TEXTO PARA ESTUDO
No
momento não estou
de Elisa Lucinda
Olhando a cara dos dias, vejo como é sórdida tua secretária eletrônica:
Ela mente pra mim na mesma tônica: doublé de seu medo...Vou te contar um
segredo: Eles venceram. Venceu a mesquinharia, a pequeneza, a teoria rasa, a
safadeza...No meio da luta, você preferiu ser o nêgo filho da puta da história
que escreveram pra você encenar, da promessa que fizeram pra você cumprir, pra
você pagar. Essa noite, sua covardia repete o açoite: aceita a mesma escravidão
pra te enganar. Ai, como é mórbida tua secretária eletrônica, roubou meu batom
e no mesmo tom me diz que você não está. Como uma armadilha de sonora trilha,
pede um recado após o sinal...Não dou! Antes disso terá um longo curto-circuito
entre as pernas, essa tua secretária calhorda, essa tua secretária moderna, tão
sonsa, tão palerma. Ligada por ti pra te sacanear! Acionada por ti pra te
carear os dentes da alma e depois te pede pra sorrir pra sua própria demência.
Uma ridícula dona de casa chamada Ausência!
*
* *
Sugestão para estudo:
Talvez seja correto afirmar que Elisa Lucinda escreve poesias para
serem ouvidas, tamanha é a teatralidade nelas contida - isto não significa, bem
entendido, que não possam ser apreciadas quando apenas lidas. Assim, quase todas elas oferecem excelentes
oportunidades para um ótimo trabalho de interpretação. Esta focaliza com
sensibilidade uma série de queixas amorosas e, de quebra, investe contra esse
abominável aparelho denominado secretária
eletrônica, permanente fonte de desgostos e frustrações.
Vamos, portanto, fazer com que a poesia aconteça, imaginando quem seria
a mulher que se lamenta e acusa; em seguida, uma circunstância que confira
credibilidade ao desabafo - a personagem está sozinha, fala na secretária
eletrônica, está escrevendo uma carta?. E finalmente, trabalhar as idéias e
sentimentos com a maior carga possível de verdade e emoção. Quem sabe a pessoa
do outro lado desliga a secretária e atende? (LF)
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