quarta-feira, 2 de março de 2016

TEXTO PARA ESTUDO

No momento não estou
de Elisa Lucinda


Olhando a cara dos dias, vejo como é sórdida tua secretária eletrônica: Ela mente pra mim na mesma tônica: doublé de seu medo...Vou te contar um segredo: Eles venceram. Venceu a mesquinharia, a pequeneza, a teoria rasa, a safadeza...No meio da luta, você preferiu ser o nêgo filho da puta da história que escreveram pra você encenar, da promessa que fizeram pra você cumprir, pra você pagar. Essa noite, sua covardia repete o açoite: aceita a mesma escravidão pra te enganar. Ai, como é mórbida tua secretária eletrônica, roubou meu batom e no mesmo tom me diz que você não está. Como uma armadilha de sonora trilha, pede um recado após o sinal...Não dou! Antes disso terá um longo curto-circuito entre as pernas, essa tua secretária calhorda, essa tua secretária moderna, tão sonsa, tão palerma. Ligada por ti pra te sacanear! Acionada por ti pra te carear os dentes da alma e depois te pede pra sorrir pra sua própria demência. Uma ridícula dona de casa chamada Ausência!

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Sugestão para estudo:
        
Talvez seja correto afirmar que Elisa Lucinda escreve poesias para serem ouvidas, tamanha é a teatralidade nelas contida - isto não significa, bem entendido, que não possam ser apreciadas quando apenas lidas. Assim, quase todas elas oferecem excelentes oportunidades para um ótimo trabalho de interpretação. Esta focaliza com sensibilidade uma série de queixas amorosas e, de quebra, investe contra esse abominável aparelho denominado secretária eletrônica, permanente fonte de desgostos e frustrações.     
        
Vamos, portanto, fazer com que a poesia aconteça, imaginando quem seria a mulher que se lamenta e acusa; em seguida, uma circunstância que confira credibilidade ao desabafo - a personagem está sozinha, fala na secretária eletrônica, está escrevendo uma carta?. E finalmente, trabalhar as idéias e sentimentos com a maior carga possível de verdade e emoção. Quem sabe a pessoa do outro lado desliga a secretária e atende? (LF)

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