quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Principais formas
e
movimentos teatrais


Alegoria
Representação de um tema abstrato ou de temas através do uso simbólico de personagens, da ação e de outros elementos concretos de uma peça. Em sua forma mais direta – como a moralidade medieval – a alegoria utiliza o artifício da personificação, apresentando os personagens como representantes de qualidades abstratas tais como a virtude e os vícios, num tipo de ação que vise a uma lição moral ou intelectual. Formas menos diretas de alegoria podem aparecer disfarçadas de um modo relativamente realista. A peça de Arthur Miller As feiticeiras de Salém é um exemplo de alegoria, no caso, as investigações McCarthyanas nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.

Avant-garde
Termo aplicado a peças de natureza experimental ou pouco ortodoxa, que procuram ir além dos padrões normalmente utilizados, tant em termos de conteúdo quanto em forma. Historicamente, o termo se aplica a um grande grupo de peças dos séculos XIX (final) e XX, e inclui diversos movimentos como o Expressionismo, o Surrealismo e o Teatro do Absurdo.

Comédia
Como uma das categorias mais antigas da dramaturgia ocidental, a comédia tem acolhido sob seu manto um grande número de diferentes sub-espécies. Embora seu raio de ação seja amplo, pode-se dizer de modo geral que as comédias são peças leves, voltadas para assuntos não-sérios. Têm sempre um final feliz e procuram em última análise divertir e fazer rir. Historicamente, no entanto, a comédia tem sofrido inúmeras alterações. A Comédia Antiga (Aristófanes) era farsesca, satírica e não-realista. Já as comédias da Renascença sofreram maior influência das comédias romanas. Ben Jonhson construiu suas “comédias de humor” de acordo com o modelo romano. Em suas peças, o ridículo é dirigido a personagens que são dominados até as raias da obsessão por determinados traços. A Comédia de Costumes tornou-se popular no final do século XVII, com o advento de Molière e dos escritores do período da Restauração inglesa. Refere-se basicamente a um meio social culto e sofisticado, fazendo uso de um diálogo espirituoso e mordaz e colocando os personagens ridiculamente preocupados com questões de refinamento social. O século XX tem visto uma expansão do território da comédia, bem como uma indefinição de seus limites com outros gêneros. Nas décadas finais do século XIX, Bernard Shaw utilizou-a para uma séria discussão de idéias, enquanto Tchecov escreveu obras interpretadas como sentimentais e tragicômicas. Desde então, os horizontes da comédia têm sido expandidos por escritores como Pirandello e Ionesco, cuja cômica visão do mundo é mais séria, pensativa e perturbadora que a encontrada na maioria das comédias tradicionais.

Commedia dell’arte
Uma forma de teatro cômico originária da Itália, século XVI, onde o diálogo era improvisado à volta de um cenário indefinido e levando à cena personagens típicos, cada qual com um nome tradicional e um traje distinto. Os mais famosos destes personagens são os bufões - sempre nos papéis de servos, dispunham de um bom número de truques, palhaçadas, trejeitos e acrobacias.

Drama da Restauração
Diz respeito à dramaturgia inglesa após a restauração da monarquia, de 1660 a 1700. Representadas para uma audiência constituída por aristocratas que frequentavam a corte do rei Charles II, as peças desse período consistiam em sua maior parte de tragédias heróicas em estilo neoclássico, ou então de comédias de costumes que refletiam uma visão bastante cínica da natureza humana.

Drama burguês
Também conhecido como drama doméstico, este gênero lida com problemas dos membros de classe baixa e média, particularmente com problemas familiares. Conflitos com a sociedade, brigas em família, esperanças malogradas e obstinadas determinações constituem as principais características do drama doméstico. Ele pretende colocar no palco o estilo de vida das pessoas comuns – sua linguagem, comportamento, modo de trajar etc. O drama doméstico surgiu na Europa no século XVIII, acompanhando o emergir das classes trabalhadoras e dos comerciantes. Pelo fato de proporcionar uma rápida identificação com o público médio, o gênero cresceu em popularidade nos séculos XIX e XX, permanecendo ainda hoje como uma das formas mais encenadas de teatro.

Drama heróico
Forma dramática séria, escrita em verso ou em prosa, que apresenta personagens heróicos ou nobres colocados em situações extremas ou envolvidos em aventuras inusitadas. Apesar das atribulações a que suas figuras centrais estão sujeitas, o drama heróico – ao contrário da tragédia – tem uma visão do mundo basicamente otimista. Possui quase sempre um final feliz, e no caso de o herói ou heroína sucumbirem ao final da peça, o que há é um final triunfante, onde essas mortes não são vistas de modo trágico. Peças de todos os períodos, tanto do Oriente como do Ocidente, enquadram-se nesta categoria. Durante o final do século XVII, na Inglaterra, peças desse tipo eram conhecidas como “tragédias heróicas”.

Drama medieval
Há escassas evidências com relação às atividades teatrais na Europa entre os séculos VI e X. Mas ao fim do século XV, vários tipos de drama se desenvolveram. O primeiro deles, conhecido como drama litúrgico, era cantado ou entoado em latim, como parte dos serviços litúrgicos. Peças com temas religiosas eram escritas também em linguagem comum e levadas à cena fora da igreja. As peças de Mistério (também chamadas “peças cíclicas”) baseavam-se em eventos tirados do Antigo e Novo Testamento. Muitas delas eram organizadas em ciclos históricos que contavam a história da humanidade, da criação ao Dia do Juízo Final. Eram bastante longas, levando até cinco dias para serem representadas, sendo fruto de um esforço da comunidade – participavam diversas corporações de artífices, que se responsabilizavam pelos diferentes segmentos do espetáculo. Outras formas de drama religioso eram as peças milagrosas, que lidavam com fatos da vida de algum santo, e as moralidades. A moralidade era uma peça didática e alegórica, relacionada a questões morais ou religiosas, sendo seu exemplo mais famoso Todomundo. O período medieval também produziu outros tipos de textos seculares. À exceção das peças folclóricas que falavam de heróis lendários como Robin Hood, por exemplo, essas peças eram em sua maioria farsescas e curtas.

Existencialismo
Um conjunto de idéias filosóficas cujo principal defensor era Jean-Paul Sartre - mas o termo existencialismo é também aplicado a peças de outros autores. A tese central de Sartre é de que não há mais valores ou modelos fixos pelos quais alguém possa viver e que cada indivíduo precisa criar o seu próprio código de conduta, sem levar em conta as convenções impostas pela sociedade. Apenas dessa maneira alguém pode verdadeiramente “existir” como um ser humano responsável e criativo; de outra forma este alguém não passará de um robô ou de um autômato. As peças de Sartre envolvem tipicamente pessoas às voltas com decisões que as conduzem à consciência da escolha entre viver a seu modo ou então deixar de existir como um indivíduo.

Expressionismo
Movimento que se desenvolveu e floresceu na Alemanha durante o período que imediatamente precedeu ou se seguiu à Primeira Guerra Mundial. O expressionismo no drama caracterizou-se por uma tentativa de dramatizar estados subjetivos através do uso de distorções, tons surpreendentes, imagens grotescas e diálogos líricos e não realistas. Foi um movimento revolucionário, tanto em termos de forma como em conteúdo, retratando as instituições sociais, particularmente a família burguesa, como grotesca, materialista e opressora. O herói expressionista era em geral um rebelde, contrário a esta visão mecanicista da sociedade. O conflito dramático cedeu lugar ao desenvolvimento de temas por meios de imagens visuais. Este movimento foi muito influente porque demonstrou que a imaginação dramática não tinha necessariamente de estar limitada às convenções teatrais e à fiel reprodução da realidade. Nos Estados Unidos, o expressionismo influenciou Elmer Rice (A máquina de somar) e muitas das primeiras peças de O’Neill. O objetivo básico do expressionismo era o de dar uma expressão a idéias e sentimentos, sendo as técnicas teatrais que adotaram este método chamadas de expressionistas.

Farsa
Um dos principais gêneros dramáticos visto às vezes como uma subclassificação da comédia. A farsa tem poucas – se é que tem – pretensões intelectuais. Seu objetivo é o de entreter e provocar risos. Seu humor reside basicamente em atividades físicas e efeitos visuais, cabendo à linguagem e aos ditos espirituosos um papel menor, mormente se comparado às formas superiores de comédias. Violência, movimentos rápidos e ritmo acelerado são características da farsa. Em geral, seus alvos preferidos são o casamento, a medicina, as leis e os negócios.

Happenings
Uma forma de evento teatral desenvolvida por artistas abstratos americanos nos anos 60. Gênero não-literário, onde em vez de enredo há um cenário e ambiente que, se supõe, oferecerá condições propícias ao evento. São representados quase sempre apenas uma vez e em lugares como parques e esquinas de ruas, com pálidas tentativas de separar a platéia e a ação. Enfatizando associações livres de sons e movimentos, procuram evitar ações lógicas de sentido racional.

Impressionismo
Estilo de pintura desenvolvido no final do século XIX que enfatizava as impressões imediatas projetadas pelos objetos, principalmente aquelas resultantes de variações nos efeitos de luz, tendendo a ignorar os detalhes. Sua influência no teatro deu-se basicamente na área ligada à cenografia, mas o termo impressionista é algumas vezes aplicado a peças como as de Tchecov, que se referiam a “impressões causadas” e exibiam técnicas indiretas.

Kabuki
A mais eclética manifestação do teatro japonês. Trata-se da forma mais popular, se comparada ao aristocrático drama Nô, e utiliza atores – no que difere do Bunraku, que trabalha com bonecos. É verdade que este gênero tomou emprestado inúmeros elementos dos outros dois. Papéis de ambos os sexos são representados por homens em um estilo artificial e não realista. O Kabuki combina música, danças e cenas dramáticas, sempre enfatizando o corpo e o movimento. As peças são longas e episódicas, compostas por séries de cenas frouxamente conectadas e que são inclusive frequentemente levadas à cena em separado.

Mascarada
Forma espetacular e luxuosa de divertimento teatral privado que se desenvolveu na Itália na Renascença e que rapidamente espalhou-se pelas cortes da França e da Inglaterra. Apresentada em geral uma única vez, a mascarada combinava poesia, música, figurinos elaborados e efeitos grandiosos de maquinaria de palco. Era uma espécie de evento social no qual membros da corte participavam como atores ou espectadores. Livremente construídas, as mascaradas giravam em torno de temas mitológicos ou alegóricos.

Melodrama
Historicamente, uma forma distinta de drama popular do século XIX. Enfatiza a ação e os efeitos espetaculares, empregando músicas para acentuar o clima dramático. O melodrama utiliza personagens típicos e claramente definidos como heróis ou vilões. De modo genérico, o termo é aplicado a qualquer drama que apresente uma óbvia confrontação entre o Bem e o Mal. A caracterização é frequentemente superficial e estereotipada, e como o conflito moral é externalizado, a ação e a violência aparecem sempre, culminando quase que invariavelmente com um final feliz, para demonstrar o triunfo do Bem.

Mímica
Performance na qual a ação ou a história é expressa através do uso de movimentos e gestos, sem palavras. Depende fundamentalmente da habilidade do mímico de criar ou sugerir o ambiente que o cerca através de reações físicas e expressividade de seu corpo.

Musicais
Vasta categoria que inclui a ópera, a comédia musical e outras peças musicais (o termo teatro lírico é às vezes utilizado quando se quer dintingui-lo de um espetáculo basicamente dançado). Na verdade inclui qualquer evento dramático no qual a música e a letra (e frequentemente a dança) constituam parte integral e necessária. Os vários tipos de teatro musical se interpõem e a melhor maneira de distingui-los é examinar suas diversas origens históricas, a qualidade da música e a variedade e o tipo de habilidades que se pede dos atores que os representam. A ópera é usualmente definida como um trabalho no qual todas as suas partes são cantadas. Constitui de fato uma tradição distinta e bem mais antiga do que a dos musicais modernos, de origem americana e relativamente recentes. O termo comédia musical nem mesmo é muito apropriado para descrever as peças musicais de hoje, que mesclam os mais variados componentes em sua estrutura, mas que, mesmo assim, serve para distingui-la claramente da ópera e de opereta.


Forma rigidamente tradicional do teatro japonês que data do século XIV. As peças Nô são dramas curtos que combinam música, dança e versos em uma apresentação altamente estilizada e estilística. Virtualmente, cada aspecto da produção – incluindo figurinos, máscaras e o simbólico cenário – já está prescrito pela tradição.

Novo teatro
1) Termo genérico que cobre as inovações feitas no teatro desde 1960 por grupos como o Laboratório de Teatro de Grotowski, o Open Theater e o Living Theater. Talvez a mais importante declaração de princípios desse movimento possa ser encontrada na obra de Jerzy Grotowski Em busca de um teatro pobre. A despeito das diferenças entre os grupos, linhas comuns podem ser encontradas, principalmente no que toca às exigências de um teatro sério, espiritual, e que seja uma experiência tanto para os atores como para os espectadores. Procuram eles eliminar tudo que seja supérfluo e frívolo no teatro. Tendem a enfatizar a importância do que há de ritual no teatro, a necessidade de uma intensa dedicação de um pequeno grupo fechado de atores trabalhando juntos por um longo tempo e a busca de uma ligação íntima entre palco e platéia.

2) O termo também é utilizável para se referir a um novo conceito de encenação para proveniente da primeira metade do século. Este movimento influenciou basicamente os aspectos visuais do espetáculo. Entre os seus mais famosos proponentes estão Gordon Craig, Adolphe Appia, Robert Edmond Jones, Norman Bel Gueddes e Lee Simonson. Procurava-se enfatizar o uso criativo da luz e da cor em detrimento de uma representação realista. Muitas das inovações trazidas por este grupo tornaram-se práticas comuns no teatro de hoje.

Pantomima
Originalmente, um entretenimento romano no qual a narração (cantada) cabia ao coro, enquanto a ação era representada sob forma de danças. Atualmente o termo aplica-se a qualquer tipo de apresentação que utilize primordialmente danças, gestos e movimentos físicos (veja Mímica).

Paródia
Imitação jocosa de uma forma dramática ou de uma peça específica. Intimamente relacionada à sátira, não possui no entanto os propósitos morais e intelectuais desta, limitando-se a zombar dos excessos de outras obras.

Peça de idéias
Peças cujo foco principal reside em um tratamento sério de questões sociais, morais ou filosóficas. Uma variante deste tipo de peça é a chamada “peça de problemas”, melhor exemplificada pelos trabalhos de Ibsen e Shaw, nos quais os vários aspectos de uma questão são dramatizados e discutidos. Outra variante a ser distinguida é a “peça de tese”, uma representação mais unilateral de um problema, onde em geral há um personagem que resume a “lição” da peça e representa a voz do autor.

Peças históricas
Em um sentido mais amplo, trata-se de peças referidas a acontecimentos históricos ou ligadas a personagens históricos. Mais especificamente, no entanto, o termo é aplicado a peças que falam de problemas vitais ligados ao bem-estar público, num tom nacionalista. A forma originou-se na Inglaterra elizabetana, que produziu mais peças históricas do que qualquer outro país, em qualquer tempo. Baseadas em um conceito religioso da História, foram profundamente influenciadas pela estrutura das peças de moralidade. Shakespeare foi o maior escritor elizabetano de peças históricas. Seu estilo influenciou inúmeros escritores desse gênero, notadamente o sueco Strindberg.

Realismo e Naturalismo
Em um sentido genérico, o realismo consiste simplesmente na tentativa de retratar da maneira mais direta e verdadeira possíveis fatos da vida contemporânea. Na prática, no entanto, a visão que o autor tem da realidade nunca é completamente objetiva. A diferença entre os escritores naturalistas e realistas provém basicamente de suas atitudes para com a natureza do homem e da sociedade. Embora ambas as escolas estejam voltadas para a prática de mudanças sociais, observa-se que os realistas são mais otimistas com relação às possibilidades do homem aprender e se modificar. Já os naturalistas – encarando os homens como basicamente egoístas e como um fruto amoral resultante das forças do meio e hereditárias – preferem retratar as brutalizadas classes inferiores, nas quais tais forças podem ser mais claramente apontadas. Os realistas costumam ambientar suas peças na razoável atmosfera das salas-de-estar da classe média. Em outro nível, pode-se dizer também que o naturalismo é simplesmente uma forma mais exata e detalhada de realismo.

Romantismo
Movimento literário e dramático do século XIX que se desenvolveu como uma reação à austeridade confinante do neoclassicismo. Procurando imitar a estrutura vaga e episódica das peças de Shakespeare, os românticos aspiravam libertar-se de todas as regras atendendo apenas às solicitações de uma inspiração livre do gênio artístico, verdadeira fonte de toda a criatividade. De um modo geral, enfatizavam mais climas e atmosferas do que o conteúdo em si, e um de seus temas prediletos era o abismo existente entre as aspirações espirituais do ser humano e suas limitações físicas.

Sátira
Gênero que utiliza técnicas de comédia, como a ironia, o humor e o exagero, para expor criticamente certas situações. A sátira pode atacar figuras públicas específicas ou então apontar traços mais gerais do comportamento humano. Assim, Tartufo, de Molière, ridiculariza a hipocrisia religiosa, Arms and the man, de Shaw, ataca a glorificação romântica da guerra e The importance of being earnest, de Wilde, visa a classe alta inglesa.

Simbolismo
Muito ligado à poesia simbolista, o teatro simbólico foi um movimento do final do século XIX e do início do século XX que basicamente almejou substituir a representação realista por outra forma que pudesse expressar uma verdade mais interior. Procurando restabelecer o significado espiritual e religioso do teatro, o simbolismo utilizou-se de mitos, lendas e símbolos, tentando assim transcender a realidade do cotidiano. As peças de Maurice Maeterlinck são exemplos bem conhecidos deste movimento.

Surrealismo
Um movimento que se propôs a atacar o formalismo nas artes, tendo-se desenvolvido na Europa após a Primeira Guerra Mundial. Buscando uma realidade mais profunda do que aquela captada pela mente racional e consciente, os surrealistas abandonaram a ação realista em prol de uma lógica onírica, obtida através de certas técnicas como a da escrita automática e a associação livre de idéias. Embora poucas peças escritas pelos surrealistas tenham alcançado uma grande expressão, o movimento teve grande influência no teatro de vanguarda, notadamente no Teatro do Absurdo e no Teatro da Crueldade.

Teatro da Crueldade
Conceito visionário de Antonin Artaud de um teatro baseado em magias e mitos, e que viesse liberar os profundos, violentos e eróticos impulsos humanos. Artaud desejava revelar aquilo que ele via como “a crueldade que há por trás de todas as ações humanas” – além da universalidade do mal e da violência da sexualidade. Para tanto, seria necessário uma mudança radical do espaço cênico, uma integração entre palco e platéia e a utilização total do poder afetivo da luz, da cor, do movimento e da linguagem. Embora Artaud tenha obtido pouco sucesso na tentativa de impor suas teorias, a verdade é que suas idéias acabaram por ter grande influência sobre escritores e diretores, particularmente Peter Brook, Jean-Louis Barrault e Jerzy Grotowski.

Teatro de rua
Termo genérico que se aplica ao trabalho de um grande número de grupos que se propõe a representar ao ar livre, procurando abordar os problemas vividos por uma comunidade específica ou mesmo por uma vizinhança e suas necessidades. Seu surgimento data dos anos 60, em parte devido a questões ligadas à inquietação social, e também em função da necessidade de um teatro que pudesse falar de problemas específicos, vivenciados por determinadas comunidades.

Teatro do Absurdo
Título utilizado primeiramente por Martin Esslin para descrever certas peças dos anos 50 e 60 que expressavam um ponto de vista similar, no tocante a certos aspectos absurdos da condição humana. Essas peças eram dramatizações que versavam sobre o senso do absurdo e a futilidade da existência. A linguagem racional foi abandonada e substituída por clichês e falas banais. Em lugar da ação lógica, surgiu uma atividade repetitiva e sem sentido. Motivações psicológicas, realistas, deram lugar a comportamentos automáticos, frequentemente absurdos e inapropriados dentro de uma determinada situação. Embora digam respeito a assuntos sérios, o tom de representação dessas peças, em geral, adquire uma conotação cômica e irônica. Beckett e Ionesco são os mais conhecidos autores do teatro do absurdo.

Teatro épico
Forma de representação que se tornou associada ao nome de Bertolt Brecht, seu principal teórico e defensor. Objetiva alcançar mais ao intelecto do que às emoções, procurando apresentar evidências relacionadas a questões sociais, de modo tal que possam ser objetivamente consideradas e que uma conclusão inteligente delas se depreenda. Brecht sentia que o envolvimento emocional da audiência bloqueava essa intenção, e para tanto criou vários artifícios que, através de uma “alienação” da emoção, desligavam a platéia, em termos emocionais, do que se passasse no palco. Suas peças eram episódicas, com canções narrativas separando os segmentos e grandes cartazes anunciando as cenas.

Teatro pobre
Termo cunhado por Jerzy Grotowski para descrever o seu ideal de teatro, despido até o essencial. Cenários profusos e luxuosos, luzes e figurinos usualmente associados ao teatro são para Grotowski um mero reflexo de valores materialistas, a serem eliminados. Se o teatro deve se tornar rico espiritual e esteticamente, há uma necessidade primeira de “empobrecimento” de tudo aquilo que possa interferir no verdadeiro relacionamento entre ator e platéia.

Tragédia
Uma das formas dramáticas básicas do teatro ocidental, a tragédia envolve uma ação séria de significado universal e possui importantes implicações morais e filosóficas. Seguindo Aristóteles, muitos críticos concordam com a idéia de que o herói trágico deve ser em essência uma pessoa admirável, cuja queda estimule nossa simpatia e nos deixe com a sensação de que de alguma maneira o que houve foi o triunfo da moral e da ordem cósmica, triunfo este que transcende o destino de um indivíduo. O final desastroso de uma tragédia deveria ser visto como o resultado inevitável da situação vivida pelo personagem, devido a forças que estariam além da sua possibilidade de controle. Tradicionalmente, a tragédia versava sobre a vida e a sorte de reis e nobres, e de fato tem havido considerável controvérsia sobre a possibilidade de haver uma tragédia moderna – vivida por pessoas comuns. E mesmo aqueles que concordam com essa possibilidade reconhecem que esta forma moderna seria forçosamente diferente do conceito tradicional de tragédia.

Tragicomédia
Durante a Renascença, empregava-se o termo quando se queria referir as certas peças que continham temas trágicos vividos por nobres personagens, mas que terminavam com um “happy end”. Já a moderna tragicomédia combina elementos sérios e cômicos. Em geral, essas peças abordam um tema sério, tratado de forma cômica e irônica. De fato, a tragicomédia vem se tornando uma das formas preferidas entre os dramaturgos “sérios”. Algumas vezes certas situações e comportamentos cômicos têm consequências trágicas – como em A visita da velha senhora, de Dürremnmatt. Outras vezes, o final é indeterminado e ambivalente – como em Esperando Godot, de Beckett. Na maioria dos casos, o desespero aparece porque o seres humanos são vistos como incapazes de se levantarem acima das circunstâncias naturais; o fato de a situação que os envolve ser ridícula apenas torna o seu sofrimento mais tenebroso.
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O presente artigo foi extraído de The theater experience, de E. Wilson (McGraw-Hill Comp., 1976). Tradução de Bernardo Jablonski.

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