quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Personalidades

Lionel Fischer


Como todos nós sabemos, o Teatro é uma manifestação artística que possui um
caráter extremamente ingrato: sua efemeridade. Ao contrário da literatura, das artes plásticas, da fotografia, do cinema, do vídeo ou DVD, um espetáculo deixa de existir no momento exato em que se encerra sua temporada. Não há como revê-lo, sendo portanto inevitável um progressivo esquecimento das emoções que ele nos suscitou.
De qualquer forma, não custa nada recordar – e isso está ao nosso alcance – as principais realizações daqueles que inscreveram seus nomes na História do Teatro. Assim, a cada nova publicação dos Cadernos de Teatro, iremos avançando, letra a letra, até o final do alfabeto, sempre lembrando que, por razões óbvias, não podemos citar todos os geniais criadores que contribuíram para imortalizar o Teatro.

* * *

- A -

ADAMOV, Arthur (1908-1971).
Autor dramático francês de origem russa, viveu na Suíça, Alemanha e finalmente em Paris (1924), onde se uniu aos surrealistas. Em suas primeiras obras - A Invasão, A Grande e a Pequena Manobra, A Paródia, O Professor Taranne, Todos Contra Todos - aparecem os temas-chave do Teatro do Absurdo: a incomunicabilidade, a ambigüidade, o vazio da linguagem, a solidão, a angústia, tratados sob a influência de Strindberg e Artaud, que também propunham uma ruptura com o teatro convencional.
Com essas peças, Adamov mostra o homem irremediavelmente à mercê dos
mecanismos sociais. Em sua fase seguinte, a partir de Ping-Pong e Paolo Paoli, mostra que
essa sociedade pode ser transformada. Utilizando procedimentos descobertos pela vanguarda, mas dando a eles conteúdo diferente, Adamov supera o Teatro do Absurdo. Em suas últimas obras - A Política dos Restos, M. o Moderado e Fora dos Limites, Adamov volta ao clima de obsessões de sua primeira etapa, sem abandonar sua nova temática, unindo as duas vertentes de sua obra. Em 1971, Adamov se suicidou em Paris. Sua autobiografia, A Confissão, é de grande interesse para a compreensão de sua pessoa e obra.

ALBEE, Edward (1928).
Autor dramático norteamericano. Começou com obras de caráter crítico: A História do Zoológico e A Morte de Bessie Smith. As influências do Teatro do Absurdo se refletem em Exorcismo, A Caixa de Areia e O Sonho Americano. Com Quem Tem Medo de Virginia Woolf (1962), grande êxito comercial, cria um melodrama psicológico, mesmo procedimento adotado em Um Equilíbrio Delicado (1966), que trata das relações pseudo-complexas entre membros da classe alta novaiorquina. Sua produção nos anos 70 e 80 foi muito desigual, até escrever Três Mulheres Altas (1994), que obteve ótima repercussão.

ANOUILH, Jean (1910-1987).
Autor dramático francês. Mestre da peça bem feita, foi uma das personalidades mais brilhantes do teatro francês dos anos 30 e 40. Em suas comédias funde as inovações da vanguarda com elementos tradicionais. Iniciou sua carreira com O Arminho; em seguida,
vieram A Selvagem e O Viajante sem Bagagens, reunidas sob o título Peças Negras. À
mesma época correspondem as Peças Rosas: O Encontro de Senlis, O Baile dos Ladrões e
Leocádia.
Um certo esquematismo melodramático caracteriza tanto as Peças Negras como as
Peças Rosas, assim como um certo tom de rebeldia em alguns personagens, visível nas obras seguintes, Antígona e Romeu e Janete. Escreveu ainda Ardele ou a Margarida, Colombina, A Valsa dos Toureiros, Pobre Bitos, textos em que predomina o jogo intelectual da “comédia de salão”. A riqueza formal de seu teatro, que constitui seu principal atrativo, chega ao máximo em suas últimas obras: A Cotovia, Beckett e Caro Antonio.

APPIA, Adolphe (1862-1928).
Cenógrafo e teórico suíço. Juntamente com Gordon Craig, foi um dos representantes mais importantes da corrente simbolista no teatro. Grande admirador de Wagner e seu “teatro total”, propunha um teatro ilusionista, de atmosfera e sugestão. Mesmo que sua principal preocupação tenha sido a ópera, suas idéias sobre montagem, cenografia e especialmente iluminação, foram revolucionárias para o teatro.
Appia considerava o espaço cênico como uma unidade plástica ou escultórica, e o
estruturava com plataformas e formas abstratas, sobre as quais a luz deveria atuar. Acreditava numa unidade plástica que fundisse todos os elementos: atores, objetos etc. A ilusão pintada (telão ao fundo) é substituída pela ilusão de espaço criado pela luz. Ao mesmo tempo, Appia aproveitava os valores emocionais da luz, sua capacidade de sugerir estados de ânimo e atmosferas, e propõe sua utilização para acentuar os momentos mais dramáticos de uma montagem. Appia foi também o primeiro que teoricamente insistiu no papel dominante do diretor, a quem caberia criar a síntese artística.

ARISTÓFANES (448-380 a. de C.).
Autor dramático grego, máximo representante da Comédia Antiga ateniense. Escreveu em torno de 40 comédias, das quais se conservam 11: Os Acarienses, Os Cavaleiros, As Nuvens, As Vespas, A Paz, As Aves, Lisistrata, As Tesmosforias, As Rãs, A Assembléia de Mulheres e Plutão. Uma situação, geralmente relacionada com a política do momento ou com alguma questão social, é exposta rapidamente e logo desenvolvida em uma seqüência mais ou menos solta de cenas, que mesclam fantasia, sátira, paródia musical e literária, propaganda política, farsa etc. A intriga representa um papel secundário. As Rãs marca a transição para a Comédia Média, na qual o coro - dominante na Comédia Antiga - passa a um segundo plano.

ARRABAL, Fernando (1932).
Autor dramático espanhol, vive na França desde 1955. Admirador de Kafka, Breton, Beckett e Tzara, define seu teatro de raiz dadaísta como “teatro pânico”, com alguma sintonia com o Teatro do Absurdo. Suas obras dos anos 60, sucesso na França e em todo o mundo, incluem, entre outras, Piquenique no Front, Oração, Os Dois Carrascos, Fando e Lis, O Cemitério de Automóveis, O Labirinto, Cerimônia por um Negro Assassinado, O Arquiteto e o Imperador da Assíria. Celebrado internacionalmente, muitas de suas obras - invariavelmente provocadoras - exibem temas polêmicos, como sadomasoquismo, perversão sexual, blasfêmia e necrofilia.

ARISTÓTELES (384-322 a. de C.)
Filósofo grego, discípulo de Platão em Atenas. Escreveu a primeira teoria dramática em sua Poética. Defende o valor positivo do teatro e da poesia em contraposição aos argumentos de Platão. Segundo Aristóteles, a tragédia provoca medo e compaixão, e através deles, a purificação (catarse) das paixões. Em sua breve história da tragédia analisa as obras trágicas de seu tempo, atribuindo a Sófocles o título de melhor autor trágico. Aristóteles foi o criador da regra das três unidades: lugar, tempo e ação.

ARTAUD, Antonin (1896-1948).
Escritor, poeta, ator e diretor francês. Pertenceu ao grupo surrealista de Breton, foi
ator com Lugné-Poe e colaborou com Dullin. Ao lado de Vitrac, fundou o Teatro Alfred Jarry, onde dirigiu várias peças. Escreveu O Teatro e seu Duplo, que influenciou profundamente o teatro moderno. Nele, combate o teatro narrativo e psicológico, e propõe a volta a um teatro de violência mítica e beleza mágica, que exponha os conflitos mais profundos do ser humano, não apenas com a palavra, mas também com a linguagem dos gestos e movimentos. Como Appia e Craig, Artaud visava um teatro de atmosfera e sugestão, dirigido mais aos sentidos do que à razão. Em 1953, fundou o Teatro da Crueldade, onde estreiou Os Cenci, baseado numa narrativa de Stendhal. A montagem foi um fracasso e gerou a ruína do autor, que passou a ter sucessivas crises de depressão e acabou internado num hospício.
(Artigo publicado na revista Cadernos de teatro nº 157)

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- B -

BARBA, Eugenio (1927.)
Diretor de origem italiana, formado em Letras e História das Religiões, Eugenio Barba fundou em 1964 o Teatro Odin, na Dinamarca. Colaborou com Grotowski no Teatro Laboratório de Opole (Polônia), de 1961 a 1964. Encenou, entre outros espetáculos, Os ornitófilos (1965), Kaspariana (1967), Ferai (1969), Min Fars Hurs (1972), O livro de danças (1974) e Anabásis (1977). O Teatro Odin foi muito importante sobretudo nos anos 60 e 70, não apenas em função de seus espetáculos, mas também graças aos seminários anuais ministrados. Neles, como nas montagens, sempre ficou evidente a preocupação do grupo com o treinamento físico do ator, a improvisação e a investigação de novas formas de expressão. Em 1979, Barba cria no Odin uma Escola Internacional de Antropologia Teatral, um verdadeiro centro de intercâmbio cultural.

BARRAULT, Jean Louis (1910-1994).
Ator e diretor francês, discípulo de Dullin - em cujo Théâtre de l’Atelier trabalhou de 1931 a 1935 - e do mímico Decroux. Criou seu próprio teatro, o Grenier des Augustins (1935), teve contato com os surrealistas e colaborou com Artaud em seu Teatro da Crueldade. Nessa época, dirigiu Numancia (1937), Hamlet (1938), A fome (1939). Em 1940, casou-se com a atriz Madeleine Renaud e entrou para a Comédie Française como ator e diretor, convidado por Copeau. Interpretou e dirigiu, entre outras, as peças O Cid (1941), Fedra (1942), O sapato de cetim (1943) e Antonio e Cleópatra (1946). A partir deste ano, constituiu sua própria companhia, a Renaud-Barrault, levando à cena um extenso repertório, aí incluíndo-se autores clássicos e modernos. Em 1955, assume a direção do Théâtre de l’Odeon, que passou a se chamar Théâtre de France, onde encena basicamente autores modernos, como Ionesco, Beckett e Genet. Em maio de 68 é destituído de seu cargo pelo então ministro da Cultura, André Malraux, passando a encenar peças inicialmente num ringue de boxe, adiante na estação d’Orsay e finalmente, em 1981, no Teatro Rond Point, atualmente rebatizado de Renaud Barrault. Adepto de um “teatro total”, Barrault realizou encenações memoráveis, como Rabelais (1969), Assim falava Zarathustra (1974), As noites de Paris (1976) e Zadig (1979). Trabalhou como ator em vários filmes, dentre eles Les enfants du paradis (1944) e La nuit de varennes (1981).

BATY, Gaston (1884-1952).
Cenógrado e diretor francês. Em 1922, funda sua companhia, a La Chimère. Suas montagens mais importantes são A ópera dos três vinténs (Brecht), Dibouk (Anski) e adaptações dos romances Madame Bovary (Flaubert) e Crime e castigo (Dostoievski). Trabalhou dez anos (1937-1947) na Comédie Française, tendo deixado algumas peças (A paixão, Dulcinea) e dois estudos teóricos, sendo o principal Via da arte teatral das origens a nossos dias.

BECKETT, Samuel (1906-1989).
Novelista e autor dramático irlandês, é considerado - ao lado de Adamov, Genet,e Ionesco - um dos grandes autores do Teatro do Absurdo. Radicou-se na França em 1937. Conquistou renome mundial com Esperando Godot, que estreou em Paris em 1953, em montagem assinada por Roger Blin. Com seus diálogos de frases curtas, cheias de humor seco e breves explosões líricas, que deixam entrever o abismo em que se movem os personagens, Esperando Godot é uma das obras-chave do teatro moderno. E alguns de seus principais temas - falta de comunicação entre os indivíduos, perda de identidade, a investigação obsessiva da linguagem - também aparecem em suas obras seguintes, sendo as mais importantes Fim de jogo e Dias felizes.

BERNHARDT, Sara (1844-1923).
Atriz francesa, uma das maiores de todos os tempos, famosa por sua voz e forma temperamental de atuar, em oposição a outra diva, a igualmente notável Duse, que seguia uma linha mais espiritual. Começou na Comédie Française, arrebatando o público em papéis como o de Cordélia, em Rei Lear; a Rainha, em Ruy Blas; Andrômaca, em Fedra, entre muitos outros. Seu espírito libertário acabou entrando em conflito com o conservadorismo da Comédie e então a atriz fundou seu próprio teatro (Théâtre Sarah Bernhardt, em Paris) e viajou por todo o mundo. Entre as obras eternamente associadas a seu nome destacam-se A dama das camélias, Lorenzaccio e melodramas de Sardou - Fédora, Théodora e A Tosca.

BRECHT, Bertolt (1898-1956).
Poeta, diretor, teórico e dramaturgo alemão, foi uma das personalidades que mais influenciaram o teatro no século XX. Entre 1920 e 1923, escreve suas primeiras peças: Tambores na noite, Na selva das cidades e A vida de Eduardo II. Em 1924, vai para Berlim e trabalha como assistente de Reinhardt no Deutsches Theater. A partir desta época, suas obras se afastam progressivamente do expressionismo (já em decadência) e Brecht começa a elaborar as fórmulas do teatro épico, assim como aumenta seu interesse pelo teatro popular, sobretudo em função das atuações do cômico Karl Valentin. A partir de 1933, Brecht vive no exílio (Dinamarca, Estados Unidos, Suíça), onde escreve peças antifascistas - Os fuzis da Senhora Carrar e Terror e Miséria do III Reich - e alguns de seus textos mais significativos, como A Vida de Galileu, Mãe Coragem, A Alma Boa de Setsuan, O Senhor Puntila e Seu Criado Matti, A Resistível Ascenção de Arturo Ui e O Círculo de Giz Caucasiano. Em 1948, volta à Alemanha e assume a direção do Berliner Ensemble, pondo em prática suas idéias teóricas sobre o teatro.

BROOK, Peter (1925.)
Diretor inglês, iniciou sua carreira teatral nos anos 40. Dirigiu de forma brilhante obras de Shakespeare, com atores como Paul Scofield, Laurence Olivier e Vivien Leigh. Em 1962, é nomeado co-diretor da Royal Shakespeare Company, onde encena, entre outras, Rei Lear, Sonho de Uma Noite de Verão, Marat/Sade e Os Biombos. Em 1970, vai para Paris, onde cria o Centro Internacional de Pesquisas Teatrais, a partir de 1974 instalado no teatro Bouffes du Nord. Reunindo atores e colaboradores de várias nacionalidades, Brook encena espetáculos de investigação coletiva, como Os Iks, A Conferência dosPpássaros, Carmen, O Mahabharata e A Tempestade.

BÜCHNER, Georg (1813-1837).
Autor dramático alemão, a personalidade de maior destaque da passagem do romantismo ao realismo. Estudou medicina e teve contado com grupos revolucionários alemães. Perseguido por participar dos levantes fracassados de Hessen e por ter escrito um panfleto político - O Emissário de Hessen - teve que refugiar-se primeiro em Estrasburgo e depois em Zurique, onde morreu aos 24 anos. Em seus dramas, rompe com a tradição clássica (Goethe e Schiller) e antecipa elementos naturalistas e expressionistas, valendo-se de uma linguagem extremamente poética. Suas obras mais conhecidas são A Morte de Danton, Woyseck e a comédia Leonce e Lena.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 158)

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- C -


CALDERÓN de la BARCA, Pedro (1600-1681)
Autor dramático espanhol, expoente do teatro barroco. Formado em teologia pela Universidade de Salamanca, foi o dramaturgo favorito da corte de Felipe IV. Tornou-se sacerdote e foi capelão do rei. Sucessor de Lope de Vega, aprofundou temas e técnicas do teatro lopista, criando um outro de técnica e enfoque novos, cujas principais características são a reflexão, a fusão de drama e poesia, a perfeição estrutural e uma cenografia espetacular. Calderón gozou de grande popularidade até o século XVIII, quando a crítica neoclássica começou a se opor ao seu teatro, o que determinou até mesmo a proibição de se montar seus Autos Sacramentais. Seus textos mais conhecidos - e até hoje muito representados - são A Vida é Sonho (sua melhor obra), O Mágico Prodigioso e O Grande Teatro do Mundo.

CAMUS, Albert (1913-1960)
Novelista, filósofo, autor e diretor francês. Nascido na Argélia, formou em 1935 o grupo Théâtre du Travail (mais tarde Théâtre de L’Equipe), com o qual excursionou por toda a Argélia. Morando em Paris a partir de 1940, colaborou no jornal Combat, orgão da Resistência. Assim como o de Sartre, seu teatro prioriza as idéias, tendo por base a filosofia do Absurdo, exposta no ensaio O Mito de Sísifo. Seus principais textos são O Equívoco, Calígula, O Estado de Sítio (inspirada em sua novela A Peste) e Os Justos.

CERVANTES, Miguel de (1547-1616)
Novelista e autor dramático espanhol. Em seus melhores momentos, o teatro de Cervantes prioriza o drama de caracteres e paixões, deixando em segundo plano a intriga e a ação, estas últimas primordiais no teatro de Lope de Vega. De sua primeira fase, sua obra mais significativa é Numancia, considerada a melhor tragédia espanhola do século XVI e uma das mais importantes do teatro espanhol. Da etapa posterior, as peças mais conhecidas são O Retábulo das Maravilhas e A Cova de Salamanca.

COCTEAU, Jean (1889-1963)
Poeta, novelista, cineasta, pintor e autor dramático francês. Personalidade brilhante, participou ativamente dos movimentos vanguardistas de sua época. Concebeu balés (Parade, O Trem Azul ), realizou filmes (O Sangue de um Poeta, A Bela e a Fera, Orfeu), escreveu dramas adaptando mitos clássicos (Édipo Rei, Antígona) e peças de bulevar (Os Monstros Sagrados, A Máquina de Escrever, Os Pais Terríveis). Seu maior êxito teatral foi A Voz Humana.

COPEAU, Jacques (1879-1949)
Homem de teatro francês, foi um dos piomeiros do teatro moderno, mestre de várias gerações de diretores teatrais (Dullin, Jouvet, Barrault e Villar, entre outros). Estudou letras, foi crítico de arte e co-fundador com André Gide da Nouvelle Revue Française. Em 1913 criou o Théâtre du Vieux Colombier, fechado em 1914 com o início da Primeira Guerra Mundial. Reaberto em 1920, o teatro abrigou a Escola Profissional do Vieux Colombier, de importância capital para o teatro francês moderno. A palavra e o ator a serviço da obra literária são os dois pilares do teatro de Copeau, que sempre rechaçou o naturalismo de Antoine e o simbolismo. Dentre suas principais montagens constam Os Caprichos de Mariana (Musset), O Misantropo (Molière), Tio Vânia (Tchecov) e Mirandolina (Goldoni).

CORNEILLE, Pierre (1606-1684)
Autor dramático francês, um dos grandes nomes do teatro clássico francês do século XVII - ao lado de Molière e Racine. Estudou leis e trabalhou como magistrado em Rouen. Suas primeiras comédias chamaram a atenção do cardel Richelieu, que o contratou para integrar uma equipe de vários autores - mas esta relação durou pouco, pois as idéias criativas do autor acabaram desagradando o cardeal. Suas principais obras são a tragicomédia O Cid - obra fundamental do teatro clássico francês - e as tragédias Horácio, Cinna e A morte de Pompeu, cabendo também destacar a comédia O Mentiroso.

CRAIG, Edward Gordon (1872-1966)
Diretor e cenógrafo inglês. Começou como ator e sua primeira direção, em 1900, foi Dido e Eneas, ópera de Purcell. Trabalhou relativamente pouco no teatro profissional, podendo ser citadas as montagens A Máscara do Amor, Muito Barulho Por Nada, Rosmersholm e Hamlet, mas suas idéias exerceram grande influência. Como Appia, era partidário de um teatro antinaturalista, simbólico e de atmosfera, combatendo a reprodução fotográfica da realidade. Deu grande importância à iluminação e à cor. Em seu livro teórico Sobre a Arte do Teatro (1911), expõe seu conceito de teatro como uma obra arte total, em que devem fundir-se “ação, palavras, línhas, cores e ritmos”. Para Craig, o elemento literário, a palavra escrita não é mais do que um dos elementos do teatro e não o elemento-chave. A essência do dramático residiria na ação e por isto suas montagens dão grande importância ao movimento, à dança e à mímica. Ainda como Appia, Craig ressalta o papel dominante do diretor, em sua opinião o único capaz de conferir unidade a todos os elementos que integram o fenômeno teatral. O diretor “perfeito”, segundo Craig, teria não só que interpretar a obra literária e dirigir os atores como também criar a iluminação e a cenografia.

COQUELIN, Constant Benoît (1841-1909)
Ator francês da Comédie Française (onde entrou aos 19 anos), ali brilhou em comédias clássicas como Fígaro e O Doente Imaginário, entre muitas outras. Abandonou a Comédie em 1892 e se instalou no Théâtre de la Porte Saint Martin, em cujo palco deu vida a seu mais famoso personagem: Cyrano de Bergerac, de Rostand. Suas teorias sobre interpretação podem ser conferidas no volume A Arte e o Comediante, escrito em 1880, e que influenciaram muito o teatro francês posterior.
(Artigo publicado na Revista Cadernos de teatro nº 159)

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- D -

DE FILLIPPO, Eduardo (1900-1984)
Ator, diretor e autor dramático italiano, renovador do teatro popular napolitano em sua primeira etapa criativa, anterior a 1945. Com seus irmãos Titina e Peppino formou uma companhia baseada nos princípios da commedia dell’arte, apresentando obras a partir de problemas do cotidiano (Natal em Casa, Todos Unidos Cantaremos etc.) Depois da 2ª Guerra Mundial, De Fillippo aderiu à corrente neorealista e obteve grande êxito com Nápoles Milionária (1945) e Filumena Marturano (1946), entre outras. Sempre incorporando aos seus espetáculos aspectos do folclore napolitano (músicas e temas), a partir de 1964 De Fillippo se junta a Paolo Grassi na direção do Teatro São Ferdinando, em Nápoles, teatro popular que representa tanto autores locais como os clássicos.

DORST, Tankred (1925)
Autor dramático alemão. Estudou letras e fundou um teatro de marionetes em Munique. Suas peças, de forte cunho social, têm algum parentesco com o realismo irônico e algo grotesco de Dürrenmatt, especialmente em suas obras em um ato - A Curva (1960), Liberdade para Clemens (1960), Grande Discurso Difamatório Diante da Muralha (1961) etc. Em Toller (1969), sua melhor obra, utiliza os mecanismos do teatro-documento para analisar a criação e dissolução da república dos “soviets” de Munique, na qual desempenhou um papel preponderante o escritor expressionista Ernst Toller (1893-1939). Dentre suas peças mais conhecidas estão Merlin, O Jardim Proibido e Época Glacial.

DULLIN, Charles (1885-1949)
Ator e diretor francês, é considerado um dos fundadores da moderna escola de direção. Iniciou sua carreira como ator no Vieux Colombier, de Jacques Copeau, cujas idéias desenvolveu em seu próprio teatro, o Théâtre de l’Atelier (1922) e na sua escola de atores, fundada em parceria com Gémier. Do verdadeiro laboratório que era o l’Atelier sairam destacadas personalidades, como Barrault, Jean Marais, Villar, Marcel Marceau etc. Assim como Copeau, Dullin propunha um teatro puro, sem retórica e excessos cenográficos. Em suas montagens, mesclou os métodos de interiorização de Stanislavski, mímica e preocupações formais de Copeau. Além dos grandes autores clássicos de comédia franceses, Dullin encenou Aristófanes (As Aves, A Paz) e Shakespeare (Ricardo III, Julio Cesar), assim como apoiou o jovem Salacrou e introduziu Pirandello na França.

DUMAS, Alexandre, pai (1802-1870)
Novelista e autor dramático francês, um dos expoentes do romantismo francês. Filho de um general da Revolução e admirador de Walter Scott e Shakespeare, obteve êxito fulminante com o drama histórico Henrique III e sua Corte (1829), primeiro drama romântico francês. A este seguiram-se outros triunfos, como Antony (retrato do herói romântico em luta contra a sociedade), Kean (sobre o genial ator inglês) e numerosos dramas históricos e melodramas, que lhe facultaram uma legião de admiradores e uma grande fortuna, que dilapidou com a mesma euforia com que a conquistara. Lutou em 1860 pela independência da Itália e viveu quatro anos em Nápoles. Ficaram famosas as adaptações dramáticas de suas novelas O Conde de Montecristo (1848) e Os Três Mosqueteiros (1849). Morreu esquecido, desbancado pelas correntes realistas.

DUMAS, Alexandre, filho (1824-1895)
Autor dramático francês, filho do romancista Alexandre Dumas (pai). Obteve um dos maiores sucessos do teatro francês da segunda metade do século XIX com a dramatização de sua novela A Dama das Camélias (1852). A história romântica da cortesã arrependida foi sua única incursão no drama romântico. Abordou temas sociais (A Questão do Dinheiro e A Estrangeira), defendeu os direitos da mulher e dos filhos naturais (O Filho Natural e Um Pai Pródigo) e criticou o mundo boêmio-artístico em Le Demi-Monde.

DURAS, Marguerite (1914)
Novelista, roteirista e autora francesa, nascida na Indochina. Chegou ao teatro através do cinema, graças ao roteiro de Hiroshima, meu amor, célebre filme de Alain Resnais. Suas obras dramáticas se caracterizam por diálogos enganosamente superficiais e sem objetivo, mas na realidade carregados de profundo sentido, num estilo semelhante ao de Pinter, talvez com um pouco menos de dureza e crueldade. Suas obras mais conhecidas são A Praça, A Barreira Contra o Pacífico e Dias Inteiros nas Árvores, esta última levada à cena por Barrault no Théâtre Odeón, de Paris. Nos anos 70, dedicou-se sobretudo a escrever roteiros, sendo Cinema Éden e O Navio Noturno suas últimas peças, dirigidas por Claude Régy.

DÜRRENMATT, Friedrich (1921-1990)
Autor dramático suíço, de língua alemã. Filho de um pastor protestante, estudou filosofia e teologia, tendo começado sua carreira artística como ilustrador e crítico teatral. Como dramaturgo, assimilou as inovações vanguardistas dos anos 20 - expressionismo, Brecht - e sempre admitiu ter sido profundamente influenciado por Aristófanes e Wedekind. Já em suas primeiras peças - Está Escrito e Rômulo, o Grande - demonstrou ser um dos autores de maior talento do teatro moderno. Em sua peça mais famosa, A Visita da Velha Senhora, atinge o que poderíamos chamar de seu estilo, uma mescla de sátira macabra, humor cínico, sarcasmo com elementos surrealistas e um pano de fundo moralizador. Seus principais objetivos sempre foram os de demonstrar a riqueza e multiplicidade do mundo, a fragilidade dos ídolos burgueses e a duplicidade latente das relações do homem com o mundo. Outro texto de Dürrenmatt muito representado é Os Físicos.

DUSE, Eleonora (1858-1924)
Atriz italiana, foi uma das maiores intérpretes do teatro mundial, ao lado de Sarah Bernhardt (sua rival). Filha de atores, obteve seus primeiros êxitos na companhia do grande ator italiano Ernesto Rossi (1827-1896), triunfando nas obras sentimentais e românticas de Dumas, Sardou, Giacosa e Praga. Atriz extremamente sensível, ficou famosa por sua expressividade nervosa, a plasticidade de sua voz e intensidade de suas interpretações, que impressionaram a Tchecov quando a atriz representou em Moscou, em 1881. Seu encontro com D’Annunzio, cujas obras estreiou apesar de críticas adversas - A Gioconda, A Cidade Morta, Glória e Francesca de Rimini - foi decisivo para sua carreira. Foi a intérprete predileta de Ibsen, tendo atuado em Hedda Gabler, Casa de Bonecas, Rosmersholm (direção de Craig) e A dama do Mar.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 160)

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- E -

ÉSQUILO (525-456 a.C)
Autor dramático grego. Nasceu em Eleusis, perto de Atenas, e combateu os persas na batalha de Maratona. Escreveu 90 tragédias, das quais se conhecem 79 e se conservam sete, com destaque para As suplicantes, Os persas, Os sete contra Tebas, Prometeu Acorrentado e Agamenon. Foi um dos grandes autores trágicos da época clássica ateniense. Consolidou as formas dramáticas tradicionais e introduziu várias inovações importantes. A tragédia anterior, representada por um côro, bailarinos e um só ator, deveria ser fundamentalmente lírica. Ao introduzir um segundo ator, Esquilo conferiu à parte histriônica a mesma importância que à parte lírica ou coral. E converteu o oratório em drama. Em suas últimas obras adotou o terceiro ator introduzido por Sófocles. Outras de suas inovações foram a redução do côro e o uso sistemático da trilogia. Nas competições que ocorriam em festas em honra de Dionísio, cada poeta tinha que apresentar três tragédias e uma peça satírica. Esquilo unia com freqüência três tragédias numa trilogia, na qual cada obra formava uma unidade dentro de uma unidade maior. Desta forma, deu ao seu teatro a grandeza que exigia sua ampla concepção e seu poderoso sentido da estrutura dramática.

EURÍPEDES (484-406 a.C.)
Autor dramático grego. Nascido, ao que parece, na ilha ateniense de Salamis. Ao contrário de Ésquilo e Sófocles, seus precursores no terreno da tragédia, não participou muito da vida pública e política de Atenas. Escreveu 92 peças, das quais se conservam 17 tragédias, uma peça satírica (O Cíclope) e numerosos fragmentos. Suas obras se dividem em duas categorias: tragédias - Medéia, Hipólito, As bacantes, As troianas e Hécuba - e dramas, que podem ser definidos como tragicomédias, melodramas, comédias e dramas românticos: Electra, Orestes, Ifigênia em Táuride, As fenícias. Eurípedes foi o primeiro mestre neste tipo de drama não-trágico, do qual derivou a Nueva Comedia do século IV (Menandro). Comparada com os textos de Ésquilo e Sófocles, a tragédia de Eurípedes se interessa mais pelos indivíduos do que pela comunidade, mais pelas paixões - ódio, vingança, amor - do que por questões religiosas ou morais. Eurípedes foi um artista individualista, cético e crítico, precursor do pensamento e arte cosmopolita do Helenismo e de Roma (Sêneca). Utilizou as fórmulas trágicas estabelecidas por Sófocles (três atores, côro reduzido), introduzindo um resumo da história no momento em que se iniciava a ação. O côro era reduzido a ornamento lírico, com pouca conexão com a intriga.

ESPERT, Nuria (1936)
Atriz e diretora espanhola, começou sua carreira em Barcelona no Orfeó Gracienc e no Teatro Romea. Com sua própria companhia protagonizou Gigi e as tragédias de Eugene O’Neill Anna Christie, Desejo sob os olmos e O luto assenta bem em Electra. Participou ativamente no renascimento do teatro em língua catalã e estreou A alma boa de Set-Suan, de Brecht, uma de suas melhores interpretações nos anos 60, juntamente com Entre quatro paredes, de Sartre. Em colaboração com o encenador argentino Victor Garcia criou uma série de espetáculos inovadores, como As criadas (Jean Genet), Yerma (Garcia Lorca) e Divinas palavras (Valle Inclán), com os quais obteve êxito internacional. De 1979 a 1981 dirige - em parceria com José Luis Gómez - o Teatro Dramático Nacional, onde apresenta Dona Rosita, a solteira (Lorca), dirigida por Jorge Lavelli. Sob a direção deste último interpreta o papel de Próspero em A tempestade (Shakespeare), um de seus trabalhos mais marcantes. Com a montagem de A casa de Bernarda Alba, no Lyric Theatre de Londres, Nuria Espert passa à direção. Ultimamente tem dirigido óperas: Madame Butterfly (Puccini), Rigoletto (Verdi) e Carmen (Bizet).

EISENSTEIN, Serguei (1898-1948)
Diretor e cineasta russo. Começou sua carreira como cenógrafo e diretor. Discípulo de Meyerhold, dirigiu o Teatro Proletkult, onde levou ao extremo o teatro de agitação e propaganda - mescla de elementos circenses, de teatro, de feira, música, declamação e agitação política. Entre suas montagens, destacam-se O sábio e O mexicano. Começou a filmar em 1924, produzindo verdadeiras obras-primas, dentre elas O encouraçado Potemkin, Alexander Nevski e Ivan, o terrível.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 161)

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- F -

FASSBINDER, Rainer Werner (1946-1982)
Cineasta, ator, diretor e autor teatral alemão. Estudou interpretação em Munique, onde se une, em 1967, ao grupo Ação Teatral. Com alguns membros desse grupo - Hanna Schygulla, Peer Raben, Kurt Raab - criou o grupo AntiTeatro, com o qual fez seu primeiro filme - O Amor é Mais Frio do que a Morte - e estreiou suas primeiras peças, com destaque para Sangue na Garganta do Gato, Afinal, uma mulher de negócios e As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. Em 1974 assume a direção do Theater an Turm de Franfurt, mas teve que se demitir em função do escândalo provocado por sua peça O Lixo, a Cidade e a Morte, tachada injustamente de antisemita. Através do cinema e em colaboração com um excelente grupo de atores e técnicos, Fassbinder continuou trabalhando seus temas preferidos, como a marginalidade, as relações de exploração (de trabalho, sexual) e o passado nazista. Seu conceito de cinema e, de certo modo, também de teatro culminou com a série televisiva Berlin Alexanderplatz, baseada na novela de Alfred Döblin, concluída pouco antes de sua morte.

FERNÁN GÓMEZ, Fernando (1921)
Ator, diretor e autor espanhol. Inicia sua carreira na companhia de Jardiel Poncela. Alterna teatro e cinema, logo convertendo-se em uma das estrelas mais badaladas dos anos 40-50. Retorna ao teatro como autor e diretor em Com Direito a Fantasma (De Filippo, 1958). Foi aclamado em Meu Querido Farsante (Shaw/Kilty, 1961), uma de suas mais brilhantes interpretações ao lado de Conchita Montes; Sonata Kreutzer (Tolstói, 1962) e O Pensamento (Andreiev, 1963) marcaram o teatro espanhol nos anos 60. Atuou em dezenas de peças, dentre elas em Um Inimigo do Povo (Ibsen) e O Mal Anda Solto (Audiberti). Também escreveu alguns textos de muito sucesso, como As Bicicletas são para o Verão e Olhos de Bosque.

FEYDEAU, George (1862-1921)
Autor francês, mestre do vaudeville, escreveu mais de 60 textos, a maioria obtendo enorme sucesso no teatro de bulevar do fim do século passado. Dentre suas peças encenadas no Brasil, ao menos duas fizeram brilhante carreira: A Dama do Maxim’s e O Marido vai à Caça.

FINNEY, Albert (1936)
Ator inglês. Começou sua carreira na Birmingham Repertory Company (1956) e obteve seus primeiros êxitos no Royal Court Theatre com Billy Liar (Willis Hall, 1960) e Luther (Osborne, 1961), convertendo-se com os filmes Saturday Night, Sunday Morning (Reisz, 1960) e Tom Jones (Richardson, 1963) num dos atores emblemáticos dos anos 60. Dentre seus muitos sucessos como ator teatral destacam-se Senhorita Júlia (Strindberg, 1966), Cromwell (David Storey, 1973), Hamlet e Macbeth (Shakespeare), O Jardim das Cerejeiras (Tchecov).

FO, Dario (1926)
Ator, diretor e autor italiano. Começa nos anos 50 com monólogos cômicos e satíricos, que interpreta no rádio e logo no teatro ao lado de sua mulher, a atriz Franca Rame. Juntos escrevem e interpretam farsas populares sobre temas importantes da atualidade, o que os converte em figuras muito populares não apenas em Milão, sua cidade natal, mas também em toda a Itália. Nos anos 60, Dario Fo exibe suas próprias comédias com sua companhia, mas em 1968, “farto de ser o bufão da burguesia” - como afirmou - cria o grupo Nova Cena, com o qual atua para um público popular e proletário. Mistério Bufo (1969), um mistério medieval sobre o domínio clerical e o imperialismo cultural, lhe dá fama internacional. Mas Fo deseja ir ainda mais longe com seu teatro de denúncia e ação política. Funda, então, o grupo La Comune, que intervém em lutas operárias locais com textos circunstanciais, sempre críticos e mobilizadores. Em 1978, em função de um atentado neofascista, La Comune é substituída por uma cooperativa.

FORD, John (1586-1640)
Autor dramático inglês do teatro elisabetano em sua última fase. Começou como colaborador de Dekker e Webster. Em suas tragédias se fundem a força sombria de Webster, o romantismo de Flechter e a mecânica dos primeiros dramaturgos elisabetanos. Seus temas centrais são a frustração amorosa, o sofrimento, as paixões violentas, adúlteras e incestuosas. Uma de suas peças, Tis Pity She’s a Whore, foi encenada com sucesso por Visconti, em Paris, em 1961.

FRISCH, Max (1911-1991)
Autor dramático e novelista suíço, de língua alemã. Estudou arquitetura e trabalhou como arquiteto antes de dedicar-se por completo às letras. Influenciado formalmente por Brecht, assimila as técnicas vanguardistas do teatro dos anos 20 (Piscator), sem no entanto seguir sua temática. Seus dramas se caracterizam por uma construção aberta, distanciadora e anti-ilusionista, com preferência pela farsa, a moralidade e o grotesco (A Muralha da China, 1946, e Biedermann e os Incendiários, 1958). Frisch coloca os problemas de um ponto de vista humanista, anti-ideológico, analisando a crise espiritual de seu tempo, as contradições e ambigüidades da existência humana. Um de seus temas centrais é a identidade do homem e sua revolta contra o mundo que o aliena, presentes nas obras Dom Juan ou o Amor à Geometria (1953) e Andorra (1961). A partir dos anos 70-80, o autor se dedica sobretudo a escrever contos e novelas.

FUENTES, Carlos (1928)
Novelista e autor dramático mexicano. Um dos mais destacados representantes da nova narrativa sul-americana (A Morte de Artemio Cruz, Troca de Pele, entre outras obras). Também escreveu para o teatro, podendo ser citadas as peças O Torto é Rei - protagonizada por Maria Cazares em 1971 -, Todos os Gatos são Pardos (sobre a conquista do México) e Orquídeas à Luz da Lua, levada à cena no Centro Dramático Nacional de Madrid, em 1988.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Tatro nº 162)

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- H -

HALL, Peter (1930)
Diretor inglês. Começou a chamar a atenção em 1955, quando encenou uma discutida versão de Esperando Godot, de Beckett. Em Stratford dirigiu várias peças de Shakespeare, dentre elas Noite de reis e Sonho de uma noite de verão. Diretor artístico da Royal Shakespeare Company de 1961 a 1968, criou o centro londrino da companhia no Aldwych Theatre e deu uma linha atual ao seu repertório clássico e moderno. Com a Royal encenou, dentre outros espetáculos, A guerra das rosas (ciclo de dramas históricos shakespearianos), Hamlet (Shakespeare), O inspetor geral (Gogol). Em 1969, deixa Royal e, após breve período à frente da Ópera do Covent Garden, assume a direção do novo National Theatre, com sede no Old Vic. Para este grupo dirige, entre outros, Otelo e Macbeth (Shakespeare) e O jardim das cerejeiras (Tchecov). A partir de 1987, passa a dirigir sua própria companhia.

HANDKE, Peter (1942)
Autor dramático austríaco. Desde sua primeira obra, Afronta ao público, investiga várias modalidades de linguagem, fazendo delas o principal conteúdo de seu teatro. Dentre suas peças mais conhecidas constam Profecia, Kaspar, O pupilo que quer ser tutor, A cavalo sobre o lago de Constanza.

HAVEL, Vaclav (1936)
Dramaturgo tcheco. Estreou com A festa no jardim (1963), seguindo-se A notificação e Dificuldade crescente de concentração, ambas expressando sua própria visão do Teatro do Absurdo. Sua participação na Primavera de Praga e sua atividade dissidente o levam à prisão (1979-1982) e à proibição de publicação e montagem de suas obras. Suas comédias estréiam no estrangeiro - Audiência, Vernissage e Tentação. Em 1990, é eleito presidente da então República da Tchecoslováquia.

HELMAN, Lilian (1905-1984)
Autora dramática norte-americana. Escreveu dentro de uma linha de realismo psicológico e de crítica social. Dentre suas obras mais conhecidas destacam-se A hora das crianças - virulento ataque à hipocrisia e crueldade da sociedade puritana da província -, Pequenos zorros (encenada pelo Group Theatre) e sua continuação, A outra parte do bosque - crônica da ruína do Sul após a Guerra da Secessão.

HERNÁNDEZ, Miguel (1910-1942)
Poeta espanhol de origem camponesa, autodidata, uma das figuras mais significativas da moderna poesia espanhola. Escreveu quatro obras dramáticas: Quem te viu e quem te vê e a sombra do que eras, auto sacramental em verso, de qualidade desigual; Os filhos da pedra e O lavrador garboso, dramas sociais inspirados em Lope de Vega, que expressam de forma radical o antagonismo entre patrão e empregado; e Pastor da morte, texto que exalta os defensores de Madri. Preso pelos fascistas em 1939, morreu no cárcere de Alicante.

HUGO, Victor (1802-1885)
Poeta, novelista e autor dramático francês. Liderou o movimento romântico na França, cujos objetivos formulou no prefácio de Cromwell, seu primeiro drama, publicado em 1827. Partidário do drama em verso, da liberdade frente às regras clássicas, provocou um grande escândalo com a estréia do drama histórico Hernani (1830) na Comédie Française. Daí em diante, o drama romântico passou a seduzir os franceses, graças ao seu estilo grandioso, seus sentimentos desordenados e temas históricos. Outras obras muito conhecidas do autor: O rei se diverte, Lucrécia Bórgia, Marie Tudor e principalmente Ruy Blas, protótipo do herói romântico francês.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 164)

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- I -

IBSEN, Henrik (1828-1906)
Autor dramático norueguês, maior representante do teatro naturalista, considerado o pai do teatro moderno. De 1851 a 1856 dirigiu o teatro de Bergen, onde testou a eficácia de algumas de suas obras. A primeira etapa de sua produção artística revela a influência do movimento romântico norueguês, com temas procedentes das lendas e da história de seu país - dentre outras, Catilina, A noite de São João, Os guerreiros em Helgoland. Logo em seguida, uma bolsa do Estado permitiu a Ibsen dedicar-se por completo a seu trabalho criador, levando-o a viajar para Roma, onde escreveu seus grandes dramas simbólico-filosóficos em versos - Brand e Peer Gynt - que não obtiveram maior repercussão, entre outras coisas pelas enormes dificuldades que impunham para serem encenados.
Imperador e Galileu, drama histórico, marca a transição para o drama social burguês, característico de sua terceira etapa. Nela destacam-se Os pilares da sociedade, Casa de bonecas, Espectros, O pato selvagem, Romersholm, Hedda Gabler, Um inimigo do povo. Apoiado em uma sólida estrutura dramática (a peça bem feita), assimilada de alguns autores franceses (Sardou, Scribe), e no drama de idéias naturalistas, Ibsen descreve e faz uma crítica implacável da sociedade de sua época. Seus principais temas são o desmascaramento do ideal burguês, a relação entre casamento e amor, o conflito de gerações, a situação da mulher na sociedade burguesa etc. Em seus últimos dramas - A mulher do mar, O pequeno Eyolf, John Gabriel Borkman e Quando nós, os mortos, despertarmos - Ibsen retorna ao mundo simbólico e poético de Brand e Peer Gynt.

IONESCO, Eugène (1912-1994)
Autor dramático romeno-francês. Passou a infância em Paris e a juventude na Romênia. Dedicou-se ao teatro após uma etapa como escritor e ensaísta em Paris. Considerado um dos principais representantes do Teatro do Absurdo, converteu-se, depois de uma fase inicial de não-aceitação pelo público, em um dos autores mais representados em todo o mundo. Valendo-se de meios e experimentos do dadaismo e do surrealismo, iniciou sua carreira com uma série de peças em 1 ato - A cantora careca, A lição, As cadeiras, Vítimas do dever, Jacques ou a submissão -, que surpreenderam por sua irrealidade, obsessão e humor grotesco.
A esta primeira fase mais experimental pertencem a peça em três atos Amadeu e os textos curtos O quadro, O novo inquilino, O improviso da alma. Com Assassino sem recompensa inicia uma segunda fase criadora, em que afirma sua posição antirealista e crítica, afora sua visão absurda da existência. Desse período constam, entre outras, O rei morre e uma de suas obras mais conhecidas, O rinoceronte.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 166)

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- J -

JARRY, Alfred (1873-1907)
Poeta, novelista e dramaturgo francês, muito influenciado pelo simbolismo de Mallarmé, Verlaine e Rimbaud. Seu espírito lúdico, humor negro e gosto por extravagâncias idiomáticas o converteram em precursor dos surrealistas. O maior êxito de Jarry foi Ubu rei, caricatura cruel e grotesca do burguês, encenada pela primeira vez por Lugné-Poe no Théâtre de l’Ouvre. A cenografia levava a assinatura do próprio Jarry em parceria com Pier Bonnard, Toulouse-Lautrec e outros pintores. A crítica da sociedade burguesa, a liberdade rabelesiana da linguagem e o caráter inusitado da obra, concebida inicialmente para marionetes, gerou um escândalo tão grande que o espetáculo foi retirado de cartaz no segundo dia. Ubu rei influenciou profundamente todo o movimento teatral posterior. A visão grotesca e excêntrica da realidade também estão presentes nas novelas Le surmâle e Gestes et opinions du Dr. Faustroll, onde Jarry expõe suas teorias sobre a “Patafísica ou ciência das soluções imaginárias”, raiz do Teatro do Absurdo.

JONSON, Ben (1572-1637)
Autor dramático inglês, contemporâneo de Shakespeare , foi um dos mais significativos dramaturgos do teatro elisabetano. Admirador dos autores clássicos, especialmente latinos, escreveu comédias (Volpone, The staple of news, The alchemist, Bartholomew fair, The devil is an ass) e tragédias (Sejanus e Catiline). Nestas últimas, de forte veia moralista, o autor critica os aspectos negativos dos ideais individualistas do Renascimento: a ambição do poder, de riqueza etc. Seu conceito moralista e clássico da comédia está presente, sobretudo, em suas obras-primas Volpone e The alchemist, nas quais evidencia grande sensibilidade para perceber os problemas de sua época e os gostos do público, que se viam refletidos num tipo de teatro eminentemente popular.

JOUVET, Louis (1887-1951)
Ator e diretor francês, uma das personalidades mais importantes do teatro entre as duas grandes guerras. Discípulo de Copeau, o acompanhou aos Estados Unidos como ator e diretor. Em 1922 criou sua própria companhia - Comédie des Champs Elysées - e obteve grande êxito com Knock. A maior influência sobre sua concepção de teatro veio de sua colaboração com Giradoux, de quem dirigiu todas as obras. Seu estilo controlado, reduzido ao essencial, era sublinhado por uma cenografia estilizada. Também dirigiu, sempre com sucesso, inúmeros textos de Molière, como Don Juan e Tartufo.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 167)

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- L -

LABICHE, Eugène (1815-1888)
Autor dramático francês, mestre da comédia de boulevard. Escreveu mais de 100 farsas, algumas em parceria, nas quais ataca com bom humor as fraquezas humanas. Seus textos mais conhecidos são Um chapéu de palha da Itália e A viagem do Sr. Perrichon.

LANG, Jack (1939)
Diretor francês, fundou o Festival Mundial de Teatro de Nacy, que durante 20 anos (1963-1983) contribui decisivamente para divulgar trabalhos de pesquisa teatral, feitos por grupos como o Bread and Puppet Theater (americano) e o Arena, do Brasil. Desde 1972, Lang dirige o novo Teatro Nacional de Chaillot (antigo TNP), em Paris, em parceria com Antoine Vitez. Em 1981 assume o Ministério da Cultura, promovendo a descentralização teatral, criando centros dramáticos nacionais, renovando a Comédie Française e estimulando as companhias independentes.

LAUGTHON, Charles (1900-1963)
Ator inglês, estreou em 1926 em O inspetor geral, de Gogol. Foi membro do Old Vic nos anos de 1933-34, onde obteve grande êxito interpretando Lopákin, personagem de O jardim das Cerejeiras, de Tchecov. Atuou também em várias peças de Shakespeare, dentre elas Enrique VIII, A tempestade e Macbeth. A partir de 1936 passou a atuar mais no cinema, ainda que retornasse aos palcos algumas vezes, tendo sido marcante sua participação em Galileu, Galilei, de Brecht, direção de Joseph Losey.

LAVELLI, Jorge (1932)
Diretor argentino radicado na França. Começou como ator em seu país e mais adiante fez cursos de interpretação na França com Jacques Lecoq. Encenador extremamente criativo e arrojado, encenou espetáculos de grande repercussão, como O casamento (Gombrowicz, 1963) e Piquenique no front (Arrabal, 1965), sendo que sua parceria com a atriz espanhola Nuria Espert rendeu montagens espetaculares, como Dona Rosita, a solteira (Lorca) e A tempestade (Shakespeare).
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 169)

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- M -

A letra “M” é pródiga no tocante a nomes expressivos da história do teatro. Por questões de espaço, selecionamos os oito que se seguem, mas destacamos a enorme contribuição de ilustres ausentes, como Marcel Marceau, Pierre Carlet de Chamblain de Marivaux, Adolfo Marsillach, Somerset Maugham, François Mauriac, Ariane Mnouchkine, Slawomir Mrozek, Heiner Müller, Robert Musil, Alfred de Musset e Vladimir Mayakovski.

MENANDRO (342-291 a.de C.)
Autor dramático grego, principal representante da Nova Comédia. Muito famoso na Antigüidade, foi imitado por Plauto e Terêncio. Escreveu 98 comédias, das quais se conservam Dyskolos e fragmentos de Heros, Samia, Epitrepontes e Perikeiromene. A comédia de Menandro difere consideravelmente da Comédia Antiga de Aristófanes, graças à sua exuberância satírica e burlesca, e também ao seu conteúdo político. Suas obras exibem elegância de composição e estilo, dando preferência a temas individuais - problemas familiares e amorosos, reencontros românticos etc. - e tendo como pano de fundo a vida urbana burguesa. O coro ocupa um lugar bastante secundário na ação, já que praticamente se resume a unir os atos com música e danças.

MAQUIAVEL, Niccolo (1469-1527)
Escritor italiano, Maquiavel foi uma das personalidades mais marcantes do Renascimento. De formação humanista, escreveu obras político-históricas (O príncipe, 1532) e várias peças, entre elas A mandrágora (1513), considerada a comédia italiana mais importante do século XVI, tanto pela originalidade temática (que não segue nenhum modelo) como pela elegância dos diálogos, que possibilitam uma visão amarga e crítica dos costumes e vícios da época.

MARLOWE, Christopher (1564-1593)
Dramaturgo inglês do período elisabetano, é considerado o autor mais importante antes de Shakespeare. Filho de um sapateiro, foi bolsista em Cambridge e pertenceu ao círculo dos chamados “Talentos universitários”, que se impuseram no cenário teatral inglês a partir de 1590. Escreveu numa linguagem dinâmica, repleta de imagens, e suas tragégias são centradas em personagens titânicos e ambiciosos, que refletiam a sociedade em crise de sua época. Suas principais obras são: Tamburlaine the great, Tha tragical history of Dr. Faustus (primeira dramatização do tema), The jew of Malta (personagem que antecipa Shylock), Dido queen of Carthage e The massacre at Paris (ambas em colaboração com Nashe) e o drama histórico Edward II, sua peça mais madura, que recebeu nova versão de Brecht. Marlowe morreu assassinado numa briga, aos 29 anos.

MOLIÈRE, Jean-Baptiste (Poquelin) (1622-1673)
Expoente do teatro clássico francês do século XVII, ao lado de Corneille e Racine. Filho de um rico tapeceiro parisiense, freqüentou o colégio jesuíta de Clermont e começou a estudar Leis. Mas abandonou família e estudos ao se apaixonar pela atriz Madeleine Béjart, unindo-se à companhia dos Béjart, com a qual excursionou por várias províncias (1643-1658), adquirindo valiosa experiência como ator e autor. Já em Paris, e depois de amargar um fracasso como autor trágico, envereda para a comédia, produzindo inúmeras obras-primas, dentre elas O misantropo, O avarento, O doente imaginário, O burguês fidalgo, Tartufo, Dom Juan, A escola de mulheres e As artimanhas de Scapino. Ao longo de sua carreira, Molière sofreu muitos ataques, tendo sido acusado de imoralidade e irreligiosidade (A escola de mulheres) e perseguido por falsos devotos (Tartufo), sendo que muitos chegaram a sugerir que deveria ser queimado na fogueira como herege, o que não aconteceu graças à constante proteção do monarca Luís XIV, profundo admirador do autor.

MEYERHOLD, Vsevolod (1874-1942)
Diretor e ator russo, figura central do movimento Outubro teatral. Freqüentou a Escola de Arte Dramática de Nemirovich-Danchenko. Quando o Teatro de Arte de Moscou foi fundado, integrou-se à companhia, destacando-se como intérprete, especialmente como o Treplev de A gaivota. Em 1902, separou-se de Stanislavski e fundou sua própria companhia, quando começou a pôr em prática suas concepções antinaturalistas. Com o advento da Revolução de 1817, coloca-se à disposição do novo governo, realizando espetáculos para grandes platéias. Ao mesmo tempo, aprimorava a biomecânica, estilo por ele criado que combinava música e pantomima. Mais adiante, começou a se afastar do “teatro oficial”, introduzindo em seus espetáculos elementos psicológicos e de crítica social. Em 1939, foi preso em função de um discurso em que atacava o realismo socialista, tendo falecido em ciscunstância até hoje não esclarecidas.

MAETERLINCK, Maurice (1862-1948)
Poeta, filósofo e dramaturgo belga, de língua francesa, foi destacada figura dos movimento simbolista, ao qual se uniu em Paris, em 1876. Muito jovem se tornou famoso com seu primeiro drama, A princesa Maleine (1889) e por seus ensaios filosóficos. Colaborou com o Théâtre D’Art e em seguida com o Théâtre de L’Ouvre. A atmosfera, a poesia e o silêncio oculto nas palavras estão na essência de seus dramas líricos, nos quais a ação tem um papel secundário. Considerado precursor do surrealismo e do Teatro do Absurdo, Maeterlinck escreveu muitas peças, sendo as mais famosas e representadas Os cegos, A intrusa, Pélléas e Melisande (que Debussy converteu em ópera) e O pássaro azul, tendo esta última sido levada à cena pela primeira vez no Teatro de Arte de Moscou, em 1908, com direção de Stanislavski.

MILLER, Arthur (1915)
Autor dramático, é considerado o representante mais destacado do realismo psicológico norte-americano dos anos 40 e 50. Filho de um imigrante austríaco, escreveu suas primeiras peças ainda na universidade. Seu primeiro êxito, Todos os meus filhos (1947), um drama familiar, revela nítida influência de Ibsen. Escreveu obras memoráveis, dentre as quais se destacam A morte do caixeiro viajante, As bruxas de Salém, Panorama visto da ponte e Depois da queda.

MAMET, David (1947)
Dramaturgo e cineasta norte-americano. Suas primeiras peças - Lakeboat e Duck variations (1970) - revelam a influência de Albee e exibem bons diálogos em linguagem coloquial. Com Perversidade sexual em Chicago ganha o Jefferson Award em 1974 e três anos depois conquista a Broadway com American Buffalo. Esta última, protagonizada por Al Pacino em 1980 e apresentada no National Theatre de Londres, confere uma projeção internacional ao autor. Após o relativo fracasso de Edmond (1982) - um drama com atmosfera expressionista - obtém grande triunfo com Glengarry Glenn Ross (1983), uma implacável sátira da atividade imobiliária. Uma de suas obras mais recentes, Oleanna (1992), que tem como tema a luta entre gerações e sexos, é consagrada em todo o mundo. Como cineasta, Mamet fez sua estréia com uma obra-prima, A casa dos jogos (1985).
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 170)

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- N -

NEMIROVICH-DANCHENKO, Vladimir (1858-1943)
De nacionalidade russa, escreveu novelas e comédias ligeiras. Dirigiu a Escola Dramática da Sociedade Filarmônica de Moscou até conhecer Stanislavski, com quem fundou, em 1897, o Teatro de Arte de Moscou, baseado no naturalismo. Stanislavski era o responsável pelas montagens e a formação dos atores, cabendo a Danchenko selecionar as obras que seriam encenadas e a organização do centro, muitas vezes atuando como co-diretor. Após a Revolução de 1917, tentou adaptar os métodos do Teatro de Arte de Moscou ao teatro musical e criou um estúdio musical, que a partir de 1926 se chamaria Teatro Nemirovich-Danchenko. Seu principal objetivo era formar atores que não apenas conseguissem dizer bem um texto, mas também cantar, dançar, tocar instrumentos, fazer acrobacias etc. Com a morte de Stanislavski, em 1938, Danchenko assumiu sozinho a direção do Teatro de Arte de Moscou.

NEHER, Caspar (1897-1962)
Cenógrafo alemão, amigo de Brecht (estudaram juntos em Munique, de 1918 a 1922). Neher assinou algumas das cenografias mais expressivas de sua época, podendo ser destacadas as que fez para peças do maior dramaturgo alemão - Na selva das cidades, Baal, Um homem é um homem, A ópera dos três vinténs e O senhor Puntila e seu criado Matti. Também foram marcantes suas participações em A vida de Eduardo II (Marlowe), Coriolano e Hamlet (Shakespeare), e Lulu (Wedekind).

NUNN, Trevor (1940)
Diretor inglês. Estudou em Cambridge e entrou para Royal Shakespeare Company em 1965, dirigindo neste mesmo ano uma montagem memorável de Henrique V, de Shakespeare, com Ian Holm no papel principal. Contribuiu grandemente para definir o estilo da companhia, traduzido em muitos espetáculos de primeira grandeza, como Hedda Gabler (Ibsen), Romeu e Julieta e Macbeth (Shakespeare), O alquimista (Jonson), e Os miseráveis (Victor Hugo).
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 171)

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- O -

OBALDIA, René de (1918)
Novelista e autor dramático francês, inserido no Teatro do Absurdo. Em todas as suas obras o humor e o surrealismo se mesclam, podendo ser destacadas as peças O sátiro do vilarejo, Vento nos ramos de Sassafrás, Pimenta de Cayena, O general desconhecido e O cosmonauta agrícola.

O’CASEY, Sean (1884-1964)
Dramaturgo irlandês. De origem proletária e formação autodidata, começou sua carreira escrevendo dramas realistas de crítica social. A sombra de um homem armado, Juno e o pavão (tragicomédia da guerra civil irlandesa e uma de suas obras mais famosas) e O arado e as estrelas têm como tema central as lutas políticas da época e a vida dos trabalhadores. A taça de prata, tragicomédia pacifista sobre a Primeira Guerra Mundial, marcou uma virada em sua produção ao introduzir elementos expressionistas. Nessa época, o autor foi para Londres, onde escreveu uma série de dramas experimentais com elementos simbólicos e expressionistas, que certamente influenciaram Strindberg. Dentre estes, podemos destacar Roas roxas para mim, Polvo púrpura e Os tambores do pai Ned. Mas em todas as fases de sua carreira, O’Casey escreveu textos mesclando o cômico e o trágico, repletos de fantasia, humor um tanto agressivo e exuberante vitalidade.

OLIVIER , Laurence (1907-1989)
Considerado o maior ator do século XX, o britânico Laurence Olivier protagonizou vários textos de Shakespeare, dentre eles Romeu e Julieta, Hamlet, Enrique V, Macbeth e Othelo. Mas também liderou elencos em montagens famosas de Tio Vânia (Tchecov) e Peer Gynt (Ibsen). Casado durante muitos anos com a atriz Vivien Leigh, com ela dividiu a cena em César e Cleópatra. Depois de trabalhar alguns anos como ator em Hollywwod (Rebecca, dirigido por Hitchock, é seu melhor filme), Olivier assume o posto de co-diretor no Old Vic, e mais adiante, em 1963, passa a dirigir o National Theatre. Olivier também brilhou em peças de autores contemporâneos, como Osborne, Ionesco e Becket, dentre muitos outros.

O’NEILL, Eugene (1888-1953)
É considerado o pioneiro do moderno teatro norte-americano, muito influenciado por Ibsen, Strindberg e pela tragédia grega. Seu primeiro grande sucesso na Broadway foi Além do horizonte, que lhe valeu o Prêmio Pullitzer. Em seguida vieram: Anna Christie, O imperador Jones, O macaco peludo, Estranho interlúdio, O luto não assenta bem em Electra. Estilisticamente, seus dramas, que contêm muitos dados autobiográficos, evoluíram do naturalismo ao expressionismo, e, em suas peças finais, revelou-se um mestre do teatro psicológico - a mais famosa de todas é a obra-prima Longa jornada noite adentro. Pouco antes de morrer, O’Neill destruiu vários textos e fragmentos dramáticos.

ORTON, Joe (1933-1967)
Autor dramático inglês, muito influenciado por Harold Pinter e pelo Teatro do Absurdo. Escreveu três farsas de humor negro e cruel: Entertaining Mr. Slone, Loot e Wath the butler saw, e três peças para a TV: The erpigham camp, The good and faithful servant e Funeral games.

OSBORNE, John (1929-1994)
Dramaturgo britânico, iniciou com Look back in Anger o movimento de renovação do teatro inglês. São também de sua autoria: The entertainer, Epitaph for George Dillon, Luther, Inadmissible evidence, A patriot for me e A bond hounered, dentre muitas outras. Osborne acabou sendo considerado um “clássico moderno”. Publicou, também, dois livros com suas memórias: A better kind of person e Almost a gentleman.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 172)

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- P -

PLAUTO (254-184 a. de C)
Autor dramático romano. De sua obra são conhecidas 21 comédias, a maioria adaptações livres de originais gregos da Nova Comédia. Tais peças têm, como principais características, sua engenhosidade, linguagem vigorosa, variedade de temas e preferência por cenas silenciosas. A maior parte dos personagens é composta por tipos - escravos, jovens namorados, parasitas, velhos etc. Uma de suas obras mais conhecidas, Menaechmi, serviu de inspiração a Shakespeare para escrever A comédia dos erros.

PUSHKIN, Alexander (1799-1837)
Considerado o maior poeta russo, Pushkin foi também autor de novelas, romances, contos e peças teatrais. De antiga e aristocrática família, o autor passou quatro anos no exílio em função de seus poemas políticos. Sua obra teatral mais famosa é a tragédia romântica Boris Godunov, de tema essencialmente político - a relação entre um tirano e seu povo. Escrita em 1825, a peça foi proibida pela censura até 1870, tendo sido encenada magistralmente, em 1907, pelo Teatro de Arte de Moscou. Pouco antes de morrer em um duelo, Puschkin escreveu quatro pequenas tragédias: O avarento, Mozart e Salieri, O convidado de pedra e O banquete durante a peste. Muitas de suas obras líricas foram convertidas em balé (Ruslan e Ludmila, A fonte de Bakchisarai) ou ópera (Eugenio Oneguin, musicada por Tchaikovsky, e a já citada peça Boris Godunov, musicada por Mussorgski).

PAGNOL, Marcel (1895-1974)
Dramaturgo francês, Pagnol começou escrevendo dramas em verso, mas logo enveredou para o gênero que o consagraria, a sátira social. Dentre suas peças podem ser citadas Monsieur Topaze, Les marchands de gloire e Jazz, sendo sua principal obra a trilogia composta por Marius, Fanny e César.

PEDROLO, Manuel de (1918-1997)
Novelista e dramaturgo espanhol de língua catalã, Pedrolo se insere no Teatro do Absurdo. Sua peça de estréia, Cruma, causou grande impacto - o texto abordava a impossibilidade de comunicação entre os homens. Sua obra mais famosa é Homens e Não, onde são trabalhados temas como a transcendência, a morte e a problemática da existência, sempre abordados de forma simbólica.

PINTER, Harold (1930- 2009)
Um dos maiores dramaturgos ingleses do século XX. Escrevendo dentro de uma convenção próxima à do Teatro do Absurdo e valendo-se sempre de magistrais diálogos, Pinter cria um clima de angústia latente, pois sempre temos a sensação de que um perigo ronda a cena. Seus principais temas são a solidão, o medo, a incerteza existencial e a brutalidade das relações humanas. É autor de uma obra vasta e diversificada, com destaque para O quarto, O monta-carga, Festa de aniversário, Uma ligeira dor e O inoportuno.

PIRANDELLO, Luigi (1867-1936)
Autor dramático e novelista italiano, uma das grandes figuras do teatro moderno, herdeiro do teatro analítico de Ibsen, precursor do teatro existencialista e do Teatro do Absurdo. Filho de um siciliano proprietário de minas, Pirandello foi professor de literatura antes de se dedicar ao teatro. Foi diretor do Teatro de Arte de Roma e também de teatros estatais em Turim e Milão. Suas principais obras giram em torno dos mesmos temas, dentre eles a impossibilidade de se escapar ao próprio eu, o problema da identidade e da aparência. Deixou uma obra extraordinária, com títulos como Seis personagens à procura de um autor, Assim é, se lhe parece, Henrique IV, Esta noite se improvisa, Vestir os nus e Os gigantes da montanha, sua última peça, incompleta.

PISCATOR, Erwin (1893-1966)
Diretor alemão, expoente máximo do teatro de agitação política dos anos 20. Em parceria com Brecht, criou o Teatro Épico. Filho de um pastor protestante, estudou arte e filosofia, iniciando sua carreira teatral com a encenação de Fahnen (1924). Dentre as montagens mais famosas de sua mocidade destacam-se Rasputin, O bravo soldado Scheik e Tai Yan acorda, esta última sobre a revolução chinesa. Trabalhou na Rússia, na França e nos Estados Unidos, onde dirigiu, de 1939 a 1951, a New School for Social Research, de Nova Iorque. Ao regressar para a Alemanha, levou à cena Os bandidos (Schiller), Guerra e paz (Tolstoi), Dança macabra (Strindberg), Os seqüestrados de Altona (Sartre) e O balcão (Genet), dentre outras montagens memoráveis.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 173)

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RACINE, Jean (1639-1699).
Poeta e autor dramático francês. Ao lado de Corneille e Molière, um dos grandes dramaturgos do teatro clássico francês do século XVII. Educado em Port Royal, foi um admirador entusiasta dos autores gregos. Sua primeira tragédia, La thébaîde, chegou à cena no teatro do Palais Royal, dirigida por seu amigo Molière. Seguiram-se Alexandre, le Grand e Andromaque, cuja estréia, no teatro rival do Hotel de Bourgogne, marcou a ruptura com Molière e lançou o autor como sucessor e rival de Corneille no terreno da tragéia. Sua única comédia, Les plaideurs, baseada em As moscas, de Aristófanes, o coloca também como um mestre neste terreno. Mas sua grande criação se dá no campo da tragédia amorosa de ação simples, concentrada nas paixões que os protagonistas enfrentam: Britanicus, Bérénice, Bajazet, Mithridate, Iphigénie e Phèdre. A ambientação histórica - romana, grega ou oriental - era apenas um pretexto para levar à cena, em consonância com as normas clássicas, o choque das paixões, sempre expressas através de sonoros versos alexandrinos. Nomeado historiador real e desiludido com a acolhida que recebeu Phèdre, sua obra-prima, Racine se afastou do teatro por 12 anos, a ele só retornando a pedido de Madame de Maintenon, para quem escreveu as tragédias bíblicas Esther e Athalie. Sua crescente preocupação religiosa se reflete também em sua reconciliação com o poderoso monastério de Port Royal, cuja história escreveu.


REINHARDT, Max (1873-1943)
Nascido na Áustria, Reinhardt foi, juntamente com Adolphe Appia e Gordon Graig, um dos grandes criadores do teatro antinaturalista. Eminente diretor e descobridor de atores, foi precursor, como Stanislávski, da revolução teatral dos anos 20. Já vivendo na Alemanha, começou como ator no Deutsches Theater, de Berlim, sob a direção de Otto Brahm, mas logo se distanciou de seus pressupostos naturalistas. Seu primeiro grande triunfo como encenador foi a montagem de Sonho de uma noite de verão, de Shakespeare, em 1904. No ano seguinte, assumiu a direção do Deutsches Theater, ali reunindo os melhores atores alemães e austríacos da ocasião em um memorável “ciclo Shakespeare”, repleto de poesia e riqueza cenográfica. Ao mesmo tempo, dirigia obras de câmera, como Os espectros (Ibsen) e O despertar da primavera (Wedekind). Depois da Primeira Guerra Mundial, transformou o Circo Schumann, onde já havia dirigido algumas montagens, como Édipo Rei, de Sófocles, em um anfiteatro para 5 mil pessoas, dando início ao seu “teatro de massas” (o novo espaço abrigou, dentre outras, uma histórica versão de Hamle)t. Contagiado pelo espírito da época, fundou o teatro experimental Das junge Deutschland (1917), onde estreiou várias peças-chaves do Expressionismo: O mendigo (Sorge), Batalha naval (Goering) e Uma estirpe. A partir de 1920 morando em Viena, organizou com Hoffmannsthal e R. Straus os festivais de Salzburgo, nos quais materializou sua idéia de “teatro total”. Em 1938 emigrou para os Estados Unidos.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 174)

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SÓFOCLES (496-406 a. de C)
Autor dramático grego. Representante máximo da tragédia durante o governo de Péricles. Em sua Poética, Aristóteles afirmava que os dramas de Sófocles eram modelos irretocáveis da tragédia. Suas peças tinham, como principal característica, colocar o homem no centro da trama. Interessando pela relação dramática entre diferentes personalidades, ou entre diferentes aspectos de um mesmo caráter, Sófocles, criou um tipo de drama de extrema tensão, priorizando sempre o enredo, a caracterização dos personagens e detalhes naturalistas. Suas principais obras são: Antígona, Édipo Rei, Electra e Édipo em Colono.

SHAKESPEARE, William (1564-1616).
Poeta e dramaturgo inglês, figura máxima do teatro elisabetano, Shakespeare é considerado o maior autor teatral de todos os tempos. Sua primeira fase (1590-1599), na qual ainda se atém às convenções do drama da época, se caracteriza por uma grande diversidade temática e formal – Henrique VI, Ricardo III, A comédia dos erros, Os dois cavaleiros de Verona, Trabalhos de amor perdidos, Titus Andronicus, Romeu e Julieta, Sonho de uma noite de verão, O mercador de Veneza e Muito barulho por nada. Os dramas históricos Ricardo II, Rei João e Henrique IV servem como uma espécie de trampolim para a fase mais genial do autor. Entre 1599 e 1604, Shakespeare escreve as comédias Como gostais, Medida por medida, Noite de reis e Troilus e Cressida, e as tragédias Julio César, Hamlet e Othelo. Entre 1605 e 1608, produz Rei Lear, Macbeth, Antonio e Cleópatra, Coriolanus, Timon em Atenas e Péricles. Em sua fase final, escreve Cymbeline, Conto de inverno e A tempestade, que traduzem uma nova concepção simbólica do drama, na qual a música desempenha um papel importante.

SCHILLER, Friedrich (1759-1805)
Poeta e dramaturgo alemão. Ao lado de Goethe, foi o criador do teatro clássico germânico. Já em sua primeira peça, Os bandidos, o autor exibiu uma de suas principais características: o espírito revolucionário. Mais adiante escreveu Don Carlos e em seguida sua obra mais ambiciosa: a trilogia Wallenstein. A partir daí, produziu tragédias históricas: Maria Stuart, A donzela de Orleans, A noiva de Messina e Guilherme Tell.

STRINDBERG, August (1849-1912)
Autor dramático e escritor sueco, Strindberg foi o iniciador do naturalismo em seu país e precursor do expressionismo europeu. Inicialmente mais conhecido por sua novelas curtas, despertou polêmica com seus ensaios histórico-culturais, que provocaram seu primeiro exílio voluntário (1883-1889). Em contato com os naturalistas franceses e impregnado das idéias de Nietzche e Schopenhauer, escreveu os dramas naturalistas O pai, Senhorita Júlia e Os credores. Seus temas preferidos são a luta dos sexos, a mulher como ente maligno e a polivalência psicológica, abordados com grande senso dramático e técnica irrepreensível. Após grave crise psicológica, que se seguiu a seu segundo exílio voluntário (1892-1896), escreve seus grandes dramas simbólicos: A caminho de Damasco, O sonho, Dança macabra e Sonata dos espectros.

SCHNITZLER, Arthur (1862-1931)
Dramaturgo austríaco, típico representante do impressionismo vienense, que descreve a burguesia decadente do final do século com ironia e uma certa resignação melancólica. O erotismo, tratado com humor e cinismo, constitui a essência da maioria de suas obras. Suas principais peças são: Anatol, Amores e A ronda.

SHAW, George Bernard (1856-1950)
Autor dramático irlandês. Seguidor de Ibsen e de seu teatro, que visava fundamentalmente desmascarar a hipocrisia, os tabus e as injustiças da sociedade burguesa, Shaw propôs um teatro moralista e polêmico. Morando em Londres desde os 20 anos, iniciou sua vida profissional como crítico de música e de teatro. Suas principais obras são:
A profissão da senhora Warren, Cândida, Homem e super-homem, Major Bárbara, Androcles e o leão, Pigmaleão, Retorno a Matsulém e Santa Joana.

STANISLAVSKI, Konstantin (1863-1938)
Ator, diretor e professor de atores, Stanislavski foi uma das personalidades mais importantes do teatro no século XX. Em 1897, juntamente com Nemirovich-Danchenko, fundou o Teatro de Arte de Moscou. Encarregado das montagens e da formação de atores, Stanislavski encenou diversas obras, destac130
-se as realizadas a partir de textos de Tchecov (A gaivota, As três irmãs e O jardim das cerejeiras). Com elas criou um novo estilo, cujas principais características eram a naturalidade, a fidelidade histórica e a busca da verdade e da vida. A partir de 1905, consciente das limitações do naturalismo, começou a se deixar influenciar pelas correntes simbolistas. Escreveu livros determinantes para o desenvolvimento dos intérpretes – A preparação do ator e A construção do personagem.

SARTRE, Jean-Paul (1905-1980)
Filósofo, romancista e dramaturgo francês. Fundador da escola existencialista. Participou ativamente da Resistência e, ao término da Segunda Guerra Mundial, criou a revista Os tempos modernos. Suas peças, onde predominam as idéias, exibem uma construção perfeita, grande eficácia dramática e densidade ideológica. Suas principais obras são: As moscas, Entre quatro paredes, Mortos sem sepultura, A prostituta respeitosa, As mãos sujas, O Diabo e o bom Deus e Os seqüestrados de Altona.

STRASBERG, Lee (1901-1982)
Diretor norte-americano e professor de interpretação. Difundiu nos Estados Unidos o método de Stanislavski. Entre 1931 e 1937, foi a principal figura do Group Theatre, o mais renomado da época. Em 1947, Elia Kazan funda o Actor’s Studio, e logo Strasberg assume sua direção artística. Dentre seus alunos mais famosos podem ser citados Marlon Brando, Geraldine Page, Julie Harris e James Dean.

STREHLER, Giorgio (1921)
Diretor italiano, uma das personalidades mais influentes do teatro na segunda metade do século XX. Começou sua carreira artística como ator, encenador e crítico teatral.
Em 1947 funda, com Paolo Grassi, o Piccolo Teatro de Milão, o primeiro teatro italiano “estável” e subvencionado pelo governo. Ao longo de toda a sua carreira, Strehler encarou o teatro como poderoso meio de comunicação e investigação de linguagens, tendo encenado mais de 200 peças. Dentre suas montagens mais célebres podem ser citadas: O mágico prodigioso, Os gigantes da montanha, Ricardo II, A morte de Danton, Macbeth, O jardim das cerejeiras, A ópera dos três vinténs e A alma boa de Setsuan. Strehler também dirigiu várias óperas, com especial destaque para Simon Boccanegra.

SHAFFER, Peter (1926)
Autor dramático inglês. Embora tenha começado sua carreira escrevendo comédias, suas principais obras são os dramas Equus e Amadeus, ambos escritos nos anos 70, e transformados em filmes de estrondoso sucesso.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 175)

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TARDIEU, Jean (1903-1995)
Poeta e dramaturgo francês. Começou a escrever teatro experimental em 1947, e suas primeiras obras, peças curtas, foram reunidas em dois volumes (Teatro de câmera e Poemas para representar): Quem está aí?, A polidez inútil, O móvel e O balcão, entre outras. Estas peças investigam diversas possibilidades de expressão dramática. Mais adiante, Tardieu investe na questão da linguagem, praticamente abdicando do significado – A sonata e os três senhores, Conversação sinfonieta, Os amantes do metrô, O ABC de nossa vida e Uma voz sem ninguém. Jean Tardieu é considerado o mais genuíno representante do Teatro do Absurdo.

TERENCIO (190-159 a. de C.)
Autor dramático romano. Traduziu e adaptou comédias de Menandro e de outros autores da Nova Comédia grega. Suas comédias acontecem em ambientes refinados e cultos, podendo ser destacadas Andria, Hecyra, Eautontimorunemos, Eunuchus, Phormio e Adelphoe.

TESPIS (século VI a. de C.)
Autor dramático grego. Criador lendário da tragédia. Provavelmente se deve a ele a introdução de um ator como oponente do coro e do corifeu. O carro de Tespis, segundo a lenda, viajava pela Grécia exibindo representações dramáticas.

TIRSO DE MOLINA (1584-1648)
Autor dramático espanhol. Forma, juntamente com Lope de Veja e Calderón de la Barca, o trio de autores mais importante do teatro clássico espanhol. Cultivou todos os gêneros dramáticos criados por Vega e seguiu fielmente sua técnica e fórmulas dramáticas. Seu teatro tem como marcas a caracterização psicológica dos personagens, especialmente os femininos e por seu sentido realista, sendo particularmente bem-sucedido nas comédias de intriga amorosa. O teatro de Tirso de Molina também exibe riqueza e vivacidade de linguagem. Dentre suas principais obras podem ser citadas: A vingança de Tamar, A prudência na mulher, Dom Gil das calças verdes, Marta, a piedosa e O enganador de Sevilha.

TOLSTOI, Alexei (1883-1945)
Novelista e autor dramático russo. De família aristocrática, escreveu obras significativas, como O amor, A morte de Danton, Azev e O caminho da vitória. Mas certamente suas peças mais poderosas são Ivan, o terrível e o drama histórico Pedro I, baseado em sua novela homônima. Suas obras se caracterizam por uma mescla de elementos psicológicos com uma detalhada e crítica descrição dos sucessos históricos sociais.

TURGUENEV, Ivan (1818-1883)
Poeta, novelista e autor dramático russo, adepto do Realismo. Suas peças, nas quais o elemento propriamente dramático não é muito desenvolvido, antecipam alguns traços essenciais do drama de Tchecov: o impressionismo, o matiz psicológico, a melancolia e o tom lírico. Suas principais obras são: Um mês no campo, Insolvência e A provinciana.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 176)

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VALLE-INCLÁN, RAMON MARÍA DEL (1866-1936)
Poeta, escritor e dramaturgo espanhol. Começou a escrever sob forte influência do Simbolismo francês. Em 1907 produz uma coletânea chamada Comédias bárbaras, na qual se incluem Áquila de blasón, Romance de lobos e Cara de plata. Tais obras têm como pano de fundo paixões primitivas e violentas, ambientadas em uma Galícia mítica, impregnada de uma visão de mundo dominada pela morte e pelo mal. Valle-Inclán também produziu um conjunto de farsas grotescas em verso – Farsa infantil de la cabeza del dragón, La Marquesa Rosalinda, Cuento de Abril e Farsa y licencia de la reina castiza. O autor acreditava que o sentido trágico da vida espanhola só poderia se materializar através de uma estética sistematicamente deformada, que ficou conhecida como “esperpento”. Além das obras já citadas, também podem ser destacadas Luces de Bohemia, Los cuervos de don Friolera, Las galas del difunto, La hija del capitán e La cabeza del Bautista.

VEGA, FÉLIX LOPE DE (1562-1635)
Poeta e autor dramático espanhol. Estudou na Universidade de Salamanca e participou da expedição da Armada Invencível (1588). Em 1614, se ordenou sacerdote. É considerado o criador do teatro nacional espanhol e estabeleceu definitivamente as fórmulas da Comédia Nova, que perduraram por mais de um século: redução do número de atos a três, liberdade métrica com predomínio do octasílabo, mescla de elementos cômicos e trágicos, recusa das três unidades, especialmente as de tempo e lugar. Suas comédias, que se caracterizam por seu lirismo, improvisação, predileção por elementos populares e pluraridade temática, dão mais importância à dinâmica da ação e à intriga do que à profundidade psicológica dos personagens. De sua extensa obra podem ser destacadas as peças El caballero de Olmedo, Peribáñez, El mejor alcalde el rey, Fuenteovejuna, El acero de Madrid, La dama boba e Los melindres de Belisa.

VICENTE, GIL (1465-1536)
Autor dramático português. Foi também músico, poeta e ator. Em suas obras dramáticas, algumas escritas em castelhano, fundiu harmonicamente o medieval e o renascentista. Em sua primeira fase produziu obras marcadas pela simplicidade e lirismo (Auto da visitação, Auto pastoril castelhano, Auto dos Reis Magos). Mais adiante, mesclou temas da tradição cristã com elementos bíblicos, pagãos e populares (Auto de Mofina Mendes, Auto dos quatro tempos, Auto de Sibila Cassandra). A complexidade dramática e temática caracteriza esta segunda fase, à qual pertence a magistral Trilogia das Barcas, inspirada nas antigas Danças da Morte. A barca do inferno é certamente sua obra mais interessante, especialmente por seus personagens – tipos populares estruturados com sentido realista. O teatro de Gil Vicente tem, como principal característica, um profundo lirismo de raiz popular.

VOLTAIRE (François-Marie Arouet), (1694-1778)
Escritor francês, foi o precursor da tragédia burguesa e do melodrama romântico do final do século XVIII e começo do XIX. Sua primeira obra, a tragédia Édipo, obteve grande êxito. Em 1726 vai para a Inglaterra e impressionado com as representações da obra de Shakespeare, escreve Brutus e Zaire. Ao regressar a Paris, produz mais algumas peças, dentre elas Adelaide du Guesclin, La mort de César e L’enfant prodige.

VIAN, BORIS (1920-1959)
Escritor, poeta e dramaturgo francês. Expoente e ídolo da juventude de Saint Germain no pós-guerra, renovou a tradição surrealista, da qual aproveitou o humor negro, o gosto pelo jogo e o espírito literário. Seus dramas se encaixam no chamado teatro do Absurdo, cabendo destacar L’équarrrisage pour tous, Le goûter des générales e sobretudo Les bâtisseurs d’Empire.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 177)

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WEBSTER, John (1580-1625)
Autor dramático inglês do teatro elisabetano, um dos dramaturgos pós-shakespearianos mais interessantes. Escreveu obras em colaboração com Dekker, Marston e Middleton. Suas peças próprias são típicos dramas de horror, repletas de sangue e crueldades. “The white devil”, The duchess of malfi” e “The devil’s law case” são tragédias sombrias, com um gosto mórbido pelo macabro e pelo decadente. Webster continua sendo um autor muito representado na cena inglesa.

WEDEKIND, Frank (1964-1918)
Autor dramático alemão. Foi colaborador da revista satírica Simplizissimus, membro do famoso Kabarett, de Munique e ator de grande destaque. Comoçou sua carreira com dramas naturalistas sobre os problemas da juventude e seu choque com a moral burguesa. Deste período constam O mundo jovem e O despertar da primavera, esta última uma de suas obras mais importantes, na qual a temática antiburguesa e o simbolismo expressionista se acentuaram em suas obras seguintes – O espírito da terra e a segunda parte de A caixa de Pandora – em que criou o protótipo da mulher fatal. Sua postura cínica de boêmio e moralista antiburguês, sua exaltação do erotismo e sua predileção por personagens marginais (aventureiros, criminosos, prostitutas) impuseram ao dramaturgo constantes problemas com a censura.

WEILL, Kurt (1900-1950)
Compositor alemão, pianista nos cafés de Berlim nos anos 20, Weill foi assíduo colaborador de Brecht em Mahagonny (mais tarde convertida em ópera), Grandeza e decadência da cidade de Mahagonny e principalmente em Ópera dos três vinténs, que se tornou um êxito em todo o mundo. Weill também fez a música para várias peças didáticas de Brecht, como O vôo de Lindbergh, Aque que diz sim, aquele que diz não e Os sete pecados capitais. Em 1933 emigrou para os Estados Unidos, onde trabalho como compositor de musicais e também para o cinema.

WEISS, Peter (1916-1982)
Autor dramático e novelista alemão, um dos maiores representantes do chamado Teatro Documento. Emigrou em 1934 para Praga, depois para Estocolmo. Naturalizado sueco, surge no mundo teatral de forma arrebatadora com a obra histórico-política Marat/Sade, exemplo de teatro total com reminiscências de Büchner e Brecht. Nesta peça, Weiss põe em cena as contradições sociais e políticas de uma época, como indicadores de contradições existentes na época atual. A progressiva politização de seu teatro se manifesta em A indagação, oratório em prosa rítmica, sobre os campos de extermínio nazistas. Após um período afastado do teatro, retorna com O novo processo, baseado na novela de Kafka.

WESKER, Arnold (1932)
Autor dramático inglês. Junto a Arden, Pinter e Bond, dentre outros, é considerado um dos autores-chave do novo teatro inglês. A forma realista e a temática político-social determinam seu teatro. Escreveu, dentre outras, as peças Chicken soup with Barley, Roots, I’m talking about Jerusalém e The kitchen, sendo esta última uma de suas obras mais representadas em todo o mundo.

WILDE, Oscar (1856-1900)
Poeta, novelista e autor dramático irlandês. Filho de um médico, estudou em Dublin e em Oxford, onde, sob a influência do Simbolismo francês, desenvolveu suas idéias estéticas “decadentistas”. Defensor da arte pela arte, amoral e antiburguês, encabeçou o movimento “fim de século” inglês. Dentre suas peças mais famosas destacam-se “Salomé”, “Uma mulher sem importância”, “O marido ideal” e “A importância de ser honesto”. Acusado de perversão, Wilde passou dois anos na cadeia e não escreveu mais para o teatro.

WILDER, Thornton (1897- 1975)
Dramaturgo e novelista norte-americano. Estudou em Yale, Princeton e Roma. Foi professor nas universidades de Chicago e Harvard. Em suas primeiras peças, escritas para o teatro universitário, dá grande importância à improvisação e ao antinaturalismo. Mais adiante, já inserido no teatro profissional, produz algumas obras de grande sucesso, como Nossa cidade e A casamenteira – convertida no musical Hello Dolly.

WILLIAMS, Tennessee (1911-1983)
Dramaturgo norte-americano. Um dos maiores representantes do drama psicológico-realista dos Estados Unidos dos anos 40 e 50, claramente influenciado por O’Neill, Ibsen e Strindberg. Filho de um caixeiro-viajante, exerceu muitas profissões, enquanto cursava a universidade. Após escrever algumas peças que não obtiveram maior repercussão, estreou o grande sucesso O zoológico de cristal, considerada uma de suas melhores obras, na qual aparecem seus temas prediletos: o choque entre a realidade e a ilusão, a frustração, a solidão e a fragilidade psíquica. Mais adiante, produziu outras peças notáveis, como Um bonde chamado desejo, A rosa tatuada, Gata em teto de zinco quente, O doce pássaro da juventude e a Noite do iguana.
(Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 178)

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