segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Teatro/CRÍTICA

"Cazuza - pro dia nascer feliz, o musical"

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Comovente, divertido e inesquecível encontro


Lionel Fischer



"Como a vida do personagem foi curta e, ao mesmo tempo, muito intensa, o autor procurou contar a história de forma ágil, avançando sempre a partir dos momentos de virada na carreira e na vida dele: a descoberta do teatro, o gosto pelo rock, o momento em que resolve cantar, montar uma banda, se profissionalizar, o estouro, as brigas, a mudança no estilo de sua obra, o estrelato solo, a descoberta da doença, a urgência poética no fim das forças".

O trecho acima, extraído do release que me foi enviado, resume o enredo de "Cazuza - pro dia nascer feliz, o musical", de Aloísio de Abreu. Em cartaz no Teatro Net Rio, a montagem chega à cena com direção de João Fonseca e elenco formado por Emílio Dantas, Susana Ribeiro, Marcelo Várzea, André Dias, Fabiano Medeiros, Yasmin Gomlevsky, Tiago Machado, Bruno Fraga, Bruno Narch, Bruno Sigrist, Saulo Segreto, Dezo Mota, Juliane Bodini e Oscar Fabião.

Em certa ocasião, Peter Brook (o maior encenador vivo) definiu o teatro como "A arte do encontro". E como acredito piamente em tal definição, não hesito em aplicá-la ao presente espetáculo, que promove um encontro visceral entre quem faz e quem assiste, tendo por base o ótimo texto de Aloísio de Abreu. Ainda que a estrutura seja a de um musical, com as canções contribuindo efetivamente para o desenrolar da narrativa, nas partes faladas o autor conseguiu criar ótimos personagens e fluentes diálogos que alternam momentos hilariantes com outros de intensa dramaticidade. 

Foi, portanto, extremamente bem sucedido em sua proposta de recriar a vida e trajetória artística de um dos maiores fenômenos de nossa música, que reunia uma série de predicados que o converteram em uma personalidade única - cantava, compunha, era poeta, dizia sempre o que pensava, teve a coragem de viver todas as experiências que desejou e que, em cena ou fora dela, exercia enorme fascínio. Realmente uma lástima que tenha partido tão cedo, com apenas 32 anos e oito de carreira. Em contrapartida, resta o consolo de que jamais será esquecido, como ocorre com os artistas de exceção. 

Com relação ao espetáculo, João Fonseca imprime à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Valendo-se de marcações precisas, originais e surpreendentes, explorando com grande expressividade tanto as passagens mais engraçadas quanto aquelas em que o trágico predomina, o encenador exibe ainda o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações de todo o elenco - os protagonistas, obviamente, têm maiores oportunidades, mas os coadjuvantes também são diretamente responsáveis pelo sucesso desta mais do que oportuna empreitada teatral.  

Vivendo Cazuza, Emílio Dantas exibe performance maravilhosa, seja no canto como no texto articulado. Mas tal adjetivação não significa que o ator apenas imite Cazuza, mas certamente o recria com seu enorme talento e visceral capacidade de entrega. Na pele de Lucinha Araújo, Susana Ribeiro valoriza com grande sensibilidade cada palavra que profere ou gesto que executa, comovendo e divertindo a plateia em igual medida. Marcelo Várzea também está impecável como João Araújo, o mesmo aplicando-se a André Dias (Ezequiel Neves) e Fabiano Medeiros (Ney Matogrosso). Quanto aos demais intérpretes, como já foi dito, todos prestam inestimáveis contribuições, tanto no canto como na execução das coreografias.

Na equipe técnica, elogio com o mesmo entusiasmo os trabalhos de Daniel Rocha (direção musical), Carlos Bauzys (supervisão musical), Alex Neoral (coreografias), Nello Marrese (cenografia), Carol Lobato (figurinos), Juliana Mendes (visagismo), Daniela Sanches e Paulo Nenem (iluminação) e Gabriel D'Angelo (designer de som), cabendo também ressaltar a ótima participação dos músicos Marcelo Eduardo Farias e Evelyne Garcia (teclados), Bernardo Ramos e Daniel Rocha (guitarras), Raul D' Oliveira (baixo) e Rafael Maia (bateria).

CAZUZA - PRO DIA NASCER FELIZ, O MUSICAL - Texto de Aloísio de Abreu. Direção de João Fonseca. Com Emílio Dantas, Susana Ribeiro, Marcelo Várzea, André Dias, Fabiano Medeiros e grande elenco. Teatro Net Rio. Quinta e sexta, 21h. Sábado, 18h e 21h30. Domingo, 19h.   

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