terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Entrevista Julia Stockler – Melhor Atriz do 2ºFESTU Rio



          Essa semana as inscrições para o 3º FESTU Rio começaram e junto com elas a minha série de entrevistas com figuras marcantes que já passaram pelo festival. A segunda da série é a atriz Julia Stockler, de 24 anos. Filha do crítico de teatro Lionel Fischer, Julia atualmente cursa Cinema na PUC-Rio e Artes Cênicas na Univercidade.

          Na segunda edição do FESTU Rio, ela participou com três esquetes. Mafalda, como atriz, foi indicada a todas as categorias. Companhia de Mulheres, como atriz, levou a melhor com o prêmio de Melhor Esquete pelo Juri Popular. E Cacilda, como atriz e diretora, levou o prêmio máximo de Melhor Esquete, além de dar a ela o de Melhor Atriz. Não posso dizer que ela não tenha sido um dos maiores destaques do FESTU Rio!


1. Sua participação no 2ºFESTU RIO não poderia ter sido melhor. Companhia de Mulheres ganhou como Melhor Esquete por Juri Popular, Mafalda também foi para a final e com Cacilda você ganhou como Melhor Atriz e o grande prêmio de Melhor Esquete. Como foi participar do FESTU RIO e ter todo esse reconhecimento?

JULIA – Participar do Festu Rio foi uma experiência linda. Apesar de já ter participado de muitos festivais de esquetes no Tablado, lugar que me ensinou e ensina muito, este festival teve uma importância muito grande, pelo prêmio, pelo reconhecimento, por ter me motivado a pesquisar sobre as Companhias Brasileiras e principalmente por ter me aproximado da Cacilda (Becker).

2. Como surgiu a ideia do esquete Cacilda?

JULIA – O esquete Cacilda surgiu quando nada mais parecia que ia surgir. Eu estava sem ideia nenhuma, acreditando ser difícil ser original dentro do universo que outros artistas brilhantes tinham criado com suas companhias, sem entender muito bem como criar compilações e associações particulares que dialogassem com esses artistas, até que pensei em Cacilda Becker. Não sabia nada da sua vida, quais peças tinha feito. Só sabia da, até então, “lenda” de que ela tinha começado o seu processo de morte fazendo Esperando Godot. E sempre achei muito interessante essa tragédia. Conversei com amigos e fui pensar uma maneira simples de dizer ao mundo que eu estava com ela, pensando nela nesse momento da minha vida.

3. Você também participou da turnê dos Melhores do FESTU RIO pelo Circuito SESI. O que achou dessa experiência de integração com os outros grupos finalistas do festival?

JULIA – O circuito Sesi foi uma iniciativa de aproximação de todos os profissionais que trabalharam de alguma forma para o festival acontecer. Não só entre os atores, mas entre equipe técnica também. O circuito cria oportunidades de poder refazer o seu esquete, agora fazendo parte de um todo, onde as trocas são múltiplas e extremamente ricas.

4. Com o prêmio de R$14mil pelo Melhor Esquete, você montou a peça Norma, com direção do Raphael Janeiro, outro participante vencedor do FESTU RIO. Sobre o que se tratava a peça? Como foi essa experiência?

JULIA – Inicialmente a ideia era criar uma peça que tivesse relação com o esquete Cacilda. Eu e o meu grupo pesquisamos, conversamos muito, e fomos transformando essa ideia. Passamos pela morte, pelo sucesso, pelos vazios, pelos medos, até que encontramos o Janeiro e perguntamos se além de dirigir, toparia escrever. Ele topou e fomos com tudo! A história é sobre uma grande atriz que morre no auge da fama enquanto fazia uma novela popular de grande sucesso. Ela tem uma grande fã e, por isso, volta para, com a ajuda da fã, conseguir finalizar a sua vingança.

5. Você atualmente cursa Cinema na PUC e Artes Cênicas na Univercidade. Como essas faculdades te ajudam na sua formação como artista?

JULIA – Eu comecei a fazer teatro muito nova, com 10 anos, por influência do meu pai que é crítico e professor teatral. Mas com o passar do tempo comecei a ter muito receio de ter como primeira escolha uma faculdade de teatro. Decidi começar pelo Cinema que, apesar de ser uma linguagem completamente diferente, um outro tipo de arte, em algum lugar me deixava próxima da atuação, da relação com o texto, com a direção. Eu sempre digo que sou muito mais cinéfila do que cineasta. Um bom filme, chuva e água com gelo é um dos meus programas favoritos! Mas não consegui ficar sem um estudo mais aprofundado e optei também por cursar Teatro.

6. Além de atriz, você também trabalhou como assistente de direção na televisão e no teatro O Tablado, com seu pai Lionel Fischer, crítico de teatro. Qual o gosto de ser uma assistente? No caso do Tablado, você gosta de ensinar? Pensa em ser diretora?

JULIA – Eu estou a 5 anos no Tablado como assistente. Engraçado você perguntar isso, por que estava pensando sobre isso hoje. Estou com muita vontade de dirigir. Já dirijo as nossas peças de final de ano no curso e agora iremos estrear Os Sete Gatinhos, do Nelson Rodrigues (final de janeiro). E cada vez me sinto muito feliz em poder ver, observar. Acho ainda que a palavra ensinar está um pouco longe, mas agora acredito que posso descobrir, contribuir com muitas coisas do lado de cá.

7. Atualmente quem você está estudando ou gostando de ler, conhecer a obra?

JULIA – Atualmente estou com o Laban! Rudolf Laban. O livro de cabeceira hoje é “Reflexos sobre Laban: O mestre do movimento”. Estou querendo focar o meu trabalho e a minha atenção nas possibilidades que a consciência sobre os movimentos e gestos pode me dar.

8. Olhando para a cena teatral carioca, como você acha que estamos?

JULIA – Eu acho que poderíamos estar piores! Quero dizer, é claro que existem milhões de aspectos pra melhorar sobre os teatros no Rio, mas acredito que essa discussão é longa e delicada. Apesar disso, temos muita gente com muita vontade de fazer. Muitas cias. novas, essas novas ocupações com pessoas que estão com impulsos fortes para fazer acontecer. No Rio acontece teatro. É claro que é extremamente concentrado em regiões, mas acontece.

9. Mesmo sendo clichê a pergunta, lá vai: o que é ser atriz pra você?

JULIA – Ser atriz para mim é não ter medo de se assustar com o que você descobre sobre você. É perceber que você é só um pequeno caminho entre uma coisa e outra. É olhar para o mundo, abrir o coração e deixar que alguma coisa aconteça dentro de você. Ser atriz para mim é se deixar levar pelo encontro. O que pode acontecer entre o encontro entre dois atores, um ator e um diretor, entre um ator e as palavras de um texto, com um objeto, uma luz, com o espectador. Ser atriz é, sinceramente e com toda a abertura emocional e física, se permitir encontros.

10. Quais são seus próximos projetos?

JULIA – Tenho projetos de algumas peças, mas tudo ainda é um mistério.

11. Que conselho você daria para jovens atrizes que, como você, trabalham nesse meio?

JULIA – Conselho é um pouco forte. Mas eu diria que, no teatro, realmente quanto mais você acha que sabe, mais você não sabe. Acho que tem que estudar muito e gostar de dançar no escuro.
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Um comentário:

  1. Lendo a entrevista é como se eu ouvisse Julia falando com sua voz meiga ...muito bom conhecer você Julia.

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