luz.).

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                                         “A lira dos vinte anos”

                                    (Paulo Cesar Coutinho)

Ato I, Cena 1

DIOGO – Lucas! Lucas!

LUCAS – Você não vem estudar?

DIOGO – Hoje não dá, ta uma lua incrível, desce aqui.

LUCAS – Amanhã tem prova.

DIOGO – Esquece um pouco esse vestibular, quero falar com você.

LUCAS – Peraí. (Desce)

DIOGO – Acabei de ler o Maiakovski. Os brocratas só podiam mesmo odiar um poeta daqueles, eles mataram o cara. Eu entendi tudo.

LUCAS – Tudo o quê?

DIOGO – Tudo. Olha que lua incrível. Eu quero essa luz pro meu filme. Você ama Godard? Eu amo, é um gênio, revolucionou o cinema.

LUCAS – Diogo, posso te falar uma coisa?

DIOGO – Claro, fala!

LUCAS – Você não acha que o mar tem a ver com liberdade?

DIOGO – Acho. Você já resolveu o que vai fazer na vida?

LUCAS – Diogo, eu quero fazer a Revolução.

DIOGO – Você não tem medo de morrer?

LUCAS – Não...tenho medo de não viver.

DIOGO – Por que você resolveu estudar História?

LUCAS – Pra entender as coisas. Você também, não é?

DIOGO – É, mas às vezes eu não sei se é por isso. A História deles é o contrário da vida.

LUCAS – Mas pra gente é uma arma. Outro dia perguntaram na prova em que ano caiu o Império Romano do Ocidente. Avaliando que a gente, os bárbaros,  já estamos às portas da Universidade, respondi que o Império vai cair agora, em 68.

DIOGO – Avaliando que quem corrije as provas é a civilização decadente, você vai é levar pau no vestibular. Cara, você voa durante as aulas, não sei como é que se dá bem. Quando entrei pro curso te achei muito estranho.

LUCAS – Eu também te achei diferente, tão sério com 17 anos...às vezes o professor tava lá falando e eu ficava te olhando...

DIOGO – Eu notava que você me olhava. Por quê?

LUCAS – Eu gosto de olhar as pessoas...mas você também me olhava. Por quê?

DIOGO – Também gosto de olhar as pessoas. Gosto de te olhar, sim. E isso me dá medo.

LUCAS – Por que medo?

DIOGO – Porque é novo, não sei definir, não sei aonde vai me levar...e de todo jeito eu quero ir.

LUCAS – Eu também tinha medo que você não sentisse assim, que a gente nunca fosse conversar sobre isso.

DIOGO – Uma vez, quando eu era garoto, meu pai me pegou abraçado com outro menino. Botou ele pra fora de casa e me deu uma surra. Nem sabia por que tinha apanhado, e nós nunca mais falamos nisso. Tive namoradas e gostava delas, mas nunca deixei de achar que o amor acontece com qualquer pessoa, assim...

LUCAS – É, o amor acontece assim...

DIOGO – E agora quero correr todos os riscos por você.

LUCAS – Me dá um beijo (Diogo beija Lucas na boca)

 

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As Guerreiras do Amor


(Aristófanes, adaptação de Domingos Oliveira)

 

CENA 11

 

(Cinésias entra)

 

 

CINÉSIAS - Oh! destino mau! Estou tonto de desejo. Não ando, latejo. Eu não sou eu, sou meu pau. (Mirrina  põe um pano sobre a cabeça)

MIRRINA - Bom dia, cidadão.

CINÉSIAS - Por piedade, vá buscar Mirrina. Sou o marido dela.

MIRRINA - Sua esposa não tira seu nome da boca. Quando tem fome, colhe no pé uma cereja e diz: “Ah, se Cinésias estivesse aqui...”.

CINÉSIAS - Ela fala assim? Vá chamá-la depressa.

MIRRINA (Tirando o pano) - Se eu for, o que você dá para mim?

CINÉSIAS - Mirrina! Sei de teu compromisso, mas tens de me satisfazer.

MIRRINA - Tire a mão de cima de mim. Não dei permissão.

CINÉSIAS - Mas nosso amor não te importa?

MIRRINA - Não enquanto continuar a guerra.

CINÉSIAS - Então acabamos com ela! Mas antes vem cá e deita comigo.

MIRRINA - Está bem. Mas onde poderíamos deitar. Aqui no chão?

CINÉSIAS - Nunca vi pedras tão macias.

MIRRINA - Mas aqui é descampado, vão nos ver...

CINÉSIAS - Então ali, na gruta de Pã.

MIRRINA - Depois de tantos meses, seria um desperdício. Espera, vou buscar o colchão. (Sai)

CINÉSIAS - Não precisa! (À platéia) Ela vai ceder!

MIRRINA (Volta) - Aqui está. Agora não falta nada. Já volto. (Sai).

CINÉSIAS - Mirrinha, tem dó.

MIRRINA (Volta) - Pronto, pode deitar. Meu Deus, será possível que nem um travesseiro você mereça? Afinal são dois meses de espera. (Sai)

CINÉSIAS - Pra quê que eu vou deitar a cabeça?

MIRRINA (Volta) - Pronto, agora já tem tudo, meu amo e senhor. Mas, por Zeus...estou tonta de emoção, como fui esquecer o cobertor? (Sai)

CINÉSIAS - Quem está com frio? Eu ardo!!!

MIRRINA (Voltando) - Não quer um pouco de perfume?

CINÉSIAS - Com esse vai e vem, temo a ejaculação precoce.

MIRRINA - Querido, agora está tudo aqui. Uma cama feita e uma mulher sabida. Você já me prometeu muita coisa que não cumpriu. (Sai)

CINÉSIAS - Puta que o pariu!   Não tem solução!

 

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                      OS SETE GATINHOS  

                                            

                                  (Nelson Rodrigues)

                                      

                                    CENA 24, um pouco reduzida

(Quarto de Silene)

AURORA – Quem é o cara?

SILENE – Viajou.

AURORA – Escuta: você confia em mim?

SILENE – Confio.

AURORA – Então quero saber tudinho!

SILENE – Depende.

AURORA – Depende, não senhora! Se você começar a me esconder os troços, eu largo você de mão e olha: depois do que houve quem é aqui tua amiga no duro e te defende?

SILENE – Eu sei que você gosta de mim, nunca neguei!

AURORA – Então me diz o nome dele.

SILENE – Se ele é casado e não pode casar outra vez? Que interessa o nome?

AURORA – Você é menor e ele tem responsabilidade!

SILENE – Faz de conta que eu digo o nome e vocês fariam o quê?

AURORA – É o seguinte: eu tenho um namorado que não custa pra dar uma surra, ou, até, liquidar um cara!

SILENE – Vocês então mandariam dar uma surra no meu...

AURORA – Surra, uma conversa! Um tiro! Uma bala!

SILENE – Matar?

AURORA – O cara leva um tiro sem saber como e fica por isso mesmo!

SILENE – Ele não tem culpa! A culpada sou eu!

AURORA – Abusou de você, uma menina, uma criança! É um canalha!

SILENE – Não! Não! (Abraça-se aos joelhos da irmã)

AURORA – Mas que é isso? Maninha, levanta! (Silene ergue-se)

SILENE – Aurora, agora eu sou mulher igual a vocês e até mais, porque estou grávida! Quero saber de ti o seguinte: você tem namorado. Gosta dele? É amor?

AURORA – Demais.

SILENE – Pois se você ama, eu também amo! Ele não é canalha, não! Fui eu que insisti e quis ter o filho!

AURORA – Ele te desgraçou!

SILENE – Pelo contrário! Eu não sou desgraçada! Você é desgraçada?

AURORA – Não, eu feliz!

SILENE – E eu também!  

AURORA – Escuta: o que ninguém entende é como você, interna, sem sair, e foi acontecer isso! Você conheceu o rapaz onde? Ou já conhecia?

SILENE – Não conhecia.

AURORA – É do colégio?

SILENE – Mora perto.

AURORA – Continua.

SILENE – O colégio dá fundos para a casa dele. Ele passava sempre pela calçada e, uma vez, me olhou.

AURORA – Bonito?

SILENE – Lindo!

AURORA – E vocês se encontravam onde?

SILENE – A gente conversava no muro, que é meio baixo. E um dia eu pulei o muro e...

AURORA – Mas que perigo!

SILENE – Fomos para a casa dele, pro quarto da empregada, que estava de folga. A mulher dele não sai da cama.

 AURORA – Que falta de juízo!

SILENE – Eu disse que ele é diferente dos outros, porque tem a lágrima mais linda que eu já vi!

AURORA – Já chorou na tua frente?

SILENE – Ele estava me beijando e, de repente, começou a soluçar, depois foi parando...e eu vi uma lágrima, aqui, no cílio...

AURORA – Uma lágrima? Ele chora por um olho só?

SILENE – E quando ele passa, na calçada do colégio, as meninas dizem: “Lá vem o homem vestido de virgem!”

AURORA – Por que “vestido de virgem”?

SILENE – Porque só usa terno branco!

AURORA – Anda de branco e chora por um olho só!

SILENE – E, na última vez, fomos a um apartamento em Copacabana e...

AURORA – Chega. Não preciso saber mais nada!

SILENE – Mas eu não te disse o nome dele.

AURORA – Não interessa o nome! (Vai para a porta)

SILENE – Tem um apelido gozado!

AURORA – Não quero saber, nem de nome, nem de apelido!

SILENE – Mas eu confio em ti!

AURORA – Deixa pra lá! Escuta: você não me sai do quarto, não fala, não diz nada. Resolvo tudo. Vou lá, invento um troço, digo que o homem viajou...

SILENE – Aurora, você é um anjo! E olha: você vai ser madrinha do meu filho, eu faço questão! (Aurora sai do quarto)

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                                 O Jardim das Cerejeiras

(Tchecov)

                                 

Cena de Ânia e Vária (Ato I)

 

Vária - Graças a Deus vocês chegaram! Até que enfim! Você, aqui em casa comigo. (Acariciando Ânia). Meu coração voltou, minha lindeza!

 Ânia - Eu já estava que não podia mais.

 Vária - Imagino!

 Ânia - Saí daqui na Semana Santa, fazia um frio! A Carlota falando sem parar, a viagem toda, fazendo mágicas. Por que é que você foi me arranjar essa Carlota?

 Vária - Uai, você não podia viajar sozinha, menina. Com 17 anos!

 Ânia - Chegamos a Paris. Frio, neve. Eu falo francês pessimamente, uma vergonha. Mamãe mora num quinto andar, eu chego e encontro uns franceses - senhoras, um padre velho com um livro, tudo cheio de fumaça de cigarro, tudo revirado. De repente fiquei com uma pena de mamãe, tanta pena. Me abracei com ela e peguei a cabeça dela nas mãos e não queria mais largar. Depois mamãe me abraçou e ficou chorando sem parar...

Vária (Entre lágrimas) - Não conte, não conte...

 Ânia - Já tinha vendido a casa perto de Menton, não sobrou nada! E eu também sem um níquel, mal deu para chegarmos lá. E mamãe não compreende! Fomos jantar no buffet da Estação, ela pedia os pratos mais caros, dava a cada garçon um rublo de gorjeta! E Carlota, a mesma coisa! E o Iacha também. Pedia um prato especial. Só para ele. Um horror! O Iacha agora é empregado de mamãe, tivemos de trazê-lo conosco.

 Vária - Eu já vi o malandro.

 Ânia - E então? Vocês pagaram os juros?

 Vária (Negando) - Qual nada.

Ânia - Ah, meu Deus, meu Deus...

 Vária - Em agosto a fazenda vai a leilão.

 Ânia - Meu Deus...

 Lopakhin (Olha pela porta e bale) - Mée...é...é...(Sai)

 Vária - Só queria dar uma surra nele! (Ameaça a porta com o punho)

 Ânia (Baixinho, abraçando-a) - Vária, ele já te pediu em casamento? (Vária sacode negativamente a cabeça) Mas ele gosta de você. Por que é que vocês não se explicam, o que é que estão esperando?

 Vária - Acho que não dá em nada não. Ele está sempre ocupado, não tem tempo pra mim, nem me percebe. Deixa pra lá, eu nem quero vê-lo. Todo mundo falando em nosso casamento, cumprimentando, e na realidade mesmo não existe nada...é como se fosse um sonho. (Mudando de tom) Que broche engraçado esse seu. Parece uma abelhinha.

Ânia (Triste) - Mamãe comprou. (Vai para seu quarto e fala alegremente, como uma criança) Em Paris eu subi de balão! Voei...!

 Vária - Meu coraçãozinho voltou, minha lindeza voltou! (Duniacha já veio com a cafeteira e prepara o café. Vária está perto da porta de ânia) E eu, meu bem, o dia inteiro lidando na casa, andando de um lado pro outro e sonhando. Sonhando que casava você com um ricaço e eu ficava descansada, ia fazer um retiro e depois saía em romaria, visitava Kiev, Moscou, todos os lugares santos, de um para o outro, a vida inteira, que felicidade!

 Ânia - Os passarinhos estão cantando no jardim. Quantas horas?

 Vária - Quase três. Você já devia estar dormindo, meu bem. (Entrando no quarto de Ânia) Que felicidade!

 

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