terça-feira, 27 de outubro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Pequenos poderes"

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Direção e elenco valorizam ótimo texto



Lionel Fischer



"O bullying sofrido por um aluno de origem nordestina, a tensão entre um assaltante e a gerente em uma agência bancária, a confissão recheada de situações cabeludas a um padre, a entrevista tendenciosa feita por uma entrevistadora de TV e o depoimento de um réu com opiniões polêmicas durante o próprio julgamento costuram o texto de Pequeno Poderes, que discute a ruptura de valores da sociedade atual, questionando qual seria o limitador mais eficiente para os nossos impulsos: religião? Lei? Ética? Ou simplesmente a ausência do poder?".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo das cinco narrativas e propõe uma pertinente questão. De autoria de Diego Molina, "Pequenos poderes" (inspirado na obra do cartunista Nani) está em cartaz na Casa da Gávea. Breno Sanches responde pela direção da montagem, que traz no elenco Andy Gercker, Bia Guedes, Zé Auro Travassos e Rita Fischer - esta última substituindo Mariana Consoli desde a semana passada.  

Afora exibirem diálogos ágeis, críticos e personagens bem estruturados (na medida em que podem ser bem estruturados personagens de narrativas muito curtas), os textos de Diego Molina possuem o mérito suplementar e surpreendente de inverter sempre os papéis entre dominadores e dominados, fazendo com que tais reviravoltas não se tornem nem um pouco gratuitas. Um bom exemplo, e talvez o melhor e mais engraçado, é o quadro envolvendo o assaltante e a gerente de uma agência bancária - o assaltante acaba sendo convencido pela gerente a devolver tudo o que acabara de roubar, com argumentos burocraticamente hilariantes.

Com relação à montagem, Breno Sanches impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Suas marcas, sempre criativas e diversificadas, valorizam ao máximo todos os conteúdos propostos pelo autor, cabendo ressaltar a coragem do encenador para, não raro, enveredar por um caminho cujo paroxismo poderia se revelar desnecessário, mas que no presente caso se mostra perfeitamente adequado e coerente.

No elenco, Bia Guedes está muito bem na pele da insana e punitiva professora, assim como no da tendenciosa entrevistadora, mas acredito que ainda possa se soltar mais quando vive a promotora carente de um braço. Andy Gercker convence plenamente em todas as suas participações, em especial no quadro do julgamento, quando seu personagem renuncia ao papel de julgado e passa a julgar as instituições. Zé Auro Travassos exibe a mesma excelência, sendo impagável sua performance na pele do homem que faz confissões ao sacerdote. Rita Fischer está muito bem vivendo a gerente do banco (atuação propositadamente calma e suavemente irônica), mas seu melhor momento ocorre interpretando a entrevistada, quando exibe impecável trabalho vocal e corporal.

Na equipe técnica, Ana Luiza de Simoni assina expressiva iluminação, que em muito colabora para ressaltar os diversificados climas emocionais em jogo. Bruno Perlatto responde por ótimos figurinos, a mesma excelência presente na cenografia de Diego Molina, na trilha sonora de Armando Babaioff e Breno Sanches, nos adereços de Tuca e no visagismo de Diego Nardes.

PEQUENOS PODERES - Texto de Diego Molina. Direção de Breno Sanches. Com Andy Gercker, Bia Guedes, Rita Fischer e Zé Auro Travassos. Casa da Gávea. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.


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