sábado, 29 de março de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Peça ruim"

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Delicioso caos no Café Pequeno



Lionel Fischer



Comandados por um jovem diretor, um grupo de jovens atores ensaia "Édipo Rei". E ao mesmo tempo em que assistimos ao caótico e hilário processo, temos acesso às principais e desvairadas angústias do diretor, sendo a principal sua paixão avassaladora por uma atriz, paixão esta que não é correspondida. Lá pelas tantas, o diretor informa ao grupo que eles terão que se apresentar para uma banca e falar com sotaque baiano, uma vez que, obtendo patrocínio, a montagem será exibida na Bahia. A partir de então, o delicioso caos assume conotações quase que paroxísticas.

Eis, em resumo, o contexto de "Peça ruim", que após cumprir boa temporada no Teatro O Tablado pode ser assistida no Café Pequeno. Daniel Belmonte assina o texto e a direção do espetáculo, estando o elenco formado por Adriano Martins (Ator de Teatro), André Dale (Bisão, o diretor), Eduardo Speroni (Idiota 2), Hernane Cardoso (Ricky), Joana de Castro (Idiota 3), Marianna Pastori (Tal Garota Que Anda Mexendo Com A Minha Cabeça) e Pedro Thomé (Idiota 1) - no espetáculo que assisti, Joana Castro e Marianna Pastori foram substituídos, respectivamente, por Leonardo Bianchi e Nina Reis.

Exibindo uma estrutura que mescla os ensaios com considerações do diretor sobre o processo do grupo e sua já mencionada paixão por uma das atrizes, sendo tais considerações feitas diretamente para a plateia, o texto de Daniel Belmonte faculta ao espectador uma divertida possibilidade de acesso aos mecanismos de construção de uma montagem feita por um grupo muito jovem, apaixonado e caótico, cujo enorme desejo de acertar é diretamente proporcional à precariedade de sua cultura e de recursos técnicos.

Entretanto, cabe ressaltar que todas as precariedades exibidas, assim como a deliciosa ingenuidade coletiva são aqui exacerbadas de forma proposital, sendo óbvia a pretensão de lançar um olhar crítico sobre um processo em que o exercício do ofício jamais está desvinculado de questões emocionais. Estamos, portanto, diante de um texto que propõe uma divertida reflexão sobre o fazer teatral.

Com relação ao espetáculo, Daniel Belmonte impõe à cena uma dinâmica deliberadamente suja e anárquica, com marcações esquisitíssimas e quase sempre despropositadas - mas fica evidente que tais marcações são fruto não do despreparo do diretor, mas de uma proposta crítica quanto ao processo de criação.

No tocante ao elenco, é evidente que alguns atores, em função de seus personagens, tem maiores oportunidades. Mas o que importa ressaltar aqui é a coesão do conjunto, a ótima contracena que todos estabelecem e a enorme alegria que exibem por estar em cena fazendo um espetáculo em que acreditam totalmente. A todos, portanto, parabenizo com o mesmo entusiasmo.

Na equipe técnica, Rodrigo Belay responde por ótima iluminação, cabendo ressaltar as passagens em que, propositadamente, ilumina mal a cena. A mesma eficiência se faz presente na cenografia de Julia Marina, nos criativos figurinos de Anouk Van der Zee (supervisão de Colmar Diniz) e na preparação vocal e orientação em prosódia de Leila Mendes.

PEÇA RUIM - Texto e direção de Daniel Belmonte. Com Adriano Martins, André Dale, Eduardo Speroni, Hernane Cardoso, Leonardo Bianchi, Nina Reis e Pedro Thomé. Teatro Café Pequeno. Sexta, 21h - apresentações extras nos dias 12 e 13 de abril (sábado às 21h e domingo às 20h).

2 comentários:

  1. Análise critica perfeita. Tanto ao texto, qto aos jovens talentos que buscam diariamente uma perfeição em palco, sintonia e melhor performance em palco. Parabéns a todos e muuuita merda para essa galera! Mônica Martins.

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  2. Mônica amiga,

    te agradeço a gentileza de tua avaliação sobre o que escrevi. Apareça sempre por aqui.

    Beijos,

    Eu

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